segunda-feira, 3 de setembro de 2012

O dilema de Winrich - parte 2/2


Aquando da sua chegada, em que esperava ser bem recebido, devido às inúmeras condecorações recebidas em África, ao invés disso o chefe de informação tinha-o levado até ao mapa, com uma expressão séria. Lembrava-se perfeitamente das palavras do Tenente Coronel Niemeyer : “Meu amigo, vem e vê o mapa do estado da situação. Olha para as marcas vermelhas. Os russos estão a concentrar-se a Norte aqui e a Sul aqui” dissera-lhe com um ar preocupado. Baseado nessas informações, Paulus esperara por ataques fortes, com tanques e artilharia, todavia nada que considerasse fatal. No fim, acabara por passar o seu relatório aos superiores e esperar que alguém corrigisse o problema, por esse se localizar fora da sua esfera de influencia. Rommel teria agido, mesmo quebrando as regras, pensou. Devido à burocracia alemã, o relatório não fez qualquer diferença e tudo ficara na mesma. Desde então, ficara sempre em alerta em relação a esses sectores, contudo passara um mês e nada acontecera, nem mesmo no temido aniversario da revolução.
Problemas devido a informações deficientes, incompletas, contraditórias ou erradas eram comuns. Por exemplo, um mês antes houvera alguns momentos de pânico, quando se temera um ataque russo na frente central, devido ao aparecimento de numerosas novas divisões, contudo isso não acontecera, acabando essas divisões por desaparecerem pouco tempo depois.
A saga dos romenos já era longa, prolongando-se desde Outubro, quando reportaram pela primeira vez a formação de grandes concentrações de tropas. O comandante arguira que só poderia defender eficazmente esta secção se controlassem toda a margem Oeste, com o objectivo de usar o rio como uma poderosa barreira anti-tanque. Apesar do Grupo B ter aceite o seu argumento, não lhe disponibilizou a ajuda necessária, replicando que todas as tropas eram necessárias na cidade, cuja captura se considerava eminente. Apesar dos seus repetidos avisos, o pedido de ajuda nunca foi convenientemente respondido.
Os romenos ficavam cada vez mais ansiosos à medida que a situação se prolongava. Cada divisão tinha de guardar cerca de doze milhas, o que fazia com que as linhas defensivas fossem muito finas. Além disso, tinham poucas munições para a artilharia, porque as prioridade de abastecimento fora dada ao Sexto Exército.
No dia sete de Novembro o Terceiro Exército Romeno tinha alertado que esperava uma ofensiva blindada no dia seguinte. Nada aconteceu, contudo os romenos continuaram à espera que o ataque se desse nas vinte e quanto horas seguintes e assim sucessivamente. O vigésimo quinto aniversário da Revolução passou sem nenhum evento importante, de modo que os oficiais do Sexto Exército passaram a não dar importância aos avisos romenos.
Um Corpo de Exército composto por três divisões blindadas tinha sido enviada para ajudar os romenos. Apesar de teoricamente parecer forte, na prática não o era: a Décima Quarta Divisão Blindada sofrera muitas baixas e uma grave perda de material durante os combates pela cidade, falta essa que ainda não fora reposta; a Primeira Divisão Blindada Romena não tinha sequer tanques capazes de fazer frente aos T-34 russos; finalmente, a vigésima Segunda Divisão Blindada não tinha muito combustível e devido ao longo período de inactividade os tanques não estavam completamente operacionais. Na prática, meia dúzia de tanques e armas anti-tanque passeavam de sector em sector de modo a manter os romenos calmos. Todos sabiam que era meramente para levantar a moral aos romenos, já que, caso houvesse alguma ofensiva em grande escala, essa ajuda não faria qualquer diferença.
Winrich questionava-se se haveria um perigo real, tentando avaliar quais os estragos que uma ofensiva russa poderia causar nestas circunstancias. Ao certo não sabia, porque tudo dependia da reacção alemã. A Sul fora descoberto que os russos estavam a preparar posições fortemente defensivas, de modo que não acreditava que atacassem por esse lado. Talvez eles quisessem apenas tentar cercar os Exércitos Romenos, abrindo uma brecha nos flancos, desviando forças alemães do combate por Estalinegrado, o que por si já era um plano ambicioso, sob o ponto de vista de Behr.
Altifalantes com propaganda tinham tocado nos dias anteriores, com o volume ao máximo e sem pausas, talvez com o objectivo de disfarçar as preparações soviéticas. Contudo, os dias passaram sem que houvesse qualquer alteração nem sinal do inicio de uma ofensiva.
No fim o que determinou a sua inactividade não foi nenhuma consideração estratégica, foi o facto de não ter vontade de acordar o general Arthur Schmidt, o chefe de pessoal de Paulus. Ele ficaria extremamente furioso se fosse acordado por outro falso alarme. Por vezes parecia que era o próprio Schmidt quem comandava o Sexto Exército, já que Paulus era fortemente influenciado por ele, bastava que Arthur dissesse algo que Paulus imediatamente considerasse a informação como verdadeira ou argumento como válido. Havia ainda, entre ambos, um tratamento demasiado informal, algo impensável em Rommel. Por isso, somando os prós e os contras, decidiu não o acordar, ficando-se pela anotação no caderno.
Ficou a olhar pela janela, observando a neve que caia. Não se podia ver absolutamente nada, se os russos atacassem não poderiam usar nem artilharia, nem suporte aéreo. Logo, por piores que fossem as circunstancias, estariam a lutar com as mesmas condições dos romenos. Para alem, disso acreditava que tanto os russos como os alemães estavam virtualmente esgotados. A luta pela cidade causara tantas baixas de cada um dos lados que todos os Generais deveriam estar com as mãos atadas em relação à falta de pessoal. Nenhuma ofensiva poderia ter um impacto elevado nestas condições.
Ainda tecia essas considerações quando o telefone tocou novamente. Olhou para o relógio antes de ateder, passava pouco das cinco e meia.
― Daqui Major Behr. ― respondeu
― Daqui novamente tenente Stöck. Temos aqui uma situação grave, houve um toque de trompete que assinalou o inicio de um bombardeamento massivo.― Comunicou do outro lado.
― Que mais é que me pode dizer? ― inquiriu Behr, preocupado.
― Não tenho mais informações. ― responderam-lhe do outro lado.
― E os romenos? ― perguntou Behr, cada vez mais preocupado.
― Eu tenho a impressão que os romenos não conseguirão resistir, mas eu vou manter-lo informado. ― afirmou Stöck.
― Entendido! ― respondeu Behr e desligou.
Pelos vistos os romenos sempre estavam a falar a sério, pensou Winrich. As suas armas anti-tanque Pak37 não eram eficientes contra os tanques russos, nem tão pouco os seus tanques ligeiros checoslovacos, por isso já cometi um erro, deveria ter acordado Schmidt logo após o primeiro telefonema, logo é melhor que o faça já, concluiu.
Behr não tinha sequer uma pequena noção das implicações que esta contra-ofensiva teria no decurso da guerra.


Este capítulo foi retirado do primeiro livro da trilogia de Estalinegrado, porque não estava relacionado directamente com as personagens principais. Apenas o publico aqui num exercício de pesquisa e ambientação do resto do livro.

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