sábado, 30 de novembro de 2013

Caderno Vermelho: Balanço das Leituras Beta

Dou por terminada a fase de leituras beta do meu livro Caderno Vermelho.*

*Eu sei que ainda há algumas pessoas que ainda não entregaram a ficha de leitura. Estão sempre a tempo de o fazer, mal posso esperar para saber as vossas opiniões!





Quero agradecer às minhas sete leitoras e ao meu leitor beta por se aventurarem nos meandros da minha poesia com retoques de manifesto.

Fiquei positivamente surpreendido com as críticas. Uma das coisas que irei alterar é a capa, mas as restantes alterações sugeridas não irão dar muito trabalho. Assim, espero dar o livro por terminado dentro de uma ou duas semanas, para dar início à próxima fase: a publicação.

Fiquem atentos, haverá novidades em breve!

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Treinos de artes marciais: Haidong Gumdo

Ao navegar nos recantos da Internet, numa pesquisa sobre artes marciais, descobri umas imagens interessantes. O conteúdo é de tal maneira épico, que não podia deixar de partilhar. É assim que treinam os melhores da Europa:


quarta-feira, 27 de novembro de 2013

A Passagem Uivante - Parte 1/2


Este texto foi publicado no primeiro número da Revista Lusitânia.

Fernando apreciava o pôr-do-sol contra o horizonte escarpado. O vento assobiava pelas encostas e a Este o fumo subia. O jovem Cabo tentou ignorar os motores dos aviões que rugiam sobre a sua cabeça. A guerra rodeava-o a cada momento e a cada instante ele tentava esquecê-la.
Alguns soldados acendiam fogueiras no meio do acampamento. Sabiam que a paz naquele regimento blindado era algo temporário, mesmo assim estavam determinados a preparar o seu jantar como se de mais um dia vulgar se tratasse. Depois de seis anos de guerra contínua, era difícil ver as coisas de outra maneira.
A divisão blindada do Sul esperava ordens para entrar na batalha. Haviam defendido a linha do Mondego durante seis meses e estavam com a capacidade de combate reduzida. Tanto os reforços como as peças necessárias à reparação haviam chegado nessa tarde. Nem umas nem outras haviam sido suficientes para suprir as faltas.
Não penses tanto, não é saudável – pediu-lhe Roberto, sentado nas rochas a seu lado.
Levantou a cabeça e olhou-o nos olhos. Aquele rapaz de cara longa e nariz proeminente era um dos poucos que conseguia desligar-se da realidade. Os seus olhos castanhos irradiavam uma força de vontade contagiante. Enfrentava a vida com um sentimento de epicurismo notável, incluindo até os oito anos de serviço militar obrigatório.
É difícil. Eu penso muito nas coisas que o meu pai me contava. Sabes, ele falava-me de como as coisas eram antes da grande guerra.
Sim, antes. Antes de eu ter nascido. Eu sei o que sentes... – concordou, espelhando o olhar de saudade por algo que nunca havia conhecido.
Muitos sentem o mesmo – olhou para o céu que escurecia com um olhar sonhador. – A Europa já foi só uma. Depois foi o Norte contra o Sul. E, depois, a ocupação. Eu era apenas uma criança de berço. A primeira coisa que me lembro foi do fim da ocupação. As ruas em festa. Insensatos, se soubessem o que os esperava...
Deixa-te disso e vamos comer. Tu precisas é de beber algo para esquecer. O que foi já não volta, não vale a pena chorar.
Tens razão – olhou subitamente Roberto nos olhos. – Sabes uma coisa? Tu és para mim com um irmão mais novo.
Não digas parvoíces. Hoje vais beber a minha porção de vinho a ver se te eleva o espírito – gracejou, levantando-se e estendendo a mão a Fernando.
Ao fundo ouviu-se o chorar de uma guitarra portuguesa. Quando um homem tinha de reter as lágrimas, a guitarra assumia a tarefa de as libertar.

***

Somente o rugir dos motores perturbava a calma escuridão. Não os esperava o descanso nocturno em sacos cama estendidos por baixo dos tanques. Uma fila indiana de blindados percorria os caminhos da encosta. O exército era alimentado por combustível de origem vegetal, cujos motores tinham um rendimento menor, fazendo as tácticas militares serem muito semelhantes às de um século atrás.
As ordens de combate haviam sido distribuídas a seguir ao jantar. Era suposto avançarem durante a noite numa ofensiva através do vale. Iriam contribuir para um movimento de pinça com o objectivo de cercar o exército que guardava as fronteiras do estado das Astúrias.
O Major prometeu-lhes que seria um ataque decisivo e que lhes traria uma vitória rápida. Poucos foram os que tentaram acreditar e ainda menos os que conseguiram. Pelo menos havia a esperança de que a escuridão os protegeria dos aviões, o maior flagelo de uma divisão blindada.
Quase imerso pela escuridão, Fernando conduzia o veículo couraçado pelo estreito carreiro. Apenas um luar pálido permitia distinguir as formas grosseiras do terreno. A cadeira reclinada era o lugar mais confortável daquela arma antiquada. O resto da equipa mantinha-se atenta a eventuais perigos. Cada blindado era usado por uma equipa de seis membros: o comandante, o condutor, o operador de comunicações, dois armadores e o atirador.
Enquanto o blindado rastejava, Fernando ia perdido nas suas considerações. Roberto, o irmão que sua mãe não lhe pudera dar, era o carregador de um do tanques daquela fila. Muitas vezes dava por si a pensar se irmão era o que lhe queria chamar. Numa sociedade tão fechada como a do pós-colapso da União Europeia, aquele tipo de pensamentos não eram vistos com bons olhos. Quase tudo passara a ser proibido e o resto era tabu. E havia medo.
O segundo batalhão encontrou resistência blindada - transmitiu o rádio.
Daqui fala o Major Pereira. As ordens são para prosseguir com o plano – ouviu-se pouco depois.

A segunda parte está disponível em: http://pedro-cipriano.blogspot.de/2013/12/a-passagem-uivante-parte-22.html 

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Livros: O Romance da Raposa

Eu já tinha lido este livro quando era um rapazote, mas quando me deram uma cópia há umas semanas atrás, não resisti em ler de novo.



Autor: Aquilino Ribeiro
Sinopse: O Romance da Raposa (1924) é uma narrativa infantil de requintado virtuosismo estilístico, substituindo as ilustrações a preto e branco que forma utilizadas a partir dos anos 60 pela originais a cores da autoria de Benjamim Rabier numa solução plástica que se adequa na perfeição à fábula.Esta edição de Romance da Raposa é, assim, um regresso à versão original de um livro que gerações e gerações de crianças leram.



Apesar de ser um livro para crianças é uma leitura muito agradável também para adultos. Escrita num género fantástico em que os animais adquirem características humanas, quase em género de fábula. Contudo, não é um género fantástico vulgar do tipo das histórias "Era uma vez...", sendo um romance mais terra-a-terra com traços realistas.

As peripécias da Salta-Pocinhas, onde ela prima pela astúcia e engenho, levam-nos às serras portuguesas, polvilhadas de animais típicos de Portugal. Invoca um passado saudoso em que ainda havia raposas e lobos nas nossas florestas. As ilustrações não se ficam atrás: a dos três lobitos me tinha ficado na memória até hoje. Balanço feito, coloco este livro quase ao nível do principezinho.

No final do livro há a transcrição de duas pequenas entrevistas com o autor, que ajudam os mais crescidos a perceberem a génese da obra.

Recomendo tanto aos mais novos como aos mais velhos! É uma leitura indispensável!

Classificação: 5 estrelas

domingo, 24 de novembro de 2013

Chá de Domingo #15: O Valor de um Escritor

Dei comigo a pensar para o meus botões como é que se mediria o valor de um escritor.


O normal é valorizar-se o escritor pelo número de exemplares vendidos. Os editores ostentam esses números nas capas dos livros com todo o orgulho, como se indicasse o valor do conteúdo. Há os que vendem milhares logo na primeira semana e são catapultados para os tops, mas será isso real? Muitas vezes não é! Descobri recentemente que, com algum dinheiro, o meu livro pode tornar-se top mundial de vendas ainda antes de ser lançado, bastando pagar a uma companhia que compre os livros.

Se não é pelo número de exemplares vendidos, também não é pelo número de leitores que realmente lêem. Consigo pensar numa mão cheia de casos em que publicaram, venderam milhões, foram lidos aos milhares e nem por isso tinham qualquer mérito. E de certeza que há muito mais!

Poder-se-ia pensar no valor de um escritor pelo domínio da língua em que escreve: pela quantidade de palavras que consegue empregar, pelo uso correcto das figuras de estilo e pela inovação linguística. Valorizar um escritor só por isso, para além de ser redutor, corre-se o risco de se valorizar textos demasiado rebuscados, numa prosa púrpura totalmente intragável.

Se se valorizar só o conteúdo, corre-se o risco de se chegar a brilhantes ensaios que ninguém tem pachorra para ler. Escolher um escritor que já tenha uma grande carreira é apenas sinónimo que ele escreveu em quantidade e já se sabe que não há uma relação linear com a qualidade. Se optarmos, em exclusivo, por quem inova na forma, podemos cair em exageros ilegíveis. Claro que podemos dizer que só os clássicos têm valor, mas ai caímos no extremo da negação da inovação, sabendo que muitos clássicos só o são num determinado contexto e porque eram fora de série quando foram escritos e seriam clichés se o fossem nos dias de hoje. Por fim, apostar em autores premiados, estamos apenas a basearmos-nos no critério de júris que nem sempre são imparciais, para além de que muitos prémios atribuídos, incluindo o Nobel, tem uma certa componente política.

Assim sendo, como é que se define o valor de um escritor? Creio que é um pouco de tudo em quantidades moderadas. Qual a vossa opinião?

sábado, 23 de novembro de 2013

Novidades - Novembro 2013



Neste fim-de-semana decidi actualizar o meu blogue. Dei uma limpeza na página dos projectos, acrescentei as mais recentes contribuições na página das publicações e mudei algumas coisas na página sobre mim. Para além disso, modifiquei o layout. Espero que gostem!

Contudo, a maior novidade são os serviços de edição. Decidi aplicar os conhecimentos que adquiri como escritor e editor na Editorial Divergência para ajudar escritores a melhorar os seus manuscritos.


Os primeiros dois manuscritos que receber terão o serviço completamente grátis.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

A Primavera - Parte 2/2


Este conto faz parte da antologia Legado de Eros:

Podem encontrar a primeira parte em: http://pedro-cipriano.blogspot.de/2013/11/a-primavera-parte-12.html

As sirenes ouviram-se a meio do jantar. Num momento de hesitação, mãe e filha fitaram-se. Ana levou a taça à boca e sorveu o resto da sopa sem respirar. Levantou-se num pulo e foi ao quarto buscar um cobertor, encontrando a mãe à porta com uma vela e fósforos. A progenitora trancou a porta, havia sempre quem se aproveitasse da confusão para se apoderar do alheio. Desceram as escadas, saindo pelas traseiras do prédio.
Apressaram-se a galgar os degraus que conduziam ao abrigo. A construção subterrânea em betão maciço fora feita para proteger os residentes do edifício. Contudo, mal havia espaço para todos se sentarem. Assim que fecharam a porta, Ana sentiu falta de ar. Ficara com um medo irracional de espaços fechados depois de quase ter sido soterrada num bombardeamento. Nesse Inverno era pouco mais do que uma criança e trauma mantivera-se até à idade adulta.
Aconchegou-se o melhor que pôde, partilhando o cobertor com a mãe e o espaço com duas dezenas de pessoas. A área era semelhante à do seu quarto. Não havia janelas. A porta era reforçada e do exterior pouco mais se ouvia que o alarme. A luz mantinha-se acesa, espalhando uma parca luminosidade pelas paredes nuas e faces receosas. Só podiam esperar.
― Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo ― iniciou alguém.
― Ámen ― responderam em coro.
Debitando a oração sem ter de pensar, Ana fixou o olhar nos chinelos. O pensamento voou para a estação de São Bento, meio ano antes. Lá fora as folhas castanhas caíam das árvores. Miguel envergava o seu uniforme novo e a metralhadora pendia nas costas. Cumpria o destino de todos os rapazes que haviam nascido em 2019. A mãe chorava. Ana também não conseguiu conter as lágrimas. Só o pai e os irmãos pareciam conseguir aguentar a tensão do momento. O revisor apitou.
Sem se preocupar com o que os pais iriam pensar, lançaram-se num beijo apaixonado, perdendo-se nos lábios um do outro. Durou um momento apenas, mas foi como se uma vida inteira se tivesse passado. O amor de ambos estava definitivamente selado.
Separaram-se. Miguel correu para a carruagem, galgando os degraus no último momento. As portas fecharam-se. O comboio desapareceu. Foram precisos vários minutos para que ela se atrevesse a mexer um único músculo.
No abrigo a oração terminava, recomeçando logo de seguida. Ana olhou para a lâmpada solitária, esperando que o seu amado estivesse livre de perigo.


Ao ouvirem a artilharia rugir, os soldados aninharam-se na vala. Miguel segurou a arma com força e deitou-se de barriga para baixo. A água ensopou-o de imediato e a lama infiltrou-se em cada poro. Ajeitou o capacete, mantendo a boca aberta, como lhe haviam ensinado. O salvo aterrou ali perto. Não tardou que os canhões daquele lado do rio respondessem com a mesma ferocidade.
Um foguete iluminou o céu. Miguel ergueu-se, sem se preocupar com a gosma que o cobria. Mais foguetes subiam, tornando a noite em dia. Ouviu o soltar da patilha de segurança de uma metralhadora.
Aventurou um olhar, o inimigo atravessava o rio. As primeiras balas foram disparadas. De quando a quando uma tracejante definia a trajectória. Os morteiros iniciaram a sua maldita tarefa. As primeiras explosões acertaram ao lado, mas não tardou que cada munição despedaçasse uma pequena embarcação. Os inimigos não pouparam nas munições, atingindo a trincheira. Manteve-se imóvel, numa crença parva de que isso o poderia salvar
Assim que os primeiros barcos chegaram à costa, Miguel soltou o trinco da arma. O combate era inevitável.


No abrigo, as pessoas ainda rezavam. Enquanto as bombas caíam, a oração continuou. A filha de três anos dos vizinhos de cima começou a chorar e a mãe pouco mais pôde fazer do que pegá-la ao colo. A prece persistiu num tom monocórdico.
Ali perto, uma rápida sucessão de explosões fez as paredes estremecerem e pequenos detritos caírem do tecto. A luz enfraqueceu por momentos.
Ana deu por si agarrada à mãe. Tinha saudades de quando era criança e não tinha de se preocupar com aviões, nem abrigos, nem morte.
O velhote que dirigia a oração apertava as contas do terço com tanta força que o sangue lhe havia fugido das falanges.
― Pai nosso que estais no céu... ― continuou o idoso
Ana começou a tremer. Desejava que o Pai estivesse mesmo no céu e não permitisse que esta selvajaria acontecesse.
― O pão nosso de cada dia nos dai hoje...
A luz falhou no meio da resposta.


O dedo de Miguel exerceu uma ligeira pressão no gatilho, disparando uma curta rajada contra as tropas que desembarcavam. Apontou para as silhuetas a poucas dezenas de metros, um dos vultos caiu e os outros lançaram-se ao chão. Não os conseguia ver claramente, o que não o impediu de atirar até ficar sem balas.
Agachou-se, soltando o carregador, substituindo-o pelo que tinha no cinto. Levantou-se de novo, tentando deter o avanço das sombras rastejantes. As explosões sucediam-se. As munições esgotaram-se. Mais uma vez, trocou o carregador.
Ao elevar-se, foi projectado para trás. Uma bala atingira-o por cima do olho direito. Morreu antes de chegar ao chão.


No abrigo, a mãe da Ana foi a mais rápida a reagir, acendendo uma vela. A oração tinha terminado. O silêncio e o medo imperavam sobre aquelas almas. Os ouvidos ainda zumbiam e não deixavam ouvir mais nada do que se passava no exterior. Ninguém se atreveria a abandonar a casamata antes que as sirenes voltassem a tocar.
De súbito, o barulho de motores fez-se ouvir sobre as suas cabeças. A explosão foi ensurdecedora e o abrigo sacudido com violência. Ana percebeu que a bomba deveria ter atingido o seu prédio.
O prédio desabou um segundo depois sobre o abrigo, fazendo-o colapsar. Uma das pedras atingiu Ana na cabeça. Ela perdeu os sentidos, entrando num sono do qual não iria acordar.


Quando amanheceu, as flores lilás jaziam espezinhadas. As folhas e pétalas haviam sido separadas do talo e estavam espalhadas pela terra negra, misturadas com fragmentos de músculo, ossos, metal, sangue e madeira. Uma pétala perdida parecia adornar um dos cadáveres desfigurados, dando-lhe o único funeral que provavelmente receberia. Iriam passar muitas primaveras antes que voltassem a crescer flores naquela margem.

FIM



quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Livros: Death is a lonely business

Encontrei este livro numa loja de livros de segunda mão, como estava interessado no trabalho deste autor, decidi levá-lo para casa.


Autor: Ray Bradbury
Sinopse: The image of drowned circus cages in the trash-filled canals of Venice, California, both haunts and illuminates famed fantasy and science fiction author Ray Bradbury's rare venture into the mystery field. Like filmmaker Federico Fellini, Bradbury is fascinated by the seedy splendor of cheap carnivals and circuses--"a long time before, in the early Twenties, these cages had probably rolled by like bright summer storms with animals prowling them, lions opening their mouths to exhale hot meat breaths. Teams of white horses had dragged their pomp through Venice and across the fields."
But now it's the early 1950s, and foggy, shabby Venice is the last stop on the circus train for scores of old silent-movie stars and young writers trying to keep their art and their bodies alive. As Bradbury's autobiographical hero, a young writer, pounds out his short stories, someone is killing off the older denizens of the tacky city. The writer joins forces with a quirky detective called Elmo Crumley and a faded screen star to investigates the deaths. Their search begins and ends in one of those iconic, waterlogged cages.



Para começar, considero a escolha de um autobiográfico Ray para personagem principal um golpe de génio, que mostrou que ele ainda não se tinha esquecido do que era ser um escritor nada famoso. Qualquer escritor amador se irá rever nalgumas das peripécias e tiques descritos.

Quanto à história não é ficção cientifica, começa lenta, sem que para isso deixe de prender o leitor. A tensão vai subindo até a um clímax nada expectável. As personagens são excêntricas quanto baste. O cenário ajuda bastante à trama, assim como a ingenuidade da personagem principal. O conjunto escrito num estilo noir, dá um livro bastante agradável de se ler.

Aproveito para deixar aqui a minha citação favorita:

"A day without writing was a little death.”

Recomendo a todos os escritores amadores e amantes de histórias de suspense.

Classificação: 5 estrelas

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Anjos da Morte


Bruno sabia que o inimigo ia chegar a qualquer momento.
Alinhou o avião com a pista e levou o motor ao máximo de rotação. O caça ganhou velocidade, percorrendo a faixa delimitada pela dupla fileira de luzes. Ia a meio da pista quando o aparelho de João levantou voo. Esperou uns segundos e puxou os controlos, consciente que outro avião o seguia. A aeronave deixou o solo, seguindo a de João.
Rangeu os dentes e apertou os comandos com força para não tremer. Era a sua primeira missão e a cidade estava sobre ataque. Faltavam uns minutos para o ano novo e metade dos pilotos estavam bêbados.
– Que altura mais conveniente para um bombardeamento – dissera-lhe Ricardo, momentos antes.
A noite e a poluição luminosa não o deixavam ver quase nada. Continuou a ganhar altitude até ultrapassar a cobertura de nuvens. Descreveu uma longa circunferência tentando localizar os restantes membros do grupo. A luz pálida do luar fê-lo encontrar as silhuetas dos três aviões sob o seu comando.
– Delta Quatro para Deltas. Sigam para Sul – ordenou pelo rádio.
– Delta Um para Delta Quatro. Recebido – confirmou um deles, sendo imitado pelos restantes.
Os colegas formaram num trapézio tridimensional, como tantas vezes haviam treinado.
– Base para Deltas. Alvo a Su-sudest, seis unidades, altitude 1100 metros, visível em dois minutos.
O grupo tomou a nova rota. Ricardo estava bêbado e João andava com a cabeça no ar por causa da enfermeira do F2. O maior trunfo de um piloto é a concentração. Quatro contra seis naquelas condições era arriscado.
Um movimento à esquerda chamou-lhe a atenção.
– Delta Quatro para Delta Três. Caça inimigo às 10 horas – comunicou ao seu par, fazendo o avião ganhar altitude.
Delta Três mudou de direcção, descrevendo um longo círculo, aproximando-se do oponente pela esquerda. Delta Quatro passou várias centenas de metros acima dos dois. Bruno viu o avião de Ricardo, Delta Três, envolver-se numa disputa por uma boa posição para disparar. Bruno deu meia volta, começando a descer e os dois pilotos entraram num movimento em forma de espiral.
Sentiu a aeronave ganhar velocidade, esperando que o par do outro caça estivesse ocupado com os outros Deltas. Os dois combatentes aproximavam-se com rapidez.
– Delta Quatro para Delta Três, cheguei.
Enquanto Bruno passava atrás dos dois aviões, continuando a descer, Ricardo quebrou a espiral, afastando-se. Perdendo o oponente de vista, o inimigo endireitou a aeronave, encontrando-o a umas centenas de metros. Esse foi o seu erro. Bruno usou a velocidade que trazia para subir, aproximando-se pelas costas, vindo de baixo e uns graus à direita, o ponto cego. Disparou duas curtas rajadas, apontando de forma a compensar o movimento do alvo. Deu uma guinada forte para a direita, afastando-se também.
Quando voltou a olhar, a aeronave inimiga deixava um rasto de fumo, o motor fora atingido. Não tardou que perdesse altitude, desaparecendo entre as nuvens.
– Caça inimigo fora de combate. Delta Quatro fez as honras da casa – ouviu Ricardo anunciar.
Os dois pilotos posicionaram-se de modo a poderem cobrir o ponto cego do companheiro, preparando-se para ajudar os outros.
– Caça inimigo fora de combate. Delta Um manda cumprimentos aos Lusos – celebrou João.
– Base para Deltas. Alvo a Nor-noroeste. Quatro unidades, altitude 700 metros. Distância 3000 metros.
O esquadrão deu a volta. O altímetro marcava 1200 metros, calculando que os inimigos estivessem abaixo da linha das nuvens.
– Delta Quatro para Deltas. Vamos acelerar ao máximo e fazer um Eder-Mayer – comandou Bruno, empurrando a alavanca ao máximo.
Os outros demoraram a confirmar, seguindo-o na descida. Ao atravessar a grossa camada branca, percebeu que eles tinham medo de executar a manobra. Todos tinham medo dessa. Conheciam até quem se tivesse mijado ao ensaiá-la em treinos. Quando a névoa se dissipou, viram-se rodeados de escuridão.
– Delta dois para Deltas. Inimigo à uma hora.
Bruno mal conseguia distinguir os contornos. Os quatro aviões continuaram com os motores no máximo. Calculou que se iriam cruzar com eles em dez segundos. Os caças passaram por cima dos bombardeiros. Houve uma breve troca de tiros. Os Deltas continuaram e os oponentes mantiveram a rota. Não havia danos severos. Bruno contou até vinte.
– Delta Quatro para Deltas. Quando eu disser um, virar, quando disser seis disparar, quando disser oito desviem-se. Apontar à cabine. Um – explicou Bruno, dando uma guinada para a esquerda.
– Dois.
O avião virava mais lento do que gostaria.
– Três.
Sabia que só tinham uma oportunidade.
– Quatro.
Nivelou o avião. Os inimigos estavam mil e quinhentos metros à sua frente.
– Cinco.
Apontou para a aeronave em frente. Eles aproximavam-se a uma velocidade vertiginosa.
– Seis.
Premiu o gatilho, esperando que as balas encontrassem o alvo a mil metros de distância.
– Sete.
Lembrou-se que João estava bêbado, só esperava que ele se conseguisse desviar a tempo.
– Oito.
Guinou para a direita, descendo. Os bombardeiros passaram a escassos metros. Ouviu um choque de metais, seguido de uma explosão. Deu meia volta, preparando-se para enfrentar as fortalezas aladas inimigas.
– Delta Um fora de combate.
A surpresa de ter sido Miguel a não se ter desviado só durou um momento. Um dos bombardeiros havia desaparecido, outros dois perdiam altitude rapidamente e o último descrevia uma curva tentando voltar para trás. O perfil estava exposto, tornando-o um alvo fácil. Bruno apontou e disparou contra o alvo indefeso.
A vitória pertencia-lhes. No solo, a cidade ardia com violência.

domingo, 17 de novembro de 2013

Chá de Domingo #14: As artes marciais e a escrita

Esta semana vou falar-vos dos benefícios que uma arte marcial pode trazer para um escritor.


Deixando de parte a possibilidade de o vosso livro ou conto poder ter alguma referencia às artes marciais, deixo-vos aqui sete razões para um escritor as praticar:
  • Melhor descrição de cenas de pancadaria: Um escritor que pratique artes marciais tem uma melhor noção de como se processa uma luta. A maior parte dos filmes não são realistas e é um conhecimento dificil de passar pela palavra. O único meio é mesmo experimentar.
  • Melhor concentração: O escritor distrai-se com frequência e cai na doce procratinação ainda mais vezes. A maior parte das artes marciais não é apenas um treino físico, mas também mental. A concentração e disciplina aprendidas numa sala de treino ajudam bastante quando chega a hora de escrever ou rever.
  • Libertar do stress diário: Depois de uma hora ou hora e meia de desporto os músculos ficam mais relaxados do que depois de um dia inteiro sentado.
  • Equilibra a rotina: Por norma, a escrita é uma actividade solitária e estática. Incluir algo movimentado e com iterações com outras pessoas é positivo e ajuda a estabelecer um equilíbrio na rotina.
  • Soluções de segundo plano: Muitas vezes, para chegarmos à solução do problema, a única coisa que temos de fazer é deixar de pensar nele. Isto é válido para a escrita! A cabeça esvazia-se durante o desporto e quando se termina, ao retomar o problema, muitas vezes, a solução surge quase de imediato.
  • Aumenta a sensibilidade: Em especial as artes marciais que envolvem luta com contacto, aguçam os sentidos. Um bom lutador não limita a ver o adversário: ouve-o e sente-o através do movimento do ar. Este treino ajuda o escritor a explorar melhor os sentidos nas suas histórias.
  • Criação de personagens fora do comum: No meio das artes marciais podem-se encontrar muitas pessoas fora do comum que podem muito bem servir como modelos para as vossas personagens.
Entre os escritores que andam por aqui, quem é que pratica artes marciais? O que acham destes benefícios enunciados?

sábado, 16 de novembro de 2013

Livros: A dialética da liberdade

Comprei este livro há uns oito anos. Esteve por aqui perdido até ao dia que me deparei com ele e decidi lê-lo!


Autor: José Manuel Alves Ribeiro
Resumo: Estamos possivelmente assistindo, nesta conturbada época, à mais vasta e profunda crise da Humanidade.
Crise de valores, ocaso de uma Civilização, ou charneira de duas culturas, caracteriza-se pela instabilidade da vida quanto ao seu ideal, à sua finalidade - e daí um tipo indefinível de Homem que pretende flutuar fora de qualquer força que o fixe: Deus, tradição, família, espaço geográfico, gravidade...
Em que ficaremos?



O autor tenta explicar a sua visão do universo, mas falha completamente! Não digo que não tem ideias interessantes ou que valham a pena ser exploradas, contudo a execução foi a pior possível. O livro está pretensioso demais, usa abreviaturas que só confundem e está cheio de erros ortográficos. Os gráficos não tem qualidade suficiente para poderem ser entendidos e as ideias são demasiado confusas, parecendo que o autor preferiu complicar ao invés de simplificar. Está cheio de erros científicos, mostrado que o autor fala da matemática e física com uma abordagem errada de senso comum. Os diálogos são fraquissimos e os poemas passei por eles como quem passo por uma desconhecido na rua. A leitura foi uma verdadeira tortura!

Recomendo este livro apenas a masoquistas!


Classificação: 1 estrela

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

A Primavera - Parte 1/2


Este conto faz parte da antologia Legado de Eros:

As tímidas flores roxas foram as primeiras a despontar naquele ano. Floresciam solitárias naquela margem do Mondego, uma ilha de vida no meio da terra vazia, arautos da primavera. Inúmeras covas artificiais espalhavam-se em volta. Milhares de fragmentos de metal misturavam-se no húmus e na rocha pulverizada. As flores eram o único ser vivo que aparentava não se aperceber da desolação que as rodeava.

Miguel ouviu a agitação propagar-se pelas trincheiras. Não era preciso muito para se gerar uma comoção por ali, tudo o que quebrasse a monotonia de estar aninhado nas valas era fonte de excitação para aqueles jovens. Um arrepio de antecipação percorreu-lhe a espinha.
O barulho foi-se aproximando. O tenente dobrou a esquina. Passou-lhe um envelope para a mão e estendeu um embrulho a Daniel, seguindo o seu caminho.
Sentaram-se os dois no banco improvisado. Apesar de estar a arder por dentro, Miguel abriu o sobrescrito com cuidado. As primeiras linhas levaram-no de volta a uma primavera que pertencia a outra existência.
Ela apareceu de vestido azul claro com rebordos folhados e inocência no olhar. Cabelos curtos e escuros. O olhar focou-se nas mãos delicadas.
― Quem é ela? ― perguntou ao colega do lado, depois de lhe dar um safanão.
― É a Ana, não conheces?
― Não, e tu vais-me apresentar.
O amigo devolveu-lhe um olhar de aborrecimento, acabando por concordar. Ao aproximar-se dela, pareceu-lhe que o fixava de volta.
― Olá, Ana, este é o Miguel ― disse-lhe, estendendo a mão.
Os olhares teimavam em não se desviar, precisando de uma enorme força de vontade para se inclinar e cumprimentá-la.
O som de um papel a ser rasgado trouxe-o de volta ao presente. A seu lado, Daniel sentado nas tábuas e com as botas na lama, desembrulhava um pedaço de pão e uma chouriça. Retirou a faca da bainha e cortou uma fatia generosa de ambos, dando-lhe uma enorme dentada.
― Quem te escreveu? ― perguntou-lhe o companheiro.
Miguel levantou os olhos da carta, contrariado pela interrupção. Retirou uma fotografia impermeabilizada do bolso do uniforme e mostrou-a ao amigo.
― É da minha noiba ― respondeu, mostrando-lhe uma foto de uma jovem de cabelo curto, deixando a sua expressão abrir-se num sorriso de saudade.


Ana rodou a chave, abrindo a porta de entrada. O primeiro olhar para o chão destruiu-lhe a esperança de encontrar um envelope deixado pelo carteiro. Largou na mesa o saco de legumes que lhe havia sido dado no ponto de distribuição. Os braços e a cabeça doíam-lhe do trabalho repetitivo e barulhento da fábrica têxtil.
Empilhou algumas achas no borralho por cima de uma camada de bicas e uma pinha. Chegou-lhe um fósforo deixando que o fogo apeirasse. Atirou a grelha para cima e depois a panela. A custo, despejou duas tigeladas de água para o interior. Retirou os legumes do saco, tentando não pensar muito no assunto. Dedicou-se à tarefa de lavar e cortar os ingredientes para uma sopa.
A mãe entrou em casa quando ela dividia as batatas ao meio. Os cabelos prateados multiplicavam-se naquela figura demasiado magra. Desde que o pai fora chamado que fora obrigada a trabalhar por dois. A mulher cumprimentou a filha com um abraço, ajudando-a na preparação do jantar.
Com uma pitada de sal, Ana completou a receita. Ao endireitar-se, calhou olhar para a varanda, recordando-se da primeira vez que ele a viera visitar a casa. Fora apenas um instante, enquanto os pais conservadores não os observavam. Uma desculpa nada inocente levara-os àquela varanda e um beijo rápido selou, pela primeira vez, o seu amor. Se fechasse os olhos ainda conseguia sentir os lábios dele, saboreá-los, cheirá-lo. Quase como se estivesse à sua frente.
― Oh filhinha, não fiques triste. Ele há-de voltar! ― prometeu a mãe, pousando a mão no ombro.
Ana encarou a progenitora e acenou com um sorriso tímido. A noite caía lentamente, revelando um céu estrelado e sem nuvens, o estado do tempo mais odiado pelos portuenses. As condições perfeitas para um bombardeamento aéreo.


Durante o lusco-fusco, Miguel ouviu os motores na outra margem. O som chegou a todos os que habitavam na trincheira. O olhar de Daniel transparecia medo.
Com o estômago meio cheio de minúsculos cubos de toucinho e legumes envolvidos em água aquecida, a que chamavam sopa, sabia que não poderia esperar uma noite tranquila. Pelo menos não era dos piores dias, em que fome lhe toldava os sentidos. Com a arma apertada firme na mão e futuro incerto, relembrou outra refeição.
Os seus pais haviam convidado os dela para jantar. A sala tinha a mesa grande coberta por uma toalha branca bordada, que só era usada em ocasiões especiais. Os pratos e talheres eram novos, tinham estado em caixas por mais de dez anos.
Miguel andou para trás e para a frente, depois às voltas. A mãe dissera-lhe para ficar calmo e não se preocupar, mas estar assim parado não o ajudava em nada. Quisera entrar na cozinha para se assegurar que tudo estava a correr pelo melhor. A mãe fechara-lhe a porta na cara, enviando-o de volta para a sala.
Ouviu a campainha. O coração quase falhou uma batida. Alisou o casaco e passou a mão pelo cabelo, apressando-se na direcção da porta. Com as mãos a tremer puxou o trinco, revelando o casal acompanhado pela filha.
― Senhor José ― cumprimentou, apertando-lhe a mão. ― Senhora Maria ― murmurou, pegando-lhe a palma com suavidade enquanto se inclinava. ― E a menina Ana ― concluiu, corando.
Levou-os até à mesa e, um momento depois, os pais trouxeram a comida. Bifes de porco. Valiam pelo menos cinco contos de reis, o ordenado de uma semana. A água nasceu-lhe na boca assim que os cheirou. Não comia nada assim há meses. As batatas e a carne foram distribuídos, iniciando-se a refeição, regada por um bom vinho.
Quando terminaram, o pai chamou a atenção e apontou na sua direcção. Sentiu todos os olhos postos em si e o suor a escorrer-lhe pela testa. Parecia que tinha um tijolo entalado na garganta.
― Senhor José ― murmurou, por fim. ― Gostaria de pedir a mão da sua filha.
Sentado na trincheira, sentiu um aperto no peito. Não iria deixar passar o dia seguinte sem lhe escrever. As cartas eram o seu único conforto.
O barulho dos motores aumentou de intensidade. Os soldados olharam para o céu, distinguindo as silhuetas de um esquadrão de bombardeiros. Mais uma carpete de morte seguia na direcção da capital. Sentiu um aperto no coração. Não saiba como iria viver se acontecesse algo à alegria dos seus dias.


Podem ler a segunda parte em: http://pedro-cipriano.blogspot.de/2013/11/a-primavera-parte-22.html

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Aniversário do blogue: O Sofá dos Livros

O blogue O Sofá dos Livros de Liliana Novais comemorou na passada Segunda-feira o seu primeiro aniversário publicando contos inéditos de alguns escritores emergentes portugueses.


É uma boa oportunidade para conhecerem o trabalho de:

Boas leituras!

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Press-Release: Lusitânia - Número 2

O novo número da revista Lusitânia traz uma vez mais a publicação de contos de literatura especulativa com a cultura portuguesa como pano de fundo.

O lançamento terá lugar no próximo sábado, dia 16 de Novembro, pelas 14h15, no Fórum Fantástico, que decorre na Biblioteca Municipal Orlando Ribeiro.

Na revista, o leitor pode encontrar histórias de fantasia que o levam desde o norte ao sul do país, encontrando pelo caminho sereias, grifos e espíritos. São histórias que conjugam o passado e o futuro e que trazem heróis tão inauditos como Leonor, no conto A carta ou um inominado barqueiro n' A sereia de Cacilhas. Há também histórias de almas atormentadas por acontecimentos inexplicáveis ou sinas inalienáveis como no Semblante Pálido ou Indicador de Deus. Nesta revista, para além dos autores que viram os seus contos seleccionados por concurso livre, também podemos contar com um convidado especial: João Barreiros, um escritor de Ficção Científica português, já com uma longa carreira, que nas páginas da Lusitânia deu continuidade ao universo Electropunk da sua autoria com o conto O Coração é um Predador Solitário.

Trata-se, em suma, de uma revista em que os jovens autores revelam, num estilo próprio e cativante, a cultura e paisagem portuguesas, retratando vivências e lugares do quotidiano local, e que serviram de inspiração para que pudessem povoar os seus contos de mistério e personagens fantásticas.


Quem consegue adivinhar a ideia por detrás desta capa?

Fica uma pista:

domingo, 10 de novembro de 2013

Chá de Domingo #13: Software especifico para Editoras

Como sabem, faço parte da Editorial Divergência e, como tal, dei por mim a pensar que software seria necessário para o normal funcionamento de uma editora.


Vamos  saltar o óbvio: o software de edição, paginação e edição de imagem que esperamos encontrar numa editora, e vamos analisar o que se passa nos bastiadores.

Ferramentas Monte Carlo

Gerir uma empresa não é uma tarefa trivial. Como definir estratégias? Como encontrar boas relações entre preços, lucros e factores de risco? Nada melhor do que experimentar com uma empresa virtual. Em geral, há empresas de consultoria que têm os seus próprios programas. O problema é que os preços cobrados são proibitivos para uma empresa pequena, na ordem dos milhares de euros. Valerá a pena comprar ou mais vale criar uma versão privada?

Gestão de Submissões

Gerir submissões usando os emails com estrelinhas e o Googledocs não é a maneira mais eficaz. Ter que pedir o feedback do editor para cada artigo, reenviar-lhe os emails e relembrá-lo consome bastante tempo. Qual a solução? Criar uma plataforma que agregue todos esses serviços. Para além disso, deve ser intuitivo e com uma boa performance. Acham que é realizável ou deve-se tentar encontrar uma alternativa grátis?

Website + Vendas Online

O website da editora e o e-commerce não são opcionais nos dias que correm. Ter um website apelativo e funcional pode gerar tantas ou mais vendas que a presença física em livrarias. O leitor de hoje em dia usa motores de busca para encontrar o que quer, ainda há quem vagueie pelas livrarias em busca de títulos, mas essas pessoas estão em vias de extinção. Felizmente, muitos dos alojamentos online já incluem essas ferramentas, não sendo necessário qualquer gasto, mas só uma aprendizagem dos mesmos e escolher entre as várias opções existentes.

Se tivessem uma editora, quais opções escolheriam para cada uma das categorias?

sábado, 9 de novembro de 2013

Livros: The Puzzle Box

Recebi este livro através do programa de giveaways do Goodreads.


Autor: The Apocalyptic Four (Eileen Bell, Randy McCharles, Ryan T McFadden e Billie Milholland)
Sinopse: An intriguing anthology where reality is transient and the puzzle box holds the key to the meaning of life.
Archeology Professor Albert Mallory understands reality. He knows the way the world works. When he steals an ancient puzzle box to pay off gambling debts, he thinks the only mysterious thing about the artifact is how to get it open. But when a stranger appears at Albert’s door demanding to see the box, Albert is plunged into mysteries he never dreamt possible.
Through the tales of four others who succeeded in opening the puzzle box — a musician named Warlock with a weakness for witches; photographer Autumn Bailey, with a strange link to the past; video store clerk Angela Matterly with those unworldly eyes; and a comic book illustrator called Sam, on a quest for his life — Albert learns that reality is transient and the way the world works is not found in text books.


Como as diversas partes são distintas, optei por opinar sobre cada uma em separado.

Albert - A história que envolve as outras - 4 estrelas
Mesmo sem ser estritamente necessária ao livro, ela captura o leitor e adiciona um sabor especial ao produto final. Eu gostei bastante da personagem e da sua evolução através das cinco peças do puzzle.

The awakening of Master March - 4 estrelas
Eu adorei esta história! As personagens principais são memoráveis e é muito fácil de sentir empatia por elas. A história decorre fluída e mantêm o leitor interessado.

Autumn Unbound - 2 estrelas
Eu acho que esta é o conto mais fraco do livro. Não conseguiu atrair a minha atenção. Explorar uma Pandora no século XXI é original, mas foi o único ponto positivo.

Angela and Her Three Wishes - 3 estrelas
Esta história é hilariante! Realmente é a melhor palavra para a descrever. O ritmo é rápido e fluente e o humor é o ponto alto.

Ghost in the Machine - 5 stars
Já tinha passado algum tempo desde que fui apanhado desta maneira por um conto. É de longe a melhor história da antologia. É impossível não comparar à referência cultural que é o "Efeito Borbuleta" e nem assim diminui o seu impacto. O ritmo, as personagens e locais estivaram à altura da linha da história.

Classificação: 4 estrelas

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Fantasy & Co: O Legado de Eros

O Blogue Fantasy & Co está a comemorar o seu centésimo conto com uma antologia de nome O Legado de Eros com os sub-géneros Erótico e Romântico.

Aproveito para acrescentar que tem o meu conto "A Primavera".

E já agora, cá fica o desvendar do mistério sobre a imagem:



quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Chamamento à antologia: Por mundos divergentes

De forma a promover a ficção especulativa em Portugal na forma do conto em Língua Portuguesa, a Editorial Divergência dá início ao concurso para a Antologia “Por mundos divergentes”.



Pode ler a postagem original aqui.

Podem descarregar o regulamento em formato pdf aqui.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

O Regresso da Revista Lusitânia

A Segunda Lusitânia, no qual participo, será lançada no Fórum Fantástico 2013, dia 16 às 14h15. Às 16h30 haverá uma sessão de autógrafos onde poderão pedir uma dedicatória, no exemplar adquirido, aos autores que participaram nesta edição.

Consultem o programa completo do Fórum Fantástico: http://forumfantastico.wordpress.com/programa-2013/

Entretanto, vou deixar-vos com alguns excertos dos contos que farão parte deste novo e tão aguardado número:

Primeiro excerto:
"E se Deus o subjugou à vontade do Diabo, atirando-o para um precipício imortal que mais valia que não o fosse, não deixou de o segurar por um dedo. E o homem do mar, corroído pelos tormentos do Inferno em vida, atraía até si a sardinha, o carapau e a petinga, que dos outros pescadores fugiam para saltarem de livre vontade para o seu pequeno barco."

Segundo excerto:
 "A fonte dos leões estava ali, pronta a satisfazer-lhe a vontade. E ficava no caminho, a benevolente!
- Muito olham vocês… – murmurou, os olhos fixos nos caninos salientes dos animais de pedra. Parecera-lhe notar uma ligeira movimentação no momento em que a urina se esbatera contra a água da taça. Mas que sabia ele?
O suficiente, talvez.
Fora aquilo o restolhar de um par de asas? Apertou o fecho das calças, passando as mãos pela ganga. Cambaleando, subiu para o rebordo da fonte. A curiosidade matou o gato. E o que haveria ali para o matar?
A pedra rodou, os pescoços virando-se na sua direcção. Três grifos, o quarto fora da sua visão, escondido pelo pilar da fonte, fixaram-no num silêncio mortificador.
Nunca antes correra tão depressa."

Terceiro excerto:
"Ao vê-lo a afastar-se, reparou que mancava. Pela primeira vez ocorreu-lhe que aquele homem vira o colapso a acontecer. Ela tinha dois anos de idade e não se lembrava de nada. Até há pouco tempo, o colapso da União Europeia não passava de um episódio histórico. Era provável que ele tivesse lutado contra os franceses, impedindo que ocupassem a cidade invicta, tal como o pai de Leonor fizera.
O merceeiro voltou, passando o conteúdo da caixa de madeira para o balcão. Uma saca com meio quilo de arroz, um quilo de batatas, uma lata de sardinhas, uma pequena chouriça, um saquinho com feijões secos, um pacote de farinha, dois nabos e quatro pêras.
― Só? ― queixou-se a jovem.
― Infelizmente é o que posso dar hoje. É a guerra menina, é a guerra..."



Ficamos à vossa espera no lançamento!
Saibam mais no blogue da revista e na página de Facebook.

domingo, 3 de novembro de 2013

Chá de Domingo #12: Cursos de Escrita Criativa

Hoje era para falar de antologias, mas parece que vai ter que ficar para a semana, porque uma situação relativa a cursos de escrita criativa ficou-me entalado na garganta.


Há um certo senhor que dá cursos de escrita criativa pelo módico preço de 210 euros. Até aqui tudo bem, aliás, a qualidade paga-se, certo? Não me parece que seja este o caso.

Não fosse este mesmo senhor que censura os comentários no seu blogue e página de facebook, não deixando que ninguém discorde dele. O mesmo senhor que publicou uma catrefada de livros pela Chiado Editora. Acho que a maioria de vós já sabe de quem estou a falar, por isso não vale a pena dizer o nome.

Voltando ao curso, era de esperar que depois de uma formação tão cara, pelo menos para os padrões nacionais, que os autores conseguissem dominar algumas das técnicas básicas da ficção. FALSO! Apesar de não saber qual o conteúdo exacto do curso, tudo me leva a crer que noções básicas de estrutura não foram cobertas.

Como é que eu sei isto? Bem, houve uma pessoa que frequentou um desses cursos e, animado pelo entusiasmo deste senhor, decidiu escrever um livro. O que é certo é que essas noções básicas não foram respeitadas. Poderíamos indulgenciar o formador, imputando a culpa no escritor, contudo, o mesmo senhor que ministrou o curso, cobrou 217 euros para uma revisão do manuscrito e essas falhas continuam lá. Acho que estamos perante um caso de incompetência.

Agora vou adicionar mais umas achas à fogueira. Esse senhor tem uma página na Wikipédia que serve só para lhe bajular o ego. Surpreende-me como é que um autor tão "famoso" ainda não foi publicado por nenhuma editora a sério. A conclusão é simples: estamos perante um burlão.

sábado, 2 de novembro de 2013

Livros: Game of Thrones

Por fim, li o primeiro volume de A Song of Fire and Ice!



Autor: George RR Martin
Texto da contra-capa: Summers span decades. Winter can last a lifetime. And the struggle for the Iron Throne has begun.

As Warden of the north, Lord Eddard Stark counts it a curse when King Robert bestows on him the office of the Hand. His honour weighs him down at court where a true man does what he will, not what he must … and a dead enemy is a thing of beauty.

The old gods have no power in the south, Stark’s family is split and there is treachery at court. Worse, the vengeance-mad heir of the deposed Dragon King has grown to maturity in exile in the Free Cities. He claims the Iron Throne.


O Jogo dos tronos é um livro que não vai deixar ninguém indiferente. Pela tamanha expectativa gerada em torno dos livros e da série, um leitor que o abandone nas primeiras página vai ficar aborrecido por se achar enganado. Vai haver quem odeie a enorme quantidade de plots paralelos e pelo estilo de escrita. E vai haver quem ache que este é o seu livro favorito, ou muito perto disso. Creio que me encaixo no terceiro grupo!

Tentei ler o livro lentamente, não mais do que um capítulo por dia. Assim se passou quase um mês e meio, até que a história me venceu. Três dias depois tinha terminado o primeiro livro da série. É muito raro um livro que me deixe acordado até às tantas por não o conseguir largar.

A personagens estão muito bem caracterizadas e conseguidas. O mundo está bem construído, cheio de detalhe, mas sem entrar num despejar de informação. A acção começa lentamente, mas assim que pega não deixa largar o livro. O realismo das situações e reacções é notável. As linhas de história paralela só acrescentam à história.O facto de ser baixa fantasia, deixou um gosto especial, como uma cereja em cima do bolo.

Recomendo a quem tiver coragem para se deixar puxar para Westeros!

Classificação: 5 estrelas

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Game of Drinking

Terminei recentemente de ler o Game of Thrones e gostaria de propor um jogo de bebida para quem vai ler o livro ou ver a série. Eis as regras:



  • Sempre que uma personagem assediar outra beber um gole de cerveja
    • Se forem irmãos, bebe outro
    • Se envolver uma personagem infantil ou juvenil (abaixo dos 16 anos), bebe outro
  •  Se houver uma cena de sexo explícito, beber um shot
    • Se envolver menores de idade, bebe outro
    • Se a relação sexual for realizada ao ar livre ou com a presença de expectadores, bebe outro
    • Se envolver irmãos, bebe outro
  • Sempre que uma personagem for dada como morta beber um gole de cerveja
    • Se for uma personagem principal, bebe outro
    • Se for uma criança, bebe outro
    • Se for um Stark, bebe outro
  • Sempre que uma personagem morrer no livro beber um shot
    • Se for um Stark, bebe outro
    • Se for uma criança, bebe outro
    • Se for uma personagem principal, bebe outro
    • Se a morte for especialmente violenta ou cruel, bebe outro
Agora para os prós:
  • Beber um gole do que estiver mais perto sempre que o anão se meter numa alhada por causa da sua língua afiada
  • Sempre que uma personagem adquirir um animal de estimação fora do comum beber um shot por cada animal
  • Sempre que um Stark se meter em sarilhos por agir correctamente, repetir a última bebida.
  • Se as personagens beberem, bebe na mesma quantidade
  • Muda todos os "bebe outro" para duplica. 
  • Se todas as condições extra forem satisfeitas beber de penalti da bebida que se tem na mão.
“When you play a game of drinking you get drunk or are not playing properly.”
George R.R. Martin, A Game of Thrones