É inegável a presença do vocabulário relacionado com o mar na língua portuguesa. Infelizmente, a relevância desse pensar marítimo escapa-nos em muitas ocasiões. Desde sempre que o português olhou tal vastidão, não como uma fronteira, mas como uma fonte inesgotável de possibilidades.
A extensa costa e posição periférica no continente fizeram com que o mar estivesse omnipresente na nossa história. De lá vieram os cruzados que ajudaram na conquista de Lisboa. A ele os portugueses se fizeram para conquistar Ceuta. Por ele navegaram, procurando novos mundos, pois o conhecido já não lhes bastava. Mote da epopeia heróica escrita por Camões, foi também tábua de salvação da família real aquando das invasões francesas. É tema central numa das obras mais emblemáticas de um dos nossos maiores escritores: a Mensagem, e, finalmente, para lá nos voltamos quando o mundo embarcou na mais destrutiva das guerras.
Volvidos 26 anos desde que nos juntamos à União Europeia, o pensar português mutou-se para algo que não corresponde a si mesmo. À custa de tanto importar o pensamento europeu, nós esquecemos as nossas origens. Na actualidade, quando se fala em mar, não é mais para relembrar as regiões autónomas e a zona económica exclusiva. Lentamente viramos as costas aos países de língua portuguesa e deixamos que o mar que antes unia, separe.
Contudo, apesar deste esquecimento, esperemos que momentâneo, as influências linguísticas permanecem, assim como o reconhecer, ainda que débil, do potencial inerente dessa imensa massa de água salgada. Desde “ficar a ver navios” até “ir de vento em popa” passando por “trazer água no bico”, a língua está cheia de expressões que remetem para o nosso passado marítimo. Esses ecos despertam na alma uma saudade de um tempo em que estávamos mais perto do mar.
É neste momento turvo da nossa história, em que o português se vê refém de interesses financeiros, que voltamos ao mar. Enquanto sentem o país a afundar-se, muitos abandonam -no em busca de uma tábua de salvação. Já não precisamos de caravelas nem bravos marinheiros, pois basta apenas um avião para chegar ao Brasil, Angola ou até Timor. Muitos emigrantes enveredam por essa opção, ao invés de embarcarem numa Europa na qual não conhecem nem língua nem cultura, e com a qual não se identificam. Sem medo e insatisfeito por natureza, o português procura além fronteiras aquilo que não encontrou dentro delas, numa repetição do que aconteceu no passado.
Assim como as caravelas vaguearam rumo à descoberta, o português navega no imenso oceano da sua imaginação. Hoje refugia-se no sonho, como o fez quando D. Sebastião desapareceu ou durante o Estado Novo o sufocou. Com tanto onírico marear se perde e esquece da realidade.
O mar é para o português uma promessa de um mundo melhor. Nele depositamos a nossa esperança e fé, numa perigosa viagem ao desconhecido. E continuemos a fazê-lo enquanto nos deixarem, porque sem mar não somos portugueses.
A extensa costa e posição periférica no continente fizeram com que o mar estivesse omnipresente na nossa história. De lá vieram os cruzados que ajudaram na conquista de Lisboa. A ele os portugueses se fizeram para conquistar Ceuta. Por ele navegaram, procurando novos mundos, pois o conhecido já não lhes bastava. Mote da epopeia heróica escrita por Camões, foi também tábua de salvação da família real aquando das invasões francesas. É tema central numa das obras mais emblemáticas de um dos nossos maiores escritores: a Mensagem, e, finalmente, para lá nos voltamos quando o mundo embarcou na mais destrutiva das guerras.
Volvidos 26 anos desde que nos juntamos à União Europeia, o pensar português mutou-se para algo que não corresponde a si mesmo. À custa de tanto importar o pensamento europeu, nós esquecemos as nossas origens. Na actualidade, quando se fala em mar, não é mais para relembrar as regiões autónomas e a zona económica exclusiva. Lentamente viramos as costas aos países de língua portuguesa e deixamos que o mar que antes unia, separe.
Contudo, apesar deste esquecimento, esperemos que momentâneo, as influências linguísticas permanecem, assim como o reconhecer, ainda que débil, do potencial inerente dessa imensa massa de água salgada. Desde “ficar a ver navios” até “ir de vento em popa” passando por “trazer água no bico”, a língua está cheia de expressões que remetem para o nosso passado marítimo. Esses ecos despertam na alma uma saudade de um tempo em que estávamos mais perto do mar.
É neste momento turvo da nossa história, em que o português se vê refém de interesses financeiros, que voltamos ao mar. Enquanto sentem o país a afundar-se, muitos abandonam -no em busca de uma tábua de salvação. Já não precisamos de caravelas nem bravos marinheiros, pois basta apenas um avião para chegar ao Brasil, Angola ou até Timor. Muitos emigrantes enveredam por essa opção, ao invés de embarcarem numa Europa na qual não conhecem nem língua nem cultura, e com a qual não se identificam. Sem medo e insatisfeito por natureza, o português procura além fronteiras aquilo que não encontrou dentro delas, numa repetição do que aconteceu no passado.
Assim como as caravelas vaguearam rumo à descoberta, o português navega no imenso oceano da sua imaginação. Hoje refugia-se no sonho, como o fez quando D. Sebastião desapareceu ou durante o Estado Novo o sufocou. Com tanto onírico marear se perde e esquece da realidade.
O mar é para o português uma promessa de um mundo melhor. Nele depositamos a nossa esperança e fé, numa perigosa viagem ao desconhecido. E continuemos a fazê-lo enquanto nos deixarem, porque sem mar não somos portugueses.
Este ensaio foi originalmente publicado na revista Nova Águia número 11 - "Da minha língua vê-se o mar": o Mar e a Lusofonia.
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