segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Ebooks: Nanozine 4

Com uma capa desta, quem é que consegue resistir a abri-la?


Autores: Joel Puga, Cristiano Estevão, Rui Sousa, Adoa Coelho, Pedro Vicente, Ricardo Cunha, Liliana Novais e Telmo Marçal.
Sinopse: A Nanozine é um projecto amador surgido em 2011 que publica autores portugueses.




O Mestre Arquitecto - Joel Puga
Este texto acaba mais por ser mais uma parábola que um conto. O autor conta quase tudo, mostrando muito pouco. Com um desenvolvimento mais cuidado, teria passado uma mensagem mais forte.
3 estrelas


Floresta Maldita - Parte 1 - Cristiano Estevão
Escrita parcialmente no mesmo estilo de Drácula de Stoker, este conto peca pelos extras que são completamente desnecessários. Há muita informação que é completamente desnecessária. Os diálogos são muito artificiais.
2 estrelas


100 Palavras - Rui Sousa
Este conto é uma boa prova de conceito, apesar de não ser mais que isso.
2 estrelas


O Cálice da Vingança - Parte IV - Adoa Coelho
O sentido de humor que caracterizava este conto começa a desgastar-se. Espero que termine em breve, caso contrário a autora arrisca-se a estragar o bom trabalho que fez.
2 estrelas


O Ditador - Pedro Vicente
O título remete para algo completamente diferente e acaba por nos causar algumas surpresas. Gostei da ideia. A execução podia ser um pouco mais trabalhada.
4 estrelas


They're Just Memories - Ricardo Cunha
Um conto curto e rico numa imagética interessante.
3 estrelas


Um Grito de Liberdade - Liliana Novais
Um conto interessante em forma de relato, apesar de ter uma ou duas incongruências históricas.
3 estrelas


Dia de Libertação - Telmo Marçal
Poesia em forma de conto. Gostei do formato e do desenvolvimento.
3 estrelas


Segunda Oportunidade - Telmo Marçal
O tom foi muito bem escolhido. A ideia fui bem trabalhada, tornado-o num conto que se lê com facilidade e prazer.
4 estrelas


Esta edição tem muitos problemas de frases repetidas. O aspecto gráfico está superior ao da edição anterior, embora os contos, na generalidade, estarem mais fracos. Há que felicitar a coragem destas três escritoras na criação deste projecto.
Recomendo a quem quiser conhecer o que se faz em Portugal.

Classificação: 3 estrelas

domingo, 28 de fevereiro de 2016

Chá de Domingo #72: 12 Erros que Escritores Iniciantes Cometem - Parte 1

Hoje vamos falar dos erros mais comuns que os escritores iniciantes comentem e os prejudicam mais.


Para muitos escritores, a primeira publicação é a mais extenuante. Enviam o seu manuscrito para dezenas ou até centenas de editoras e agentes e nem sequer recebem uma resposta. Se é comum, e quase uma piada entre os autores, o facto de os editores não responderem às submissões, há certos erros que tornam essa resposta demorada em algo que nunca se concretizará. Um editor poderá receber dezenas de manuscritos numa semana. Podem-se perguntar como é que ele os lê a todos? Não lê. Passa os olhos pelas primeiras páginas e se lhe interessar é que lê o resto.

Como evitar que isso aconteça? Evitar os erros mais comuns para que possamos causar uma boa impressão no editor. Aqui ficam os 12 que definem se o vosso manuscrito algum dia vai deixar a pilha dos por ler:

Gramática e Ortografia
Nenhum editor irá querer ler uma história cheia de erros. Para além de lhe dificultar a vida, dá uma má impressão do autor. Um autor que submete uma história com este problema mostra que é um amador e que não se dedicou o suficiente ao livro. Não esperem, sequer, que passe da primeira página.

Evitar a Prosa Purpura
Uma prosa adornada em demasia por adjectivos e advérbios não é um sinal de um bom escritor. Muito pelo contrário, desencoraja os leitores a mergulharem na história, distraindo-os do que realmente interessa: a trama! O mesmo é válido para o escritor: quando gasta muito tempo a polir as frases, esquece-se das outras vertentes.

Exemplo: A sua face era como o Sol Nascente, os seus olhos como o infinito do oceano. Cada olhar era como se uma vida inteira se esvaísse num único segundo de contemplação desta deusa alada e bela.
Frase cheia de metáforas que não fiz nada e confunde o leitor.


Frases com Demasiados Verbos
Ninguém quer ler frases com demasiados verbos. Estas transmitem uma sensação de simultaneidade, que quase nunca é intencional, e são mais complicadas de ler.

Exemplo: Ela levantou-se, tomou banho, vestiu-se, lavou os dentes e tomou o pequeno-almoço antes de sair.
Para além de intragável, esta frase é provavelmente redundante.


Não usar a voz passiva
A voz passiva diminui o impacto daquilo que o autor quer transmitir. A mensagem perde força que a voz activa lhe dá. Para além disso, o seu uso pode ser interpretado como vindo de um escritor pretensioso.

Exemplo: A carta foi escrita por Rita.


Demasiada descrição
Este problema afasta os leitores da história. Por muito que queira descrever o exacto tom de azul da cortina, a frequência dessas descrições extenuantes acaba por cansar o leitor. Não é só a quantidade de descrição, mas também quão exaustiva esta é. Este erro aumenta o hiato entre o escritor e o leitor, quando desejamos que o oposto aconteça. É particularmente grave no caso de descrição de objectos/cenários pouco relevantes para a história.


Demasiadas Palavras sem Dizer o Essencial
Seja conciso e claro na sua escrita. Uma boa maneira de treinar isto é escrever vinhetas, visto que obriga a chegar rapidamente ao cerne da história. Uma revisão cuidada de caneta vermelha ajuda a eliminar toda a palha do manuscrito. Em caso de dúvida, peça uma segunda opinião de um escritor mais experiente.


Artigo parcialmente adaptado e traduzido daqui.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Ebooks: A Flecha Perdida

Mais uma peça no universo ficcional deste autor.


Autor: Pedro Pereira
Sinopse: Escondidas pela vegetação, as irmãs Geerlings seguem o rasto da sua presa. Empenhadas na caçada, ignoram por completo o perigo que se aproxima da colónia de Drunen.


A primeira parte do conto serve para nos dar a conhecer as personagens. Este é um dos exemplos em que usar prólogo não é mau de todo. Contudo, duvido que os animais deixem tufos de pêlo agarrados às árvores tão frequentemente. As personagens são-nos dadas a conhecer de uma forma dinâmica. O universo é-nos descrito com detalhe suficiente para que percebamos que estes acontecimentos se situam numa história maior. A trama, apesar de não ter reviravoltas, vai aumentando a tensão até ao final. Creio que o conto foi bem executado.
Recomendo a quem quiser conhecer este universo pós-apocalíptico fantástico e o trabalho deste autor.

Classificação: 4 estrelas

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Ebooks: A Filha da Peste

Um dos melhores contos desta autora.


Autora: Carina Portugal
Sinopse: Oriunda de um passado infecto, a morte esconde-se por de trás de uma máscara dourada, pronta a tomar Veneza, quando todos menos esperam – sob o disfarce do Carnaval.


Este é um daqueles raros casos em que o prólogo não é dispensável. Para além de ajudar a definir o tom do conto, dá-nos uma visão sobre o antagonista. As personagens estão muito bem desenhadas atingindo a complexidade que só é limitada pelo formato. As descrições estão excelentes, não sendo difícil a imersão no Carnaval de Veneza. A trama flui com facilidade, prendendo o leitor às páginas até ao final, que não desaponta. A linguagem é cuidada sem florear em demasia. Em suma, este conto está muito bom em todas as vertentes.
Recomendo vivamente este conto, a quem já conhece e a quem quiser descobrir uma nova autora português.

Classificação: 5 estrelas

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Livros: Oriente, Ocidente

Este livro permite-nos viajar entre dois mundos.


Autor: Salman Rushdie
Sinopse: Salman Rushdie nasceu em Bombaim em 1947 e viveu grande parte da sua vida em Londres. É o consagrado autor de obras como 'Os Versículos Satânico', 'O Último Suspiro do Mouro', ' O Chão que Ela Pisa' e 'Fúria'.
Oriente, Ocidente é uma colectânea de contos onde o autor observa os seus dois mundos, ao mesmo tempo íntimos e distante, a história partilhada de ambos, e os equívocos - cómicos e trágicos - que os separam e unem.
O que Oriente, Ocidente demonstra, é que Salman Rushdie, o mais informado e actualizado dos nossos escritores, tem um excepcional talento para todas as «antigas artes»: o domínio excepcional da língua, de contar histórias e da imaginação.


Irei comentar cada um dos contos em separado, deixando a apreciação global para o final.

Um Bom Conselho e Uma Jóia Rara
É fácil simpatizar com esta mulher misteriosa que chega. As personagens estão muito bem construídas e o conto consegue invocar essa Índia que já não existe. A surpresa final ajuda com que fiquemos com uma impressão muito positiva.
4 estrelas

O Rádio Grátis
O autor assumiu o risco de contar a história na terceira pessoa e saiu-se muito bem. A gestão de informação foi bem conseguida e conseguiu despertar o interesse do leitor.
4 estrelas

O Cabelo do Profeta
Esta história é contada sob o ponto de vista de um narrador omnisciente, o qual o autor também domina. O mistério inicial contamina-nos desde a primeira página e as reviravoltas prende-nos até ao final.
4 estrelas

Yorick
Depois do anteriores, este conto decepcionou-me grandemente. Foi uma sátira sem grande sentido de humor e desnecessariamente confusa.
1 estrela

No Leilão dos Sapatinhos de Rubis
Apesar de muito melhor que o anterior, este conto deixa muito a desejar em relação aos primeiros. No entanto, gostei da temática e da forma como foi desenvolvido.
3 estrelas

Cristóvão Colombo & rainha Isabel de Espanha consumam a sua relação
O que é que raio acabei de ler? Apesar da premissa, acabou por alongar-se em demasia tornando-se aborrecido.
2 estrelas

A Harmonia das Esferas
Excelente! Este conto tem tudo o que espero encontrar numa grande história. A aura de mistério foi muito bem conseguida e as reviravoltas recompensam cada virar de página.
5 estrelas

Chekov e Zulu
Este conto de espionagem, entre dois mundos, está ao mesmo nível dos primeiros contos do livro. Consegue manter o interesse e o final compensa. As metáforas usadas foram-no muito bem, aumentando o potencial do texto.
4 estrelas

O corteiro
Este conto consegue despertar emoções no leitor e é uma boa escolha para encerrar este livro. As personagens são tão reais que acabam por ecoar em todos os leitores, assim como as situações.
4 estrelas

A segunda parte do livro era completamente dispensável. Os três contos contidos no Ocidente não tinham uma qualidade comparável aos restantes, onde o autor mostrou que consegue dar cartas com facilidade.
Recomendo vivamente este livro, assim como recomendo que saltem o quarto, quinto e sexto conto.

Classificação: 3 estrelas

domingo, 21 de fevereiro de 2016

Chá de Domingo #71: Bloqueios de Escritor

Hoje vou deixar umas dicas de como enfrentar o Bloqueio de Escritor.


Não é a primeira vez que abordo o tema. Esse artigo está muito superficial e acaba por não apresentar soluções.

Mesmo quando temos tempo, uma história organizada e seguimos todas as boas práticas, há vezes em que simplesmente não conseguimos colocar uma palavra à frente da outra. Ficamos bloqueados e não conseguimos escrever nada. A isto chama-se bloqueio de escritor. Felizmente, existem algumas técnicas para lidar com isso:
  • Experimentar: tente escrever em locais diferentes, a horas diferentes e com materiais diferentes. Se escreve todas as manhãs antes do emprego, no escritório usando o computador, porque não tentar escrever ao fim do dia, num caderno, sentado na varanda?
  • Escrita Livre: seleccione uma frase do último parágrafo que escreveu e escreva um parágrafo sobre ela. Repita o processo algumas vezes (duas a quatro).
  • Formar Grupos: escolha palavras e ideias-chave. Escreva ideias e palavras associadas a estas de modo a formar um grupo. Está é uma boa maneira de formar novas ideias.
  • Seja Flexível: esteja disposto a deitar fora parte do que escreveu. Embora esta possa ser uma tarefa difícil para muitos escritores, por acharem que estiveram a desperdiçar tempo, acaba por lhes poupar tempo. E, além disso, não precisa de deitar fora, pode simplesmente guardar esse pedaço à parte e reutilizar mais tarde.
  • Siga uma Rotina: embora seja contraditório em relação ao primeiro conselho, para alguns escritores funciona muito bem ter um local e uma hora dedicados à escrita.
  • Movimento: dê uma volta à sala ou vá dar uma caminhada. Faça alongamentos. Movimento físico ajuda a aclarar as ideias e a explorar novos caminhos.
  • Faça uma Pausa: vá comer ou beber qualquer coisa. Falar com outra pessoa, sem ser relacionado com a escrita também pode ajudar. À falta disso, pare por cinco minutos e relaxe, vai ver que é mais fácil concentrar-se.
  • Concentrar-se: foque-se numa parte ou vertente diferente do que está a escrever. Isso ajuda a conseguir novas perspectivas sobre a história e continua a avançar no projecto.
  • Leia de Novo: imprima o rascunho e leia-o de novo. Aproveite a oportunidade para rabiscar ideias à margem.
  • Não se preocupe! Quando mais se preocupar, mas difícil é pensar com clareza.
Artigo adaptado a partir daqui.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Ebooks: Paixão

Outro conto que o ensemble Fantasy & Co nos oferece.


Autora: Liliana Novais
Sinopse: Tobi é um ser com magia, num mundo em que isso descriminado. Sentimentos adormecidos durante anos fazem com que desafie a ordem estabelecida.


Este conto revela as mesmas limitações que encontrei noutros da desta autora. Há demasiada informação no primeiro parágrafo. Toda a história nos é contada ao invés de ser mostrada. A parte do romance foi muito pouco desenvolvida. Esta história com mais cuidado por parte da autora teria potencial, assim parece-me mais como um trabalho em fase de desenvolvimento. 
Apesar disso, recomendo a quem desejar seguir o trabalho desta escritora.

Classificação: 2 estrelas

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Ebooks: 7 Pecados

As antologias do Fantasy & Co são um excelente meio para descobrir novos escritores.



Autores: Carina Portugal, Carlos Silva, Liliana Novais, Pedro Cipriano, Pedro Pereira, Sara Farinha e Vitor Frazão. 
Sinopse: A antologia 7 pecados reúne contos de autores portugueses emergentes, um por cada pecado mortal. 


Como é normal, irei dar classificar cada um dos contos individualmente.

Gula - Carina Portugal
O conto é um perfeito exemplo do que o terror deve ser. Cria tensão e dá-nos um final que nos deixa a desejar mais. Gostei muito!
4 estrelas

A Cidade Perdida - Um Conto Acerca do Orgulho - Liliana Novais
Uma história engraçada mas cliché. Não há obstáculos nem tensão o que prejudica em muito a narrativa.

2 estrelas

Ira - Pedro Pereira
Um conto interessante, que teria beneficiado de um final melhor. Gostei do setting.

3 estrelas

Luxúria - Sara Farinha
Apesar da história ser um pouco cliché e o final não ser totalmente inesperado, gostei da ambientação e tensão criadas.

3 estrelas


Preguiça - Carlos Silva
Gostei do conto, apesar de ser só narrado sem criar  grande ligação com a personagens. Fazer melhor? É possível, mas nada fácil.
4 estrelas

Desejo - Vitor Frazão
Curto e engraçado. Serve o seu propósito, mas podia ser mais expandido.
3 estrelas

Nada e Tudo - Pedro Cipriano
Não vou comentar nem classificar este por razões óbvias.

A classificação final é baseada na média dos contos. Apesar de haver uma certa disparidade em termos de qualidade dos contos, creio que é um antologia que irá entreter muitos leitores.

Classificação: 3 estrelas

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Ebooks: A Bela e o Monstro

Um recontar do clássico que todos nós conhecemos.


Autora: Inês Montenegro
Sinopse: Quando o pai sugere o casamento com um estranho como solução para a eminente falência da empresa, Beatriz mal pode acreditar na resposta da irmã, Isabel – muito menos depois de verem o repugnante aspecto do noivo. Isabel, no entanto, insiste na sua decisão, não deixando a Beatriz outra hipótese que não a de tomar o assunto nas próprias mãos…


Acho que o início não foi dos mais fortes. As personagens tiveram o desenvolvimento possível num conto. Depois do início demasiado lento, a história avança rápido demais e falhando alguns momentos e descrições que seriam importantes para o leitor. A parte final é a que me pareceu estar mais bem conseguida. Em suma, já vi esta autora conseguir melhor e foram essas expectativas frustradas que me fizeram ficar desapontado com o resultado.
Recomendo a quem gostar do estilo desta escritora.

Classificação: 3 estrelas

domingo, 14 de fevereiro de 2016

Chá de Domingo #70: Escrever um Conto - Parte 4

Vamos lá então à última parte do guia prático de como escrever um conto. Podem encontrar as partes anteriores aqui: parte 1, parte 2 e parte 3.


Conflito
Vamos começar pelo conflito. Já escrevi um artigo sobre isso, que podem encontrar aqui.

Gostaria de acrescentar mais alguns pontos. O conflito produz a tensão que dá início à história. O conflito é criado entre a personagem ou personagens e as condicionantes internas e externas. Balancear as forças em oposição é a melhor maneira de manter os leitores agarrados às páginas.

 Dicas para construir e manter a tensão:
  • Mistério: explique somente o suficiente para provocar os leitores. Não dê os detalhes todos de uma vez.
  • Balanço: dê a ambos os lados escolhas e poder para vencer o desafio.
  • Progressão: vá aumentando o número de obstáculos do protagonista e a sua dificuldade.
  • Casualidade: faça com o que as personagens que cometem erros sofram as consequências e dê recompensas às que não o fazem.
  • Surpresa: crie complexidade suficiente para que os leitores não possam prever o que vai acontecer muito antes que aconteça.
  • Empatia: faça com o leitor se ligue às personagens e se identifique tanto com as situações agradáveis como desagradáveis a que o protagonista é exposto.
  • Compreensão: revele algo sobre a natureza humana.
  • Universalidade: apresente um conflito que se ligue com a maioria dos leitores, mesmo que este seja específico de um determinado local ou era.
  • Alto risco: convença o leitor que o desenlace importa, visto que o protagonista com o qual se identificam, está prestes a perder algo muito valioso.
O ponto sem retorno
Este é um dos pontos mais importantes de toda a história. O protagonista tem de tomar uma decisão que o levará ao conflito final. A altura em que acontece é fundamental. Se acontecer antes dos dois terços da história, os leitores irão esperar uma reviravolta. Se acontecer depois disso, os leitores irão ficar impacientes.

Essa decisão não precisa de ser consciente. Pode ser apenas o protagonista aperceber-se de algo que não tinha notado antes.

Este ponto irá levar-nos à resolução do conflito. A tensão terá de aumentar, o leitor terá de ficar mais e mais preso à história.

Resolução
Este é o momento pelo qual os leitores esperaram o conto todo. O final deve recompensar os leitores. Não precisa de ser uma resolução definitiva, pode ser apenas um indício que as personagens ou a situação começou a mudar.

Tipos de final:
  • Aberto: Bradam desviou o olhar do padre e fixou-o na montanha.
  • Resolvido: Enquanto João observava, em desespero, Helena meteu as suas coisas no carro e foi-se embora.
  • Paralelo ao início: Eles conduziam o seu Chevrolet Impala de 1964 pela autoestrada com o vento a acariciar o seu cabelo. (...) O pai dela conduzia um Chevrolet Impala de 1964 novo, que substituiu o que ardeu.
  • Monologo: Gostaria que Tom tivesse tido os conselhos da irmã Dalbec antes que aqueles malvados tivessem levado a sua alma.
  • Diálogo: As personagens conversam.
  • Imagem literal: Os aquedutos estavam limpos e o sol brilhava uma vez mais.
  • Imagem simbólica: Ao olhar para o céu, viu uma nuvem em forma de cruz sobre o céu azul, nessa manhã quente.
Espero que esta série de artigos vos tenha ajudado. Caso tenham dúvidas sobre alguma parte ou gostassem de ver algum dos aspectos mais aprofundado, é só deixarem um comentário.

Esta série foi baseada e parcialmente traduzida a partir desta ligação.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Ebooks: Nanozine 3

A Nanozine continua em destaque.


Autores: Ana C. Nunes, Miriam Fonseca, Adeselma Davies, Leonora Rose Campbell, Adoa Coelho, Emanuel R. Marques e Mariana Araújo
Sinopse: A Nanozine é um projecto amador, surgido em 2011, que publica autores portugueses.


Creio que o que salta mais à vista são as cores um tanto berrantes até meio, só voltando ao normal no resto. Tenho dúvidas se isso é um progresso em relação ao número anterior. Continua a ter os mesmos problemas de hifenização.

Um erro, várias culpas - Ana C. Nunes
Este conto tem um ideia base muito interessante, pena que a autora não tenha conseguido explorá-la da melhor forma. Necessitava de mais mostrar e menos contar para criar uma ligação mais forte com o leitor.
2 estrelas

Memórias de mim, pintadas por ti - Miriam Fonseca
Este conto é semelhante ao anterior: boa ideia com uma execução não tão boa. Contudo, acho que esta autora conseguiu criar uma ligação melhor com o leitor.
3 estrelas

I Kissed her Goodbey - Adeselma Davies
Este conto marca o estilo característico da autora. Gostei do tratamento que deu às personagens e só tenho pena que tenha sido escrito de um modo fragmentado. No final ficaram bastantes perguntas sem resposta, mas não creio que isso seja um problema.
4 estrelas

Rapto - Leonora Rose Campbell
Tenho de dizer que este conto foi uma agradável surpresa. Já tinha lido outros contos mais recentes desta autora e não esperava que tivesse escrito algo tão bem executado há tanto tempo. Simples mas executado de um modo competente.
3 estrelas

O Cálice da Vingança - Parte III - Adoa Coelho
Este conto retoma as aventuras dos piratas que já conhecemos das partes anteriores. O estilo e execução são semelhantes.

3 estrelas

Noite - Emanuel R. Marques
Curto e nada de especial.
1 estrela

O Poeta nada Ama - Mariana Araújo
Poema simples que entretêm.
2 estrela

Para terminar, há uma lista de recomendações para leituras de Verão e um ensaio bastante interessante, escrito pelo mesmo autor dos outros dois, cuja qualidade está a aumentar. Em suma, é de felicitar este tipo de iniciativas, que, apesar das limitações, são um ponto de referência para todos os autores iniciantes.


Classificação: 3 estrelas

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Ebooks: Nanozine 2

Vou continuar a saudosa tarefa de relembrar os números desta ezine.


Autores: Alexandra Rolo, Miguel Andrade, Emanuel Marques, Ana Luísa Teixeira, Nuno Almeida, Vitor Frazão e Adoa Coelho
Sinopse: A Nanozine é um projecto amador surgido em 2011 que publica autores portugueses.


Começando pela capa, nota-se um salto de gigante em relação ao primeiro número. A paginação também foi mais cuidada e design é mais atractivo, havendo, no entanto, há vários problemas de hifenização.  Em suma, a revista evoluiu bastante.

Pureza Perdida - Alexandra Rolo
É um pouco suspeito haver um poema de uma das organizadoras aqui.

O Barqueiro - Miguel Andrade
Gostei da premissa do conto e de algumas vertentes da execução. Teria sido interessante usar a descrição toda para criar tensão no leitor. Embora o final seja um tanto imprevisto, perde o impacto por não ter sido preparado o caminho.
3 estrelas

Vida de Cão - Emanuel Marques
Se este conto não se perdesse com certas divagações, teria ficado excelente.
4 estrelas

Mudar a mobília não chega! - Ana Luísa Teixeira
Uma mistura entre conto e texto de auto-ajuda.

Noite - Nuno Almeida
Gostei da ideia e da execução deste conto. Pena que o autor tenha tropeçado a meio e começado a contar ao invés de mostrar. Fora esse lapso, não há falhas de monta a apontar.
4 estrelas

Vigília - Vitor Frazão
O conto foi bem executado, embora falte um pouco de contextualização às personagens. O autor conta um pouco mais do que deveria.
4 estrelas

O Cálice da Vingança (Parte 2) - Adoa Coelho
A continuação de uma história com bastante humor. Contudo, a autora poderia ter explorado melhor algumas situações.
3 estrelas

A entrevista a Madalena Santos ajuda-nos a perceber como é possível ser-te publicado em Portugal. O ensaio "A Dualidade da existência humana" está muito mais interessante e melhor fundamentado que o do número anterior. No geral esta revista teve uma melhoria enorme em relação ao número anterior.

Classificação: 4 estrelas

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Ebooks: Nanozine 1


Este foi um projecto na nacional que admirei bastante.


Autores: Marcelina Leandro, Diana Tavares, Joel Puga e Adoa Coelho
Sinopse: A Nanozine é um projecto amador surgido em 2011 que publica autores portugueses.


Começar um projecto é sempre difícil, ainda mais se é feito com poucos recursos. Estas duas jovens estão de parabéns pela iniciativa que só tenho pena que tenha terminado tão rapidamente.

O ensaio "O que é um deus?" está interessante, embora devesse ter sido mais trabalhado, visto que os argumentos não são muito sólidos. A entrevista a Fábio Ventura, um escritor português pouco conhecido, foi uma ideia muito boa que devia ser seguida por mais iniciativas. As fotografias por Nuno Campos estão um fracas e são absolutamente banais.

Passo agora às minha apreciação dos contos:

Loucura - Marcelina Leandro
Este conto, apesar de curto, consegue transmitir muito bem as emoções e pensamentos da personagem principal. é um tanto previsível, mas não deixa de ter sido executado de forma competente.
3 estrelas

Psicotécnico - Diana Tavares
Confesso que gostei mais deste conto a primeira vez que o li. A repetição de informação é algo que me irrita. Podia ser mais polido, porque a ideia base não é má de todo.
2 estrelas

O Cornudo - Joel Puga
Deste escritor, já estava à espera de algo do género. Gostei do conto, embora ainda não me tenha habituado ao estilo de escrita.
3 estrelas

O Cálice da Vingança - Adoa Coelho
O título do conto começa logo por nos enganar um pouco. Gostei da abordagem da autora, no entanto creio que podia ser mais polido.
3 estrelas

No global, esta ezine merece umas sólidas 3 estrelas, tanto pela iniciativa como pelo resultado final com tão poucos recursos.

Classificação: 3 estrelas

domingo, 7 de fevereiro de 2016

Chá de Domingo #69: Escrever um Conto - Parte 3

Estão prontos para mais algumas orientações de como construir um conto? Podem ler a primeira parte do artigo aqui e a segunda aqui.


Depois dum início fantástico em que prendemos o leitor, não queremos desapontá-lo. A melhor maneira de o fazer é não encher chouriços:

O que não escrever num conto:
- Viagens: Evitar frases, como por exemplo, "Mais tarde, no escritório..."
- Redundâncias: A personagem principal a contar a uma secundária o que acabamos de ver acontecer.
- As expressões faciais do protagonista quando esta é o narrador: Para isso temos os pensamentos da personagem.


Personagens
É preciso ter cuidado com as outras personagens para alem do protagonista (e possível antagonista). Embora não precisem de ser tão trabalhadas como numa novela, é necessário que não sejam meros acessórios. Deixo-vos duas ligações com dicas para criar personagens (feitas a pensar num livro):

Ponto de Vista
Há três pontos de vista que podem ser usados no conto:
  • Primeira Pessoa
    • A história é contada pelo Eu. O narrador é o protagonista, é afectado pelos acontecimentos ou narra a história do protagonista. É um boa escolha para iniciantes, pois é mais fácil de executar.
    • "Eu vi uma lágrima na bochecha do meu pai. Nunca o tinha visto chorar. Desviei o olhar enquanto ele limpava a face."
  • Segunda Pessoa
    • A história é contada ao Tu, tornando o leitor num participante da acção. Uma aplicação são as história interactivas, não sendo muito usado no tradicional conto impresso.
    • "Ris-te da figura do palhaço. Bates palmas de contentamento."
  • Terceira Pessoa
    • A história conta o que Ele ou Ela fazem. A perspectiva deste narrador pode ser limitada (centra-se apensa numa personagem) ou omnisciente (em que sabe tudo sobre todas as personagens).
    • "Ele atravessou a rua, sem sequer verificar se vinha algum carro."
Uma história contada na primeira pessoa consegue ter um maior impacto, pois o leitor sente uma maior ligação ao narrador. Infelizmente encoraja mais o contar que o mostrar. A terceira pessoa é bastante usada, no entanto, aconselho cautela no seu uso. No caso do narrador omnisciente é importante conseguir uma boa transição entre cenas. O narrador limitado oferece uma exposição mais intima de uma personagem, que poderá não estar presente em todas as cenas.

Diálogos
Os diálogos são uma pedra basilar dos contos. Podem ler algumas dicas sobre os mesmos neste artigo.

Cenário

O cenário inclui tempo, localização, atmosfera e contexto:

  • Combinar o cenário com a caracterização e com a trama.
  • Incluir apenas os detalhes necessários para o leitor poder visualizar a história e deixá-lo preencher as lacunas não-essenciais por ele mesmo. Não vamos descrever toda e cada acção da Maria desde que sai de casa até ao trabalho se isso não for realmente relevante para a história.
  • Usar os sentido, não se limiter apenas à visão.
  • Ao invés de inundar o leitor com informações sobre meteorologia, população ou quão longe é o supermercado, caracterizar os detalhes, de modo a mostrar ao leitor o ambiente como a personagem o experiência.

Temos quase tudo o que precisamos. No próximo artigo iremos focarmos-nos na tensão e climáx.

Algumas partes foram traduzidas a partir deste artigo.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Livros: The Girl Who Kicked the Hornet's Nest

O encerrar desta trilogia não desiludiu.


Autor: Stieg Larsson
Sinopse: We could expect it: the Lisbeth Salander is not dead, but a bullet to the brain makes your life hangs by a thread. While it remains isolated in a hospital room under police surveillance, will share the corridor with his worst enemies: the Alexander Zalaixenko is Zala.
In Mikael Blomkvist, meanwhile, is about to publish one of his fearsome newspaper articles, which shake the Swedish society and questioned the credibility of the system security and justice in the country. And who will be in Mikael reveal the perverse connection that kept these estates with the heroine who, despite their wounds, get to use your hacking skills to get out of a trap of unimaginable dimensions.


Assim que terminei o volume anterior, comecei neste. Este volume parece ter menos momentos parados que floresciam nos dois primeiros, o que é determinante na minha apreciação do livro. As questões que foram levantadas nos outros livros necessitavam de ser respondidas e foram-no, com muita competência e nada rebuscado. As personagens têm vida própria com se existissem realmente. A trama foi criada de um modo brilhante, cheio de detalhes, que no final ata todas as pontas sem desapontar. O crescendo faz-nos crescer um nervoso miudinho que para ser aplacado nos obriga a virar página após página. As descrições fazem-nos imergir na Escandinávia contemporânea e real. De todos, este foi o meu favorito. Só tenho pena que o escritor tenha falecido sem deixar mais policiais destes.
Recomendo vivamente esta antologia a quem gosta do género e a quem pondera experimentar!

Classificação: 5 estrelas

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Livros: The Girl Who Played With Fire

Este livro andou por uma data de países atrás de mim até ter tempo de o ler. O que aconteceu assim que terminei o seu antecessor.


Autor: Stieg Larsson
Sinopse: Part blistering espionage thriller, part riveting police procedural, and part piercing exposé on social injustice, The Girl Who Played with Fire is a masterful, endlessly satisfying novel.
Mikael Blomkvist, crusading publisher of the magazine Millennium, has decided to run a story that will expose an extensive sex trafficking operation. On the eve of its publication, the two reporters responsible for the article are murdered, and the fingerprints found on the murder weapon belong to his friend, the troubled genius hacker Lisbeth Salander. Blomkvist, convinced of Salander’s innocence, plunges into an investigation. Meanwhile, Salander herself is drawn into a murderous game of cat and mouse, which forces her to face her dark past.


Este livro pega a história alguns meses depois do anterior, embora haja grandes relações com a intriga deste, ou seja, é possível de se ler sem ter lido o anterior. Todavia, não aconselho! Neste volume descobrimos mais sobre as personagens. A autor consegue revelar novas facetas que nos surpreendem. O passado delas não é como julgámos e as surpresas sucedem-se como um novelo enrolado sobre si mesmo, altamente complexo e cativante. A narrativa tem um andamento fluido que vai crescendo à medida que a história avança. Por cada pergunta que se responde, há sempre mais uma ou duas que se colocam, motivando o leitor a quase querer saltar as páginas. No entanto, apesar do tamanho do livro, o autor teve muito cuidado com os detalhes. Mais uma vez, como único ponto menos positivo, o autor perdeu-se com certas descrições que não adicionam muito à história. Eu não gosto de texto só para encher páginas. Em suma, gostei bastante deste livro e mal posso esperar para ler o próximo.
Recomendo a quem procure um bom policial!

Classificação: 4 estrelas

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Livros: The Girl with the Dragon Tattoo

Esta trilogia atraiu a minha atenção depois de ir ver o filme ao cinema, no entanto, esperei quase três anos antes de ler os livros.
 

Autor: Stieg Larsson
Sinopse: A murder mystery, family saga, love story, and a tale of financial intrigue wrapped into one satisfyingly complex and entertainingly atmospheric novel.Harriet Vanger, scion of one of Sweden's wealthiest families, disappeared over forty years ago. All these years later, her aged uncle continues to seek the truth. He hires Mikael Blomkvist, a crusading journalist recently trapped by a libel conviction, to investigate. He is aided by the pieced and tattooed punk prodigy Lisbeth Salander. Together they tap into a vein of unfathomable iniquity and astonishing corruption.


As personagens são tão realistas como se existissem realmente. A complexidade que lhes é dada pelo autor é verdadeiramente espectacular. Reagem, pensam, sentem como esperamos e como não esperamos. O facto de já ter ido ver ao cinema, fez com que a trama já não me surpreendesse tanto, no entanto, não acho que fosse previsível. O momento da narrativa mantém-se e vai crescendo com o aproximar do final, fazendo que queiramos virar as páginas cada vez mais depressa. Infelizmente, o autor usa e abusa de descrições acessórias sobre o que o protagonista come e deixa de comer, o que se torna um tanto enfadonho. Creio que esse é o ponto menos positivo do livro. As descrições dos locais e das acções estão bem conseguidos. Gostei do livro e irei, sem dúvida, ler os seguintes.
Recomendo a todos os que gostarem de um bom policial.

Classificação: 4 estrelas