segunda-feira, 30 de maio de 2016

Ebooks: Pela Chaminé Abaixo

Não se ainda é muito cedo ou já é demasiado tarde para falar no Natal, mas este conto leva-nos à nossa infância.


Autora: Inês Montenegro
Sinopse: Não há ano que Simão não espere pelo Pai Natal. Também não há ano em que Simão não adormeça. Aquele, contudo, seria diferente. Naquele manter-se-ia acordado.E naquele aprenderia também que por onde chega um velhote de barbas brancas e barriga saliente, também outros podem chegar.


Este conto evoca o espírito natalício com facilidade, as descrições ajudam imenso a que o leitor mergulhe na história. É muito fácil identificado-nos com a personagem principal, embora, este tipo de narrativa beneficiasse mais de um narrador na primeira pessoa. A história mantém um certo nível de tensão que vai aumentando, culminando num final que recompensa a leitura.
Recomendo a miúdos e a graúdos!

Classificação: 3 estrelas

domingo, 29 de maio de 2016

Chá de Domingo #81: Construção de Mundos - Parte 3/4

Como construir um mundo que enriqueça a história que queremos contar? Esta é a pergunta que vou tentar responder hoje, em continuação deste e deste artigos.


Misturar coisas
Vivemos numa era de misturas e do reviver de culturas. Tudo o que não é inteiramente novo parece uma mistura de coisas que já conhecemos. No caso da construção de mundos, isso não é de todo uma má abordagem. Pode até ser uma coisas divertida de fazer! Mas é preciso ter um certo cuidado, quero-se uma mistura que resulte numa poção mágica e não apenas a mistura de dois tipos de água. Misturar Star Wars e Star Trek não é tão interessante como misturar Orwell com Dune imersos na cultura Siberiana com o sentido de humor do Pratchett. Acima de tudo o importante é não se ser preguiçoso e previsível. Usa o máximo de ideias, o mais dispares possível, para criar algo novo e único.

O problema do homem branco
Voltando um pouco atrás, à parte dos estereótipos, o problema do homem branco é algo que infesta a literatura e não só. Os protagonistas são tantas vezes homens brancos e fortes que já começa a enjoar. Nem a criação de mundos se safa disso. Há uma tendência nefasta para haver o privilégio do homem branco. A maioria dos escritores dá a desculpa de que na idade Média a mulher era um mero acessório e só os homens é que mandavam. Para começar, o mundo criado não tem de ser fiel a nenhuma realidade histórica. Para continuar, a história não é tão preto no branco como a maior parte das pessoas pensam: por exemplo Elisabete I da Inglaterra. E para terminar, isto são só desculpas. Há que evitar o problema do homem branco como qualquer outro estereotipo.

O diabo está nos detalhes
É uma frase que todos conhecem e que se aplica que nem uma luva à criação de mundos. É fácil estabelecer, e perder-se, nos grandes pilares da mundicriação: história, política e religião. Uma consequência disso são os blocos de texto que enfiamos a martelo no meio da história. Agora voltando ao início: o diabo está nos detalhes, e são esses detalhes que fazem a diferença entre um construção de mundo bem sucedida e uma que aborrece de morte o mais persistente dos leitores. Mostra o que é que eles comem às diferentes refeições. Mostra o que é que eles bebem. Mostra como são as casas deles. Mostra! Mostra! Mostra! Esta é a melhor maneira de construir um mundo.

O diabo também está nas interacções
Oh sim! Da mesma maneira que se mostra os pequenos detalhes que compõem o mundo, também se deve mostrar as interacções. Mostra de que maneira partilham a comida. Mostra como é que tratam os superiores. Mostra como são as relações românticas e como é que encaixam na norma. Mostra o mundo através do que as personagens fazem e dizem.

O mundo está vivo
Outro erro comum é construir um mundo estático. O mundo não é uma enciclopédia de raças esquecidas e culturas mortas. Claro que essas raças esquecidas podem lá estar, visto que dão uma profundidade adicional ao mundo, mas não podem ser o centro do mundo. O pilar do mundo devem ser as personagens vivas, a fazerem coisas reais que mandam o mundo. Deve-se combater a tendência de criar um mundo rígido e a desculpa de que todos fazem o mesmo. O nosso mundo nunca foi estático nem rígido. Por exemplo, ao olhar para um certo país temos uma certa ideia de como ele é, mas isso não significa que todas as pessoas sigam a norma. As pessoas são seres vivos e fazem decisões, nomeadamente a de aceitar ou recusar parte da cultura em que estão imersas.

Cortar a palha
Há uma certa tentação de acrescentar certos detalhes só que os consideram geniais. Até aí tudo bem, mas é necessário garantir que eles se ligam ao resto da história. A desculpa de que é um detalhe altamente não é suficiente. Se um certo detalhe ou vertente não tem ligação ao tema, tom ou personagens, o melhor é deixá-lo de fora. Podem usá-lo mais tarde noutra história ou noutro mundo em que a sua aparição seja mais plausível. Afinal não querem que a vossa ideia genial seja apenas um detalhe numa história maior quando pode ter a sua própria história, pois não?


Adaptador a partir deste artigo.

sexta-feira, 27 de maio de 2016

Ebooks: Na Viagem do Caronte

Porque a ficção especulativa não é só prosa.


Autora: Inês Montenegro
Sinopse: Vogando o rio vão as negras almas
Chorando e vagindo por suas penas
Fazendo lugar e vez de suas águas
Que em nada se dizem amenas.


A escrita é competente e as rimas estão bem conseguidas. Creio que este conto-poema teria beneficiado de imagens mais vívidas, visto que todo ele é uma imagem, mas que não foi convenientemente pintada pelo autor.
Recomendo a quem gostar de poesia e mitologia.

Classificação: 3 estrelas

quarta-feira, 25 de maio de 2016

Ebooks: Génesis

Assim que a história pega, é difícil de largar.



Autor: Pedro Pereira
Sinopse: Jado Mafawi é um dos geneticistas mais brilhantes do seu tempo. Ao ser contactado pessoalmente pelo Supremo Sacerdote, é recrutado pela Igreja para um misterioso projecto de investigação. Apanhado numa situação da qual não pode fugir, Jado acaba por colocar em jogo tudo aquilo que acredita ser correcto.


O início precisava de ser mais forte e com menos despejar de informação. A personagem principal necessitava de um pouco mais de personalidade. No entanto, assim que a trama se começa a desenvolver, a leitura torna-se mais fácil, prendendo o leitor até ao desenlace, que apesar de aberto é satisfatório. As descrições estão bem conseguidas. Em suma, após a primeira parte, o conto é uma leitura bastante agradável.
Recomendo a quem quiser descobrir ou redescobrir este autor português.

Classificação: 3 estrelas

segunda-feira, 23 de maio de 2016

Ebooks: Devorador de Mundos

Fiquei contente por a história ser de ficção científica ao invés de fantasia, como o título parecia indicar.


Autora: Liliana Novais
Sinopse: Estava um dia horrível. Esperavam-no no CERN para dar início à sua experiência de colisão de partículas. Ele estava ansioso, toda a sua tese de doutoramento dependia dos resultados que obtivesse.


A personagem principal precisa de ser mais trabalhada. Todo o conto parece mais um resumo do conto do que o conto propriamente dito. Beneficiaria de uma abordagem mais de mostrar do que de contar. O final foi muito morno, creio que o conto poderia ter terminado um pouco antes, deixando o resto subentendido. Fora isso, é uma ideia com bastante potencial, que beneficiaria de uma revisão cuidada e uma reformulação.

Classificação: 2 estrelas

domingo, 22 de maio de 2016

Chá de Domingo #80: Construção de Mundos - Parte 2/4

Hoje vou continuar o artigo sobre a construção de mundos que iniciei aqui.


O Mundo é mais que um apoio à trama
A história não é só a trama. O que significa que o mundo criado terá de servir de pilar para o ambiente, tema, conflito, personagens e cultura da história.  Não deve ser só apresentado para fazer avançar a história, os detalhes devem envolver toda a narrativa e não se limitarem só à trama e à acção.

Mostrar, não contar
Isto é válido para outras vertentes da história. Nunca é demais chamar a atenção para um contar excessivo! Os detalhes do mundo devem ser trazidos pelos diálogos e pela acção. Nenhum leitor gosta de ter de enfrentar um monólito de descrição.

Simples ou Complexo?
Esta é uma questão que não tem um resposta última, depende muito da história que desejam contar. Certas histórias têm uma trama tão atraente ou personagens tão carismáticas que ofuscam por completo o mundo. Certos tipos de história exigem um mundo monocromático e simples (por exemplo: as fábulas e as "Era uma vez..."). As restantes devem afastar-se da construção simplista: estes são os bons e estes os maus. Por que é que acham que o Game of Thrones tem tanto sucesso? Não tem nenhuma personagem totalmente boa e inocente, nem nenhuma só má e perversa. Todas são um misto, que as diversas circunstâncias evidenciam determinadas características. Assim deve ser o vosso mundo. Não há grande novidade se o elfos forem os bons e os trolls os maus. É muito mais interessante se em cada raça houverem personagens realistas, ou seja, nem boas nem más. Agora é só extrapolar isto para as restantes vertentes.

Falar só sobre aquilo que se sabe
Este é um daqueles conselhos que vemos repetido um milhão de vezes. Em geral é um bom conselho e que deve ser seguido, mas há excepções e a construção de mundos é uma delas. Na ficção especulativa, é um daqueles conselhos que faz o escritor querer mandar com a cabeça na parede. Como raio vou escrever sobre o apocalipse? Como vou descrever homicídio? E como vou completar aquela cena de sexo entre um alien e um elfo? A maioria dos escritores aqui presentes só passou por apenas duas delas e numa estavam notoriamente embriagados. Como é que podemos então usar este conselho na construção de mundos? Não podemos! Pode ajudar na construção de personagens e situações, mas não de mundos. Não é totalmente verdade o que acabei de escrever: pode-se pegar em coisas que entendemos e extrapolar. Nem todos têm acesso às maquinações internas de um parlamento, mas até uma reunião de condomínios pode evidenciar o mesmo tipo de jogos e interesses, portanto o segredo é observar e adaptar. À falta disso, podem ir buscar inspiração à cultura, política e história. Leiam não-ficção sobre outros lugares e sobre outras pessoas. Não deixem que escrever só sobre aquilo que sabem seja uma barreira, mas um incentivo para saberem mais.

Uso de estereótipos
No caso da construção de mundos, e noutras coisas também, devem fugir dos estereótipos como o diabo da cruz. Heróis brancos e senhoras em apuros devem-se evitar, assim como uma uma raça que age toda do mesmo modo. Nenhuma cultura é monolítica, nem a cor da pele define o comportamento e muito menos as habilidades. Os homens e as mulheres não são coisas estáticas e cópias uns dos outros e totalmente estanques em termos de género. Os estereótipos são preguiça na melhor das hipóteses e insultuosos na pior. 

Este artigo foi adaptado a partir daqui.

sexta-feira, 20 de maio de 2016

Ebooks: O Anúncio do Corvo

Um fácil e rápido de se ler, que dará um especial gosto a todos os que se interessam por mitologia irlandesa.


Autora: Inês Montenegro
Sinopse: Em véspera de batalha, um guerreiro é visitado por um augúrio.


A figura mitológica acaba por ser a personagem principal, apesar da história nos ser apresentada no ponto de vista de um homem. Não houve grande esforço nas descrições, o que poderia ter adicionado alguma beleza ao conto. A acção progride bem, embora lhe falte um clímax final. Apesar disso, é um conto que proporciona uma leitura muito agradável.
Recomendo a todos os amantes da mitologia irlandesa e a quem queira descobrir uma promissora autora portuguesa.

Classificação: 3 estrelas

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Ebook: És o Que Pareces, Por Não o Seres

Bruxas, fantasmas e rituais sombrios... o que mais se pode desejar num conto de fantasia?


Autora: Carina Portugal
Sinopse: A fotografia girava sobre o seu dedo, cortando o ar em redor como uma lâmina. A velocidade de rotação aumentou, até a mão se abrir de súbito, paralisando-a. Da imagem sorriam-lhe duas pessoas, num reflexo da mais pura felicidade: ela própria, e um bonito rapaz de olhos de safira e cabelos cor de palha. As cabeças encostadas faziam com que os cabelos de ambos se misturassem, e os dedos das mãos entrelaçavam-se. Soltou um rosnar de fúria e voltou costas à fotografia. Com isto, o feitiço quebrou-se, e o retrato caiu sobre o tampo da mesa, ocultando ambos os sorrisos. 


O início, apesar de perturbador e intenso, alonga-se em demasia. Demoramos e conhecer a personagem principal, que me parece demasiado superficial. Contudo, a partir dai o conto desenvolve-se, sem nunca aliviar atenção, até ao final que por um lado é previsível mas por outro acaba por surpreender.  Gostei das descrições, que ajudam a criar o ambiente da história.
Recomendo a quem gostar deste fantasia.

Classificação: 3 estrelas

segunda-feira, 16 de maio de 2016

Ebooks: Fome

Um dos melhores contos que li da autora.


Autora: Liliana Novais
Sinopse: Os seus músculos encontravam-se entorpecidos pelos séculos de descanso. Despertara faminto. Ele sabia que se não se alimentasse, não recuperaria a sua força.



As personagens podem não ter muito profundidade e o tema ser um pouco cliché, mas o resultado acaba por ser bom. A autora dá demasiada informação, mas o facto de ser um conto curtinho não é tão grave, sendo a história dominada pelas acções. Em suma, a autora surpreendeu-me pela positiva.
Recomendo a quem nunca leu nada desta autora.

Classificação: 3 estrelas

domingo, 15 de maio de 2016

Chá de Domingo #79: Corte do Norte

Conheçam a Corte do Norte, a qual tive o prazer de entrevistar, tal como tinha prometido aqui.

É um grupo de pessoas que tem experiência individual em participação e voluntariado de eventos, e que organizou colectivamente a EuroSteamCon 2015 de Portugal. Entre os membros contam-se escritores, músicos, designers, costureiros, roleplayers, e claro, aficionados pelo género steampunk.
(adaptado do site)

1 - Entre tantos géneros literários e artísticos, porquê o Steampunk?
A Corte do Norte não é exclusivamente um grupo de steampunk. Somos, antes de mais, um grupo de amigos com bastantes interesses em comum, quer seja livros, filmes, jogos, banda-desenhada, entre outros. O steampunk é apenas um desses géneros, visto que junta tanto daquilo que gostamos: história, época vitoriana, aventuras, gadgets, e a oportunidade de nos vestirmos a rigor e termos justificação para o fazer. Segundo experiência própria as pessoas normais tendem a olhar-nos de lado se nos vestíssemos sempre assim.

2 - Como é que se envolveram na organização do EuroSteamCon? A Corte do Norte foi criada para esse efeito ou já existia antes?
A Corte do Norte existia como um grupo informal de amigos escritores, que se conheceram através do Nanowrimo, um concurso de escrita. Estivemos nas duas edições anteriores da EuroSteamCon Portugal, e foi com pena que registamos a sua ausência em 2014. Depois de atirar algumas ideias ao ar e de muita ambição entre nós, perguntamo-nos “porque não fazermos nós?”. Com tantas pessoas de áreas diferentes no nosso grupo, com certeza que conseguiríamos fazer algo interessante. Depois de falar com a organização anterior e de obter a sua bênção, procedemos então a um ano inteiro de organização, entrevistas, e brincadeiras.

3 - Que outros projectos têm para além desse?
Ideias é algo que não nos falta, mas torná-las em projectos finais é mais difícil. Ora por ambição a mais, ora por falta de apoio por organizações e instituições do país, este tipo de convenções ou eventos ainda não têm muitas oportunidades em Portugal.
Mas temos outros projectos que podemos organizar entre nós, e estamos neste momento a debater alguns! Em breve talvez tenhamos notícias.

4 - Como está o género em Portugal, tanto em termos de artistas como de público?
Em parte aliado ao que referimos acima, Portugal ainda tem muito para desenvolver neste campo. Convenções grandes como a Comic Con ou a IberAnime têm resultados, mas projectos mais pequenos têm bastante dificuldade em vingar. Muitas vezes porque os espaços não são cedidos, ou pedem fundos que não existem em grupos sem fins lucrativos como nós. Outras vezes porque ainda não há público suficiente para garantir sucesso em eventos assim.
A comunidade steampunk em Portugal, embora não muito grande, é bastante activa. Nós não somos um grupo especificamente deste género, mas a Liga Steampunk em Lisboa é, e podemos vê-los em vários eventos ao longo do ano. Há várias pessoas a vestirem-se do género, a fazerem photoshoots, cosplays… É uma comunidade leal ao género e activa.
Mesmo assim, organizámos uma campanha de Indiegogo para trazer cá um convidado na próxima EuroSteamCon Portugal e não conseguimos o mínimo necessário. Talvez a comunidade não seja grande o suficiente, ou talvez cá ainda não haja o mindset necessário para apostar em projectos deste género. Talvez tenha sido a crise! Portugal tem potencial, mas ainda tem bastante que crescer.

5 - Steampunk não é só literatura, é também BD, Ilustração e Vestuário. Falem-nos um pouco dessas vertentes, e de outras, e do que existe em Portugal.
Infelizmente ainda não existe muito nesta área em Portugal. Se formos a ver, o steampunk é um nicho dentro dos géneros de fantasia e ficção-científica, e mesmo os autores e artistas desses géneros não são uma multidão neste país. Temos alguns artistas com banda-desenhada no género, como a dupla Marta Patalão e Tiago Bulha, ou Diogo Carvalho, e Carla Rodrigues. A SkyPirate Creations e a Elfic Wear fazem roupas steampunk. Mas o mercado steampunk português, fora dos Almanaques publicados em 2012, 2013, e 2015, tem ainda pouco (embora bom) a mostrar.

6 - Para quem nunca leu nada de Steampunk, nem tem nenhuma ideia do que se trata, qual seria o livro que aconselhariam a essa pessoa para que tivesse uma boa impressão do género? Porquê?
Escolher um só livro é limitativo, porque mesmo os fãs de steampunk têm gostos diversos! Existem várias escolhas:
- Qualquer uma das séries da Gail Carriger para quem gosta de heroínas independentes em mundos com criaturas sobrenaturais, e gadgets steampunk misturados com regras de etiqueta social;
- Os livros da Cherie Priest, história alternativa com zombies, zepelins, e bastante aventura pelos Estados Unidos em guerra civil.
- Por outro lado Scott Westerfeld em Leviathan pega na Primeira Guerra Mundial, numa mistura de máquinas steampunk e monstros criados através destas tecnologias.
Existem tantas possibilidades, não só em livros. O ano passado escrevemos um guia na revista Bang! precisamente sobre este tema. Aqui está o link para a edição online: http://revistabang.com/2015/08/04/bang-18-disponivel-online/

7 - Podem adiantar algo sobre o EuroSteam Con deste ano?
O que podemos adiantar para já é que em principio, devido à campanha Indiegogo não ter sido bem sucedida, não irá haver EuroSteamCon Portugal 2016. Talvez haja algo diferente, outro tipo de evento, mas nada como no formato do ano passado. Temos ideias e projectos que queremos anunciar, dependendo de como tudo correr, e em princípio estaremos na mesma presentes na Comic Con Portugal deste ano. Mas se houver interesse e apoio para uma futura convenção, talvez consigamos voltar no próximo ano!

Agradeço a disponibilidade da Corte do Norte para responder às minhas perguntas e faço votos que os próximos projectos sejam bem-sucedidos.

Saibam mais sobre a Corte do Norte no seu Website e no seu Facebook.

sexta-feira, 13 de maio de 2016

Livros: O Bobo

De vez em quando sabe bem pegar num clássico.


Autor: Alexandre Herculano
Sinopse: As convicções liberais levarão, em 1831, Herculano ao exílio em Inglaterra e França, donde parte para a Terceira, juntando-se à expedição liberal de D. Pedro que participará no Cerco do Porto. A experiência do exílio atravessará a sua vida e obra a ponto de se dizer um "trovador do exílio" - exilado longe da pátria e exilado no seu próprio país, vivendo o conflito entre projetos ditados pelo amor fervoroso à liberdade e o desencanto da ação política num mundo como exílio de Deus.(...) No romance O Bobo, o palco da ação, concentrada em apenas três dias, é o castelo de Guimarães e envolve uma movimentada trama política capaz de exaltar o espírito nacionalista conjugada com um enredo passional onde não faltam paixões exacerbadas que cruzam vingança e entrega numa atmosfera gótica cheia de subterrâneos, fugas, passagens secretas (...) Ação complexa e tensa, manipulação do suspense, enfoques narrativos diversos, interpelação ao leitor, variedade de tons, realismo descritivo, vivacidade coloquial, riso galhofeiro, exaltação melodramática, tudo contribui para fazer de O Bobo, «0 nosso romance histórico mais perfeito», na opinião de João Gaspar Simões.


Não foi a primeira vez que li este livro. Recordo-me de o ter lido com treze ou catorze anos, se bem que já não me lembrava que quase nada. Sou obrigado a ser indulgente com um autor que não via a prosa prolixa como um problema. Se fosse um autor contemporâneo, teria de ser mais severo em relação ao problema mostrar/contar. Contudo, quando este livro foi escrito, essas noções ainda não eram conhecidas. Para além disso, a complexidade das personagens, em especial as dinâmicas associadas ao triângulo amoroso. O protagonista não se faz notar durante a maior parte do livro, mas creio que isso foi intencional. Assim que somos agarrados pela acção, a leitura torna-se mais agradável. Como cereja no topo do bolo, não notei qualquer incongruência nos factos históricos, não fosse o autor um historiador. Em suma, um boa leitura para todas as idades.
Recomendo a quem gostar de um bom romance histórico e/ou de um clássico da literatura portuguesa.

Classificação: 4 estrelas

quarta-feira, 11 de maio de 2016

Ebooks: Crónicas de Amarílis

Mais uma oportunidade para conhecer o que se vai escrevendo no domínio da fantasia em Portugal.


Autora: Sara Farinha
Sinopse: Os 7 anos de exílio de Ivan Fallon não o afastavam de Amaríllis, nem do seu irmão Caio, o único membro vivo da família. Forçado a salvá-lo das mãos da cruel usurpadora do trono, Ivan está disposto a tudo, até sacrificar a própria vida. Mas a magia de Amaríllis tem outros planos e a traição empurra-o para uma escolha difícil, enquanto o destino se tece fortuitamente. Será Ivan capaz de antecipar todas as forças que o influenciam? Que mais tem para perder?


O conto começa bem, contudo, pouco depois é-nos despejado um monte de informação. A história podia ter começado num ponto anterior, por exemplo quando Ivan descobre que Caio vai ser executado, o que daria tempo e espaço à autora para explorar o passado sem ter de o enfiar a martelo. A personagem é dominada sempre pelos mesmos sentimentos, o que a faz parecer um pouco unidimensional. No entanto, após a primeira parte, a trama desenvolve-se num crescendo competente. Gostei das descrições. Em geral, apesar destas falhas, acabei por gostar do conto.
Recomendo a quem quiser conhecer um pouco mais do trabalho desta autora.

Classificação: 3 estrelas

segunda-feira, 9 de maio de 2016

Ebooks: Os Deuses do Fogo

Uma ideia com bastante potencial.


Autora: Liliana Novais
Sinopse: A aldeia cresceu à sombra da montanha. Os seus antepassados haviam-se fixado ali milénios antes, porque os deuses que a habitavam eram bons. Quer dizer, alguns deles, os outros só esperam uma desculpa para os destruir.


A história começa com uma longa exposição sobre o mundo criado. Preferia que a autora tivesse passado directamente para a acção. A ideia base é interessante e têm bastante potencial. Gostava de ter visto as personagens mais trabalhadas, assim como o final. Em suma, este conto necessitava de ser rescrito.

Classificação: 2 estrelas

domingo, 8 de maio de 2016

Chá de Domingo #78: Construção de Mundos - Parte 1/4

Hoje vamos falar da construção de mundos ficcionais.


Um aspecto que tem potencial de consumir muito tempo na criação de uma história é a construção do mundo. Como qualquer outra vertente, despender pouco esforço irá causar tantos problemas como despender em demasia.

O que é a Construção de Mundos?
Há quem lhe chame, em português, mundicriação. Há quem pense na construção de mundos como o cenário da história, que de certo modo o é, mas nem só.  O cenário é apenas uma das componentes. Quando falamos da construção do mundo, falamos da sociedade, costumes, economia, hábitos sexuais, religião, comida, construção e arquitectura, formas de viajar, política, valores morais, se gostam de tomar banho às quatro da tarde à segunda-feira, etc...

A Mundicriação serve a história
Toda a história começa com uma ideia, que geralmente se traduz num conflito. Depois de termos idealizado o conflito, o passo seguinte é encontrar as personagens que irão dar vida a esse conflito e, por fim, colocá-las num ambiente adequado. O mundo deve ser criado para acomodar essas personagens e esse conflito e não o contrário. Se derem mais importância ao mundo criado do que às personagens, acabarão por criar um mundo capaz de contar muitas histórias sem contar a vossa.

Algumas pessoas têm a tendência de gastar imenso tempo na criação de mundos. Apesar de até sentirem que estão a ser produtivas, não estão a avançar com a história. O objectivo não é criar uma enciclopédia, mas sim um livro de ficção. Tudo depende do tamanho da história. Se quiserem escrever apenas um conto com cerca de mil palavras, uma dúzia de frases sobre o mundo é suficiente. Por outro lado, se o objectivo for uma trilogia de 150 mil palavras em cada volume, será sensato elaborar todos os aspectos sobre o mundo. Apesar disso, se gastarem um ano a escrever um calhamaço sobre o vosso mundo sem avançarem uma única frase na vossa trilogia, é possível que estejam a ir na direcção errada.

Como fazer? (para escritores preguiçosos)
Nem sempre a preguiça é um defeito, em certas circunstâncias poderá até ser um virtude. No caso da mundicriação, há muitos autores que optam por uma abordagem de acrescentar aspectos à medida que vão escrevendo a história. Confesso que faço parte desse grupo. Parece-me mais orgânico desenvolver os detalhes à medida que são necessários à história do que fazê-lo de um modo independente. Essa preguiça acaba por ter um preço, que é obrigar na revisão a verificar cada um dos aspectos para ter a certeza que é compatível com a ideia final. Tem a vantagem de não se perder tempo a criar o mundo e avançarmos para a escrita, que é o mais importante.

Que detalhes dar ao leitor?
Alguns escritores preferem só dar os detalhes que são essenciais à trama. Deve-se evitar fazer isso, pois a história fica muito oca e parece não existir mais nada para além da trama. Pensem num jogo em que é muito fácil chegar às extremidades do mapa: o leitor irá aperceber-se disso. É preciso adicionar detalhes que tornem o vosso mundo, e por conseguinte a história, mais rico. Por outro lado, não precisam de descrever o brasão de cada família, os cortes de cabelo e cada pedacinho de relva do mundo. O equilíbrio é muito importante. Não há uma receita definitiva e depende do tipo de história que querem contar: em certas novelas fantásticas, o próprio mundo é uma personagem por si mesma, e noutras o tipo de mundo é quase ortogonal, não fazendo diferença se é assim ou o oposto.

Podem encontrar a segunda parte deste artigo aqui.

Este artigo foi adaptado a partir daqui.

sexta-feira, 6 de maio de 2016

Ebooks: Doze Doses de Ilusão

Para quem ainda não conhece Carina Portugal, devia parar o que está a fazer e ir ler este conto!


Autora: Carina Portugal
Sinopse: Numa noite, o mundo de Henrique desmoronou-se diante de si. Não há forma de voltar atrás, não há forma de apagar. No entanto, uma ilusão fá-lo-ia esquecer, é nisso que acredita. Um comprimido, dois comprimidos... doze comprimidos, e a ilusão será mais do que ele imagina.


Os detalhes deste mundo são-nos dados quase sem darmos de conta, no entanto são suficientes para percebermos do que se trata. A personagem principal está bem caracterizada. A mistura entre ilusão e realidade foi bem conseguida. A tensão vai-se acumulando ao longo do conto e o final não é de todo expectável. A prosa é fluída e fácil de ler. Em suma, um conto muito bom e agradável de ser ler.
Recomendo a quem já conhece o trabalho desta escrita: não se vão arrepender. E quem não conhece: é um bom conto para se iniciar.

Classificação: 5 estrelas

quarta-feira, 4 de maio de 2016

Ebooks: O Artefacto

Um conto fácil e agradável de ser ler.


Autor: Pedro Pereira
Sinopse: Amy, uma caçadora de prémios, é contratada por um misterioso indivíduo para reaver um antigo artefacto Inai. Apesar de tudo indicar que o trabalho lhe iria causar problemas, Amy aceita, uma vez que o mesmo pode resolver os seus problemas financeiros. Longe está Amy de imaginar as consequências da sua decisão...


As personagens podiam ser um pouco mais exploradas. A tensão criada desde o início consegue manter o leitor interessado, embora algumas reviravoltas possam ser um pouco previsíveis. Gostava de ter visto um melhor descrição deste universo literário. Apesar de ter lido alguns contos do mesmo, ainda não estou totalmente à vontade. Em resumo, um conto fácil de agradável de se ler.
Recomendo a quem quiser conhecer mais sobre este autor.

Classificação: 3 estrelas

segunda-feira, 2 de maio de 2016

Ebooks: Mergulho

Um excelente conto para conhecer a escrita competente e apelava desta escritora.


Autora: Inês Montenegro
Sinopse: Um desafio ébrio não deixa de acarretar consequências. E para elas não há lugar que não sirva.


O ponto mais forte do conto são as personagens, que tem traços bastante vincados e nada usuais. Infelizmente, a identidade de uma das personagens é demasiado evidente. A narrativa começa no momento certo e, apesar de ser previsível, não deixa de prender o leitor ao texto. Gostei das descrições, que foram executadas de um modo competente. Em geral, é um conto bom que só peca por ser previsível. 
Recomendo a quem quiser conhecer o trabalho desta jovem escritora.

Classificação: 3 estrelas

domingo, 1 de maio de 2016

Chá de Domingo #77: Balanço do Camp Nanowrimo de Abril de 2016

O balanço de mais um desafio literário.


Queria começar por agradecer à minha talentosa esposa por criar a nova faixa do Chá de Domingo. Podem encontrar o fantástico trabalho dela aqui.

Como devem ter reparado, durante o mês de Abril dediquei-me ao Camp Nanowrimo, onde me propus escrever duas novelas. Quando comecei o desafio, mudei os planos e decidi antes terminar O Jarro de Porcelana. Assim que meti mãos à obra, descobri que não me lembrava da maior parte dos detalhes importantes da história. Até ao quinto dia, em que escrevi muito menos que a meta diária, correu tudo mais ou menos bem, sem grandes atrasos. No sexto e sétimo dias voltei a conseguir um bom ritmo. No oitavo deparei-me com um bloqueio, fruto de não ter planeado a história. Nos dois dias seguintes dediquei-me a alinhavar os restantes capítulos para não voltar a ter o mesmo problema.


No décimo primeiro dia começou o longo período de baixa produtividade.  A semana toda desenrolou-se do mesmo modo. Felizmente, com o fim-de-semana, voltei à carga e consegui dar um valente avanço. No décimo sétimo dia, voltei a ter problemas por não conseguir concretizar o que estava planeado. Só no décimo nono dia é que consegui finalmente livrar-me do capítulo problemático. Foi nesse dia que decidi não desistir, apesar do atraso gigantesco, e que iria tentar terminar o Camp Nanowrimo. No vigésimo dia, atingi o ponto sem retorno da história.


Quando cheguei ao vigésimo primeiro dia, decidi mudar alguns detalhes da história, acabando por entrar em contradição com o que tinha escrito antes. No dia seguinte, a minha produtividade voltou a descer, apesar de eu saber que precisava de aumentar para conseguir vencer o desafio. No Sábado, dia 23, escrevi muito pouco e no Domingo não escrevi nada.  Olhando para trás, percebo que esses dois dias acabaram por ser o golpe final. Contudo, não desisti e continuei a escrever. Durante os dois dias seguinte, escrevi muito abaixo da meta pretendida. O vigésimo sétimo dia correu melhor, voltando a conseguir escrever acima da média, só para no dia seguinte ficar de novo aquém. O vigésimo nono dia foi o melhor em termos de prestação. No último dia, escrevi um total próximo da meta inicial.

A prestação não foi suficiente para conseguir o crachá de vencedor. Se por um lado, poderia achar que isso se deveu a um objectivo demasiado alto, eu creio que se deveu mais aos dias em que não escrevi. Por outro lado, o facto de não ter organizado previamente a história fez com que perdesse dois dias de fim-de-semana a planear ao invés de escrever. Se quiserem mais detalhes, podem ler o diário completo do desafio aqui. Acabei por conseguir escrever 30 capítulos completos, ou seja, em média um por cada dia. A história avançou bastante e bastam alguns dias para a conseguir terminar. Deste modo, creio que foi um desafio, que apesar de não ter sido completo, acabou por ser bem-sucedido e muito positivo.