sexta-feira, 17 de agosto de 2012

O Duende


Naquele dia Carlos não conduzia o seu habitual carro de patrulha. Não estava de serviço, nem tão pouco poderia alguma vez explicar aos seus superiores o que tinha em mente para aquele fim-de-tarde. O sol ainda ai alto quando o quarentão saiu da esquadra para procurar o Duende.

É certo e sabido que os duendes são criaturas baixas, que andam por aí a assobiar, sempre prontos a pregar alguma partida, quais crianças travessas. Tudo isso era irrelevante, já que a única coisa que interessava aquele policia de meia idade era justamente o prémio que se obtêm quando se captura uma dessas criaturas. Se por acaso alguém lhe lesse os pensamentos naquele momento, iria certamente achar que estava na presença de um lunático.

Conduziu até à zona adjacente à zona de risco. Mais não se atrevia, pois conheciam a sua face e a última coisa que queria era ser apanhado por algum gangue. Enquanto fosse dia e se mantivesse neste bairro, não haveria problemas. Estacionou perto da escola e saiu do carro. Olhou em volta e com um ar confiante colocou os óculos escuros. Era a altura do espectáculo.

A qualquer momento os alunos iriam sair das aulas e com eles apareceria o Duende. Se o apanhasse, poderia finalmente pagar as duas prestações da casa que tinha em atraso. Fez o melhor que conseguiu para se fundir no ambiente e não chamar às atenções.

Num instante o pátio da secundária e a saída foram invadidos por uma multidão jovem. Carlos começou a entrar em pânico, o que lhe parecera fácil, estava a complicar-se a olhos vistos. O tentava perscrutar cada uma das faces, mas com tanto movimento, a tarefa era praticamente impossível.

Quando estava prestes a desistir, notou algo estranho pelo canto do olho. Um baixote, vestido com trapos coloridos e um chapéu esquisito. Passaria por uma criança em ponto grande ou um jovem com problemas mentais. Assobiava e caminhava alegremente em direcção à entrada.

O agente começou a caminhar na direcção do Duende, tentando parecer casual. Todos continuavam a desempenhar descontraidamente as suas rotinas e ninguém parecia ter ainda dado pela presença de ambos. Tudo pararia se soubessem a tensão daquele momento.

– Anda comigo, precisamos de falar. – ordenou Carlos, pegando o Duende pelo braço.

– Eu não fiz nada... – respondeu-lhe o jovem, entre o surpreendido e o assustado.

– Não te vai acontecer nada se fizeres o que te mando... – e aproximando-se do ouvido do rapaz, segredou-lhe – Estou armado, por isso não tentes nenhuma graçola.

O rapaz acenou afirmativamente com a cabeça. Tudo correra como previsto, pensou o polícia enquanto os dois se dirigiam ao carro, já que somente meia dúzia de pessoas se tinha apercebido.

– Ora bem, tu tens duas hipóteses. Primeira, tu dás-me o dinheiro do produto que andas a vender. Eu não te conheço, tu não me conheces e a história acaba bem. Segunda, a história acaba mal.

Felizmente para ambos, o Duende decidira pelo final feliz e assim Carlos pode pagar uma das prestações em atraso.


Este texto foi escrito como trabalho de um grupo de escrita.

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