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sexta-feira, 18 de março de 2016

Ebooks: Nanozine nº7

Muitos contos de diversos autores portugueses é que vos espera neste número da Nanozine.


Autores: Ana Filipa Ferreira, Telmo Marçal, Marcelina Leandro, Rui Tinoco, Joel Puga, Carlos Silva, Olinda P. Gil, Joel G. Gomes, Célia Loureiro, Pedro Cipriano e Maria João Moreira.
Sinopse: Uma ezine com vários artigos e contos:
Artigo: Críticos de Gaveta - Ana Filipa Ferreira
Contos: O Solucionador - Telmo Marçal
Carrosséis - Marcelina Leandro
O Desenho - Rui Tinoco
O Saltador - Joel Puga
A Última Viagem do Sud Expresso - Carlos Silva
Destilação - Olinda P. Gil
A Sopa - Joel G. Gomes
O Livro das Horas - Célia Loureiro
O Fruto Proibido - Pedro Cipriano
Poesia: Saberás - Maria João Moreira
Entrevistas: Carla M. Soares e Cláudia Silva




Este número abre com um artigo fundamental, escrito pela Ana Ferreira, para quem deseja enveredar pela carreira da crítica literária, seja ela a um nível amador ou mais profissional. Há também duas entrevistas interessantes: Carla M. Soares e Cláudia Silva.

O Solucionador - Telmo Marçal
Este conto tem um bom sentido de humor, que esconde logo o problema das divagações. No global é um conto agradável e divertido de se ler.
3 estrelas

Carrosséis - Marcelina Leandro
Um conto de terror que teve uma boa execução. No entanto, parece que lhe faltou algo, talvez descrições mais vívidas ou um criar de suspense.
3 estrelas

O Desenho - Rio Tinoco
Sinceramente não percebo o objectivo deste conto. Houve quem dissesse que era humorístico: não consegui entender
2 estrelas

O Saltador - Joel Puga
Gostei deste conto. Simples e directo, com uma mensagem.
3 estrelas

A Última Viagem do Sud Expresso - Carlos Silva
Creio que o ponto alto deste conto foi a complexidade da personagem principal. A acção arrasta um pouco, o que se consegue tolerar bem por estarmos a querer descobrir mais sobre a personagem principal. O final foi quiçá demasiado filosófico.
4 estrelas

Destilação - Olinda Gil
Achei o conto bastante confuso. Tive recomeçar umas três vezes para conseguir seguir o fio à meada. Gostei bastante da ideia.
2 estrelas

A Sopa - Joel G. Gomes
Este conto prima pela ideia original, ao estilo de Jorge Luis Borges. Infelizmente, não tenho a certeza se captei o objectivo do conto, que acaba por ser demasiado surrealista.
4 estrelas

O Livro das Horas - Célia Loureiro
Este conto tem alguns problemas de ritmo. Contudo, acaba por ser uma leitura agradável, em especial pela reviravolta final.
3 estrelas

O Fruto Proibido - Pedro Cipriano
Não irei comentar este por razões óbvias.

Saberás - Maria João Moreira
É-me difícil avaliar poesia e este poema passou-me um pouco ao lado.
2 estrelas

Infelizmente, continua a haver erros de paginação. Por outro lado, o design está apelativo. Notou-se que apostaram em vozes distintas, umas mais conhecidas que outras, o que acaba por ser a grande força desta ezine. A classificação é a média dos contos.
Recomendo a quem quiser conhecer o que melhor se faz em Portugal.

Classificação: 3 estrelas

quarta-feira, 16 de março de 2016

Ebooks: Nanozine nº7 - Extra Nanowrimo

Um mês, 50 mil palavras e uma ezine!



Autores: Ana Filipa Ferreira, Ana C. Nunes, Claudia Silva, Tomás Passeiro, Adoa Coelho, Marcelina Leandro, Alexandra Rolo, Leonor Ferrão,  Hélder de Castro, Rui Leite, Diana Sousa, Inês Montenegro, Rafaela Ferreira, Ambar van Slooten, Álvaro Holstein
Sinopse:  Nanozine extra especial dedicada ao NaNoWriMo com textos dos participantes do NaNoWriMo portugueses. Contém diversos artigos sobre o que é que os NaNoNinjas fazem durante Novembro, que incluiu chapéus, chocolate quente e 50 mil palavras.


Visto que esta edição não contem ficção, irei comentar cada um dos artigos e dar apenas uma avaliação à ezine como um todo. Para além destes artigos, há uma nota de editora, um contrato de que podemos assinar e em que nos comprometemos a cumprir o objectivo e um calendário que relaciona os dias do mês com os pontos-chave da história.

Introdução - Ana Ferreira
Um bom e útil artigo para quem não conhece o Nanowrimo.

Nanowrimo em Portugal - Ana Nunes
Como o título sugere, este artigo foca-se mais na realidade portuguesa. Mensagem importante: no Porto usam-se chapéus e em Lisboa usam-se peluches.

Crouching Structure, Hidden Plot - Cláudia Silva
Um excelente artigo, com tudo o que um escritor precisa de saber para organizar a estrutura do seu livro. Incluí também várias recomendações de livros sobre o tema. Uma referência!

A Criação de Personagens - Tomás Passeiro
Este guia é muito útil. De uma forma simples e directa, diz-nos o que precisamos de saber.

Como Fazer Sentido Sem Ter Plot Prévia - Adoa Coelho
Um artigo útil para quem não gosta ou não consegue organizar a estrutura antes de começar a escrever. Também tem conselhos bastante pertinentes para quem quer participar num desafio deste tipo.

O Guia do Nanowrimo - Marcelina Leandro
Apesar de ser específico para 2012, dá para ter uma ideia sólida dos eventos que acontecem no Porto durante o mês de Novembro.

Lisboa - Alexandra Rolo
Este artigo é muito reduzido, mas dá para ter uma ideia dos locais usados por Lisboa durante o Nanowrimo.

10 Dicas para Sobreviver ao Nanowrimo - Leonor Ferrão
Conselhos muito úteis. suplementados com as dicas de Ana C. Nunes e Hélder de Castro.

Send-Off Party - Rui Leite
Este artigo mostra-nos as vantagens de irmos aos encontros do Nanowrimo de um modo tão convincente que fiquei com vontade de ir.

Receitas Nanowrimo
Estas receitas abrem mesmo a apetite. Quem é que as escreveu?

Depois da Tempestade... Não vem a Bonança - Diana Sousa
Depois do Nanowrimo, vem a revisão. Este artigo dá algumas dicas de como fazer a mesma.

O Meu Primeiro Nanowrimo - Inês Montenegro, Ana Filipa Ferreira, Ana C. Nunes, Hélder Castro, Rafaela Ferreira e Cláudia Silva
Um artigo muito interessante e informativo para quem nunca participou num Nanowrimo. As experiências relatadas são bastante distintas e cobrem uma boa parte dos cenários possíveis que esperam quem se aventurar neste desafio pela primeira vez.

As Barbaridade do Nanowrimo - Ana C. Nunes, Cláudia Silva, Ana Filipa Ferreira, Hélder Castro e Rui Leite
Com estes excertos podem ficar com uma ideia do estado do vosso manuscrito depois de terminarem o Nanowrimo.

Camp Nanowrimo e Outras Formas de Nano - Ambar van Slooten e Inês Montenegro
Há outros desafios semelhantes ao Nanowrimo: Script Frenzy, Camp Nanowrimo e Young Writers Program.

Nanocoisa - Álvaro Holstein 
Mais uma opinião sobre o desafio, desta vez visto de fora.

É um bom trabalho que contem tudo o que um iniciante nestas andanças precisa de saber.

Classificação: 4 estrelas

PS: A quantidade de marcadores atingiu o limite sem ter marcado todos os autores. Peço desculpa.

segunda-feira, 14 de março de 2016

Ebooks: Nanozine 6

Este número acabou por ser um dos mais falados de sempre!


Autores: Vitor Frazão, Anton Stark, Pedro Cipriano, Marcelina Leandro, Álvaro Holstein, Carina Portugal, Rui Serra, Rui Alex
Sinopse: Uma webzine com um número dedicado ao Steampunk e outros tipos de punk.
Contos:
O preço: parte II | Vitor Frazão
Uma corda quebrada | Anton Stark
A alergia | Pedro Cipriano
Do carvão pra metralha | Marcelina Leandro

Poesia:
Um Assobio Longe | Álvaro de Sousa Holstein
Semeador de chumbo | Rui Serra
Hangar do coração | Carina de Portugal

Entrevista a:
Anton Stark
ClockWork Portugal

Ilustração:
Um Adeus Longíquo | Rui Alex (BD)
Cupcake bunny | Bernardo Dias

Artigos:
Roménia punk | Michael Haulica
Abney Park | Alexandra Rolo
O presente e futuro do punk | Adeselna Davies
Porque é que escrevo Steampunk? | Shelley Adina

Crítica literária:
Contos para o Kindle
Incarceron de Catherine Fisher
Leviathan de Scott Westerfeld
Viridis de Calista Taylor
Lady of devices & Her own devices de Shelley Adina

Subordinado ao Steampunk, este número contêm imensa informação, tanto para quem não conhece o tema como para quem já conhece: é explicado o que é o Steampunk, depois são várias dadas sugestões de livros. Existem duas entrevistas: à Clockwork Portugal e ao autor Anton Stark. Para além disso, há alguns artigos subordinamos ao tema punk e críticas a vários livros do género.

O Preço (Parte 2) - Vitor Frazão
O mesmo problema do anterior: o autor conta demais. O final decepciona um bocado. Definitivamente, não é dos melhores contos do autor.
2 estrelas

Uma Corda Quebrada - Anton Stark
Este conto está muito bom em todos os aspectos: seja na caracterização das personagens, como no ritmo da trama ou na construção do mundo. Infelizmente, é um tanto previsível.
4 estrelas

A Alergia - Pedro Cipriano
Por razões óbvias, não vou comentar este.

Do Carvão Pra Metralha - Marcelina Leandro
Este conto gasta algum tempo a introduzir o mundo criado, mas acaba por desenvolver bem. Podia ser melhorado ao nível de mostrar versus contar e em questões de linguagem.
3 estrelas

Um Assobio ao Longe - Álvaro Holstein
Parece faltar-lhe musicalidade.
3 estrelas

Semeador de Chumbo - Rui Serra
Este poema consegue mostrar-nos imagens e contar um história.
4 estrelas

Hangar do Coração - Carina Portugal
Um contraste interessante entre o vivo e a máquina.
4 estrelas

Um Adeus Longínquo - Rui Alex
Esta BD é visualmente muito atractiva. A personagem principal está muito bem conseguida.
4 estrelas

O número de colunas aleatório, por vezes não ajuda à leitura. Há também algumas gralhas. Fora isso, temos aqui um excelente manual de introdução ao Steampunk, que foi muito bem organizado e executado. Recomendo vivamente a todos!

Classificação: 4 estrelas

sexta-feira, 4 de março de 2016

Ebooks: Nanozine 5

A grande questão é: qual a relação entre a capa e o ambiente de criação desta ezine?


Autores: Roberto Mendes, Diana Pinguicha, Vitor Frazão, Cristiano Estevão, João Valentim, Adoa Coelho, Victor Domingos e Ricardo Campus.
Sinopse: A Porta | Roberto Mendes
Fim do Mundo | Diana Pinguicha
O Preço – Parte I | Vitor Frazão
Floresta Maldita – Parte III | Cristiano Estevão
A pena do corvo | João Valentim
O Cálice da Vingança - Parte VI| Adoa Coelho

Poesia:
Victor Domingos

Artigos:
Menos acaba por ser mais e melhor
Os vampiros na dinastia dos Tudors
Entrevista a Ricardo Campus
Scriptfrenzy




A Porta - Roberto Mendes
Apesar da ideia ser boa, a execução tornou a história um tanto confusa. Não percebi a utilização das datas. O autor contou um pouco mais do que devia.
3 estrelas


O Fim do Mundo - Diana Pinguicha
Uma vinheta mediana. Podia ter sido melhor explorada.
3 estrelas


O Preço: Parte 1 - Vitor Frazão
Muito confuso por mudar de ponto de vista sem avisar. O conto beneficiaria de uma boa revisão para retirar os partes em que o autor conta demais.
2 estrelas


Floresta Maldita: Parte III - Cristiano Estevão
O final arruinou o conto, numa prosa que praticamente só conta e que não cria nem tensão nem causa emoção.
2 estrelas


A Pena do Corvo - João Valentim
Gostei da ideia base, embora considere que os acrescentos a negrito não acrescentem nada ao conto. A formatação deste conto é especialmente problemática. O ponto mais importante do conto não foi vincado como merecia.
3 estrelas


O Cálice da Vingança: Parte VI - Adoa Coelho
Por fim, o final. Creio que este conto podia ser menos uma parte ou duas sem sair prejudicado. Fiquei com a sensação que a autora se alongou demais. Gostei do final, que acabou por acontecer como se prometera.
3 estrelas


Poesia de Victor Domingos
Não se destacou.
2 estrelas


Poesia de Ricardo Campus
Teria sido mais interessante ver este poemas em contexto
3 estrelas

A entrevista a Ricardo Campus foi demasiado superficial. A ezine ainda tem alguns problemas de formatação: 3 colunas nunca é boa ideia. As opiniões inseridas são uma mais valia. Pareceu-me que houve uma selecção mais relaxada para os contos deste número.

Classificação: 3 estrelas

quarta-feira, 2 de março de 2016

Ebooks: Nanozine 4.5

Senhores e senhoras, apresento-vos o número perdido e especial desta ezine.


Autores: Inês Montenegro, Adoa Coelho, Cristiano Estevão e Leonor Ferrão
Sinopse: Contos
Inês Montenegro - Dez Meninos Negros
Adoa Coelho - O Cálice da Vingança: Parte V
Cristiano Estevão - Floresta Maldita: Parte II
Leonora R. Campbell - Conto de Natal I

Artigos
E Depois do Nanowrimo?
Os Melhores Entre os Melhores
A Viagem de Frank Herbert em Portugal - Alexandra Rolo
So Long and Thanks for all the Fish - Adeselna Davies


Dez Meninos Negros - Inês Montenegro
Desde a personagem escolhida para contar esta história, até ao tom usado, todos os elementos casam muito bem. O final foi bom, contudo a penúltima frase era desnecessária.
4 estrelas


O Cálice da Vingança: Parte V - Adoa Coelho
Esta parte está um pouco melhor que a anterior. Mesmo assim, continuo a desejar o final desta história. Creio que já deu tudo o que tinha a dar.
3 estrelas


Floresta Maldita: Parte II - Cristiano Estevão
Este conto mostra pouco e conta muito. As reacções das personagens não são nada realistas, roçando o ridículo. O autor precisava de ter tido uma abordagem completamente diferente.
2 estrelas


Um Conto de Natal - Leonor Ferrão
Um conto com uma boa ideia subjacente, em que faltou mostrar mais, contar menos e criar mais tensão.
3 estrelas


Porque é as colunas de texto não tem todas o mesmo tamanho? O primeiro artigo, sobre a polémica de Cristo é interessante como cultura geral.O artigo sobre o Nanowrimo deixou um pouco a desejar. Por fim, as sugestões literárias são de qualidade. O design da ezine está a melhorar, embora ainda se encontre pedaços de texto repetidos em vários locais.

Classificação: 3 estrelas

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Ebooks: Nanozine 4

Com uma capa desta, quem é que consegue resistir a abri-la?


Autores: Joel Puga, Cristiano Estevão, Rui Sousa, Adoa Coelho, Pedro Vicente, Ricardo Cunha, Liliana Novais e Telmo Marçal.
Sinopse: A Nanozine é um projecto amador surgido em 2011 que publica autores portugueses.




O Mestre Arquitecto - Joel Puga
Este texto acaba mais por ser mais uma parábola que um conto. O autor conta quase tudo, mostrando muito pouco. Com um desenvolvimento mais cuidado, teria passado uma mensagem mais forte.
3 estrelas


Floresta Maldita - Parte 1 - Cristiano Estevão
Escrita parcialmente no mesmo estilo de Drácula de Stoker, este conto peca pelos extras que são completamente desnecessários. Há muita informação que é completamente desnecessária. Os diálogos são muito artificiais.
2 estrelas


100 Palavras - Rui Sousa
Este conto é uma boa prova de conceito, apesar de não ser mais que isso.
2 estrelas


O Cálice da Vingança - Parte IV - Adoa Coelho
O sentido de humor que caracterizava este conto começa a desgastar-se. Espero que termine em breve, caso contrário a autora arrisca-se a estragar o bom trabalho que fez.
2 estrelas


O Ditador - Pedro Vicente
O título remete para algo completamente diferente e acaba por nos causar algumas surpresas. Gostei da ideia. A execução podia ser um pouco mais trabalhada.
4 estrelas


They're Just Memories - Ricardo Cunha
Um conto curto e rico numa imagética interessante.
3 estrelas


Um Grito de Liberdade - Liliana Novais
Um conto interessante em forma de relato, apesar de ter uma ou duas incongruências históricas.
3 estrelas


Dia de Libertação - Telmo Marçal
Poesia em forma de conto. Gostei do formato e do desenvolvimento.
3 estrelas


Segunda Oportunidade - Telmo Marçal
O tom foi muito bem escolhido. A ideia fui bem trabalhada, tornado-o num conto que se lê com facilidade e prazer.
4 estrelas


Esta edição tem muitos problemas de frases repetidas. O aspecto gráfico está superior ao da edição anterior, embora os contos, na generalidade, estarem mais fracos. Há que felicitar a coragem destas três escritoras na criação deste projecto.
Recomendo a quem quiser conhecer o que se faz em Portugal.

Classificação: 3 estrelas

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Ebooks: Nanozine 3

A Nanozine continua em destaque.


Autores: Ana C. Nunes, Miriam Fonseca, Adeselma Davies, Leonora Rose Campbell, Adoa Coelho, Emanuel R. Marques e Mariana Araújo
Sinopse: A Nanozine é um projecto amador, surgido em 2011, que publica autores portugueses.


Creio que o que salta mais à vista são as cores um tanto berrantes até meio, só voltando ao normal no resto. Tenho dúvidas se isso é um progresso em relação ao número anterior. Continua a ter os mesmos problemas de hifenização.

Um erro, várias culpas - Ana C. Nunes
Este conto tem um ideia base muito interessante, pena que a autora não tenha conseguido explorá-la da melhor forma. Necessitava de mais mostrar e menos contar para criar uma ligação mais forte com o leitor.
2 estrelas

Memórias de mim, pintadas por ti - Miriam Fonseca
Este conto é semelhante ao anterior: boa ideia com uma execução não tão boa. Contudo, acho que esta autora conseguiu criar uma ligação melhor com o leitor.
3 estrelas

I Kissed her Goodbey - Adeselma Davies
Este conto marca o estilo característico da autora. Gostei do tratamento que deu às personagens e só tenho pena que tenha sido escrito de um modo fragmentado. No final ficaram bastantes perguntas sem resposta, mas não creio que isso seja um problema.
4 estrelas

Rapto - Leonora Rose Campbell
Tenho de dizer que este conto foi uma agradável surpresa. Já tinha lido outros contos mais recentes desta autora e não esperava que tivesse escrito algo tão bem executado há tanto tempo. Simples mas executado de um modo competente.
3 estrelas

O Cálice da Vingança - Parte III - Adoa Coelho
Este conto retoma as aventuras dos piratas que já conhecemos das partes anteriores. O estilo e execução são semelhantes.

3 estrelas

Noite - Emanuel R. Marques
Curto e nada de especial.
1 estrela

O Poeta nada Ama - Mariana Araújo
Poema simples que entretêm.
2 estrela

Para terminar, há uma lista de recomendações para leituras de Verão e um ensaio bastante interessante, escrito pelo mesmo autor dos outros dois, cuja qualidade está a aumentar. Em suma, é de felicitar este tipo de iniciativas, que, apesar das limitações, são um ponto de referência para todos os autores iniciantes.


Classificação: 3 estrelas

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Ebooks: Nanozine 2

Vou continuar a saudosa tarefa de relembrar os números desta ezine.


Autores: Alexandra Rolo, Miguel Andrade, Emanuel Marques, Ana Luísa Teixeira, Nuno Almeida, Vitor Frazão e Adoa Coelho
Sinopse: A Nanozine é um projecto amador surgido em 2011 que publica autores portugueses.


Começando pela capa, nota-se um salto de gigante em relação ao primeiro número. A paginação também foi mais cuidada e design é mais atractivo, havendo, no entanto, há vários problemas de hifenização.  Em suma, a revista evoluiu bastante.

Pureza Perdida - Alexandra Rolo
É um pouco suspeito haver um poema de uma das organizadoras aqui.

O Barqueiro - Miguel Andrade
Gostei da premissa do conto e de algumas vertentes da execução. Teria sido interessante usar a descrição toda para criar tensão no leitor. Embora o final seja um tanto imprevisto, perde o impacto por não ter sido preparado o caminho.
3 estrelas

Vida de Cão - Emanuel Marques
Se este conto não se perdesse com certas divagações, teria ficado excelente.
4 estrelas

Mudar a mobília não chega! - Ana Luísa Teixeira
Uma mistura entre conto e texto de auto-ajuda.

Noite - Nuno Almeida
Gostei da ideia e da execução deste conto. Pena que o autor tenha tropeçado a meio e começado a contar ao invés de mostrar. Fora esse lapso, não há falhas de monta a apontar.
4 estrelas

Vigília - Vitor Frazão
O conto foi bem executado, embora falte um pouco de contextualização às personagens. O autor conta um pouco mais do que deveria.
4 estrelas

O Cálice da Vingança (Parte 2) - Adoa Coelho
A continuação de uma história com bastante humor. Contudo, a autora poderia ter explorado melhor algumas situações.
3 estrelas

A entrevista a Madalena Santos ajuda-nos a perceber como é possível ser-te publicado em Portugal. O ensaio "A Dualidade da existência humana" está muito mais interessante e melhor fundamentado que o do número anterior. No geral esta revista teve uma melhoria enorme em relação ao número anterior.

Classificação: 4 estrelas

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Ebooks: Nanozine 1


Este foi um projecto na nacional que admirei bastante.


Autores: Marcelina Leandro, Diana Tavares, Joel Puga e Adoa Coelho
Sinopse: A Nanozine é um projecto amador surgido em 2011 que publica autores portugueses.


Começar um projecto é sempre difícil, ainda mais se é feito com poucos recursos. Estas duas jovens estão de parabéns pela iniciativa que só tenho pena que tenha terminado tão rapidamente.

O ensaio "O que é um deus?" está interessante, embora devesse ter sido mais trabalhado, visto que os argumentos não são muito sólidos. A entrevista a Fábio Ventura, um escritor português pouco conhecido, foi uma ideia muito boa que devia ser seguida por mais iniciativas. As fotografias por Nuno Campos estão um fracas e são absolutamente banais.

Passo agora às minha apreciação dos contos:

Loucura - Marcelina Leandro
Este conto, apesar de curto, consegue transmitir muito bem as emoções e pensamentos da personagem principal. é um tanto previsível, mas não deixa de ter sido executado de forma competente.
3 estrelas

Psicotécnico - Diana Tavares
Confesso que gostei mais deste conto a primeira vez que o li. A repetição de informação é algo que me irrita. Podia ser mais polido, porque a ideia base não é má de todo.
2 estrelas

O Cornudo - Joel Puga
Deste escritor, já estava à espera de algo do género. Gostei do conto, embora ainda não me tenha habituado ao estilo de escrita.
3 estrelas

O Cálice da Vingança - Adoa Coelho
O título do conto começa logo por nos enganar um pouco. Gostei da abordagem da autora, no entanto creio que podia ser mais polido.
3 estrelas

No global, esta ezine merece umas sólidas 3 estrelas, tanto pela iniciativa como pelo resultado final com tão poucos recursos.

Classificação: 3 estrelas

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

As minhas participações na Nanozine

Quem é que já conhece o projecto Nanozine?


Qual o objectivo da Nanozine?

A Nanozine foi criada a pensar em muitas pessoas que gostam de escrever e colocam os seus escritos na gaveta a pensar que não são escritores. Como achamos que a qualidade de um texto deve ser avaliada pelo leitor, achamos por bem aceitar textos com os mínimos. Que mínimos são esses? Textos coerentes, sem erros ortográficos. Gostamos de proporcionar aos nossos leitores e autores uma troca agradável de textos diferentes.

Já participei em dois números desta e-zine:

Nanozine 6

Este número foi dedicado ao Steampunk e contou com vários nomes sonantes da comunidade portuguesa, como é o caso de Anton Stark e Marcelina Leandro. A minha contribuição foi um pequeno conto "A Alergia".

Revista em PDF - Link do Goodreads

Nanozine 7

Este número foi lançado nos espírito Nanowrimo e contém trabalhos de vários géneros, escritos por Joel G. Gomes, Carlos Silva, entre outros. O meu conto "O Fruto Proibido" foi também publicado.

Revista em PDF - Link do Goodreads

Se quiserem saber mais sobre a Nanozine, podem consultar este link.

Para ler os números já lançados desta e-zine, cliquem aqui.

Para os escritores que seguem este blogue, para participar podem fazê-lo aqui.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

O fruto proibido - parte 2/2


A primeira parte do conto está disponível em: http://pedro-cipriano.blogspot.pt/2012/12/o-fruto-proibido-parte-12.html

O navio a vapor cruzava o imenso oceano que dividia os dois continentes. No convés, embalado pelo mar, a mente do cientista divagava no imenso espaço dos pensamentos. Tentou concentrar-se, pois queria de tomar uma decisão.
Não tinha dúvidas que a tecnologia descrita no livro mudaria o mundo. Com ela podia produzir quantidades imensas de energia e a dependência do carvão terminaria. Acreditava que, depois de quinhentos anos de inquisição tecnológica, o mundo merecia uma idade dourada. Contudo, ignorar as prescrições tecnológicas podia colocar a civilização num estado em que se destruiria a si mesma.
Com esse pensamento, debruçou-se sobre a amurada e retirou o livro da sacola. Sem hesitar, atirou-o para o oceano.
Ao voltar para os seus aposentos ficou cada vez mais agitado. Esperava por um alívio que não veio. Mesmo não tendo o livro, o conhecimento impelia-o a agir.
As nuvens negras de fuligem que todas as manhãs se abatiam sobre a cidade eram prova de que este não era o caminho certo. Cada duas toneladas desse ouro negro custava em média uma vida humana. Humberto tinha o poder de mudar isso, só precisava de reproduzir o gerador descrito pelo livro.

***

Ao ligar a centrifugadora, o barulho tornou o ambiente do laboratório insuportável.
A meia noite passara há um par de horas e ele estava sozinho na academia. Era a única maneira de conseguir prosseguir com o seu projecto. Humberto decidiu fazer uma pausa mas, mesmo no corredor, não conseguiu desligar-se mentalmente da sua experiência. Desejava ter uma centrifugadora mais poderosa.
Ouviu a porta do edifício abrir-se com um estrondo. Pareceu-lhe que alguém acabara de forçar a entrada no edifício. Passos ecoaram. Eram muitos pés em movimento.
O coração do cientista começou a bater mais depressa. Soube de imediato qual era a razão de estarem ali. Tentou relaxar nos segundos que restavam antes de eles chegarem. Não tirava apontamentos nem comentara as suas experiências com mais ninguém. Tentou convencer-se que que tudo ficaria bem.
Vários polícias de casaco azul e botões dourados cercaram. Os capacetes ovais faziam com que parecessem mais altos do que realmente eram. Humberto teve de usar toda a sua força de vontade para não mostrar o quão assustado estava.
– Doutor Carvalho, você está sob detenção por infringir as restrições tecnológicas – anunciou o que tinha o maior bigode.
Sem mais explicações, foi escoltado da academia até uma carrinha prisional de rodas gigantes. Assim que as portas duplas se fecharam, os pistons a vapor a colocaram a em movimento. Atravessaram metade da cidade construída em estilo Neovitoriano até chegarem a um imponente estrutura de talhe clássico. Fora levado ao Tribunal Imperial porque quisera dar à Confederação uma fonte quase inesgotável de energia.
Foi conduzido pelos corredores trabalhados. O edifício demorara mais de um século a ser erguido e a aura da construção deixava-o ainda mais desconfortável. Ao entrar na sala de julgamentos, encontrou o tribunal já reunido. Humberto começou a tremer.
– Doutor Carvalho, você é presente neste tribunal por violar as restrições tecnológicas. O que tem a dizer em sua defesa? – acusou o ancião vestido numa toga negra.
– Eu não violei nenhuma restrição! – protestou o cientista, tentado não gritar.
– Ainda não, mas os seus experimentos mostram clara intenção de o fazer. Ou nega que pretende fazer fissuração nuclear?
– Não nego. Eu apenas queria dar à humanidade uma fonte de energia alternativa. Como sabe, o mundo precisa urgentemente disso...
– Não duvido das suas boas intenções, mas a lei é inviolável. Ambos sabemos que não é este o caminho. Tenho muita pena, mas terei de aplicar a pena capital...
– Não chega abandonar o projecto?
– Quem me dera... – sorriu amargamente o Juiz. – O maior perigo não é o experimento, é o conhecimento que tem. Custa-me saber que iremos perder uma mente brilhante, contudo, a sobrevivência da humanidade o exige. Todo o material relativo à experiência deve ser destruído imediatamente e a pena aplicada dentro da próxima meia hora. A sessão está encerrada!
Até ao momento em que foi fuzilado, Humberto não conseguiu sentir rancor, somente tristeza por a humanidade continuar nas trevas.


Este conto foi publicado na Nanozine 7: http://nanoezine.wordpress.com/

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

O fruto proibido - parte 1/2

Humberto estava nervoso. Impaciente, esperava que os engenheiros a abrissem, relembrando a sua chegada à Ibéria duas semanas antes. Naquelas terras selvagens havia caminhado durante quatro dias antes de o grupo encontrar a cidade. Muitas expedições haviam passado por ali no entanto, nenhuma havia investigado a vegetação a fundo.
Os especialistas obrigaram-no a recuar. Iriam usar o último recurso para abrir a porta blindada.
O entusiasmo inicial havia-se desfeito quando encontraram as ruínas dos subúrbios. A metrópole havia sido varrida por uma explosão termo-nuclear e volvidos cinco séculos, somente os restos das fundações poderiam interessar aos escavadores de relíquias inúteis. Para um cientista curioso como Humberto, não havia ali nada de interesse. Apesar da desmotivação geral, a desmatação prosseguiu. No meio da pequena selva havia algumas estruturas que haviam resistido à passagem dos séculos. Mas, nem mesmo nos edifícios menos danificados havia algo que pagasse o salário diário de um soldado. A sorte mudou quando um grupo de soldados, que procurava um sítio mais abrigado para dormir, encontrou a cave.
O portão aguentara os assaltos dos técnicos durante toda a manhã. Só quando o sol já atravessara o zénite é que o conseguiram remover, com recurso a explosivos.
Ainda o pó pairava quando Humberto ignorou as convenções de segurança e penetrara no interior da casamanta. Outros o seguiram e cedo descobriram que teriam de proteger as vias respiratórias com as camisolas sob o risco de sufocar com poeira. Com os olhos a lacrimejar, atravessou a entrada que dava para um longo corredor. Parou, tentando lidar com a desilusão. Parecia ser apenas uma estrutura militar do último conflito mundial.
O cientista relembrou o que havia aprendido sobre a Terceira Guerra Mundial. A opinião geral colocava-a como a pior coisa que acontecera à humanidade desde o seu Génesis. Quase uma década de combates contínuos e sangrentos culminaram numa breve guerra atómica. O Verão nuclear queimou grande parte da superfície, matando mais de cinco biliões de seres humanos. O Inverno artificial matou quatro em cada cinco pessoas durante o primeiro ano. A escuridão fora a maior prova da capacidade de adaptação e sobrevivência do homo sapiens sapiens. As trevas duraram mais 70 anos e a noite parcial mais de um século. Não se sabe muito sobre esses anos e ainda menos sobre o que existia antes.
A estrutura era mais extensa do que à primeira vista parecia. Prolongava-se por várias dezenas de metros de corredores labirínticos e tinha pelo menos outros dois níveis.
– Venham ver isto! À sério, larguem tudo o que estão a fazer e venham ver isto! – chamaram, enquanto Humberto examinava uma divisão destinada ao alojamento.
– O que foi? – gritam da outra extremidade, criando um eco surreal.
– Estás bem? – ouviu-se um arqueólogo perguntar.
A situação deixou-o curioso. Ainda confuso com a direcção pouco clara do som, Humberto encaminhou-se para onde a origem lhe pareceu ser mais provável. Uns metros encontrou-se com um dos colegas e no fim bastou seguir a pequena multidão que se acumulara à entrada.
Ar seco e rarefeito fluía do estranho compartimento. Os murmúrios subiram gradualmente de tom. Como todos pareciam estar com medo de entrar, Humberto furou pelo entre os colegas e estacou à entrada.
Os seus olhos depararam-se com uma biblioteca. Uma sala quadrangular, com o comprimento duma carruagem de locomotiva. Estava repleta de prateleiras de livros. Era, provavelmente, a maior que havia sido encontrada durante as duas últimas duas décadas. Os olhos de Humberto maravilharam-se com a descoberta, ao imaginar o conhecimento fantástico que podia ser obtido.
Assim que recuperaram do espanto inicial, os cientistas e arqueólogos organizaram-se de um modo sistemático. Impulsionados pela descoberta, iniciaram de imediato o registo e triagem dos volumes que, para o cientista de meia-idade, eram o maior tesouro do passado. Com eles podiam reproduzir as invenções do passado tendo em conta a restrições tecnológicas.
Foi numa dessas sessões que ele encontrou algo que não estava à espera. Era um manual universitário. Folheou-o casualmente e começou a ler um parágrafo ao acaso. O coração parou por um momento. Piscou os olhos e releu novamente. Avançou algumas páginas e recuou o dobro. Tudo parecia bater certo. Estremeceu ao tomar consciência do poder que aquele feixe de papel encerrava.
Estacou com o livro na mão. A tecnologia que tinha em mãos era proibida e arriscava a pena a morte. Ponderou se valeria a pena arriscar a vida para o mundo ter a possibilidade de entrar numa nova era dourada. Sabia que o livro seria destruído assim que os outros o encontrassem. Por impulso, decidiu guardar a decisão para mais tarde, enfiando o livro na sua mala.

A segunda parte deste conto está disponível em: http://pedro-cipriano.blogspot.pt/2012/12/o-fruto-proibido-parte-22.html

Este conto foi publicado na Nanozine 7: http://nanoezine.wordpress.com/

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

A alergia



Faltavam cinco minutos para a meia-noite quando Roberto acabou de armar a bomba. Desprendeu o recipiente de latão cheio de um líquido amarelo com tons esverdeados, que ficou num equilíbrio precário em cima de uma das barras laterais. Limpou o suor da testa e beijou o anel que trazia no dedo. Ajeitou o fato, colocou a cartola e afastou-se da ponte de ferro cruzado.

Àquela hora só os bêbados e as prostitutas percorriam a cidade, por isso, não achou que houvesse o risco de ser reconhecido mais tarde. Que sociedade mais decadente, pensou, sabia que cada um daqueles homens era capaz de matar por um fato de cerimónia. Não esperava que o atentado causasse muitas vítimas, já que escolhera um comboio de mercadorias numa zona ocupada por armazéns.

Enquanto caminhava pelas ruas, combatia o desejo de se enfiar por um dos becos, pois pressentia que todos os olhos estavam voltados para ele. Sabia que teria de se deslocar pelas vias principais para não chamar a atenção. Os nervos eram tantos que se assustou com uma mera buzina. Quase se riu histericamente quando viu tratar-se apenas dum veículo com rodas de coche e muitas rodas dentadas que operavam fora da carroçaria. Já mais calmo, saltou para a berma de modo a deixar passar o mostrengo a vapor conduzido por algum ricalhaço.

A noite estava abafada e o calor já se fazia sentir à várias semanas. O mundo mudava a olhos vistos e quase ninguém se parecia aperceber disso. Cada ano que passava era mais quente que o anterior, o fumo cobria as grande metrópoles e o nível do mar subia cada vez mais. Ninguém queria ouvir falar desses problemas, enquanto o seu estilo de vida pudesse ser mantido, todos eram alérgicos à mudança, como qualquer civilização que se aproxima do seu fim.

Tudo fora planeado para que o atentado fosse atribuído aos alérgicos, um grupo extremista que defendia o uso de técnicas amigas do ambiente. Estes perseguiam uma miragem semelhante à energia solar, que se supunha ter existido há quinhentos anos atrás e que se perdera no grande holocausto. Apesar de se identificar com algumas dessas ideias, Roberto nunca fizera parte de tais círculos e não contava começar naquele momento. As suas razões eram bem diferentes.

Prédios de estilo Neovitoriano passaram a ladear os dois lados da rua. Aqueles apartamentos de madeira de recortes arredondados e telhados oblíquos eram relíquias de outra era. As varandinhas cercadas de madeira branca trabalhada davam-lhe vontade de rir. Não percebia porque é que os haviam recriado, nem porque os restauravam vezes sem fim. Parecia que tinham medo de avançar no tempo, receio das incertezas do futuro e pavor de quebrar as restrições tecnológicas estabelecidas. Tudo porque outrora a espécie quase se extinguira por via das suas próprias invenções. Uma guerra nuclear não era mais possível, contudo, um desastre ambiental teria os mesmo efeitos. A humanidade estava na sua hora dourada, no seu mais importante ponto de viragem, e poucos eram os que conseguiam aperceber disso.

Parou e retirou o relógio do bolso para ver as horas. Faltavam dois minutos para o comboio se encontrar com o seu destino. Ele odiava engenhos que levassem muitas engrenagens, por isso aquele era muito simples. O tremer da ponte, aquando da passagem da locomotiva, iria lançar o recipiente cheio de nitroglicerina contra um dos postes e isso bastaria para detonar o engenho. Os maquinistas nunca se atrasavam.

Um portão preto de cemitério marcava o fim da sua caminhada. Rangeu terrivelmente quando o empurrou, dando-lhe entrada para um espaço completamente deserto e sombrio. Uma árvore frondosa dominava a paisagem, projectado estranhas sombras no pavimento. A tranquilidade do local contrastava com a inquietação que sentia. Caminhou pelo passeio central, passando pelo poço, dirigindo-se à campa da sua noiva.

Sentou-se no túmulo e acariciou a gravura do túmulo, desejando sentir novamente o toque dela. A vida não lhes fora gentil. O forte sentimento que os unia só teve como par o nefasto fim. Ela morrera atropelada por um condutor descuidado. Culpar o condutor era demasiado fácil, pois ele era apenas um produto da sociedade decadente em que estava mergulhado.

Ficara fechado em casa, sem querer comer durante dias a fio. Teria morrido ali se não tivesse recebido uma visita de um dos seus amigos. A conversa que tiveram mudou-lhe a vida, conseguira canalizar o seu desespero. Desde esse dia, Roberto ouviu falar dos alérgicos pela primeira vez e, tal como eles, passara a odiar toda a tecnologia. Passara a ser alérgico a toda a roda dentada e a todo o eixo móvel. Consumido pela mágoa, quase caiu num estado de demência, até que percebeu o que deveria fazer. Tinha de destruir estes malditos monstros com corações de corda e cérebros a vapor. O seu amigo nunca o abandonou e nem negou qualquer tipo de ajuda, nem sequer quando precisou de ajuda para levar a cabo o seu plano pernicioso.

Como previra, a explosão deu-se à meia-noite em ponto. Ouviu de seguida mais três rebentamentos. O clima seco e as matérias inflamáveis, tanto do comboio como dos armazéns, mergulhavam a cidade em chamas. As labaredas subiam mais alto do que esperava, o comboio deveria transportar algum tipo de mercadoria muito inflamável. Impávido, observou o fogo que galgava metro após metro sem que ninguém o pudesse deter.

A tragédia abateu-se sobre a cidade. O número de vítimas escalou de dezenas para a centenas e finalmente atingiu o milhar. Quarteirões inteiros foram devastados. Não houve quem duvidasse que os alérgicos fossem os responsáveis e ninguém se preocupou com o corpo que se afogara no poço do cemitério.


Este conto foi publicado na revista Nanozine ( http://nanoezine.wordpress.com/ ).
Podem efectuar download da revista aqui:  http://nanoezine.files.wordpress.com/2012/07/nanozine6_versc3a3o-impressa.pdf
Link no Goodreads: http://www.goodreads.com/book/show/15767109-nanozine-n-6
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