Decidi criar uma compilação com os três textos mais visitados durante o ano de 2012. O ebook já não está disponível.
A distribuição é permitida (e encorajada), desde que dêem o devido crédito aos intervenientes. Espero que gostem!
Blogue dedicado às minhas aventuras literárias. Novos artigos todas as segundas, quartas e sextas. Rubrica especial de domingo: Chá de Domingo.
quarta-feira, 26 de dezembro de 2012
segunda-feira, 24 de dezembro de 2012
O fruto proibido - parte 2/2
A primeira parte do conto está disponível em: http://pedro-cipriano.blogspot.pt/2012/12/o-fruto-proibido-parte-12.html
O navio a vapor cruzava o imenso oceano que dividia os dois continentes. No convés, embalado pelo mar, a mente do cientista divagava no imenso espaço dos pensamentos. Tentou concentrar-se, pois queria de tomar uma decisão.
Não tinha dúvidas que a tecnologia descrita no livro mudaria o mundo. Com ela podia produzir quantidades imensas de energia e a dependência do carvão terminaria. Acreditava que, depois de quinhentos anos de inquisição tecnológica, o mundo merecia uma idade dourada. Contudo, ignorar as prescrições tecnológicas podia colocar a civilização num estado em que se destruiria a si mesma.
Com esse pensamento, debruçou-se sobre a amurada e retirou o livro da sacola. Sem hesitar, atirou-o para o oceano.
Ao voltar para os seus aposentos ficou cada vez mais agitado. Esperava por um alívio que não veio. Mesmo não tendo o livro, o conhecimento impelia-o a agir.
As nuvens negras de fuligem que todas as manhãs se abatiam sobre a cidade eram prova de que este não era o caminho certo. Cada duas toneladas desse ouro negro custava em média uma vida humana. Humberto tinha o poder de mudar isso, só precisava de reproduzir o gerador descrito pelo livro.
***
Ao ligar a centrifugadora, o barulho tornou o ambiente do laboratório insuportável.
A meia noite passara há um par de horas e ele estava sozinho na academia. Era a única maneira de conseguir prosseguir com o seu projecto. Humberto decidiu fazer uma pausa mas, mesmo no corredor, não conseguiu desligar-se mentalmente da sua experiência. Desejava ter uma centrifugadora mais poderosa.
Ouviu a porta do edifício abrir-se com um estrondo. Pareceu-lhe que alguém acabara de forçar a entrada no edifício. Passos ecoaram. Eram muitos pés em movimento.
O coração do cientista começou a bater mais depressa. Soube de imediato qual era a razão de estarem ali. Tentou relaxar nos segundos que restavam antes de eles chegarem. Não tirava apontamentos nem comentara as suas experiências com mais ninguém. Tentou convencer-se que que tudo ficaria bem.
Vários polícias de casaco azul e botões dourados cercaram. Os capacetes ovais faziam com que parecessem mais altos do que realmente eram. Humberto teve de usar toda a sua força de vontade para não mostrar o quão assustado estava.
– Doutor Carvalho, você está sob detenção por infringir as restrições tecnológicas – anunciou o que tinha o maior bigode.
Sem mais explicações, foi escoltado da academia até uma carrinha prisional de rodas gigantes. Assim que as portas duplas se fecharam, os pistons a vapor a colocaram a em movimento. Atravessaram metade da cidade construída em estilo Neovitoriano até chegarem a um imponente estrutura de talhe clássico. Fora levado ao Tribunal Imperial porque quisera dar à Confederação uma fonte quase inesgotável de energia.
Foi conduzido pelos corredores trabalhados. O edifício demorara mais de um século a ser erguido e a aura da construção deixava-o ainda mais desconfortável. Ao entrar na sala de julgamentos, encontrou o tribunal já reunido. Humberto começou a tremer.
– Doutor Carvalho, você é presente neste tribunal por violar as restrições tecnológicas. O que tem a dizer em sua defesa? – acusou o ancião vestido numa toga negra.
– Eu não violei nenhuma restrição! – protestou o cientista, tentado não gritar.
– Ainda não, mas os seus experimentos mostram clara intenção de o fazer. Ou nega que pretende fazer fissuração nuclear?
– Não nego. Eu apenas queria dar à humanidade uma fonte de energia alternativa. Como sabe, o mundo precisa urgentemente disso...
– Não duvido das suas boas intenções, mas a lei é inviolável. Ambos sabemos que não é este o caminho. Tenho muita pena, mas terei de aplicar a pena capital...
– Não chega abandonar o projecto?
– Quem me dera... – sorriu amargamente o Juiz. – O maior perigo não é o experimento, é o conhecimento que tem. Custa-me saber que iremos perder uma mente brilhante, contudo, a sobrevivência da humanidade o exige. Todo o material relativo à experiência deve ser destruído imediatamente e a pena aplicada dentro da próxima meia hora. A sessão está encerrada!
Até ao momento em que foi fuzilado, Humberto não conseguiu sentir rancor, somente tristeza por a humanidade continuar nas trevas.
Este conto foi publicado na Nanozine 7: http://nanoezine.wordpress.com/
sexta-feira, 21 de dezembro de 2012
O fruto proibido - parte 1/2
Humberto estava nervoso. Impaciente, esperava que os engenheiros a abrissem, relembrando a sua chegada à Ibéria duas semanas antes. Naquelas terras selvagens havia caminhado durante quatro dias antes de o grupo encontrar a cidade. Muitas expedições haviam passado por ali no entanto, nenhuma havia investigado a vegetação a fundo.
Os especialistas obrigaram-no a recuar. Iriam usar o último recurso para abrir a porta blindada.
O entusiasmo inicial havia-se desfeito quando encontraram as ruínas dos subúrbios. A metrópole havia sido varrida por uma explosão termo-nuclear e volvidos cinco séculos, somente os restos das fundações poderiam interessar aos escavadores de relíquias inúteis. Para um cientista curioso como Humberto, não havia ali nada de interesse. Apesar da desmotivação geral, a desmatação prosseguiu. No meio da pequena selva havia algumas estruturas que haviam resistido à passagem dos séculos. Mas, nem mesmo nos edifícios menos danificados havia algo que pagasse o salário diário de um soldado. A sorte mudou quando um grupo de soldados, que procurava um sítio mais abrigado para dormir, encontrou a cave.
O portão aguentara os assaltos dos técnicos durante toda a manhã. Só quando o sol já atravessara o zénite é que o conseguiram remover, com recurso a explosivos.
Ainda o pó pairava quando Humberto ignorou as convenções de segurança e penetrara no interior da casamanta. Outros o seguiram e cedo descobriram que teriam de proteger as vias respiratórias com as camisolas sob o risco de sufocar com poeira. Com os olhos a lacrimejar, atravessou a entrada que dava para um longo corredor. Parou, tentando lidar com a desilusão. Parecia ser apenas uma estrutura militar do último conflito mundial.
O cientista relembrou o que havia aprendido sobre a Terceira Guerra Mundial. A opinião geral colocava-a como a pior coisa que acontecera à humanidade desde o seu Génesis. Quase uma década de combates contínuos e sangrentos culminaram numa breve guerra atómica. O Verão nuclear queimou grande parte da superfície, matando mais de cinco biliões de seres humanos. O Inverno artificial matou quatro em cada cinco pessoas durante o primeiro ano. A escuridão fora a maior prova da capacidade de adaptação e sobrevivência do homo sapiens sapiens. As trevas duraram mais 70 anos e a noite parcial mais de um século. Não se sabe muito sobre esses anos e ainda menos sobre o que existia antes.
A estrutura era mais extensa do que à primeira vista parecia. Prolongava-se por várias dezenas de metros de corredores labirínticos e tinha pelo menos outros dois níveis.
– Venham ver isto! À sério, larguem tudo o que estão a fazer e venham ver isto! – chamaram, enquanto Humberto examinava uma divisão destinada ao alojamento.
– O que foi? – gritam da outra extremidade, criando um eco surreal.
– Estás bem? – ouviu-se um arqueólogo perguntar.
A situação deixou-o curioso. Ainda confuso com a direcção pouco clara do som, Humberto encaminhou-se para onde a origem lhe pareceu ser mais provável. Uns metros encontrou-se com um dos colegas e no fim bastou seguir a pequena multidão que se acumulara à entrada.
Ar seco e rarefeito fluía do estranho compartimento. Os murmúrios subiram gradualmente de tom. Como todos pareciam estar com medo de entrar, Humberto furou pelo entre os colegas e estacou à entrada.
Os seus olhos depararam-se com uma biblioteca. Uma sala quadrangular, com o comprimento duma carruagem de locomotiva. Estava repleta de prateleiras de livros. Era, provavelmente, a maior que havia sido encontrada durante as duas últimas duas décadas. Os olhos de Humberto maravilharam-se com a descoberta, ao imaginar o conhecimento fantástico que podia ser obtido.
Assim que recuperaram do espanto inicial, os cientistas e arqueólogos organizaram-se de um modo sistemático. Impulsionados pela descoberta, iniciaram de imediato o registo e triagem dos volumes que, para o cientista de meia-idade, eram o maior tesouro do passado. Com eles podiam reproduzir as invenções do passado tendo em conta a restrições tecnológicas.
Foi numa dessas sessões que ele encontrou algo que não estava à espera. Era um manual universitário. Folheou-o casualmente e começou a ler um parágrafo ao acaso. O coração parou por um momento. Piscou os olhos e releu novamente. Avançou algumas páginas e recuou o dobro. Tudo parecia bater certo. Estremeceu ao tomar consciência do poder que aquele feixe de papel encerrava.
Estacou com o livro na mão. A tecnologia que tinha em mãos era proibida e arriscava a pena a morte. Ponderou se valeria a pena arriscar a vida para o mundo ter a possibilidade de entrar numa nova era dourada. Sabia que o livro seria destruído assim que os outros o encontrassem. Por impulso, decidiu guardar a decisão para mais tarde, enfiando o livro na sua mala.
A segunda parte deste conto está disponível em: http://pedro-cipriano.blogspot.pt/2012/12/o-fruto-proibido-parte-22.html
Este conto foi publicado na Nanozine 7: http://nanoezine.wordpress.com/
Os especialistas obrigaram-no a recuar. Iriam usar o último recurso para abrir a porta blindada.
O entusiasmo inicial havia-se desfeito quando encontraram as ruínas dos subúrbios. A metrópole havia sido varrida por uma explosão termo-nuclear e volvidos cinco séculos, somente os restos das fundações poderiam interessar aos escavadores de relíquias inúteis. Para um cientista curioso como Humberto, não havia ali nada de interesse. Apesar da desmotivação geral, a desmatação prosseguiu. No meio da pequena selva havia algumas estruturas que haviam resistido à passagem dos séculos. Mas, nem mesmo nos edifícios menos danificados havia algo que pagasse o salário diário de um soldado. A sorte mudou quando um grupo de soldados, que procurava um sítio mais abrigado para dormir, encontrou a cave.
O portão aguentara os assaltos dos técnicos durante toda a manhã. Só quando o sol já atravessara o zénite é que o conseguiram remover, com recurso a explosivos.
Ainda o pó pairava quando Humberto ignorou as convenções de segurança e penetrara no interior da casamanta. Outros o seguiram e cedo descobriram que teriam de proteger as vias respiratórias com as camisolas sob o risco de sufocar com poeira. Com os olhos a lacrimejar, atravessou a entrada que dava para um longo corredor. Parou, tentando lidar com a desilusão. Parecia ser apenas uma estrutura militar do último conflito mundial.
O cientista relembrou o que havia aprendido sobre a Terceira Guerra Mundial. A opinião geral colocava-a como a pior coisa que acontecera à humanidade desde o seu Génesis. Quase uma década de combates contínuos e sangrentos culminaram numa breve guerra atómica. O Verão nuclear queimou grande parte da superfície, matando mais de cinco biliões de seres humanos. O Inverno artificial matou quatro em cada cinco pessoas durante o primeiro ano. A escuridão fora a maior prova da capacidade de adaptação e sobrevivência do homo sapiens sapiens. As trevas duraram mais 70 anos e a noite parcial mais de um século. Não se sabe muito sobre esses anos e ainda menos sobre o que existia antes.
A estrutura era mais extensa do que à primeira vista parecia. Prolongava-se por várias dezenas de metros de corredores labirínticos e tinha pelo menos outros dois níveis.
– Venham ver isto! À sério, larguem tudo o que estão a fazer e venham ver isto! – chamaram, enquanto Humberto examinava uma divisão destinada ao alojamento.
– O que foi? – gritam da outra extremidade, criando um eco surreal.
– Estás bem? – ouviu-se um arqueólogo perguntar.
A situação deixou-o curioso. Ainda confuso com a direcção pouco clara do som, Humberto encaminhou-se para onde a origem lhe pareceu ser mais provável. Uns metros encontrou-se com um dos colegas e no fim bastou seguir a pequena multidão que se acumulara à entrada.
Ar seco e rarefeito fluía do estranho compartimento. Os murmúrios subiram gradualmente de tom. Como todos pareciam estar com medo de entrar, Humberto furou pelo entre os colegas e estacou à entrada.
Os seus olhos depararam-se com uma biblioteca. Uma sala quadrangular, com o comprimento duma carruagem de locomotiva. Estava repleta de prateleiras de livros. Era, provavelmente, a maior que havia sido encontrada durante as duas últimas duas décadas. Os olhos de Humberto maravilharam-se com a descoberta, ao imaginar o conhecimento fantástico que podia ser obtido.
Assim que recuperaram do espanto inicial, os cientistas e arqueólogos organizaram-se de um modo sistemático. Impulsionados pela descoberta, iniciaram de imediato o registo e triagem dos volumes que, para o cientista de meia-idade, eram o maior tesouro do passado. Com eles podiam reproduzir as invenções do passado tendo em conta a restrições tecnológicas.
Foi numa dessas sessões que ele encontrou algo que não estava à espera. Era um manual universitário. Folheou-o casualmente e começou a ler um parágrafo ao acaso. O coração parou por um momento. Piscou os olhos e releu novamente. Avançou algumas páginas e recuou o dobro. Tudo parecia bater certo. Estremeceu ao tomar consciência do poder que aquele feixe de papel encerrava.
Estacou com o livro na mão. A tecnologia que tinha em mãos era proibida e arriscava a pena a morte. Ponderou se valeria a pena arriscar a vida para o mundo ter a possibilidade de entrar numa nova era dourada. Sabia que o livro seria destruído assim que os outros o encontrassem. Por impulso, decidiu guardar a decisão para mais tarde, enfiando o livro na sua mala.
A segunda parte deste conto está disponível em: http://pedro-cipriano.blogspot.pt/2012/12/o-fruto-proibido-parte-22.html
Este conto foi publicado na Nanozine 7: http://nanoezine.wordpress.com/
quarta-feira, 19 de dezembro de 2012
O protótipo
Ao entrar na sala, Armin viu que o painel de administradores da empresa o aguardava em silêncio.
– Bom dia, meus senhores – anunciou, com um sorriso como eles poucas vezes tinham visto.
Os assessores levantaram-se para o cumprimentar.
– Tenho boas notícias. O protótipo em que estávamos a trabalhar teve o seu primeiro teste positivo – anunciou, observando cuidadosamente o painel executivo.
– E os custos? – perguntou um dos gestores.
– Cada unidade vai custar-nos cerca de 60 mil, a maioria dos componentes é tecnologia comum.
– Isso significa que qualquer pessoa o pode replicar em casa?
– Discordo – comentou um deles, com óculos de aro e uma gravata verde – acho difícil reverterem a engenharia. Só outra companhia o poderia fazer, mas com isso podemos nós bem, basta registar a patente.
– Eu concordo. Hoffman, qual o preço alvo de mercado sugerido?
– As estimativas apontam para 1.1 milhões.
Fez-se silêncio na sala.
– Meus senhores, está na hora de voltarem ao trabalho – ordenou, terminando a reunião.
Todos saíram. Uma vez sozinho na sala sentiu-se desapontado, fora o projecto mais importante da sua vida, mas não se considerava realizado agora que o completara. O protótipo iria revolucionar as viagens espaciais, tornando-as suficientemente baratas para uma família de classe média poder comprar a sua própria nave. O veículo era tão fácil de construir que o poderiam fazer num dos países de terceiro mundo a preços irrisórios. Seria um dos homens mais ricos do planeta, como o seu pai sempre desejara.
Levantou-se e saiu. Àquela hora a sede da sua multinacional fervilhava de actividade. Ao caminhar até ao seu escritório, foi cumprimentado com sorrisos, sinal de que as boas notícias se espalhavam depressa. Nem isso conseguiu sanar o mau humor que se apoderara dele. Por alguma razão, a ideia de passar de multi-milionário para multi-bilionário não era tão apelativa como julgara.
Entrou no escritório decorado num estilo conservador. Sentou-se no seu cadeirão de couro e poisou as folhas que trazia na mão em cima da secretaria com quatro séculos. Num impulso, pegou no telefone.
– Carmen, traga-me um café e avise que não estou disponível durante a próxima hora.
Andou ao acaso pela sala. Numa mesinha ao lado, um empregado colocara os jornais do dia, já abertos nas notícias que considerava mais importantes. Olhou para os títulos. O nível do mar tinha subido um centímetro no último ano. A China tinha ameaçado usar o seu poder nuclear se as divergências com os USA não fossem resolvidas. Os níveis de metais pesados no ar tinham aumentado 8% no ano corrente. A divisão blindada turca passara a fronteira da Grécia, iniciando mais uma guerra.
Sonhou que com a invenção da sua companhia poderia até ser o homem do ano. Mas nem isso o deixou melhor. Sentia um vazio, talvez por ter dedicado tanto tempo àquele projecto.
A secretária entrou e poisou a caneca na mesa, saindo de seguida, quase sem ruído.
Imaginou as vendas dispararem, quando inúmeras famílias tentassem escapar para as colónias na Lua ou Marte. Achou que já ninguém acreditava que os problemas da Terra se pudessem resolver.
Contudo, a sua consciência atormentava-o, como se tivesse cometido um crime. Mais uma vez pegou no telefone.
– Ingo, lembras-te daquela formação que querias dar ao pessoal de IT? Quero que a dês agora. A presença de todos é obrigatória.
– Mas isso não vai deixar ninguém a tratar dos nossos servidores.
– Deixa só um ou dois de serviço e depois dás-lhe a formação mais tarde.
Fez aparecer a sala de reuniões no ecrã virtual que projectava em frente à sua secretária. Esperou que todos os especialistas se sentassem para afastar a projecção para a direita e abrir outra. Introduziu as credenciais e acedeu às ligações do servidor onde guardavam os projectos. Sorriu, encontrara o que procurava. Filtrou as ligações, ignorando as que vinham de fontes seguras, e deparou-se com meia dúzia de ataques ao sistema. Coçou o queixo. Uma vinha de um proxy familiar. Procurou as referências.
Na projecção lateral, a formação começara.
Olhou para os resultados e entendeu imediatamente o que se estava a passar. Um grupo de hackers internacionais tentava obter os projectos da empresa.
A sua consciência só lhe deu uma opção. Com a sua chave de administração, deu-lhes acesso total. Em breve, o projecto estaria disponível para todos.
Este conto foi publicado no blog Fantasy & Co: http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2012/12/o-prototipo-genorosidade-pedro-cipriano.html
– Bom dia, meus senhores – anunciou, com um sorriso como eles poucas vezes tinham visto.
Os assessores levantaram-se para o cumprimentar.
– Tenho boas notícias. O protótipo em que estávamos a trabalhar teve o seu primeiro teste positivo – anunciou, observando cuidadosamente o painel executivo.
– E os custos? – perguntou um dos gestores.
– Cada unidade vai custar-nos cerca de 60 mil, a maioria dos componentes é tecnologia comum.
– Isso significa que qualquer pessoa o pode replicar em casa?
– Discordo – comentou um deles, com óculos de aro e uma gravata verde – acho difícil reverterem a engenharia. Só outra companhia o poderia fazer, mas com isso podemos nós bem, basta registar a patente.
– Eu concordo. Hoffman, qual o preço alvo de mercado sugerido?
– As estimativas apontam para 1.1 milhões.
Fez-se silêncio na sala.
– Meus senhores, está na hora de voltarem ao trabalho – ordenou, terminando a reunião.
Todos saíram. Uma vez sozinho na sala sentiu-se desapontado, fora o projecto mais importante da sua vida, mas não se considerava realizado agora que o completara. O protótipo iria revolucionar as viagens espaciais, tornando-as suficientemente baratas para uma família de classe média poder comprar a sua própria nave. O veículo era tão fácil de construir que o poderiam fazer num dos países de terceiro mundo a preços irrisórios. Seria um dos homens mais ricos do planeta, como o seu pai sempre desejara.
Levantou-se e saiu. Àquela hora a sede da sua multinacional fervilhava de actividade. Ao caminhar até ao seu escritório, foi cumprimentado com sorrisos, sinal de que as boas notícias se espalhavam depressa. Nem isso conseguiu sanar o mau humor que se apoderara dele. Por alguma razão, a ideia de passar de multi-milionário para multi-bilionário não era tão apelativa como julgara.
Entrou no escritório decorado num estilo conservador. Sentou-se no seu cadeirão de couro e poisou as folhas que trazia na mão em cima da secretaria com quatro séculos. Num impulso, pegou no telefone.
– Carmen, traga-me um café e avise que não estou disponível durante a próxima hora.
Andou ao acaso pela sala. Numa mesinha ao lado, um empregado colocara os jornais do dia, já abertos nas notícias que considerava mais importantes. Olhou para os títulos. O nível do mar tinha subido um centímetro no último ano. A China tinha ameaçado usar o seu poder nuclear se as divergências com os USA não fossem resolvidas. Os níveis de metais pesados no ar tinham aumentado 8% no ano corrente. A divisão blindada turca passara a fronteira da Grécia, iniciando mais uma guerra.
Sonhou que com a invenção da sua companhia poderia até ser o homem do ano. Mas nem isso o deixou melhor. Sentia um vazio, talvez por ter dedicado tanto tempo àquele projecto.
A secretária entrou e poisou a caneca na mesa, saindo de seguida, quase sem ruído.
Imaginou as vendas dispararem, quando inúmeras famílias tentassem escapar para as colónias na Lua ou Marte. Achou que já ninguém acreditava que os problemas da Terra se pudessem resolver.
Contudo, a sua consciência atormentava-o, como se tivesse cometido um crime. Mais uma vez pegou no telefone.
– Ingo, lembras-te daquela formação que querias dar ao pessoal de IT? Quero que a dês agora. A presença de todos é obrigatória.
– Mas isso não vai deixar ninguém a tratar dos nossos servidores.
– Deixa só um ou dois de serviço e depois dás-lhe a formação mais tarde.
Fez aparecer a sala de reuniões no ecrã virtual que projectava em frente à sua secretária. Esperou que todos os especialistas se sentassem para afastar a projecção para a direita e abrir outra. Introduziu as credenciais e acedeu às ligações do servidor onde guardavam os projectos. Sorriu, encontrara o que procurava. Filtrou as ligações, ignorando as que vinham de fontes seguras, e deparou-se com meia dúzia de ataques ao sistema. Coçou o queixo. Uma vinha de um proxy familiar. Procurou as referências.
Na projecção lateral, a formação começara.
Olhou para os resultados e entendeu imediatamente o que se estava a passar. Um grupo de hackers internacionais tentava obter os projectos da empresa.
A sua consciência só lhe deu uma opção. Com a sua chave de administração, deu-lhes acesso total. Em breve, o projecto estaria disponível para todos.
Este conto foi publicado no blog Fantasy & Co: http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2012/12/o-prototipo-genorosidade-pedro-cipriano.html
segunda-feira, 17 de dezembro de 2012
The Writer's Twist
Um pequeno clip inspirado no livro "Teia de Memórias" realizado e produzido por Ana Piedade.
sexta-feira, 14 de dezembro de 2012
45º Demonstração pública anual da Academia Real de Ciências
Decorreu no fim-de-semana de 4 e 5 de Agosto do presente ano, na Academia Real de Ciências, a 45º Demonstração pública anual de protótipos. O prestigiado evento contou com mais de uma centena de inventores do foro nacional e cerca de cinquenta mil visitantes vindos de várias partes do mundo.
Seguindo a tradição dos anos passados, os organizadores decidiram tomar em conta os hábitos noctívagos de grande parte dos cavalheiros que os visitaram. O pavilhão abriu as portas ao meio dia de Sábado, altura pela qual vários grupos de entusiastas se aglomeravam perto da entrada.
Cada um dos cientistas apresentou uma das invenções que realizou no último ano. As apresentações foram simples, de linguagem apropriada ao cidadão comum, ao mesmo tempo que não alienou a restante comunidade científica.
Durante toda a exposição, cada uma das criações foi avaliada individualmente. O júri foi presidido pelo príncipe herdeiro, D. Orlando, acompanhado por grandes personalidades do mundo empresarial e da ordem dos engenheiros. Os factores determinantes para a escolha do vencedor foram a originalidade, relevância e potencial comercial. À saída, cada um dos visitantes foi convidado a escrever no seu bilhete o número da invenção que mais interesse lhe despertou. Os votos foram posteriormente contabilizados e o resultado dado a conhecer ao júri.
Durante o segundo dia, as portas estiveram abertas entre o meio-dia e as seis da tarde. No entanto, a afluência ultrapassou o dobro do dia anterior, registando-se longas filas na bilheteira, a partir das nove da manhã, com um tempo médio de espera de cerca de uma hora para os mais atrasados.
A famosa gala de entrega dos prémios começou às dez da noite, com a actuação da Orquestra Mecânica da Academia Real de Música, interpretando Mozart. Os espectadores foram de seguida presenteados pela adaptação de Romeu e Julieta, encenada pela Companhia Nacional de Bailado.
Passava da meia-noite quando os vencedores foram anunciados. Em terceiro lugar ficou uma invenção chamada de “Inversor de corrente”, criada por Luís le Creux. No segundo lugar do pódio ficou Francisco Ramires, com um “Forno super-eficiente”. O vencedor foi Daniel Ribeiro, que apresentou uma criação denominada “Poço de produção de ar comprimido”. Todos os vencedores receberam os diplomas pela mão do nosso príncipe Orlando.
Entre os membros da organização, os inventores e os espectadores, a opinião de que o evento foi produtivo é unânime. Aguarda-se com expectativa a próxima edição.
Esta notícia fictícia foi publicada no Almanaque de Steampunk 2012 da Clockwork Portugal: http://www.clockworkportugal.com/p/blog-page.html
Seguindo a tradição dos anos passados, os organizadores decidiram tomar em conta os hábitos noctívagos de grande parte dos cavalheiros que os visitaram. O pavilhão abriu as portas ao meio dia de Sábado, altura pela qual vários grupos de entusiastas se aglomeravam perto da entrada.
Cada um dos cientistas apresentou uma das invenções que realizou no último ano. As apresentações foram simples, de linguagem apropriada ao cidadão comum, ao mesmo tempo que não alienou a restante comunidade científica.
Durante toda a exposição, cada uma das criações foi avaliada individualmente. O júri foi presidido pelo príncipe herdeiro, D. Orlando, acompanhado por grandes personalidades do mundo empresarial e da ordem dos engenheiros. Os factores determinantes para a escolha do vencedor foram a originalidade, relevância e potencial comercial. À saída, cada um dos visitantes foi convidado a escrever no seu bilhete o número da invenção que mais interesse lhe despertou. Os votos foram posteriormente contabilizados e o resultado dado a conhecer ao júri.
Durante o segundo dia, as portas estiveram abertas entre o meio-dia e as seis da tarde. No entanto, a afluência ultrapassou o dobro do dia anterior, registando-se longas filas na bilheteira, a partir das nove da manhã, com um tempo médio de espera de cerca de uma hora para os mais atrasados.
A famosa gala de entrega dos prémios começou às dez da noite, com a actuação da Orquestra Mecânica da Academia Real de Música, interpretando Mozart. Os espectadores foram de seguida presenteados pela adaptação de Romeu e Julieta, encenada pela Companhia Nacional de Bailado.
Passava da meia-noite quando os vencedores foram anunciados. Em terceiro lugar ficou uma invenção chamada de “Inversor de corrente”, criada por Luís le Creux. No segundo lugar do pódio ficou Francisco Ramires, com um “Forno super-eficiente”. O vencedor foi Daniel Ribeiro, que apresentou uma criação denominada “Poço de produção de ar comprimido”. Todos os vencedores receberam os diplomas pela mão do nosso príncipe Orlando.
Entre os membros da organização, os inventores e os espectadores, a opinião de que o evento foi produtivo é unânime. Aguarda-se com expectativa a próxima edição.
Esta notícia fictícia foi publicada no Almanaque de Steampunk 2012 da Clockwork Portugal: http://www.clockworkportugal.com/p/blog-page.html
quarta-feira, 12 de dezembro de 2012
Eternas Palavras - parte 2/2
A primeira parte deste conto pode ser encontrada em: http://pedro-cipriano.blogspot.pt/2012/12/eternas-palavras-parte-12.html
A discussão começou na manhã seguinte, ainda antes do pequeno-almoço.
– Tu és louco! Queres desgraçar-nos a todos! – acusou a mulher roliça de meia-idade, num tom mais agudo do que os seus ouvidos podiam suportar.
Ele olhara-a espantado através da porta da casa-de-banho.
– Olha que tu não te faças desentendido, carago! Porque é que trouxeste um livro proibido para casa? – prosseguiu Cidália, aproximando-se de Rui e baixando o tom.
– Não sei! – balbuciou, sem conseguir continuar a barbear-se.
– Como não sabes? Eu é que não sei! Tu nem sequer gostas de ler!
– Foi um impulso! – defendeu-se, encolhendo os ombros.
– E por causa dum impulso metes a família toda em perigo?
– Não pensei nisso...
– Tu nunca pensas em nada. Digo-te mais, o livro aqui em casa é que não fica.
– Mas...
– Não há mas nem meio mas, carago! Para casa com o livro é que não voltas.
– Como é que me vou livrar dele? Não posso simplesmente colocá-lo no lixo...
– Arranja-te! É o teu problema! – sentenciou a esposa, virando-lhe as costas.
Rui arrastava-se por entre a multidão. Era a hora de ponta matinal e o livro ainda estava na sua mala. Antes de sair, olhara para ele com um estranho sentimento de nostalgia. Era o “Viagens na Minha Terra” de Almeida Garrett. Nunca o tinha lido, nem tinha vontade de o fazer. Só não conseguia suportar a ideia de que iria ser destruído.
Aquele governo começava a oprimi-lo. Por causa da guerra tivera de abandonar o seu curso de engenharia. Servira duas vezes na linha do Mondego, primeiro contra os Franceses e depois contra os Lusitanos. A única recompensa que recebera fora um partido único e autoritário, permanentemente no poder.
De súbito, recebeu um encontrão violento e desequilibrou-se. Arrastou-se inclinado para a esquerda até cair num buraco.
– Cuidado, carago! – alguém gritou.
Rui tentava colocar-se de pé quando vários metros de terra se precipitaram sobre ele. De imediato perdeu os sentidos.
A primeira coisa que lhe ocorreu quando voltou a si foi a surpresa de ainda estar vivo. Estava coberto de lama até à cintura e a têmpora esquerda doía-lhe. Uma jovem enfermeira prestava-lhe auxílio no passeio e vários curiosos observavam.
Num instante de clareza, lembrou-se do livro e procurou pela mala. O nervosismo cresceu ao perceber que não estava com ele. Sabia que se caíra nas mãos de alguma autoridade ou bufo estava perdido. Constatou que talvez tivesse sido melhor ser enterrado vivo.
– Olha, a minha mala? – perguntou à trigueirinha de cabelos encaracolados.
– Qual mala? – inquiriu a enfermeira, piscando os olhos.
– Eu tinha uma mala comigo! – exaltou-se, levantando-se.
– Não sei de nada! E você vai ficar quieto até o médico chegar.
Mais vale enterrado que queimado, repetiu para si mesmo para se acalmar. Pelo menos ainda poderia ser encontrado mais tarde.
Pouco depois chegou o médico. Devido ao seu estado, Rui acabou por ser transportado para o hospital. Deveria permanecer internado até à manhã seguinte para observações.
Ao fim da tarde chegaram os agentes da PSI. Ambos vestiam fatos coçados pela idade e tinham óculos do período pré-guerra. As gravatas de cores díspares completavam o conjunto que duas décadas antes seria ridículo. Contudo, naquele momento, eram o pior pesadelo de Rui.
– Senhor Mendes, precisamos de falar consigo.
Forçou um sorriso. Achava que fora demasiado ingénuo ao pensar que poderia escapar. Porventura se confessasse de livre vontade, a pena não fosse tão pesada, assumiu desalentado. Ergueu a face e fitou -os. Enfrentaria o destino com dignidade.
– Nós achamos que o que lhe aconteceu não foi um acidente. Achamos que as suas funções como queimador de livros tiveram bastante relevância neste caso. Provavelmente você foi alvo de um atentado, mas pode ficar descansado que iremos encontrar o culpado e castigá-lo.
Rui respirou de alívio, tornara-se um rebelde sem querer.
Este conto foi publicado no blog Fantasy & Co: http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2012/11/eternas-palavras-22-pedro-cipriano.html
A discussão começou na manhã seguinte, ainda antes do pequeno-almoço.
– Tu és louco! Queres desgraçar-nos a todos! – acusou a mulher roliça de meia-idade, num tom mais agudo do que os seus ouvidos podiam suportar.
Ele olhara-a espantado através da porta da casa-de-banho.
– Olha que tu não te faças desentendido, carago! Porque é que trouxeste um livro proibido para casa? – prosseguiu Cidália, aproximando-se de Rui e baixando o tom.
– Não sei! – balbuciou, sem conseguir continuar a barbear-se.
– Como não sabes? Eu é que não sei! Tu nem sequer gostas de ler!
– Foi um impulso! – defendeu-se, encolhendo os ombros.
– E por causa dum impulso metes a família toda em perigo?
– Não pensei nisso...
– Tu nunca pensas em nada. Digo-te mais, o livro aqui em casa é que não fica.
– Mas...
– Não há mas nem meio mas, carago! Para casa com o livro é que não voltas.
– Como é que me vou livrar dele? Não posso simplesmente colocá-lo no lixo...
– Arranja-te! É o teu problema! – sentenciou a esposa, virando-lhe as costas.
***
Rui arrastava-se por entre a multidão. Era a hora de ponta matinal e o livro ainda estava na sua mala. Antes de sair, olhara para ele com um estranho sentimento de nostalgia. Era o “Viagens na Minha Terra” de Almeida Garrett. Nunca o tinha lido, nem tinha vontade de o fazer. Só não conseguia suportar a ideia de que iria ser destruído.
Aquele governo começava a oprimi-lo. Por causa da guerra tivera de abandonar o seu curso de engenharia. Servira duas vezes na linha do Mondego, primeiro contra os Franceses e depois contra os Lusitanos. A única recompensa que recebera fora um partido único e autoritário, permanentemente no poder.
De súbito, recebeu um encontrão violento e desequilibrou-se. Arrastou-se inclinado para a esquerda até cair num buraco.
– Cuidado, carago! – alguém gritou.
Rui tentava colocar-se de pé quando vários metros de terra se precipitaram sobre ele. De imediato perdeu os sentidos.
***
A primeira coisa que lhe ocorreu quando voltou a si foi a surpresa de ainda estar vivo. Estava coberto de lama até à cintura e a têmpora esquerda doía-lhe. Uma jovem enfermeira prestava-lhe auxílio no passeio e vários curiosos observavam.
Num instante de clareza, lembrou-se do livro e procurou pela mala. O nervosismo cresceu ao perceber que não estava com ele. Sabia que se caíra nas mãos de alguma autoridade ou bufo estava perdido. Constatou que talvez tivesse sido melhor ser enterrado vivo.
– Olha, a minha mala? – perguntou à trigueirinha de cabelos encaracolados.
– Qual mala? – inquiriu a enfermeira, piscando os olhos.
– Eu tinha uma mala comigo! – exaltou-se, levantando-se.
– Não sei de nada! E você vai ficar quieto até o médico chegar.
Mais vale enterrado que queimado, repetiu para si mesmo para se acalmar. Pelo menos ainda poderia ser encontrado mais tarde.
Pouco depois chegou o médico. Devido ao seu estado, Rui acabou por ser transportado para o hospital. Deveria permanecer internado até à manhã seguinte para observações.
Ao fim da tarde chegaram os agentes da PSI. Ambos vestiam fatos coçados pela idade e tinham óculos do período pré-guerra. As gravatas de cores díspares completavam o conjunto que duas décadas antes seria ridículo. Contudo, naquele momento, eram o pior pesadelo de Rui.
– Senhor Mendes, precisamos de falar consigo.
Forçou um sorriso. Achava que fora demasiado ingénuo ao pensar que poderia escapar. Porventura se confessasse de livre vontade, a pena não fosse tão pesada, assumiu desalentado. Ergueu a face e fitou -os. Enfrentaria o destino com dignidade.
– Nós achamos que o que lhe aconteceu não foi um acidente. Achamos que as suas funções como queimador de livros tiveram bastante relevância neste caso. Provavelmente você foi alvo de um atentado, mas pode ficar descansado que iremos encontrar o culpado e castigá-lo.
Rui respirou de alívio, tornara-se um rebelde sem querer.
Este conto foi publicado no blog Fantasy & Co: http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2012/11/eternas-palavras-22-pedro-cipriano.html
segunda-feira, 10 de dezembro de 2012
Eternas Palavras - parte 1/2
Rui despejou o conteúdo da última caixa no meio da praça. As pessoas convergiam em passo lento para o amontoado de livros. Um monte que havia sido escrito por Pessoa, Eça, Saramago, Camões, Torga e muitos outros. Na sua maioria eram edições antigas, quase desengonçadas, mas havia também bastantes em bom estado.
Como empregado estatal, tinha de realizar este tipo de tarefas um par de vezes por semana. Era um trabalho como qualquer outro, pensou o funcionário de meia-idade, enquanto ensopava a pilha de papel em álcool.
Meia dúzia de soldados assegurava que ninguém interferisse com o evento. No meio da multidão que se juntara, estariam à paisana outros tantos agentes da PSI, a polícia de segurança interna. E claro, havia bufos um pouco por todo o lado. Ao estado, muito pouco escapava.
Olhou para o seu relógio e viu que eram 3 da tarde. Era o momento de dar início ao espectáculo. A chama propagou-se com facilidade do fósforo para as folhas. A multidão soltou urros quase frenéticos. Nunca percebera se eram de alegria ou revolta. O fogo alastrou-se e, foi então, que os livros começaram a voar. Rui deu uns passos prudentes afastando-se da fogueira.
Uma menina, com uns dez anos de idade, que estava nas primeiras filas começou a chorar. Fora atingida por um dos muitos livros que eram arremessados para a fogueira. Os gritos aumentaram de intensidade atingindo um êxtase colectivo, bem perto das fronteiras da loucura. Algumas pessoas haviam sido atingidas pelos projécteis que cruzavam o ar e mesmo esses estariam na próxima queima. Face a esses incidentes, os soldados nem se haviam movido. Tudo aquilo era normal.
Rui ficou feliz que nenhum desses escritores fosse vivo. Assim só se queimavam os livros.
Rui permaneceu de olhar fixo na caixa de madeira.
O estaleiro municipal estava vazio naquele fim de tarde de Domingo. Tudo estava arrumado no seu devido lugar, só não sabia o que fazer ao livro. O governo pseudodemocrático não proibia a posse de livros. Nem tão pouco a leitura e a discussão pública era desencorajada ou punida. Era uma sociedade mais fechada do que fora na sua juventude, mas ainda não chegara a extremos. O problema é que havia livros e livros. O que estava à sua frente pertencia à lista de incineração.
Pegou nele. Parecia estar em bom estado, somente a capa estava dobrada das pontas e as folhas amareladas. Havia algo naquele livro que o fascinava e foi nesse momento que decidiu levá-lo para casa. Olhou em volta e não viu ninguém. Num ápice, guardou-o na sua mala de trabalho.
Antes de passar pelos guardas já um suor frio lhe envolvia o corpo. Devia ser só a sua cabeça a pregar-lhe uma partida, reflectiu. Qual seria a probabilidade de o livro ali ter sido colocado em jeito de armadilha? Só de considerar a possibilidade, sentiu uma tontura momentânea. Estando já fora do edifício, era impossível voltar atrás.
Os guardas mandaram-no parar. O coração disparou, não era nada vulgar isso acontecer. Pediram-lhe a identificação. Nervoso como estava, quase não conseguiu retirar o cartão de funcionário. A qualquer momento eles iriam aperceber-se que estava a esconder algo.
O mais baixo observou com cuidado a credencial e depois pediu-lhe que abrisse a mala. Rui ponderou se haveria de correr. Não valia a pena, eles não teriam dificuldade em capturá-lo. Resignado, abriu a mala, amaldiçoando o momento em que agarrara o livro. Apetecia-lhe gritar para pararem de brincar com ele e só não o fez porque ainda tinha esperança de escapar.
O polícia observou cuidadosamente o interior do saco velho e gasto. Os dois sentinelas trocaram olhares. Rui quase desmaiou, face à possibilidade de ser detido a qualquer momento.
Com um ar aborrecido o agente levantou a mão, fazendo-lhe sinal para seguir. Rui não quis acreditar e, após um momento de hesitação, atravessou o portão. Se calhar, os guardas nem sabiam que livros estavam na lista de incineração.
Caminhou pelas ruas da capital em direcção à Baixa, pois não havia transportes públicos ao Domingo. A tarde estava agradável, adornada por uma temperatura amena de início de Outono. Era quase hora de jantar. Os passeios estavam praticamente vazios e poucos eram os veículos que cruzavam o pavimento. Com essa paz, Rui pôde perder-se nos seus pensamentos.
Tanta coisa havia mudado desde a Guerra Europeia de há 18 anos atrás. Tudo começara quando se ouviu nas ruas que Lisboa fora ocupada. Mesmo sem um governo, o povo quis lutar contra o invasor estrangeiro. Contudo, nem o fim da ocupação devolveu a união ao país. Ninguém percebera com que é que aquele governo chegara ao poder. Algo semelhante acontecera em Espanha, culminando com a junção do Norte com a região da Galiza. Essa divisão era o motivo pelo qual tudo o que invocasse o período em que Portugal era só um tinha de ser destruído.
Ao abrir a porta do apartamento, as suas narinas foram invadidas por um delicioso aroma a frango guisado. Rui estava feliz por não haver escassez de galináceos nesse ano. A falta crónica de alguns bens de consumo era o preço a pagar por viver num pequeno estado isolado do resto do mundo.
A sua esposa e os três filhos já estavam sentados à mesa. A fome que o consumia fê-lo logo esquecer o livro.
A segunda parte pode ser encontrada em: http://pedro-cipriano.blogspot.pt/2012/12/eternas-palavras-parte-22.html
Este conto foi publicado no blog Fantasy & Co: http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2012/11/eternas-palavras-12-pedro-cipriano.html
Como empregado estatal, tinha de realizar este tipo de tarefas um par de vezes por semana. Era um trabalho como qualquer outro, pensou o funcionário de meia-idade, enquanto ensopava a pilha de papel em álcool.
Meia dúzia de soldados assegurava que ninguém interferisse com o evento. No meio da multidão que se juntara, estariam à paisana outros tantos agentes da PSI, a polícia de segurança interna. E claro, havia bufos um pouco por todo o lado. Ao estado, muito pouco escapava.
Olhou para o seu relógio e viu que eram 3 da tarde. Era o momento de dar início ao espectáculo. A chama propagou-se com facilidade do fósforo para as folhas. A multidão soltou urros quase frenéticos. Nunca percebera se eram de alegria ou revolta. O fogo alastrou-se e, foi então, que os livros começaram a voar. Rui deu uns passos prudentes afastando-se da fogueira.
Uma menina, com uns dez anos de idade, que estava nas primeiras filas começou a chorar. Fora atingida por um dos muitos livros que eram arremessados para a fogueira. Os gritos aumentaram de intensidade atingindo um êxtase colectivo, bem perto das fronteiras da loucura. Algumas pessoas haviam sido atingidas pelos projécteis que cruzavam o ar e mesmo esses estariam na próxima queima. Face a esses incidentes, os soldados nem se haviam movido. Tudo aquilo era normal.
Rui ficou feliz que nenhum desses escritores fosse vivo. Assim só se queimavam os livros.
***
Rui permaneceu de olhar fixo na caixa de madeira.
O estaleiro municipal estava vazio naquele fim de tarde de Domingo. Tudo estava arrumado no seu devido lugar, só não sabia o que fazer ao livro. O governo pseudodemocrático não proibia a posse de livros. Nem tão pouco a leitura e a discussão pública era desencorajada ou punida. Era uma sociedade mais fechada do que fora na sua juventude, mas ainda não chegara a extremos. O problema é que havia livros e livros. O que estava à sua frente pertencia à lista de incineração.
Pegou nele. Parecia estar em bom estado, somente a capa estava dobrada das pontas e as folhas amareladas. Havia algo naquele livro que o fascinava e foi nesse momento que decidiu levá-lo para casa. Olhou em volta e não viu ninguém. Num ápice, guardou-o na sua mala de trabalho.
Antes de passar pelos guardas já um suor frio lhe envolvia o corpo. Devia ser só a sua cabeça a pregar-lhe uma partida, reflectiu. Qual seria a probabilidade de o livro ali ter sido colocado em jeito de armadilha? Só de considerar a possibilidade, sentiu uma tontura momentânea. Estando já fora do edifício, era impossível voltar atrás.
Os guardas mandaram-no parar. O coração disparou, não era nada vulgar isso acontecer. Pediram-lhe a identificação. Nervoso como estava, quase não conseguiu retirar o cartão de funcionário. A qualquer momento eles iriam aperceber-se que estava a esconder algo.
O mais baixo observou com cuidado a credencial e depois pediu-lhe que abrisse a mala. Rui ponderou se haveria de correr. Não valia a pena, eles não teriam dificuldade em capturá-lo. Resignado, abriu a mala, amaldiçoando o momento em que agarrara o livro. Apetecia-lhe gritar para pararem de brincar com ele e só não o fez porque ainda tinha esperança de escapar.
O polícia observou cuidadosamente o interior do saco velho e gasto. Os dois sentinelas trocaram olhares. Rui quase desmaiou, face à possibilidade de ser detido a qualquer momento.
Com um ar aborrecido o agente levantou a mão, fazendo-lhe sinal para seguir. Rui não quis acreditar e, após um momento de hesitação, atravessou o portão. Se calhar, os guardas nem sabiam que livros estavam na lista de incineração.
Caminhou pelas ruas da capital em direcção à Baixa, pois não havia transportes públicos ao Domingo. A tarde estava agradável, adornada por uma temperatura amena de início de Outono. Era quase hora de jantar. Os passeios estavam praticamente vazios e poucos eram os veículos que cruzavam o pavimento. Com essa paz, Rui pôde perder-se nos seus pensamentos.
Tanta coisa havia mudado desde a Guerra Europeia de há 18 anos atrás. Tudo começara quando se ouviu nas ruas que Lisboa fora ocupada. Mesmo sem um governo, o povo quis lutar contra o invasor estrangeiro. Contudo, nem o fim da ocupação devolveu a união ao país. Ninguém percebera com que é que aquele governo chegara ao poder. Algo semelhante acontecera em Espanha, culminando com a junção do Norte com a região da Galiza. Essa divisão era o motivo pelo qual tudo o que invocasse o período em que Portugal era só um tinha de ser destruído.
Ao abrir a porta do apartamento, as suas narinas foram invadidas por um delicioso aroma a frango guisado. Rui estava feliz por não haver escassez de galináceos nesse ano. A falta crónica de alguns bens de consumo era o preço a pagar por viver num pequeno estado isolado do resto do mundo.
A sua esposa e os três filhos já estavam sentados à mesa. A fome que o consumia fê-lo logo esquecer o livro.
A segunda parte pode ser encontrada em: http://pedro-cipriano.blogspot.pt/2012/12/eternas-palavras-parte-22.html
Este conto foi publicado no blog Fantasy & Co: http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2012/11/eternas-palavras-12-pedro-cipriano.html
segunda-feira, 3 de dezembro de 2012
A solução
O desfiladeiro aproximou-se. A maquilhagem estava toda borratada. Lá ao fundo, num mar revoltado e tempestuoso, estava a solução para os seus problemas. Já não havia lágrimas na sua face. Sentia uma calma como há muito tempo não desfrutava. Deu mais um passo em frente, ficando à beira do abismo. Debruçou-se sobre o oceano e olhou-o com atenção. Uma chuva miudinha começou a cair.
Ela sabia que era possível uma pessoa morrer por amor. Era um bom dia para isso voltar a acontecer. Não compreendia como é que ele a trocara por ela. Fosse como fosse, tinha de resolver o problema e iria fazê-lo naquele momento. Só havia uma coisa a fazer. Doía-lhe o coração só de pensar nas pessoas que iriam sofrer com a decisão dela. Se ainda fosse outra pessoa, ainda poderia esquecer ou ignorar. Desde sempre haviam sido as melhores amigas. Suprimiu as lágrimas e afastou-se da borda.
Abriu a porta do carro que estava parado a uma dezena de metros. Debruçando-se sobre o corpo da amiga libertou o travão de mão. O carro começou a descer o pelo terreno inclinado. Ela ficou a vê-lo precipitar-se pelo desfiladeiro.
Este conto foi escrito como desafio de um grupo de escrita.
sexta-feira, 30 de novembro de 2012
O planeta cinzento
A calma daquele sistema planetário foi interrompida pela súbita chegada da pequena nave humana, vinda do hiperespaço.
- Eloin, procura por fontes de perigo. Jala, escudos ao máximo, estamos em território desconhecido. – ordenou Voska, o responsável por aquela corveta de oito lugares.
Tudo aparentava estar calmo, contudo ele sabia que as aparências muitas vezes iludiam. Havia traços de uma civilização desconhecida à volta daquela estrela.
Os monitores mostravam um pequeno planeta cinzento e azul. À sua volta, orbitava um satélite branco, escavacado por várias colisões. Os dados que recebera apontavam para uma estrela estável, em volta da qual gravitavam uma dezena de planetas. Somente este anão, da mesma cor dos uniformes dos recrutas, parecia interessar aos comandantes.
- A transformada de Fourier do espectro detectável não mostra nada de anormal. Não há picos térmicos. O gravitómetro está no zero absoluto. Estou certo de que não há aqui vida inteligente. – relatou pouco depois o jovem navegador, cuja face ainda tinha as marcas de acne.
- Verifica outra vez e corre também a busca cinética. – retorquiu o tenente, com uma rispidez exagerada.
A face afiada e séria não deixava espaço para desculpas ou protestos. Não chegara aos quarenta anos de idade sendo descuidado. Podia até ter fama de ser severo, mas fazia-o apenas para poder regressar vivo das missões que lhes eram confiadas. De olhos fixados nos ecrãs, Voska observava os dados fornecidos, em busca de sinais de perigo. À mínima suspeita, a nave estava preparada para fazer um salto quântico de curto alcance numa questão de segundos. Ao pensar nisso, olhou para Guilo, o navegador, que devolveu o olhar, transmitindo-lhe que estava atento.
- Meu tenente, acabei de analisar as emissões pelo espectrómetro. A atmosfera é respirável e o balanço de gases está perto do ideal. Os traços de radioactividade são na ordem dos nano Sievert por metro quadrado. Não há assinaturas de agentes químicos ou biológicos nocivos na atmosfera. – reportou Eloin.
- Excelente! Nilus, coloca-nos em órbita. Não faças como na última missão, em que iniciaste o processo de entrada na atmosfera. Eu quero dar umas voltas ao planeta antes de aterrar.
O objectivo destas missões era algo que não lhe fazia completo sentido. Porque haveriam de gastar tantos recursos e tempo em busca de planetas colonizados por vida inteligente? Não poderiam esperar encontrar algo que pudesse ultrapassar a tecnologia que já possuíam, já que se uma civilização se extinguira era porque não deveria ser muito avançada. Havia alguns que procuravam os locais descritos pelas lendas, mas ninguém acreditava que eles realmente existissem. Tudo somado, a sua carreira militar transformara-se numa de caçador de tesouros e mitos.
Cauteloso como era, fez a nave dar duas voltas ao equador e outra aos pólos. Os sensores continuavam a mostrar apenas os restos de uma civilização que encontrara o seu fim há vários milhares de anos.
Hesitou antes de dar a ordem para descer. Sentia um formigueiro no estômago, fruto dos nervos. Aquele planeta causava-lhe uma sensação estranha. Ainda por cima, ao atravessar a atmosfera, estariam mais vulneráveis a qualquer ameaça, pois os escudos da nave estariam enfraquecidos e não podiam usar o hiperespaço em pressões maiores do que um Hpl. Uma vez por outra, ainda tinham que enfrentar o resto das defesas planetárias dos seus antigos inquilinos.
- Estão preparados? - perguntou, olhando para cada um dos membros da sua tripulação.
As faces dos soldados dispensavam qualquer confirmação.
A corveta iniciou a sua descida oblíqua, mantendo a orientação horizontal. A estrutura da nave estremeceu com o contacto brusco com a atmosfera. Nilus conduziu-os habilmente depois de atravessarem estratosfera, usando o veículo como aeronave.
Seguindo as ordens do tenente, aproximaram-se do que parecia ser uma cidade abandonada. A paisagem parecia um deserto, coberta talvez de poeira e gravilha, causa da cor característica do planeta. As ruínas pareciam estar em bom estado, encontrando-se erguidas sem aparentarem qualquer dano devido à passagem do tempo.
Pousaram suavemente num trecho de terreno plano. Libertaram-se dos bancos e pegaram no equipamento. Ao abrirem a escotilha, foram invadidos por um silêncio desolador.
Saíram, enfrentando um dia quente. Para além de meia dúzia de insectos e algumas ervas rasteiras quase secas à sombra, tanto os sensores, como o olhar não encontravam nenhuma fonte de vida. Com os escudos ao máximo e armas em riste, dirigiram-se para o edifício mais próximo.
Era uma imensa construção de betão quadrangular, com a aparência de forte.
- A datação por C13 diz que isto tem, pelo menos, onze mil anos. – informou Eloin.
Encontraram facilmente a porta, que não parecia em nada reforçada. Estupefactos, descobriram que podiam simplesmente rodar a maçaneta para penetrar no interior. Cauteloso como era, Voska obrigou-os a procurar por armadilhas, contudo a busca não revelou nada.
Lá dentro a temperatura era muito inferior e muito pouca luz entrava naquele domínio. O ar continuava abafado. Avançaram lentamente, subindo por umas escadas que os conduziram a outra sala. Nenhum dos aparelhos alienígenas parecia funcionar, eles deduziram que lhes faltava uma fonte de energia.
Uma porta lateral levou-os a uma grande divisão, preenchida por prateleiras cheias de livros. Um pensamento divertido passou pela cabeça dos soldados - os aliens também possuíam livros.
Por impulso, Jala pegou num dos volumes e abriu-o. Incrivelmente este estava em excelente estado de conservação, pois não se desfez no processo. Ao passar os olhos pelas páginas, percebeu que estava escrito em caracteres latinos. Ainda mais extraordinário era que entendia algumas palavras. Estava muita surpreendida com o sucedido. Queria contar aos restantes, mas a grande revelação deixou-a sem fala.
O tempo de revolução e translação não era coincidência, assim como não era a arquitectura estranhamente familiar. O livro providenciara a última peça do puzzle, os mitos eram muito mais que isso. Aquele momento era histórico, a humanidade tinha finalmente reencontrado o seu planeta de origem.
- Eloin, procura por fontes de perigo. Jala, escudos ao máximo, estamos em território desconhecido. – ordenou Voska, o responsável por aquela corveta de oito lugares.
Tudo aparentava estar calmo, contudo ele sabia que as aparências muitas vezes iludiam. Havia traços de uma civilização desconhecida à volta daquela estrela.
Os monitores mostravam um pequeno planeta cinzento e azul. À sua volta, orbitava um satélite branco, escavacado por várias colisões. Os dados que recebera apontavam para uma estrela estável, em volta da qual gravitavam uma dezena de planetas. Somente este anão, da mesma cor dos uniformes dos recrutas, parecia interessar aos comandantes.
- A transformada de Fourier do espectro detectável não mostra nada de anormal. Não há picos térmicos. O gravitómetro está no zero absoluto. Estou certo de que não há aqui vida inteligente. – relatou pouco depois o jovem navegador, cuja face ainda tinha as marcas de acne.
- Verifica outra vez e corre também a busca cinética. – retorquiu o tenente, com uma rispidez exagerada.
A face afiada e séria não deixava espaço para desculpas ou protestos. Não chegara aos quarenta anos de idade sendo descuidado. Podia até ter fama de ser severo, mas fazia-o apenas para poder regressar vivo das missões que lhes eram confiadas. De olhos fixados nos ecrãs, Voska observava os dados fornecidos, em busca de sinais de perigo. À mínima suspeita, a nave estava preparada para fazer um salto quântico de curto alcance numa questão de segundos. Ao pensar nisso, olhou para Guilo, o navegador, que devolveu o olhar, transmitindo-lhe que estava atento.
- Meu tenente, acabei de analisar as emissões pelo espectrómetro. A atmosfera é respirável e o balanço de gases está perto do ideal. Os traços de radioactividade são na ordem dos nano Sievert por metro quadrado. Não há assinaturas de agentes químicos ou biológicos nocivos na atmosfera. – reportou Eloin.
- Excelente! Nilus, coloca-nos em órbita. Não faças como na última missão, em que iniciaste o processo de entrada na atmosfera. Eu quero dar umas voltas ao planeta antes de aterrar.
O objectivo destas missões era algo que não lhe fazia completo sentido. Porque haveriam de gastar tantos recursos e tempo em busca de planetas colonizados por vida inteligente? Não poderiam esperar encontrar algo que pudesse ultrapassar a tecnologia que já possuíam, já que se uma civilização se extinguira era porque não deveria ser muito avançada. Havia alguns que procuravam os locais descritos pelas lendas, mas ninguém acreditava que eles realmente existissem. Tudo somado, a sua carreira militar transformara-se numa de caçador de tesouros e mitos.
Cauteloso como era, fez a nave dar duas voltas ao equador e outra aos pólos. Os sensores continuavam a mostrar apenas os restos de uma civilização que encontrara o seu fim há vários milhares de anos.
Hesitou antes de dar a ordem para descer. Sentia um formigueiro no estômago, fruto dos nervos. Aquele planeta causava-lhe uma sensação estranha. Ainda por cima, ao atravessar a atmosfera, estariam mais vulneráveis a qualquer ameaça, pois os escudos da nave estariam enfraquecidos e não podiam usar o hiperespaço em pressões maiores do que um Hpl. Uma vez por outra, ainda tinham que enfrentar o resto das defesas planetárias dos seus antigos inquilinos.
- Estão preparados? - perguntou, olhando para cada um dos membros da sua tripulação.
As faces dos soldados dispensavam qualquer confirmação.
A corveta iniciou a sua descida oblíqua, mantendo a orientação horizontal. A estrutura da nave estremeceu com o contacto brusco com a atmosfera. Nilus conduziu-os habilmente depois de atravessarem estratosfera, usando o veículo como aeronave.
Seguindo as ordens do tenente, aproximaram-se do que parecia ser uma cidade abandonada. A paisagem parecia um deserto, coberta talvez de poeira e gravilha, causa da cor característica do planeta. As ruínas pareciam estar em bom estado, encontrando-se erguidas sem aparentarem qualquer dano devido à passagem do tempo.
Pousaram suavemente num trecho de terreno plano. Libertaram-se dos bancos e pegaram no equipamento. Ao abrirem a escotilha, foram invadidos por um silêncio desolador.
Saíram, enfrentando um dia quente. Para além de meia dúzia de insectos e algumas ervas rasteiras quase secas à sombra, tanto os sensores, como o olhar não encontravam nenhuma fonte de vida. Com os escudos ao máximo e armas em riste, dirigiram-se para o edifício mais próximo.
Era uma imensa construção de betão quadrangular, com a aparência de forte.
- A datação por C13 diz que isto tem, pelo menos, onze mil anos. – informou Eloin.
Encontraram facilmente a porta, que não parecia em nada reforçada. Estupefactos, descobriram que podiam simplesmente rodar a maçaneta para penetrar no interior. Cauteloso como era, Voska obrigou-os a procurar por armadilhas, contudo a busca não revelou nada.
Lá dentro a temperatura era muito inferior e muito pouca luz entrava naquele domínio. O ar continuava abafado. Avançaram lentamente, subindo por umas escadas que os conduziram a outra sala. Nenhum dos aparelhos alienígenas parecia funcionar, eles deduziram que lhes faltava uma fonte de energia.
Uma porta lateral levou-os a uma grande divisão, preenchida por prateleiras cheias de livros. Um pensamento divertido passou pela cabeça dos soldados - os aliens também possuíam livros.
Por impulso, Jala pegou num dos volumes e abriu-o. Incrivelmente este estava em excelente estado de conservação, pois não se desfez no processo. Ao passar os olhos pelas páginas, percebeu que estava escrito em caracteres latinos. Ainda mais extraordinário era que entendia algumas palavras. Estava muita surpreendida com o sucedido. Queria contar aos restantes, mas a grande revelação deixou-a sem fala.
O tempo de revolução e translação não era coincidência, assim como não era a arquitectura estranhamente familiar. O livro providenciara a última peça do puzzle, os mitos eram muito mais que isso. Aquele momento era histórico, a humanidade tinha finalmente reencontrado o seu planeta de origem.
quarta-feira, 28 de novembro de 2012
Para Pensar V
A verdadeira felicidade não é ter muito, é conseguir ser feliz com aquilo que se tem. Passar o tempo a desejar aquilo que não se pode ter é apenas uma maneira de se ser infeliz.
terça-feira, 27 de novembro de 2012
Nanowrimo: dia 27
Cheguei as 52160 palavras e achei que era altura de parar (claro, já ganhei, o que é que pensam?). O dia rendeu-me umas respeitáveis 1797 e ficaram a faltar 4 capítulos para escrever em 3 dias. Nada que não se fizesse com alguma dedicação. O problema é que eu preciso de completar outros contos que tem prazos de entrega nos primeiros dias de Dezembro. Assim sendo, decidi dar uma pausa de uma semana e fazer os três dias de seguida a começar na próxima quarta. Já não é bem Nanowrimo é mais uma maratona pessoal!
Haverá posts normais no blog esta Quarta e Sexta-feira e na próxima Segunda.
Haverá posts normais no blog esta Quarta e Sexta-feira e na próxima Segunda.
segunda-feira, 26 de novembro de 2012
Nanowrimo: dia 26
We got a winner!
Hoje escrevi mais 1150 palavras e fiquei com um total de 50363 o que me qualifica com vencedor do Nanowrimo 2012.
Isto eram as boa notícias, as más é que ainda faltam 5 capítulos para terminar e já só tenho 4 dias. Isto vai dar uma média de 2500 palavras por dia. Será que vou ser capaz?
Hoje escrevi mais 1150 palavras e fiquei com um total de 50363 o que me qualifica com vencedor do Nanowrimo 2012.
Isto eram as boa notícias, as más é que ainda faltam 5 capítulos para terminar e já só tenho 4 dias. Isto vai dar uma média de 2500 palavras por dia. Será que vou ser capaz?
domingo, 25 de novembro de 2012
Nanowrimo: dia 25
Hoje foi um dos dias mais produtivos desde que começou o Nanowrimo. O quarto mais produtivo em termos de quantidade de palavras. O livro cresceu mais 3034, ficando com um total de 49213. Estou quase um vencedor do Nanowrimo! Para terminar vou precisar de uma média de 2200 por dia até sexta à noite.
Tive de abrandar o ritmo a meio da tarde, porque descobri que me faltava um pedaço de pesquisa importante. Para se honesto, nunca me tinha ocorrido meter a cena em questão no livro mas, quando chegou o momento de escrever, eu achei que era apropriado.
Em termos da história, estou na recta final, entre o momento de desespero e o clímax. Tudo será decidido nas próximas páginas!
Tive de abrandar o ritmo a meio da tarde, porque descobri que me faltava um pedaço de pesquisa importante. Para se honesto, nunca me tinha ocorrido meter a cena em questão no livro mas, quando chegou o momento de escrever, eu achei que era apropriado.
Em termos da história, estou na recta final, entre o momento de desespero e o clímax. Tudo será decidido nas próximas páginas!
sábado, 24 de novembro de 2012
Nanowrimo: dia 24
Estratégia vencedora, não se muda! Foi isso mesmo que fiz, foi dar umas voltas na linha circular de metro. O dia rendeu-me umas generosas 2508 palavras chegando ao total de 46179. Ainda estou atrasado, mas sinto-me mais confiante. Passei hoje os três quartos do livro. A pouco mais de 1400 palavras do fim, começo a ver o sucesso da missão como algo bem perto. Cansaço, falta de imaginação e tempo, tudo se cura com força de vontade! Vou ter de aproveitar muito bem este fim-de-semana, por ser o último de Novembro. Os contos que quero escrever estão-me nas pontas dos dedos, mas ainda vão ter que esperar mais 6 dias.
sexta-feira, 23 de novembro de 2012
Nanowrimo: dia 23
Apenas 814 palavras! O total anda agora pelas 43671, ou seja, um atraso de 2400. O que vale é que amanhã é sábado. O cansaço acumulado foi o principal factor da baixa prestação. O ponto positivo do dia foi ter atingido o ponto sem retorno. A partir de agora a acção deve ser mais fluida. Esta recta final está a ser mais difícil do que pensava.
quinta-feira, 22 de novembro de 2012
Nanowrimo: dia 22
Se há coisa que possa dizer sobre o dia é: Missão cumprida! O livro cresceu em 2670 palavras, ficando com um total de 42857. Foi um inversão muito esperada da tendência. De momento, estou com um atraso de cerca de 1200 palavras, que é recuperável no fim-de-semana.
Por outro lado, tenho a dizer, no bom estilo alemão: Ich bin fertig! Como quem diz que está acabado. O trabalho, escrita e desporto esgotaram-me completamente as energias. Só espero pela minha caminha sempre fiel, para amanhã poder continuar a minha missão!
Por outro lado, tenho a dizer, no bom estilo alemão: Ich bin fertig! Como quem diz que está acabado. O trabalho, escrita e desporto esgotaram-me completamente as energias. Só espero pela minha caminha sempre fiel, para amanhã poder continuar a minha missão!
quarta-feira, 21 de novembro de 2012
Nanowrimo: dia 21
Infelizmente, o atraso crónico continua! Estou cerca de 2000 palavras abaixo da meta a que me tinha proposto. De momento, o total são 40187, ou seja, mais 1745 palavras que ontem. A produtividade aumentou em relação aos dois dias anteriores, mas o atraso é cada vez maior. Espero que o dia de amanhã me corra melhor e que faça pelo menos a meta diária. Recuperar o atraso, acho que só no fim-de-semana.
O ponto positivo é que passei os dois terços do livro!
O ponto positivo é que passei os dois terços do livro!
terça-feira, 20 de novembro de 2012
Nanowrimo: dia 20
Hoje devia ter chegado a um terço do livro. Neste momento, o meu total é de 38442 palavras. Mais 1732 palavras que ontem e menos 1558 do que o que contava ter por esta altura. Hoje o dia foi um bocadinho melhor que o de ontem, mas mesmo assim fiquei abaixo da bitola, aumentando o atraso.
Entrei agora no capítulo 20, um dos mais importantes de todo o livro. A trama adensa-se e a personagem principal vê-se forçada a tomar decisões. Os dados estão lançados e está tudo pronto para entrar na recta final.
Mudei o resumo do livro na página de projectos, quem estiver curioso, pode ir lá cuscar. Agora vou voltar à escrita!
Entrei agora no capítulo 20, um dos mais importantes de todo o livro. A trama adensa-se e a personagem principal vê-se forçada a tomar decisões. Os dados estão lançados e está tudo pronto para entrar na recta final.
Mudei o resumo do livro na página de projectos, quem estiver curioso, pode ir lá cuscar. Agora vou voltar à escrita!
segunda-feira, 19 de novembro de 2012
Nanowrimo: dia 19
Hoje foi um dia muito pouco produtivo. Fiquei-me pelas 594 palavras, o total diário mais baixo de todo o Nanowrimo. O total anda pelas 36710. Pela segunda vez estou atrasado em relação ao plano. Acho que ainda vou escrever mais antes de ir dormir, para recuperar parte do atraso.
domingo, 18 de novembro de 2012
Nanowrimo: dia 18
A saga de escrever um livro continua. Hoje foram mais 1988 palavras. Não consegui cumprir o objectivo de escrever 4000 durante o domingo. Passei oito horas para escrever um único capítulo e se isto fosse um dia semana, bem, já me teria passado dos pirolitos. O total já conta com 36116 e 18 capítulos prontos. Estou a cumprir a meta definida. Ainda podia escrever mais hoje, mas achei melhor não para não saturar. Amanhã há mais!
sábado, 17 de novembro de 2012
Nanowrimo: dia 17
Hoje adaptei a minha estratégia. Escrevi um bocado em casa, mas depois fartei-me. Peguei nas minhas bolachas e fui andar de metro às voltas. Há uma linha que anda à volta da cidade e que posso lá ficar sempre sentado no mesmo sitio. Foi o que fiz durante uma hora e pouco e chegou para debitar mais de 1500 palavras. Hoje escrevi um total de 2060 palavras, perfazendo um total de 34128 e completando já 17 capítulos. Amanhã é domingo e ficarei desapontado se escrever menos de 4000.
sexta-feira, 16 de novembro de 2012
Nanowrimo: dia 16
Hoje o dia rendeu umas meras 1178 palavras, colocando-me no ponto previsto do meu plano. O total de palavras até ao momento é de 32068. Faltam 14 dias para o fim do Nanowrimo e 14 capítulos para o fim do livro. Foi um dia marcado por uma escrita um pouco mais demorada, não que estivesse com bloqueamento, acho que foi o meu editor interno que me veio lembrar da sua existência.
quinta-feira, 15 de novembro de 2012
Nanowrimo: dia 15
Apesar do trabalho, desporto e falta de tempo, foi um dia muito produtivo. Rendeu 2280 palavras. o que é bastante acima da média. Tenho um total de 30891 e passei o meio do livro. O tensão está a aumentar e estou a caminhar a passos largos para o ponto sem retorno. Fica mais fácil escrever e mais difícil desistir. O pensamento do dia é que estou a gostar tanto de escrever como espero que vocês gostem de ler.
quarta-feira, 14 de novembro de 2012
Nanowrimo: dia 14
Descobri que a escrita, trabalho e dormir são três coisas mutuamente exclusivas. Depois de uma noite a trabalhar até às 3 da manhã e acordar as 8, fica difícil conseguir escrever. Andei o dia todo com uma enorme dor de cabeça. Fiquei-me pelas 1527 perfazendo um total de 28611 palavras. Tenho 14 capítulos completos e estou ligeiramente adiantado em relação ao plano. Amanhã é quinta-feira, o dia mais duro da semana...
Estou quase a meio do nano e cada vez que olho para trás fico bastante satisfeito com o meu desempenho. E por hoje fico por aqui, amanhã há mais.
Estou quase a meio do nano e cada vez que olho para trás fico bastante satisfeito com o meu desempenho. E por hoje fico por aqui, amanhã há mais.
terça-feira, 13 de novembro de 2012
Nanowrimo: dia 13
Foi um dia muito produtivo. As seis e meia ainda nem tinha escrito 500 palavras e numa hora e pouco consegui escrever mais de 1500 fazendo um total diário de 2012. A pouca bateria do portátil contribuiu em muito para isso. O total do livro é de 27084 palavras e 13 capítulos já estão prontos. Espero ter mais dias como este!
Voltei atrás e li algumas coisas e o meu pensamento foi: "Mas quem foi o idiota que escreveu esta m****". Portanto, se vocês não leram o que escreveram até agora, não é uma boa altura para o fazer. Isso fica para Dezembro.
Voltei atrás e li algumas coisas e o meu pensamento foi: "Mas quem foi o idiota que escreveu esta m****". Portanto, se vocês não leram o que escreveram até agora, não é uma boa altura para o fazer. Isso fica para Dezembro.
segunda-feira, 12 de novembro de 2012
Nanowrimo: dia 12
Hoje o meu livro cresceu mais 1555 palavras, ficando já com um total de 25072. Foi um doa tranquilo, essencialmente dominado pelo trabalho. Por esta altura já a maior parte das pessoas que convive comigo sabe que estou a escrever um livro e não para de de me perguntar como vai. Chegou ao ponto de ter afixado a minha wordcount no placard do meu escritório. As pessoas chegam vêem a contagem e vão se embora.
Tenho doze capítulos escritos e estou cerca de 1000 palavras acima do plano. Contudo, espera-me uma semana árdua.
Tenho doze capítulos escritos e estou cerca de 1000 palavras acima do plano. Contudo, espera-me uma semana árdua.
domingo, 11 de novembro de 2012
Nanowrimo: dia 11
Nada como inverter uma tendência para levantar a moral. Depois de vários dias a escrever abaixo da meta, consegui hoje escrever 3250 palavras, ficando o livro com um total de 23517. Foi tudo graças ao tempo livre por ser Domingo e mesmo assim não livrei de ter dar uma limpeza à casa. Acho que as causas curtas e frequentes só ajudam a focalizar melhor. Acho que não escrevo mais porque estou a ficar um pouco saturado com o tema. Sinto-me a escrever ao metro e isso, na minha opinião, não é lá muito saudável. Os onze capítulos já terminados fazem que olhe para trás a fique contente com o meu desempenho até ao momento.
sábado, 10 de novembro de 2012
Nanowrimo: dia 10
Hoje consegui o vergonhoso total de 1669 palavras. Vergonhoso porque é Sábado e devia adiantar para o resto da semana. O cansaço já começa a acumular. O que me cansa mais é saber que ainda falta escrever dois terços do livro. O total do momento é 20267 palavras. Espero ter uma noite bem dormida e amanha poder dar-lhe forte.
Se compararem as minhas crónicas do Nanowrimo, vão ver que até a própria crónica vai ficando mais curte de dia para dia. Eu acho que isso reflecte o meu trabalho ao longo do dia.
Se compararem as minhas crónicas do Nanowrimo, vão ver que até a própria crónica vai ficando mais curte de dia para dia. Eu acho que isso reflecte o meu trabalho ao longo do dia.
sexta-feira, 9 de novembro de 2012
Nanowrimo: dia 9
Hoje o total ficou-se pelas 1137, não porque tivesse sido pouco produtivo, mas porque me vi realmente obrigado a reescrever metade de um capítulo por a informação lá contida estar errada. São coisas que acontecem e que eu nunca faria se estivesse atrasado. Ainda para mais, com o fim-de-semana à porta, eu dediquei algum tempo a organizar o material que irei precisar nos próximos dois capítulos para os poder escrever mais depressa. No total já conto com 18598 palavras, ou seja, 598 a mais que o planeado.
quinta-feira, 8 de novembro de 2012
Nanowrimo: dia 8
Hoje consegui escrever 1600 palavras, atingindo um total de 17461. Ainda estou um bocadinho avançado em relação ao plano. Com oito capítulos completos e dois em águas de bacalhau, tenho mais de um quarto da história escrita.
Descobri hoje que os travessões do dialogo contam como palavra o que inflaciona um bocadinho a contagem.
Só não avancei mais porque tive de parar para fazer uma pesquisa e ainda perdi tempo a dar mais uma pequena organização ao plano. Com isto espero evitar alguns problemas no futuro. Mal posso esperar pelo fim-de-semana para dar um bom avanço.
Descobri hoje que os travessões do dialogo contam como palavra o que inflaciona um bocadinho a contagem.
Só não avancei mais porque tive de parar para fazer uma pesquisa e ainda perdi tempo a dar mais uma pequena organização ao plano. Com isto espero evitar alguns problemas no futuro. Mal posso esperar pelo fim-de-semana para dar um bom avanço.
quarta-feira, 7 de novembro de 2012
Nanowrimo: dia 7
Depois de um dia a escrever pouco, só podia vir outro dia a escrever menos. Hoje fiquei-me pelas 1206 palavras. Culpa? Essencialmente minha! Passei uma boa parte do tempo a a dar uma ajustes à estrutura, tanto a mudar as coisas que já fiz diferentes do plano original, como mudar o que tenciono fazer. Ainda acrescentei alguns detalhes para tornar a escrita dos próximos capítulos mais fácil. E foi assim que passei o dia.
Tenho um total de 15861 palavras, ou seja, ainda estou ligeiramente à frente do programado. Agora é manter a média e espera pelo fim de semana para dar um salto.
Tenho um total de 15861 palavras, ou seja, ainda estou ligeiramente à frente do programado. Agora é manter a média e espera pelo fim de semana para dar um salto.
terça-feira, 6 de novembro de 2012
Nanowrimo: dia 6
Hoje o dia resumiu-se a umas míseras 1644 palavras, perfazendo um total de 14655. Posso culpar a bateria do portátil, que não aguentou quanto precisava para completar as 2000. A vontade de escrever à mão era pouca, por isso ficou por isso mesmo. Não há pesos na consciência, a minha meta são as 60000, por isso ainda tenho um bom avanço que posso desperdiçar em dias como este.
Tenho quase um quarto do livro escrito e há pessoas que estão a conseguir fazê-lo muito mais rapidamente. Sem qualquer ironia ou sarcasmo, eu fiquei verdadeiramente fascinado com as pessoas que conseguem escrever 3000 palavras numa hora. Eu não consigo, por várias razões: a primeira e mais óbvia é que não consegui mandar o meu editor interno passear totalmente. A segunda prende-se com voltar atrás e acrescentar detalhes. Ambas e juntas atrasam-me bastante. Como estou adiantado, vou continuar com o mesmo esquema e só mudo se começar a ficar com um atraso crónico.
Tenho quase um quarto do livro escrito e há pessoas que estão a conseguir fazê-lo muito mais rapidamente. Sem qualquer ironia ou sarcasmo, eu fiquei verdadeiramente fascinado com as pessoas que conseguem escrever 3000 palavras numa hora. Eu não consigo, por várias razões: a primeira e mais óbvia é que não consegui mandar o meu editor interno passear totalmente. A segunda prende-se com voltar atrás e acrescentar detalhes. Ambas e juntas atrasam-me bastante. Como estou adiantado, vou continuar com o mesmo esquema e só mudo se começar a ficar com um atraso crónico.
segunda-feira, 5 de novembro de 2012
Nanowrimo: dia 5
Hoje consegui escrever 3500 palavras, ficando o livro com 13011 no total. Estou um pouco abaixo da fasquia que defini para mim próprio mas, mesmo assim, espero terminar antes da meia-noite do dia 30 de Novembro(pelas minhas contas, seria qualquer coisa como dia 28 se mantivesse esta media).
A história propriamente dita já conta com seis capítulos completos e mais de quarenta páginas (sim, o meu tipo de letra é grande). Acabei por acrescentar uma dimensão extra à narrativa. Por hoje fecho a loja.
A história propriamente dita já conta com seis capítulos completos e mais de quarenta páginas (sim, o meu tipo de letra é grande). Acabei por acrescentar uma dimensão extra à narrativa. Por hoje fecho a loja.
domingo, 4 de novembro de 2012
Nanowrimo: dia 4
Finalmente um dia que considero produtivo pois escrevi mais 4242 palavras. A novela já conta com 9511 palavras. Entretanto decidi aceitar o desafio que me foi colocado pelos colegas de trabalho e já inclui duas palavras das cinco que eles me pediram para incluir: Manjerição e Pedro. Se continuar a este ritmo, vou conseguir terminar a tempo, apesar de levar um ligeiro atraso em relação ao meu plano original.
sábado, 3 de novembro de 2012
Nanowrimo: dia 3
Foi um dia demasiado relaxado. Tão relaxado que fiz muito menos do que estava à espera. Fiquei-me pelas modestas 2528 palavras, perfazendo um total de 5269. A história já conta com dois capítulos e meio. Estou umas 750 palavras abaixo da meta que defini para mim mesmo. A única parte boa é que consegui manter a minha rotina normal. Vamos lá ver como isto corre amanhã. Estou confiante que vou conseguir superar o total diário.
sexta-feira, 2 de novembro de 2012
Nanowrimo: dia 2
O facto de serem 23:30 e ainda estar no trabalho explica o facto de só conseguir escrever 715 palavras durante o dia. Se ontem me tinha queixado do cansaço, hoje nem sei o que dizer. O que vale é que já tenho 2741, ou seja, o atraso não é grande e é facilmente recuperável a um Sábado. Vamos lá ver como é que sobrevivo a este e outros imprevistos.
quinta-feira, 1 de novembro de 2012
Nanowrimo: dia 1
Foi um dia muito cansativo. Felizmente consegui encaixar a escrita com a minha rotina e consegui escrever o primeiro capítulo, atingindo as minhas primeiras 2026 palavras. Consegui lá chegar muito antes da meia noite e por isso decidi recompensar-me a mim mesmo tirando o resto do dia de folga. Isto é uma corrida da resistência e não de velocidade, por isso vou aproveitar todos os momentos de pausa. Quero chegar ao fim com a mesma pica com que comecei.
quarta-feira, 31 de outubro de 2012
Nanowrimo: Aquecimento
O Nanowrimo está a começar. Consiste em escrever um livro durante o mês de Novembro e este ano decidi participar. O objectivo são as 50000 palavras, o que dá uma média assustadora de 1667 por dia. Só a preparação para o evento já me deixou cansado, com a organização prévia e investigação. Eu vou deixando umas actualizações por aqui, mas não irei publicar textos novos. Os que tenho estão agendados para Dezembro.
E vou ao trabalho que é hora!
Aqui ficam os detalhes provisórios do livro que planeio escrever:
Título: A menina dos doces
Género: Mistério e Drama
Língua: Português
Extensão estimada: entre 50000 e 60000 palavras
Número de capítulos: 30 (um por dia)
E vou ao trabalho que é hora!
Aqui ficam os detalhes provisórios do livro que planeio escrever:
Título: A menina dos doces
Género: Mistério e Drama
Língua: Português
Extensão estimada: entre 50000 e 60000 palavras
Número de capítulos: 30 (um por dia)
domingo, 28 de outubro de 2012
Apanhado de contos - Fantasy & Co
Um apanhado dos contos publicados no blog Fantasy & Co, ensemble do qual faço parte, pode ser encontrado em:
http://cronicasobscuras.blogspot.pt/2012/10/contos-de-fantasy-co.html
A lista foi elaborada por Vitor Frazão e é um ponto de partida obrigatório para todos os fãs de contos!
http://cronicasobscuras.blogspot.pt/2012/10/contos-de-fantasy-co.html
A lista foi elaborada por Vitor Frazão e é um ponto de partida obrigatório para todos os fãs de contos!
Teia de Memórias: Revisão II
A revisão prossegue a um ritmo lento. Tenho tentado reescrever casa frase e pensar se cada paragrafo é realmente necessário.
Contudo, tenho passado mais tempo a escrever contos. Preciso de organizar a minha vida antes de entrar no ritmo Nanowrimo e isso não me deixa muito tempo para tratar de mais nada. Espero em Dezembro conseguir recuperar do atraso.
Contudo, tenho passado mais tempo a escrever contos. Preciso de organizar a minha vida antes de entrar no ritmo Nanowrimo e isso não me deixa muito tempo para tratar de mais nada. Espero em Dezembro conseguir recuperar do atraso.
sexta-feira, 5 de outubro de 2012
Teia de Memórias: Revisão I
O primeiro passo da revisão de um livro é lê-lo. É necessário ler com muita atenção, o que não é fácil se tivermos em conta que já sabemos a história de trás para a frente e corremos o risco de ler apenas superficialmente. Normalmente deixa-se o livro de parte durante pelo menos meio ano. Foi isso que fiz, já que terminei em Março.
Ao ler fiquei surpreendido com as coisas que encontrei. Não só em termos de incoerências mas ao nível de detalhes, tanto os que incluí como os que pensava que tinha incluído. Costuma-se dizer que o diabo está nos detalhes e eu não podia estar mais de acordo.
Para ajudar a minha tarefa de revisão, decidi fazer um resumo do livro. Escrevi meia dúzia de frases por cada capítulo e irei compara-las com o plano inicial do livro. Esta ideia foi-me dada pela Adoa Coelho (http://oceanusgaia.blogspot.de/). Ainda não sei quão diferentes são, mas tenho a certeza que não irão coincidir
Espero terminar esta leitura no Sábado. Depois irei ler o livro e efectuar as minhas correcções em cada capítulo e comparar com as que os meus beta-leitores me deram.
Nesta revisão irei usar o método das listas, como me foi sugerido pela Sara Farinha e podem encontrá-lo em http://sarinhafarinha.wordpress.com/2011/03/05/erros-check-corrigir-check-errr-still-checking/
Para quem está interessado em rever os seus próprios livros eu aconselho este post: http://sarinhafarinha.wordpress.com/2012/08/08/recursos-do-escritor-os-8-pontos-da-revisao-de-texto/
Ao ler fiquei surpreendido com as coisas que encontrei. Não só em termos de incoerências mas ao nível de detalhes, tanto os que incluí como os que pensava que tinha incluído. Costuma-se dizer que o diabo está nos detalhes e eu não podia estar mais de acordo.
Para ajudar a minha tarefa de revisão, decidi fazer um resumo do livro. Escrevi meia dúzia de frases por cada capítulo e irei compara-las com o plano inicial do livro. Esta ideia foi-me dada pela Adoa Coelho (http://oceanusgaia.blogspot.de/). Ainda não sei quão diferentes são, mas tenho a certeza que não irão coincidir
Espero terminar esta leitura no Sábado. Depois irei ler o livro e efectuar as minhas correcções em cada capítulo e comparar com as que os meus beta-leitores me deram.
Nesta revisão irei usar o método das listas, como me foi sugerido pela Sara Farinha e podem encontrá-lo em http://sarinhafarinha.wordpress.com/2011/03/05/erros-check-corrigir-check-errr-still-checking/
Para quem está interessado em rever os seus próprios livros eu aconselho este post: http://sarinhafarinha.wordpress.com/2012/08/08/recursos-do-escritor-os-8-pontos-da-revisao-de-texto/
segunda-feira, 1 de outubro de 2012
Paragem durante o mês de Outubro
Durante o mês de Outubro não haverá novos textos no blog, já que irei concentrar-me na revisão do meu livro "Teia de Memórias". Ao invés disso, colocarei actualizações periódicas sobre o meu progresso.
Mantenham-se atentos às novidades!
Mantenham-se atentos às novidades!
sábado, 29 de setembro de 2012
Para pensar IV
Famílias ricas são pouco diferentes das famílias pobres. Ambas gostam de acumular coisas, se bem que no caso das primeiras, um castelo ou uma grande mansão pode ajudar imenso a guardar essa tralha valiosa. Bibliotecas de livros nunca lidos, decorações de metais preciosos e até mesmo o edifício é uma obra de arte. Se olharmos agora para o caso das famílias reais, o caso é bastante diferente, pois essas são mais do género de acumular castelos e mansões com o respectivo recheio.
Escrito no dia 1 de Setembro de 2012.
quarta-feira, 26 de setembro de 2012
A morte de David
Tinha sido uma festa daquelas, como costumavam dizer entre eles, com muito álcool, rock, alguma erva e muita loucura. Quase todos os seus amigos, conhecidos e colegas tinham estado presentes, pois era a mais importante festa académica, conhecida por queima das fitas, ou simplesmente queima. A festa tinha terminado com o despontar do dia e a escuridão havia-se desvanecido lentamente enquanto ele voltava para casa.
Precisava de se deitar rapidamente, pois sabia que estava completamente bêbado. O seu estado era tal que tinha demorou uma eternidade para conseguir encontrar as chaves do apartamento e ainda mais para abrir a porta.
Enquanto caminhava em direcção ao seu quarto, um ligeiro desvio levou-o à cozinha. Tinha a garganta seca, um dos primeiros sinais de ressaca, e precisava dum copo de água com urgência.
A cozinha estava no seu estado normal, com a loiça por lavar e os caixotes do lixo a abarrotar, com dezenas de moscas da fruta a sobrevoá-los. A falta de tempo para as limpezas não era surpreendente para seis estudantes que se comprometia tanto a ir a todas as festas como a tentar passar nos exames de todas as cadeiras. Naturalmente que existiam excepções naquela casa mas, esses também não limpavam porque não o queriam fazer sozinhos.
David demorou cerca dum minuto a encontrar um copo menos sujo que os restantes. Encheu com água da torneira e sorveu o líquido avidamente.
Ouviu passos atrás de si. Voltou-se sobressaltado, constatando que era apenas um dos rapazes que vivia consigo. Não esperava vê-lo em casa àquelas horas.
― Bom dia! ― cumprimentou.
― Bom dia. ― devolveu-lhe o rapaz com uma expressão neutra.
Dirigiu-se ao frigorífico, ainda zonzo com o efeito da bebida. Estava extremamente esfomeado, pois não comia nada há horas. Abriu a porta do frigorífico, retirou o pacote do fiambre e fechou-a de seguida com a ajuda do cotovelo. Como estava embriagado, o gesto não lhe correra como previra e a porta do frigorífico ficara entreaberta. Praguejou enquanto atirava o fiambre para cima da mesa, voltou a abrir a porta do frigorífico, fechando-a de seguida com uma velocidade excessiva.
Pegou na metade de um bico do dia anterior para fazer uma sanduíche. Olhou-a durante alguns segundos, o seu cérebro parecia demorar um eternidade para chegar à conclusão de que precisava de uma faca para abrir o pão. Percorreu a divisão com o olhar de modo descortinar onde poderia encontrar uma, descobrindo-a na mão do seu colega de apartamento.
― Podes emprestar-me essa faca por um momento? ― pediu David, tentando soar simpático.
― Agora estou a usá-la, vê se encontras outra ― respondeu-lhe o jovem, aparentemente mal-humorado.
― 'Tá bem! ― concordou David, sem ligar importância.
Virou costas e dirigiu-se ao lava loiça, procurando por alguma faca que pudesse lavar.
No momento seguinte, sentiu uma dor lancinante nas costas. Algo o tinha atingido, penetrado a sua pele e embatendo na omoplata. Sentiu os músculos serem rasgados por um movimento descendente.
― Foda-se! O que é que foi isso? ― balbuciou David confuso e com dificuldade em articular as palavras.
O golpe não fora muito profundo, todavia o sangue começou a correr ao removerem o objecto que o cortara, manchado-lhe a camisa. As pernas fraquejaram, obrigando-o a apoiar-se no balcão frio da cozinha. Como resposta, outro golpe atingiu-o novamente nas costas, desta vez atingindo uma profundidade superior.
― Aaaaaa! ― gritou de dor.
Sentiu-se em pânico ao perceber que estava a ser esfaqueado e que se não reagisse, iriam matá-lo ali mesmo. Porém, o álcool presente no sangue fazia com que os seus reflexos ficassem mais lentos. Quando a faca foi removida das suas costas conseguiu finalmente reagir. Infelizmente, ao tentar virar-se, simplesmente colapsou no chão.
As pernas não respondiam, a visão estava desfocada e ele sentia-se zonzo. A perda de sangue começava a ter os seus efeitos. Olhou para o atacante e um só pensamento lhe ocorreu: fugir, pois ele desejava a sua morte. Com um esforço tremendo, começou a arrastar-se pelo chão da cozinha em direcção à porta.
Um par de passos e o vulto aproximou-se dele. Sentiu outra facada e mais dor dor. De seguida outra e, por fim, outra. Tomado pelo pânico, David esforçava-se para ignorar a dor latejante, lutando para não perder os sentidos.
― Porquê? ― sussurrou virando-se com dificuldade, usando as últimas forças.
Como resposta, sentiu outro corte, tão profundo que provavelmente lhe perfurara os pulmões. Estava fraco e não sabia quanto mais tempo se conseguiria manter consciente. Para seu horror, o agressor deixara a faca no seu peito. A visão ficou estranhamente clara e pode ver a expressão do assassino. Os olhares cruzaram-se durante um momento, antes que atacante se colocasse em fuga.
David continuou a arrastar-se, cada vez com mais esforço. Tinha esperança de conseguir encontrar ajuda. Tentou gritar, mas não conseguiu. Via-se forçado a respirar como se tivesse corrido uma maratona.
Sentiu que estava húmido e, para seu horror, descobriu que estava a deixar um rasto de sangue à sua passagem, o seu próprio sangue. Naquele instante, a consciência de que provavelmente não iria sobreviver assolou-lhe a alma, pois a perda de sangue era excessiva. As dores estavam a diminuir de intensidade e ele percebeu que era um sinal de que o seu corpo desistia da luta.
Estupefacto, compreendeu então a razão de ter sido esfaqueado. Nunca imaginara que pudessem matá-lo por isso. O que acontecera não fora por sua vontade e nem sequer lhe dera importância. O erro fatal fora não ter reagido.
Era inútil resistir, só esperava que tudo terminasse depressa e sem mais dor. Com um sentimento de angustia profundo, vieram-lhe à mente todas as coisas que havia planeado fazer ao longo da sua vida. A sua família e os seus amigos iriam sofrer imenso, incluindo a sua namorada, Cristina, que iria morrer de desgosto quando soubesse que ele tinha morrido. Subitamente, o sentimento de profunda tristeza foi substituído por uma raiva incontrolável. O seu último desejo era que o assassino sofresse tal como ele havia sofrido. Desejava que morresse de uma forma igualmente cruel e injusta, fosse morto à traição da mesma maneira que matara.
Uma luz cegou-o. O sol havia rompido pela janela e a luminosidade invadira a cozinha. O calor do sol não chegou para balancear o frio que sentia. Olhou para a janela, apreciando o espectáculo maravilhoso e luz que o cegava. Foi com essa imagem que perdeu os sentidos.
Precisava de se deitar rapidamente, pois sabia que estava completamente bêbado. O seu estado era tal que tinha demorou uma eternidade para conseguir encontrar as chaves do apartamento e ainda mais para abrir a porta.
Enquanto caminhava em direcção ao seu quarto, um ligeiro desvio levou-o à cozinha. Tinha a garganta seca, um dos primeiros sinais de ressaca, e precisava dum copo de água com urgência.
A cozinha estava no seu estado normal, com a loiça por lavar e os caixotes do lixo a abarrotar, com dezenas de moscas da fruta a sobrevoá-los. A falta de tempo para as limpezas não era surpreendente para seis estudantes que se comprometia tanto a ir a todas as festas como a tentar passar nos exames de todas as cadeiras. Naturalmente que existiam excepções naquela casa mas, esses também não limpavam porque não o queriam fazer sozinhos.
David demorou cerca dum minuto a encontrar um copo menos sujo que os restantes. Encheu com água da torneira e sorveu o líquido avidamente.
Ouviu passos atrás de si. Voltou-se sobressaltado, constatando que era apenas um dos rapazes que vivia consigo. Não esperava vê-lo em casa àquelas horas.
― Bom dia! ― cumprimentou.
― Bom dia. ― devolveu-lhe o rapaz com uma expressão neutra.
Dirigiu-se ao frigorífico, ainda zonzo com o efeito da bebida. Estava extremamente esfomeado, pois não comia nada há horas. Abriu a porta do frigorífico, retirou o pacote do fiambre e fechou-a de seguida com a ajuda do cotovelo. Como estava embriagado, o gesto não lhe correra como previra e a porta do frigorífico ficara entreaberta. Praguejou enquanto atirava o fiambre para cima da mesa, voltou a abrir a porta do frigorífico, fechando-a de seguida com uma velocidade excessiva.
Pegou na metade de um bico do dia anterior para fazer uma sanduíche. Olhou-a durante alguns segundos, o seu cérebro parecia demorar um eternidade para chegar à conclusão de que precisava de uma faca para abrir o pão. Percorreu a divisão com o olhar de modo descortinar onde poderia encontrar uma, descobrindo-a na mão do seu colega de apartamento.
― Podes emprestar-me essa faca por um momento? ― pediu David, tentando soar simpático.
― Agora estou a usá-la, vê se encontras outra ― respondeu-lhe o jovem, aparentemente mal-humorado.
― 'Tá bem! ― concordou David, sem ligar importância.
Virou costas e dirigiu-se ao lava loiça, procurando por alguma faca que pudesse lavar.
No momento seguinte, sentiu uma dor lancinante nas costas. Algo o tinha atingido, penetrado a sua pele e embatendo na omoplata. Sentiu os músculos serem rasgados por um movimento descendente.
― Foda-se! O que é que foi isso? ― balbuciou David confuso e com dificuldade em articular as palavras.
O golpe não fora muito profundo, todavia o sangue começou a correr ao removerem o objecto que o cortara, manchado-lhe a camisa. As pernas fraquejaram, obrigando-o a apoiar-se no balcão frio da cozinha. Como resposta, outro golpe atingiu-o novamente nas costas, desta vez atingindo uma profundidade superior.
― Aaaaaa! ― gritou de dor.
Sentiu-se em pânico ao perceber que estava a ser esfaqueado e que se não reagisse, iriam matá-lo ali mesmo. Porém, o álcool presente no sangue fazia com que os seus reflexos ficassem mais lentos. Quando a faca foi removida das suas costas conseguiu finalmente reagir. Infelizmente, ao tentar virar-se, simplesmente colapsou no chão.
As pernas não respondiam, a visão estava desfocada e ele sentia-se zonzo. A perda de sangue começava a ter os seus efeitos. Olhou para o atacante e um só pensamento lhe ocorreu: fugir, pois ele desejava a sua morte. Com um esforço tremendo, começou a arrastar-se pelo chão da cozinha em direcção à porta.
Um par de passos e o vulto aproximou-se dele. Sentiu outra facada e mais dor dor. De seguida outra e, por fim, outra. Tomado pelo pânico, David esforçava-se para ignorar a dor latejante, lutando para não perder os sentidos.
― Porquê? ― sussurrou virando-se com dificuldade, usando as últimas forças.
Como resposta, sentiu outro corte, tão profundo que provavelmente lhe perfurara os pulmões. Estava fraco e não sabia quanto mais tempo se conseguiria manter consciente. Para seu horror, o agressor deixara a faca no seu peito. A visão ficou estranhamente clara e pode ver a expressão do assassino. Os olhares cruzaram-se durante um momento, antes que atacante se colocasse em fuga.
David continuou a arrastar-se, cada vez com mais esforço. Tinha esperança de conseguir encontrar ajuda. Tentou gritar, mas não conseguiu. Via-se forçado a respirar como se tivesse corrido uma maratona.
Sentiu que estava húmido e, para seu horror, descobriu que estava a deixar um rasto de sangue à sua passagem, o seu próprio sangue. Naquele instante, a consciência de que provavelmente não iria sobreviver assolou-lhe a alma, pois a perda de sangue era excessiva. As dores estavam a diminuir de intensidade e ele percebeu que era um sinal de que o seu corpo desistia da luta.
Estupefacto, compreendeu então a razão de ter sido esfaqueado. Nunca imaginara que pudessem matá-lo por isso. O que acontecera não fora por sua vontade e nem sequer lhe dera importância. O erro fatal fora não ter reagido.
Era inútil resistir, só esperava que tudo terminasse depressa e sem mais dor. Com um sentimento de angustia profundo, vieram-lhe à mente todas as coisas que havia planeado fazer ao longo da sua vida. A sua família e os seus amigos iriam sofrer imenso, incluindo a sua namorada, Cristina, que iria morrer de desgosto quando soubesse que ele tinha morrido. Subitamente, o sentimento de profunda tristeza foi substituído por uma raiva incontrolável. O seu último desejo era que o assassino sofresse tal como ele havia sofrido. Desejava que morresse de uma forma igualmente cruel e injusta, fosse morto à traição da mesma maneira que matara.
Uma luz cegou-o. O sol havia rompido pela janela e a luminosidade invadira a cozinha. O calor do sol não chegou para balancear o frio que sentia. Olhou para a janela, apreciando o espectáculo maravilhoso e luz que o cegava. Foi com essa imagem que perdeu os sentidos.
Este texto foi escrito para ser o prologo do livro Teia de Memórias. Todavia, decidi não incluí-lo no livro.
segunda-feira, 24 de setembro de 2012
A primeira vez
Fábio fora meticulosamente escrutinado pelo segurança antes de o deixarem entrar. Desde o momento em que colocara os pés naquela discoteca que se sentia nervoso. O fumo quase o deixava a chorar. Cada objecto daquele local gritava a palavra promiscuidade.
O sentimento de nervosismo era mais antigo que isso, vinha desde o momento em que decidira ir lá da última vez. Quisera ir sozinho. Quem mais o poderia acompanhar? Em algumas coisas, era melhor estar-se sozinho, e a noite numa discoteca chamada Orgulho era uma delas.
A vida era feita de escolhas e ele fizera a sua. Talvez não tivesse sido o melhor sitio onde começar, nem a sua escolha a mais acertada. Quem poderia saber?
Sem saber como agir, furou pelo meio da multidão que dançava freneticamente. Dirigiu-se ao balcão e pediu uma bebida. Qualquer bebida servia. Engoliu-a num trago e esperou que o líquido operasse a sua magia. Não tardou que bebesse uma segunda.
Num momento alguém se aproximou dele. Ele deixou. Precisava de sentir o toque. Precisava de algo que nunca tinha recebido. Precisava naquele momento.
Foram um tanto confusas as palavras trocadas. Saíram da discoteca juntos. O carro arrancou logo de seguida, conduzido a um apartamento. Foi levado a uma cama, as roupas voaram e, pela primeira vez, ele conseguiu aceitar-se tal como era.
Partilharam o prazer carnal como se o fim do mundo estivesse para chegar. Experimentaram até à exaustão.
No fim, ficaram deitados a olhar um para o outro. Fábio viu que dificilmente algum dia amaria aquela face barbeada e uns bons dez anos mais velha. Mesmo assim, dera-lhe algo que nunca tivera. De manhã seria outro dia e eles iriam separa-se como se nunca se tivessem conhecido.
Este conto foi escrito como desafio semana de um grupo de escrita.
O sentimento de nervosismo era mais antigo que isso, vinha desde o momento em que decidira ir lá da última vez. Quisera ir sozinho. Quem mais o poderia acompanhar? Em algumas coisas, era melhor estar-se sozinho, e a noite numa discoteca chamada Orgulho era uma delas.
A vida era feita de escolhas e ele fizera a sua. Talvez não tivesse sido o melhor sitio onde começar, nem a sua escolha a mais acertada. Quem poderia saber?
Sem saber como agir, furou pelo meio da multidão que dançava freneticamente. Dirigiu-se ao balcão e pediu uma bebida. Qualquer bebida servia. Engoliu-a num trago e esperou que o líquido operasse a sua magia. Não tardou que bebesse uma segunda.
Num momento alguém se aproximou dele. Ele deixou. Precisava de sentir o toque. Precisava de algo que nunca tinha recebido. Precisava naquele momento.
Foram um tanto confusas as palavras trocadas. Saíram da discoteca juntos. O carro arrancou logo de seguida, conduzido a um apartamento. Foi levado a uma cama, as roupas voaram e, pela primeira vez, ele conseguiu aceitar-se tal como era.
Partilharam o prazer carnal como se o fim do mundo estivesse para chegar. Experimentaram até à exaustão.
No fim, ficaram deitados a olhar um para o outro. Fábio viu que dificilmente algum dia amaria aquela face barbeada e uns bons dez anos mais velha. Mesmo assim, dera-lhe algo que nunca tivera. De manhã seria outro dia e eles iriam separa-se como se nunca se tivessem conhecido.
Este conto foi escrito como desafio semana de um grupo de escrita.
sexta-feira, 21 de setembro de 2012
Histórias de terror
À noite, as plantas maiores contam histórias de terror aos rebentos, quase sempre sobre vegetarianos.
quarta-feira, 19 de setembro de 2012
As certezas de Heisenberg
Werner
pousou a caneta e atirou com a folha de papel para o cesto. Havia
algo de errado com aquele calculo de probabilidade. O resultado era
demasiado baixo e tinha a sensação que lhe faltava algo.
Olhou
pela janela. Tudo estava calmo. Decorria uma guerra e ninguém
parecia dar de conta. A vida prosseguia o seu rumo.
A
Wehrmacht desfilara pelas ruas de Paris há apenas uma semana. Outra
vitória rápida e decisiva devida à Blitzkrieg. O mundo nunca mais
seria o mesmo.
Naquele
momento, o futuro decidia-se numa folha de papel. Recomeçou
novamente, fez assumpções e aproximações diferentes, contudo tudo
parecia dar no mesmo. Cada vez mais furioso, atirou a folha para o
lixo e, de seguida pontapeou o balde. O conteúdo espalhou-se pela
sala. Inúmeras horas de trabalho haviam sido desperdiçadas, num
problema que aparentemente não tinha solução.
Abandonou
a sala e dirigiu-se à casa de banho. Ao entrar e ver a sua imagem
reflectida no espelho, teve uma ideia. Correu de volta à sala e
repetiu os cálculos, assumindo um material reflector envolvendo o
material. Concentrado, repetiu todos os cálculos. O resultado era
muito mais animador, tão bom que decidiu repetir as contas para ter
a certeza.
Os
dois resultados coincidiam. O número era muito baixo. Dez
quilogramas. Só eram necessários dez quilogramas.
-
Come esta Oppenheimer! Desta vez levei a melhor! - exclamou
triunfante.
Tinha
na mão o resultado cientifico mais cobiçado do planeta. Não sabia
o que fazer com ele. Não tinha dúvidas do uso que seria feito dele
e também sabia que outros poderiam chegar às mesmas conclusões.
Eram
nós ou eles. Uma pergunta com uma resposta muito fácil. Pegou uma
folha em branco e começou a redigir uma carta.
O
que Heisenberg escreveu ao Führer ficou para a história. Todos os
recursos foram alocados àquele projecto. O ataque às ilhas
britânicas foi contido por um ano e bastou apenas um bombardeamento
como a nova bomba para Churchill assinar a rendição. Uma semana
depois foi a vez de Estaline fazer o mesmo. O resto da Europa nem
ousou oferecer resistência, sendo as principais capitais ocupadas
numa questão de dias.
O
Estados Unidos da América não aceitaram a derrota e tentaram impor
uma guerra de desgaste em duas frentes e com a rendição da China
ficaram totalmente sozinhos. Entretanto, o Reich havia desenvolvido
um projéctil de longo alcance que podia ser lançado a partir de um
submarino. Bastaram apenas dois para causar o mesmo pânico que na
Europa e quebrar a resistência do inimigo.
O
futuro da humanidade decidira-se numa simples folha de papel.
Este conto foi escrito como trabalho de um grupo de escrita.
Este conto foi escrito como trabalho de um grupo de escrita.
segunda-feira, 17 de setembro de 2012
Para pensar III
Não há nada mais desesperante do que um escritor que quer escrever e não pode.
15-09-2012
15-09-2012
sexta-feira, 14 de setembro de 2012
A resposta
A resposta é 42.
Só é necessário abrir o vosso motor de busca e pesquisar por “What is the meaning of life, universe and everything?”
Vou dar-vos um momento enquanto o fazem.
Quanta importância deveremos dar aos livros humorísticos de Douglas Adams na definição da vida? A resposta é óbvia: nenhuma.
Com meia dúzia de linhas e isto já está bastante confuso. Para confundir ainda mais, ninguém sabe qual é a pergunta. Qual pergunta, exigirá saber o mais céptico e exigente dos leitores? Isso é algo a que não posso responder. Ninguém sabe qual é a pergunta e duvido que tenham muito sucesso ao perguntar a ao autor.
Passando a diante.
Vida.
Obviamente o contrário de morte. Já repararam que existem muitos mais verbos e expressões para morrer do que para viver? Morrer, bater as botas, falecer, ir desta para melhor, sucumbir, esticar o pernil, perecer, ir para os anjinhos, soçobrar...
Grandes progressos. Já temos um número. E também várias palavras que definem o que não é a vida. Em que é que isso nos ajuda? Bem, praticamente nada.
E por falar em ajuda. Nunca comprem aqueles livros de auto-ajuda. É um desperdício de dinheiro. Esses tais livros até ajudam, mas não é ao leitor, é ao tipo que os escreveu. Depois de vender uns quantos exemplares, já houve muito pacóvio que o ajudou, pelo menos à conta bancária dele.
E sobre a vida? Bem isso fica para outro dia...
Este texto foi feito como desafio semanal de um grupo de escrita.
quarta-feira, 12 de setembro de 2012
O duelo
Correu como um rio pelo monte ao encontro da sua amada. Filipe sentia tantas saudades que desejava voar como um falcão.
Ela era uma perfeita musa, de olhos escuros adornados por longos cabelos negros. Cara morena de expressão suave quase lhe derretia o coração com o seu sorriso. Podia até dizer-se que era de uma beleza de natureza mágica, ainda que todos se rissem dessa comparação.
Algo o esperava na vale. A figura encapuçada não parecia ser nada amigável.
Parou, a um passo de ser paralisado pelo medo que sentia. Sabia muito bem de quem se tratava. A hora tinha chegado e chegara muito mais cedo do que previra.
A espadas foram desembainhadas e as últimas preces proferidas. As armas chocaram e as faiscas saltaram. O duelo era equilibrado e equilibrados os duelistas estavam. Entre ataques, contra-ataques e defesas, recuos e avanços, o combate continuava.
Filipe sentiu o tempo abrandar à medida que passava mais tempo entre cada batida do coração. A espada vinha na direcção da sua face. Sem pensar levantou a bainha e desviou o golpe. Sem pensar, contra-atacou o oponente com um corte vertical.
O golpe encontrou carne e, tão rápido como tinha começado, o combate terminou. Era hora de voltar a casa.
Quando chegou à sua humilde cabana só esperava que ela não o fulminasse com o olhar assim que entrasse.
Este conto foi feito como desafio semanal de um grupo de escrita.
segunda-feira, 10 de setembro de 2012
Nada e tudo
O meu nome é Félix e sou o homem com mais dinheiro que alguma vez existiu. Para ser mais exacto, eu não existo, eu acumulo. Quase todo o dinheiro da humanidade me pertence. Perdão! Se contarmos com os juros do último semestre, todo o dinheiro é meu e um pouco mais até.
Eu nasci numa família pobre e humilde. Tive de esperar até ser maior de idade para receber o primeiro milhão dos meus pais.
A maior parte de vós não se recorda da Terceira Guerra Mundial. Foi um conflito sangrento e sem sentido, se excluirmos o potencial de crescimento económico. Havia passado apenas quatro anos desde que a guerra terminara e todas as companhias de produção de equipamento bélico estavam num poço bolsista. Escusado será dizer que comprei grandes cotas por tuta-e-meia. Não o podia ter feito em melhor altura. Poucas semanas depois as tensões nacionalistas na Crimeia dispararam e, com elas, as vendas de material de guerra.
Previ que não seria um conflito longo, pois já todos andavam fartos de guerra e a comunidade internacional não tardaria a intervir. Tomei uma decisão crítica e vendi as acções nas primeiras horas do conflito, obtendo um valor muito próximo do seu máximo histórico. Com o lucro comprei várias de empresas de construção e reconstrui os locais devastados pelo conflito.
Investi as parcas dezenas de milhão que daí resultaram na banca e em companhias de seguros. A partir de agora, para facilitar, vamos omitir a palavra milhões e chamemos-lhe apenas dezenas. O crescimento de 15% por ano era bom, mas achei que podia fazer melhor, por isso investi na indústria alimentar.
A grande fome fez-me perder uns vinte (milhões) em compensações resultantes de seguros. Pior, apenas ganhei uns quarenta (milhões) nos outros dois ramos. Aproveitei, contudo, para comprar mais algumas seguradoras.
Quando atingi os duzentos (milhões), já a minha fama me precedia. Bastava comprar um (milhão) de acções para o mercado enlouquecer. Aproveitei-me disso e criei mais confusão. Nunca consegui ganhar dinheiro tão rápido como nessa altura. Aos vinte e cinco anos de idade já tinha atingido um bilião.
Cada vez que a bolsa perdia num sector eu aproveitava para comprar e assim as minhas cotas de mercado cresciam cada vez. O filão de ouro era mesmo a banca, já que emprestava dinheiro a todos os outros.
Não tardei a conseguir comprar corporações e até pequenos estados. Financiar guerras e reconstruções era a tarefa mais lucrativa. Quando isso não era possível, bastava emprestar dinheiro. Em menos que uma década havia poucas empresas que não me devessem dinheiro. Bastava mexer um pouco com a bolsa para tornar essas dívidas impagáveis e assim poder adquirir a empresa.
E foi assim que consegui adquirir todo o dinheiro do mundo. Então o inesperado aconteceu, as pessoas perderam o interesse no dinheiro. Ainda tinha todo o capital, mas a maioria não se preocupava com isso. Não consigo compreender como é que o fazem, mas é certo que o fazem.
Hoje em dia o dinheiro não tem praticamente valor, por isso não consigo decidir se sou o homem mais rico ou o mais pobre do mundo. Se tenho tudo ou não tenho nada.
Eu nasci numa família pobre e humilde. Tive de esperar até ser maior de idade para receber o primeiro milhão dos meus pais.
A maior parte de vós não se recorda da Terceira Guerra Mundial. Foi um conflito sangrento e sem sentido, se excluirmos o potencial de crescimento económico. Havia passado apenas quatro anos desde que a guerra terminara e todas as companhias de produção de equipamento bélico estavam num poço bolsista. Escusado será dizer que comprei grandes cotas por tuta-e-meia. Não o podia ter feito em melhor altura. Poucas semanas depois as tensões nacionalistas na Crimeia dispararam e, com elas, as vendas de material de guerra.
Previ que não seria um conflito longo, pois já todos andavam fartos de guerra e a comunidade internacional não tardaria a intervir. Tomei uma decisão crítica e vendi as acções nas primeiras horas do conflito, obtendo um valor muito próximo do seu máximo histórico. Com o lucro comprei várias de empresas de construção e reconstrui os locais devastados pelo conflito.
Investi as parcas dezenas de milhão que daí resultaram na banca e em companhias de seguros. A partir de agora, para facilitar, vamos omitir a palavra milhões e chamemos-lhe apenas dezenas. O crescimento de 15% por ano era bom, mas achei que podia fazer melhor, por isso investi na indústria alimentar.
A grande fome fez-me perder uns vinte (milhões) em compensações resultantes de seguros. Pior, apenas ganhei uns quarenta (milhões) nos outros dois ramos. Aproveitei, contudo, para comprar mais algumas seguradoras.
Quando atingi os duzentos (milhões), já a minha fama me precedia. Bastava comprar um (milhão) de acções para o mercado enlouquecer. Aproveitei-me disso e criei mais confusão. Nunca consegui ganhar dinheiro tão rápido como nessa altura. Aos vinte e cinco anos de idade já tinha atingido um bilião.
Cada vez que a bolsa perdia num sector eu aproveitava para comprar e assim as minhas cotas de mercado cresciam cada vez. O filão de ouro era mesmo a banca, já que emprestava dinheiro a todos os outros.
Não tardei a conseguir comprar corporações e até pequenos estados. Financiar guerras e reconstruções era a tarefa mais lucrativa. Quando isso não era possível, bastava emprestar dinheiro. Em menos que uma década havia poucas empresas que não me devessem dinheiro. Bastava mexer um pouco com a bolsa para tornar essas dívidas impagáveis e assim poder adquirir a empresa.
E foi assim que consegui adquirir todo o dinheiro do mundo. Então o inesperado aconteceu, as pessoas perderam o interesse no dinheiro. Ainda tinha todo o capital, mas a maioria não se preocupava com isso. Não consigo compreender como é que o fazem, mas é certo que o fazem.
Hoje em dia o dinheiro não tem praticamente valor, por isso não consigo decidir se sou o homem mais rico ou o mais pobre do mundo. Se tenho tudo ou não tenho nada.
Este conto foi publicado em: http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2012/09/nada-e-tudo-pedro-cipriano.html
sexta-feira, 7 de setembro de 2012
O plano de Aleksandr - parte 2/2
Aleksandr esperava que pelo menos Estaline tivesse considerado o seu plano. Não dera muito pormenores, nem podia ser de outra forma. Quanto menos pessoas soubessem o que ele tinha em mente, maior a probabilidade de resultar. Essa escolha tinha um risco, pois o Sexto Exército Alemão podia tentar romper o cerco pelo lado de dentro. Se um corredor fosse aberto, eles poderiam receber munições e comida sem limitações. Nesse caso, Estaline estava certo em não querer mudar o Segundo Exército de Guardas, e ele seria executado por incompetência. Aleksandr contava com um Sexto Exército Alemão demasiado fraco para o fazer.
Estaline telefonou-lhe várias vezes durante a noite, para pedir esclarecimentos. A pouco e pouco, Aleksandr conseguiu explicar-lhe claramente o seu plano e quais as vantagens. Felizmente, parecia que em Moscovo estavam a considerar o seu plano. Pela manhã, Estaline telefonou-lhe novamente, autorizando a transferência do Segundo Exército de Guardas.
Aleksandr não perdeu tempo. Mandou chamar Nikita e todos os membros da equipa. A maioria não demorou muito. Nikita foi o último a aparecer.
Assim que todos estavam presentes, fechou a porta e em poucas palavras explicou-lhes o seu plano.
― Eu não concordo com o plano. É demasiado arriscado! ― opôs-se Nikita com um ar grave.
Os restantes mantiveram-se calados, observando com atenção.
― Não nego que seja arriscado, mas é o melhor que podemos fazer dadas as circunstâncias. ― respondeu-lhe Aleksandr, arrependendo-se imediatamente da escolha de palavras infeliz.
― Podemos simplesmente não fazer nada, que de momento parece o mais seguro. ― constatou Nikita.
― E se os alemães conseguirem romper o cerco? ― atiçou Aleksandr.
― Não estou a ver isso acontecer. Antes de vir para aqui consegui informar-me. O General Yeremenko colocou dois exércitos muito competentes a barrar o caminho dos alemães. ― ripostou Nikita.
― E se o Sexto Exército Alemão decidir ajudar a romper o cerco? Os exércitos de Yeremenko serão apanhados pelas costas e poder-se-ão ver cercados. ― clarificou, tentando mostrar o seu ponto de vista.
― Isso só prova que eu tenho razão. Tirar o Segundo Exército de Guardas é uma má decisão. Devemos acabar com os alemães que estão cercados o mais rápido que for possível, é a única maneira de evitar que sejam resgatados. ― insistiu Nikita, pressentindo que ganhara o argumento.
Aleksandr ficou em silêncio. Não podia desistir agora, senão o seu plano não seria executado. Não podia também fazer de Nikita um inimigo, por isso a única hipótese que tinha era convencê-lo agora.
― Têm de concordar que o que proponho irá destruir vários exércitos dos aliados alemães.
― Concordo, mas de momento isso não nos serve de nada. Podemos destruí-los mais tarde, os alemães é que são o perigo real, e é neles que nos devemos concentrar. ― refutou Nikita, apontando para o mapa.
― Mas se for feito rapidamente irá ameaçar os flancos dos alemães. ― teimou Aleksandr, desenhando com a mão as possíveis trajectórias ofensivas.
― Eu acho que é longe demais para surtir algum efeito. ― rebateu Nikita, apontando as duas localizações no mapa.
― É essa a ideia! Quanto mais longe, maior a probabilidade dos alemães não conseguirem reagir.
― É um plano demasiado ambicioso, não irá resultar!
Aleksandr não conseguia acreditar. Nikita estava sem argumentos; se jogasse o seu trunfo naquele momento, poderia convencê-lo.
― Se atacarmos aí, para além do movimento de pinça em direcção à contra-ofensiva alemã, iremos capturar as pistas de descolagem alemãs responsáveis pelo abastecimento das tropas cercadas.
― Isso era bom. Mas quais as garantias de que iremos conseguir executar esse plano sem que os alemães reajam? Quero dizer, não passaram muitas semanas desde que utilizamos exactamente a mesma estratégia, de certeza que eles desta vez estão preparados. ― comentou Nikita com cepticismo.
― Os alemães concentraram todas as forças na contra-ofensiva e não têm muito mais reservas nesta frente. Agora é o momento, quando eles têm todas as forças empenhadas nesse local. Assim sabemos onde é que eles estão, e sabemos onde é que não podem ir.― avançou Aleksandr.
― Mas dificilmente isto irá cercar os exércitos alemães envolvidos na ofensiva. Mesmo se bem executado, os alemães terão mais que tempo para recuar.
― Exacto. Nós queremos exactamente isso mesmo. Obrigá-los a cancelar a ofensiva. Nada melhor do que ameaçar cercá-los, como eu tenho vindo a defender. ― concluiu Aleksandr.
― Em traços gerais, tu propões que se bloqueie a ofensiva alemã e se lance outra ofensiva para os obrigar a desistir dessa? ― resumiu Nikita com um ar sério.
― É o melhor curso de acção. Se for executado rapidamente, têm boas chances de sucesso. ― confirmou Aleksandr.
― Convenceste-me, eu concordo com o teu plano. O que é que Estaline disse acerca disto?
Aleksandr sorriu, podia ter começado a reunião por anunciar isso. Todo aquele exercício só servira para ter a certeza que o seu plano não tinha falhas.
― Estaline concordou com o plano. O Segundo Exército de Guardas deve chegar dentro de alguns dias.
Estaline telefonou-lhe várias vezes durante a noite, para pedir esclarecimentos. A pouco e pouco, Aleksandr conseguiu explicar-lhe claramente o seu plano e quais as vantagens. Felizmente, parecia que em Moscovo estavam a considerar o seu plano. Pela manhã, Estaline telefonou-lhe novamente, autorizando a transferência do Segundo Exército de Guardas.
Aleksandr não perdeu tempo. Mandou chamar Nikita e todos os membros da equipa. A maioria não demorou muito. Nikita foi o último a aparecer.
Assim que todos estavam presentes, fechou a porta e em poucas palavras explicou-lhes o seu plano.
― Eu não concordo com o plano. É demasiado arriscado! ― opôs-se Nikita com um ar grave.
Os restantes mantiveram-se calados, observando com atenção.
― Não nego que seja arriscado, mas é o melhor que podemos fazer dadas as circunstâncias. ― respondeu-lhe Aleksandr, arrependendo-se imediatamente da escolha de palavras infeliz.
― Podemos simplesmente não fazer nada, que de momento parece o mais seguro. ― constatou Nikita.
― E se os alemães conseguirem romper o cerco? ― atiçou Aleksandr.
― Não estou a ver isso acontecer. Antes de vir para aqui consegui informar-me. O General Yeremenko colocou dois exércitos muito competentes a barrar o caminho dos alemães. ― ripostou Nikita.
― E se o Sexto Exército Alemão decidir ajudar a romper o cerco? Os exércitos de Yeremenko serão apanhados pelas costas e poder-se-ão ver cercados. ― clarificou, tentando mostrar o seu ponto de vista.
― Isso só prova que eu tenho razão. Tirar o Segundo Exército de Guardas é uma má decisão. Devemos acabar com os alemães que estão cercados o mais rápido que for possível, é a única maneira de evitar que sejam resgatados. ― insistiu Nikita, pressentindo que ganhara o argumento.
Aleksandr ficou em silêncio. Não podia desistir agora, senão o seu plano não seria executado. Não podia também fazer de Nikita um inimigo, por isso a única hipótese que tinha era convencê-lo agora.
― Têm de concordar que o que proponho irá destruir vários exércitos dos aliados alemães.
― Concordo, mas de momento isso não nos serve de nada. Podemos destruí-los mais tarde, os alemães é que são o perigo real, e é neles que nos devemos concentrar. ― refutou Nikita, apontando para o mapa.
― Mas se for feito rapidamente irá ameaçar os flancos dos alemães. ― teimou Aleksandr, desenhando com a mão as possíveis trajectórias ofensivas.
― Eu acho que é longe demais para surtir algum efeito. ― rebateu Nikita, apontando as duas localizações no mapa.
― É essa a ideia! Quanto mais longe, maior a probabilidade dos alemães não conseguirem reagir.
― É um plano demasiado ambicioso, não irá resultar!
Aleksandr não conseguia acreditar. Nikita estava sem argumentos; se jogasse o seu trunfo naquele momento, poderia convencê-lo.
― Se atacarmos aí, para além do movimento de pinça em direcção à contra-ofensiva alemã, iremos capturar as pistas de descolagem alemãs responsáveis pelo abastecimento das tropas cercadas.
― Isso era bom. Mas quais as garantias de que iremos conseguir executar esse plano sem que os alemães reajam? Quero dizer, não passaram muitas semanas desde que utilizamos exactamente a mesma estratégia, de certeza que eles desta vez estão preparados. ― comentou Nikita com cepticismo.
― Os alemães concentraram todas as forças na contra-ofensiva e não têm muito mais reservas nesta frente. Agora é o momento, quando eles têm todas as forças empenhadas nesse local. Assim sabemos onde é que eles estão, e sabemos onde é que não podem ir.― avançou Aleksandr.
― Mas dificilmente isto irá cercar os exércitos alemães envolvidos na ofensiva. Mesmo se bem executado, os alemães terão mais que tempo para recuar.
― Exacto. Nós queremos exactamente isso mesmo. Obrigá-los a cancelar a ofensiva. Nada melhor do que ameaçar cercá-los, como eu tenho vindo a defender. ― concluiu Aleksandr.
― Em traços gerais, tu propões que se bloqueie a ofensiva alemã e se lance outra ofensiva para os obrigar a desistir dessa? ― resumiu Nikita com um ar sério.
― É o melhor curso de acção. Se for executado rapidamente, têm boas chances de sucesso. ― confirmou Aleksandr.
― Convenceste-me, eu concordo com o teu plano. O que é que Estaline disse acerca disto?
Aleksandr sorriu, podia ter começado a reunião por anunciar isso. Todo aquele exercício só servira para ter a certeza que o seu plano não tinha falhas.
― Estaline concordou com o plano. O Segundo Exército de Guardas deve chegar dentro de alguns dias.
Este capítulo foi retirado do primeiro livro da trilogia de Estalinegrado, porque não estava relacionado directamente com as personagens principais. Apenas o publico aqui num exercício de pesquisa e ambientação do resto do livro.
quarta-feira, 5 de setembro de 2012
O plano de Aleksandr - parte 1/2
Aleksandr ficara em pânico pois não esperava o contra-ataque alemão tão cedo. Recebera a comunicação no dia anterior através do rádio. Aparentemente, a ofensiva era liderada por alguns tanques contra os quais nenhuma arma parecia ter efeito. Numerosas divisões suportavam os flancos, e a artilharia e a força aérea agiam em coordenação. A ofensiva alemã progredira rapidamente e sem que as divisões no terreno a pudessem parar. Se fossem bem-sucedidos, os alemães iriam quebrar o cerco num espaço de dias. Todo o esforço dos últimos meses teria sido em vão. Os alemães não podiam vencer desta vez. Algo teria de ser feito.
Khrushchev sugeriu que telefonasse imediatamente a Estaline. Aleksandr sabia o que tinha de ser feito, mas não quis revelar imediatamente o plano. Era mais fácil se o desse a entender implicitamente a Estaline. Ele iria tratar a ideia como se tivesse sido sua e isso seria uma garantia de aprovação.
Nikita Khrushchev era o intermediário entre o partido e os militares. Uma forma fácil de ter acesso a Estaline, mas também uma maneira de supervisionar os militares. Era um homem volumoso, de quase cinquenta anos e com uma cara de gente da província. Tinha olhos castanhos e uma verruga na bochecha. Era um homem impulsivo e mostrava-se decidido a ganhar a guerra a qualquer custo. Aleksandr conseguia ver nele uma ambição imensa.
Apesar do poder de Nikita, todos os passos importantes tinham de inevitavelmente passar pelo próprio Estaline. Infelizmente não conseguira ligação e ficara sem saber o que fazer. Aleksandr estava num dilema: fazer algo sem autorização podia colocá-lo em problemas; por outro lado, não fazer nada e esperar pela autorização podia dar ao inimigo tempo de quebrar o cerco.
Depois de reflectir por um pouco, concluiu que nenhum dos exércitos que comandava podia ser desviado da sua tarefa. Só havia um exército capaz daquilo a que se propunha: o Segundo Exército de Guardas. Esse exército podia salvar a situação, infelizmente não estava sobre o seu controlo.
Tinha de arriscar. Telefonou ao comandante da frente do Don, o general Rokossovky, e pediu-lhe para transferir o comando do exército de Malinovsky. Rokossovsky protestou vigorosamente e Aleksandr ficou sem saber o que fazer.
Pensou como se sentira há cinco meses atrás, quando Estaline o mandara redigir a ordem 227. Nessa altura, todos estavam desesperados. Agora, com o cerco dum dos mais poderosos exércitos alemães, a esperança na vitória começava a regressar. Claro que nenhum deles expressara essas dúvidas. Atitudes derrotistas não eram toleradas. Aleksandr sentiu que estava a viver um momento histórico, a possibilidade de vencer a guerra começava a desenhar-se. No entanto, se perdessem aquela oportunidade, poderia não haver uma segunda.
Decidiu telefonar novamente a Estaline ao fim da tarde. Desta vez conseguiu fazê-lo. Para grande desilusão, Aleksandr estava demasiado nervoso para conduzir a conversa pelo caminho que havia previamente traçado. Ao invés disso, despejou atabalhoadamente o seu plano de usar o Segundo Exército de Guardas para pôr fim à ofensiva alemã, pedindo autorização para concretizá-lo imediatamente. Foi o pior que podia ter feito. Estaline sentiu-se pressionado a tomar uma decisão, deixando-o furioso, o que fez com que não desse nenhuma resposta.
Nessa noite, Aleksandr não conseguiu dormir. Estava tão perto e ao mesmo tempo tão longe, era impossível descansar ate esta situação ficar resolvida. Ele compreendia a relutância de Estaline. Esse exército seria usado para desferir o golpe final no sexto exército. Era uma decisão difícil, no entanto impediria os alemães de quebrar o cerco, passando a ser os mesmos a lutar contra o tempo e não os russos. O Inverno era a palavra-chave, pois cada dia que passasse, seria mais um dia em que o frio faria vítimas entre os alemães.
Andou nervosamente para trás e para diante na sala. Fez questão de ser informado imediatamente de todo e qualquer desenvolvimento em relação à ofensiva alemã. Assim que Andrey Yeryomenko soubera do ataque, ordenara o Quarto Grupo Mecanizado e o Décimo Terceiro Blindado bloquear o avanço alemão. Os alemães pareciam já ter conseguido atravessar o rio Aksay, o que significava um avanço de cerca de cinquenta quilómetros em menos de um dia.
O cansaço começava a apoderar-se dele à medida que a noite avançava. Uma noite tranquila era algo a que não se podia dar ao luxo de ter, por isso encontrava-se quase sempre exausto. Conjurava sem cessar as várias possibilidades na sua cabeça. A sua solução continuava a parecer a melhor em qualquer dos casos. Porém, o factor risco era elevado, sendo a única desvantagem.
Este capítulo foi retirado do primeiro livro da trilogia de Estalinegrado, porque não estava relacionado directamente com as personagens principais. Apenas o publico aqui num exercício de pesquisa e ambientação do resto do livro.
Khrushchev sugeriu que telefonasse imediatamente a Estaline. Aleksandr sabia o que tinha de ser feito, mas não quis revelar imediatamente o plano. Era mais fácil se o desse a entender implicitamente a Estaline. Ele iria tratar a ideia como se tivesse sido sua e isso seria uma garantia de aprovação.
Nikita Khrushchev era o intermediário entre o partido e os militares. Uma forma fácil de ter acesso a Estaline, mas também uma maneira de supervisionar os militares. Era um homem volumoso, de quase cinquenta anos e com uma cara de gente da província. Tinha olhos castanhos e uma verruga na bochecha. Era um homem impulsivo e mostrava-se decidido a ganhar a guerra a qualquer custo. Aleksandr conseguia ver nele uma ambição imensa.
Apesar do poder de Nikita, todos os passos importantes tinham de inevitavelmente passar pelo próprio Estaline. Infelizmente não conseguira ligação e ficara sem saber o que fazer. Aleksandr estava num dilema: fazer algo sem autorização podia colocá-lo em problemas; por outro lado, não fazer nada e esperar pela autorização podia dar ao inimigo tempo de quebrar o cerco.
Depois de reflectir por um pouco, concluiu que nenhum dos exércitos que comandava podia ser desviado da sua tarefa. Só havia um exército capaz daquilo a que se propunha: o Segundo Exército de Guardas. Esse exército podia salvar a situação, infelizmente não estava sobre o seu controlo.
Tinha de arriscar. Telefonou ao comandante da frente do Don, o general Rokossovky, e pediu-lhe para transferir o comando do exército de Malinovsky. Rokossovsky protestou vigorosamente e Aleksandr ficou sem saber o que fazer.
Pensou como se sentira há cinco meses atrás, quando Estaline o mandara redigir a ordem 227. Nessa altura, todos estavam desesperados. Agora, com o cerco dum dos mais poderosos exércitos alemães, a esperança na vitória começava a regressar. Claro que nenhum deles expressara essas dúvidas. Atitudes derrotistas não eram toleradas. Aleksandr sentiu que estava a viver um momento histórico, a possibilidade de vencer a guerra começava a desenhar-se. No entanto, se perdessem aquela oportunidade, poderia não haver uma segunda.
Decidiu telefonar novamente a Estaline ao fim da tarde. Desta vez conseguiu fazê-lo. Para grande desilusão, Aleksandr estava demasiado nervoso para conduzir a conversa pelo caminho que havia previamente traçado. Ao invés disso, despejou atabalhoadamente o seu plano de usar o Segundo Exército de Guardas para pôr fim à ofensiva alemã, pedindo autorização para concretizá-lo imediatamente. Foi o pior que podia ter feito. Estaline sentiu-se pressionado a tomar uma decisão, deixando-o furioso, o que fez com que não desse nenhuma resposta.
Nessa noite, Aleksandr não conseguiu dormir. Estava tão perto e ao mesmo tempo tão longe, era impossível descansar ate esta situação ficar resolvida. Ele compreendia a relutância de Estaline. Esse exército seria usado para desferir o golpe final no sexto exército. Era uma decisão difícil, no entanto impediria os alemães de quebrar o cerco, passando a ser os mesmos a lutar contra o tempo e não os russos. O Inverno era a palavra-chave, pois cada dia que passasse, seria mais um dia em que o frio faria vítimas entre os alemães.
Andou nervosamente para trás e para diante na sala. Fez questão de ser informado imediatamente de todo e qualquer desenvolvimento em relação à ofensiva alemã. Assim que Andrey Yeryomenko soubera do ataque, ordenara o Quarto Grupo Mecanizado e o Décimo Terceiro Blindado bloquear o avanço alemão. Os alemães pareciam já ter conseguido atravessar o rio Aksay, o que significava um avanço de cerca de cinquenta quilómetros em menos de um dia.
O cansaço começava a apoderar-se dele à medida que a noite avançava. Uma noite tranquila era algo a que não se podia dar ao luxo de ter, por isso encontrava-se quase sempre exausto. Conjurava sem cessar as várias possibilidades na sua cabeça. A sua solução continuava a parecer a melhor em qualquer dos casos. Porém, o factor risco era elevado, sendo a única desvantagem.
Este capítulo foi retirado do primeiro livro da trilogia de Estalinegrado, porque não estava relacionado directamente com as personagens principais. Apenas o publico aqui num exercício de pesquisa e ambientação do resto do livro.
segunda-feira, 3 de setembro de 2012
O dilema de Winrich - parte 2/2
Aquando da sua chegada, em que esperava ser bem recebido, devido às inúmeras condecorações recebidas em África, ao invés disso o chefe de informação tinha-o levado até ao mapa, com uma expressão séria. Lembrava-se perfeitamente das palavras do Tenente Coronel Niemeyer : “Meu amigo, vem e vê o mapa do estado da situação. Olha para as marcas vermelhas. Os russos estão a concentrar-se a Norte aqui e a Sul aqui” dissera-lhe com um ar preocupado. Baseado nessas informações, Paulus esperara por ataques fortes, com tanques e artilharia, todavia nada que considerasse fatal. No fim, acabara por passar o seu relatório aos superiores e esperar que alguém corrigisse o problema, por esse se localizar fora da sua esfera de influencia. Rommel teria agido, mesmo quebrando as regras, pensou. Devido à burocracia alemã, o relatório não fez qualquer diferença e tudo ficara na mesma. Desde então, ficara sempre em alerta em relação a esses sectores, contudo passara um mês e nada acontecera, nem mesmo no temido aniversario da revolução.
Problemas devido a informações deficientes, incompletas, contraditórias ou erradas eram comuns. Por exemplo, um mês antes houvera alguns momentos de pânico, quando se temera um ataque russo na frente central, devido ao aparecimento de numerosas novas divisões, contudo isso não acontecera, acabando essas divisões por desaparecerem pouco tempo depois.
A saga dos romenos já era longa, prolongando-se desde Outubro, quando reportaram pela primeira vez a formação de grandes concentrações de tropas. O comandante arguira que só poderia defender eficazmente esta secção se controlassem toda a margem Oeste, com o objectivo de usar o rio como uma poderosa barreira anti-tanque. Apesar do Grupo B ter aceite o seu argumento, não lhe disponibilizou a ajuda necessária, replicando que todas as tropas eram necessárias na cidade, cuja captura se considerava eminente. Apesar dos seus repetidos avisos, o pedido de ajuda nunca foi convenientemente respondido.
Os romenos ficavam cada vez mais ansiosos à medida que a situação se prolongava. Cada divisão tinha de guardar cerca de doze milhas, o que fazia com que as linhas defensivas fossem muito finas. Além disso, tinham poucas munições para a artilharia, porque as prioridade de abastecimento fora dada ao Sexto Exército.
No dia sete de Novembro o Terceiro Exército Romeno tinha alertado que esperava uma ofensiva blindada no dia seguinte. Nada aconteceu, contudo os romenos continuaram à espera que o ataque se desse nas vinte e quanto horas seguintes e assim sucessivamente. O vigésimo quinto aniversário da Revolução passou sem nenhum evento importante, de modo que os oficiais do Sexto Exército passaram a não dar importância aos avisos romenos.
Um Corpo de Exército composto por três divisões blindadas tinha sido enviada para ajudar os romenos. Apesar de teoricamente parecer forte, na prática não o era: a Décima Quarta Divisão Blindada sofrera muitas baixas e uma grave perda de material durante os combates pela cidade, falta essa que ainda não fora reposta; a Primeira Divisão Blindada Romena não tinha sequer tanques capazes de fazer frente aos T-34 russos; finalmente, a vigésima Segunda Divisão Blindada não tinha muito combustível e devido ao longo período de inactividade os tanques não estavam completamente operacionais. Na prática, meia dúzia de tanques e armas anti-tanque passeavam de sector em sector de modo a manter os romenos calmos. Todos sabiam que era meramente para levantar a moral aos romenos, já que, caso houvesse alguma ofensiva em grande escala, essa ajuda não faria qualquer diferença.
Winrich questionava-se se haveria um perigo real, tentando avaliar quais os estragos que uma ofensiva russa poderia causar nestas circunstancias. Ao certo não sabia, porque tudo dependia da reacção alemã. A Sul fora descoberto que os russos estavam a preparar posições fortemente defensivas, de modo que não acreditava que atacassem por esse lado. Talvez eles quisessem apenas tentar cercar os Exércitos Romenos, abrindo uma brecha nos flancos, desviando forças alemães do combate por Estalinegrado, o que por si já era um plano ambicioso, sob o ponto de vista de Behr.
Altifalantes com propaganda tinham tocado nos dias anteriores, com o volume ao máximo e sem pausas, talvez com o objectivo de disfarçar as preparações soviéticas. Contudo, os dias passaram sem que houvesse qualquer alteração nem sinal do inicio de uma ofensiva.
No fim o que determinou a sua inactividade não foi nenhuma consideração estratégica, foi o facto de não ter vontade de acordar o general Arthur Schmidt, o chefe de pessoal de Paulus. Ele ficaria extremamente furioso se fosse acordado por outro falso alarme. Por vezes parecia que era o próprio Schmidt quem comandava o Sexto Exército, já que Paulus era fortemente influenciado por ele, bastava que Arthur dissesse algo que Paulus imediatamente considerasse a informação como verdadeira ou argumento como válido. Havia ainda, entre ambos, um tratamento demasiado informal, algo impensável em Rommel. Por isso, somando os prós e os contras, decidiu não o acordar, ficando-se pela anotação no caderno.
Ficou a olhar pela janela, observando a neve que caia. Não se podia ver absolutamente nada, se os russos atacassem não poderiam usar nem artilharia, nem suporte aéreo. Logo, por piores que fossem as circunstancias, estariam a lutar com as mesmas condições dos romenos. Para alem, disso acreditava que tanto os russos como os alemães estavam virtualmente esgotados. A luta pela cidade causara tantas baixas de cada um dos lados que todos os Generais deveriam estar com as mãos atadas em relação à falta de pessoal. Nenhuma ofensiva poderia ter um impacto elevado nestas condições.
Ainda tecia essas considerações quando o telefone tocou novamente. Olhou para o relógio antes de ateder, passava pouco das cinco e meia.
― Daqui Major Behr. ― respondeu
― Daqui novamente tenente Stöck. Temos aqui uma situação grave, houve um toque de trompete que assinalou o inicio de um bombardeamento massivo.― Comunicou do outro lado.
― Que mais é que me pode dizer? ― inquiriu Behr, preocupado.
― Não tenho mais informações. ― responderam-lhe do outro lado.
― E os romenos? ― perguntou Behr, cada vez mais preocupado.
― Eu tenho a impressão que os romenos não conseguirão resistir, mas eu vou manter-lo informado. ― afirmou Stöck.
― Entendido! ― respondeu Behr e desligou.
Pelos vistos os romenos sempre estavam a falar a sério, pensou Winrich. As suas armas anti-tanque Pak37 não eram eficientes contra os tanques russos, nem tão pouco os seus tanques ligeiros checoslovacos, por isso já cometi um erro, deveria ter acordado Schmidt logo após o primeiro telefonema, logo é melhor que o faça já, concluiu.
Behr não tinha sequer uma pequena noção das implicações que esta contra-ofensiva teria no decurso da guerra.
Este capítulo foi retirado do primeiro livro da trilogia de Estalinegrado, porque não estava relacionado directamente com as personagens principais. Apenas o publico aqui num exercício de pesquisa e ambientação do resto do livro.
sexta-feira, 31 de agosto de 2012
O dilema de Winrich - parte 1/2
A ultima vez que Winrich tinha olhado para o relógio faltavam poucos minutos para as cinco da manhã. Na verdade eram quase sete da manhã, contudo Hitler insistira para que as tropas na Rússia operassem no horário alemão. Estava nevoeiro e tinha recentemente começado a nevar. Devido às condições meteorológicas adversas dessa quinta-feira, era impossível ver mais que alguns metros de distância a partir da janela.
Este deserto gelado não era muito diferente do deserto africano onde passara os últimos meses, concluiu, eram ambos compostos maioritariamente por vastas regiões vazias, onde não havia nem água, nem árvores, nem povoações e muito menos pessoas. Eram as condições ideias para conduzir uma ofensiva blindada, dissertou com um ar sonhador.
Ele estava sentado numa das salas reservada ao serviço de informação. O posto de comando do Sexto Exército ficava ali mesmo ao lado, no mesmo edifício. Estavam instalados numa aldeia cossaca, chamada Golubinsky, localizada na margem Oeste do rio Don, à cerca de cinquenta quilómetros da cidade.
Winrich Behr era alto e magro. Tinha vinte e quatro anos e detinha o posto de Major. Nascera em Berlim, também filho de um militar. Tinha sido transferido para a equipa operacional de Paulus no inicio de Outubro, como oficial do serviço de informação.
Antes disso tinha servido no Norte de África, onde ganhara a Cruz de Ferro de primeira categoria, que agora usava orgulhosamente ao pescoço. Era conhecido pelo seu sempre presente sentido de humor. Tinha uma face longa, com uma grande testa, com um tufo de cabelo preto no topo. Os olhos castanhos escuros transmitiam vivacidade.
As coisas era geridas aqui de maneira muito diferente da Afrika Korps. Para começar Rommel e Paulus eram muito diferentes um do outro. Paulus era um general competente, ninguém lhe podia retirar isso, contudo tinha um respeito quase sacramental das regras, o que o tornava as suas acções um tanto previsíveis. Rommel, pelo contrário, gostava de torcer e, por vezes, até quebrar as regras, não se importando muito com a hierarquia. Paulus era conhecido por jogar pelo seguro, pensando calmamente nas vantagens e riscos, enquanto Rommel estava preparado para arriscar tudo em operações ousadas, em que a brutalidade e violência eram as palavras de ordem. Por vezes parecia-lhe que Rommel tinha mais a personalidade de general do que Paulus, que ainda mostrava esporadicamente comportamentos de oficial. Se lhe pedissem para descrever numa palavra cada um dos homens, Rommel seria um artista enquanto Paulus seria um cientista. Ambas as personalidades tinham as suas vantagens e desvantagens, concluiu, e sem dúvida ambos dariam o seu melhor pela Alemanha.
A morte súbita e inesperada do general von Riechenau fora uma tragédia, que acabara por levar à promoção de Paulus, tornado-o comandante do Sexto Exército.
Ouviu o relógio assinalar as cinco da manhã.
A campanha bem sucedida em África nunca teria sido possível caso Paulus fosse o comandante, contudo, nem mesmo Rommel a conseguira levar a bom termo, apesar de ter ficado bem perto. As batalhas vitoriosas que travara, muitas vezes em inferioridade numérica e, quase sempre, com falta de abastecimento, ficariam sem dúvida na história. O único espinho na sua carreira era El Almein, onde o seu avanço fora travado. Novidades de uma nova batalha nesse local andavam na boca de todos. A verdade era dolorosa e ninguém queria acreditar que Rommel tivesse sido novamente derrotado.
Winrich ouviu o telefone tocar. Os seus pensamentos desfizeram-se imediatamente no éter, enquanto se apressava a atende-lo.
― Daqui Tenente Stöck. ― comunicaram do outro lado.
― Daqui Major Behr, estou a receber, qual é a situação?
Winrich abriu o livro onde deveria registar todas as comunicações, pegou num lápis, registou a hora e preparou-se para escrever.
O telefonema vinha da parte do vencedor da medalha de ouro nos jogos Olímpicos de 1936, em Berlim. Gerhard Stöck contara que, depois quatro lançamentos fracos, estava em quinto lugar. Contudo, nesse momento Hitler chegara ao estádio e a multidão aplaudira-o efusivamente. Isso motivou-o de tal modo que conseguiu fazer um lançamento de quase setenta e dois metros, ultrapassando o segundo lugar por mais de um metro, garantindo assim a medalha de ouro.
A prática do envio de oficiais de ligação fora proibida por Hitler contudo, os outros oficiais conseguiram convencer o General Schmidt das vantagens deste pequeno desrespeito das regras. Deste modo, Gerhard fora enviado com um rádio sem fios ao Quarto Corpo de Exército Romeno, estacionado na região a Noroeste da cidade, melhorando significativamente a comunicação entre as duas unidades.
― De acordo com a confissão de um oficial russo, capturado na área da Primeira Divisão de Cavalaria Romena, é esperado um ataque hoje as cinco da manhã.
― Já passa das cinco, há algum sinal duma ofensiva? ― respondeu Winrich, confirmando mais uma vez as horas.
― Ainda nada, tudo calmo. ― respondeu-lhe.
― Parece-me que é outro falso alarme dos romenos. Mas, ficou aqui registado.― concluiu Winrich, pensando tratar-se de outro falso alarme.
― Entendido. ― confirmou e de seguida desligou.
Winrich não sabia o que deveria fazer ou se realmente teria de fazer algo, por isso permaneceu no seu lugar, reflectindo sobre a informação recebida.
Este capítulo foi retirado do primeiro livro da trilogia de Estalinegrado, porque não estava relacionado directamente com as personagens principais. Apenas o publico aqui num exercício de pesquisa e ambientação do resto do livro.
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