sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Nem mais um passo atrás! - parte 3/3


O início está presente em: http://pedro-cipriano.blogspot.co.uk/2012/08/nem-mais-um-passo-atras-primeira-parte.html

A segunda parte pode ser encontrada em: http://pedro-cipriano.blogspot.co.uk/2012/08/nem-mais-um-passo-atras-segunda-parte.html

Os relatórios das preparações alemãs continuaram a chegar mas, como ditador autoritário, não pudera crer que a situação pudesse ficar fora do seu controlo. Quando finalmente se convenceu que a invasão era iminente, dera as ordens para ficarem em alerta máximo contra uma ofensiva. Muitos dos oficiais da marinha e do exército simplesmente ignoraram-nas, por não acreditarem nessa possibilidade. Para a maioria das unidades, a ordem não chegou sequer a tempo.
Quando as notícias catastróficas da invasão chegaram aos seus ouvidos, ele simplesmente se deixara afundar na cadeira, ficando calado. Se o avanço alemão se tivesse mantido com a mesma velocidade, teria chegado a Moscovo em poucas semanas, como fizera em França. As suas assumpções erradas e maus cálculos tinham-no levado àquele ponto, e o pior era que, em grande parte, a culpa fora sua. Durante as primeiras horas, face aos relatórios desastrosos da frente, até considerara a hipótese duma tentativa de acordo de paz com a Alemanha, concedendo os territórios dos países de Leste.
A Rússia perdera quantidades gigantescas de homens e material nos primeiros dias da guerra. Naquele momento, mais de um ano depois, estava em risco não só o plano, como também a sobrevivência da própria nação.
Ioseb soubera exactamente quais as forças dos alemães e quais as suas, previra uma vitória fácil, mas não havia sido esse o resultado. O factor surpresa, aliado a tácticas militares mais avançadas, fora decisivo. Definitivamente, tinha sobrestimado a sua força militar e subestimado a do inimigo. Tinha ignorado os sinais antes da invasão, pensando não passarem de um jogo político de Hitler para ganhar mais alguns territórios.
Ioseb ainda não se convencera totalmente que a sua interferência política no exército, durante os anos 30, pudesse ter sido o ponto de partida para esta situação, apesar de saber que algumas pessoas fossem secretamente dessa opinião.
A culpa era, sem dúvida, do exército, que não cumprira o seu propósito. Tinha enviado divisão atrás de divisão contra os alemães no ano anterior, tudo sem qualquer resultado aparente, nada tinha sido capaz de pará-los. Corriam informações controversas de que alguns russos não só se haviam rendido, como haviam escolhido lutar ao lado dos alemães. Era verdadeiramente ultrajante alguém trair assim a Terra-Mãe.
O problema da disciplina era o único que poderia resolver naquele momento, esperando que isso fosse suficiente para virar o rumo dos acontecimentos.
― Faltam-nos ordem e disciplina nas companhias, nos regimentos e nas divisões, nas unidades blindadas e nos esquadrões da Força Aérea. Esta é a nossa maior falha. Temos que introduzir a mais precisa e forte disciplina no nosso exército, se queremos salvar a situação e defender a Terra-Mãe. Não podemos mais tolerar comandantes, comissários e oficiais políticos cujas unidades deixam a defesa relaxar. Não podemos mais tolerar o facto de que comandantes, comissários e oficiais políticos deixem os cobardes mandarem no campo de batalha, que os vendilhões de pânico levem outros soldados na sua fuga e deixem o caminho aberto para os inimigos. A partir de agora, vendilhões de pânico e cobardes deverão ser mortos no local.
Ioseb iria basear-se no que os alemães haviam feito para aumentar a disciplina na Wehrmacht. Bastava copiar a solução deles e aplicá-la no exército russo. Deveriam remover as insígnias a cada um desses militares e enviá-los para batalhões penais. A ideia da redenção através do sangue agradava-lhe bastante. Se resultara com a Alemanha, porque não haveria de resultar na União Soviética?
― A partir de agora, a disciplina será aplicada rigorosamente a cada oficial, soldado e oficial político. A partir de agora, nem um passo atrás sem ordem superior. Os comandantes de companhias, batalhões, regimentos e divisões, assim como os comissários e os oficiais políticos das patentes correspondentes, que recuarem sem ordens superiores, serão denominados traidores à Terra-Mãe. Serão tratados como traidores da Terra Mãe. Isto é um chamado da nossa Terra-Mãe. Cumprir esta ordem significa defender a nossa nação, salvar a nossa Terra-Mãe, ultrapassar e destruir o nosso odiado inimigo.
Esses batalhões penais seriam colocados nas secções mais perigosas da frente. Lavariam as suas faltas com o seu sangue. Iria guardar esses batalhões com outros batalhões mais leais e mais bem armados, que disparariam contra quem tentasse fugir. Não iria deixar que os alemães atravessassem o rio Volga, era altura de mudar o rumo aos acontecimentos.
Terminou as alterações ao discurso, especialmente nos detalhes em relação às medidas a aplicar. Devolveu os papéis a Aleksandr que voltou a deixar a sala.
Duas horas mais tarde, Aleksandr voltou com o documento corrigido e dactilografado. Ioseb Stalin assinou então o documento que ficou oficialmente conhecido como ordem número 227; porém, para o comum dos soldados, a ordem ficara conhecida como “Nem mais um passo atrás!”, uma ordem que seria apreciada por poucos e temida por muitos.


FIM

Este capítulo foi retirado do primeiro livro da trilogia de Estalinegrado, porque não estava relacionado directamente com as personagens principais. Apenas o publico aqui num exercício de pesquisa e ambientação do resto do livro.

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