quarta-feira, 9 de maio de 2012

Ensaio sobre o futuro de Portugal, do seu povo e da sua cultura - parte 7/7

A primeira parte está disponível em: http://pedro-cipriano.blogspot.de/2012/05/ensaio-sobre-o-futuro-de-portugal-do.html

A sexta parte deste ensaio pode ser encontrada em: http://pedro-cipriano.blogspot.de/2012/05/ensaio-sobre-o-futuro-de-portugal-do_08.html

Educação


Em Portugal, a educação tornou-se mais acessível durante os últimos cem anos ao ponto de se ter tornado obrigatória para todos. Todavia, a qualidade da mesma fica aquém das reais necessidades. A educação é servida como qualquer outro bem ou serviço, de uma forma impessoal e distante. Sendo que a educação interfere em períodos críticos da formação de valores e personalidade, a sua influência não deve ser desprezada.
Várias imperfeições afectam severamente a qualidade e utilidade da educação, hoje em dia. Pretende-se passar o maior volume de conhecimento possível, aumentando o número de horas que os alunos são retidos nas escolas, contudo, o ensino e estímulo ao pensamento crítico ainda é praticamente inexistente. O pensamento holístico é desencorajado e há uma especialização quase ao ponto do ridículo pois o mundo do trabalho assim o exige, deturpando a imagem global da realidade e descartando todos aqueles que não estão habilitados ou não sou capazes de uma tal focalização. A oferta e procura estão desajustadas criando desemprego em todas as áreas de formação, pois criam-se cursos sem empregabilidade originando armadilhas e becos sem saída para os menos informados. A formação não está completamente acessível a todos, pois propinas e outros custos impedem que realmente haja liberdade de escolha nos caminhos académicos. O racionalismo excessivo em algumas áreas impede a abertura de horizontes para outras dimensões do ser. Por fim, o conhecimento excessivamente teórico e desajustado da realidade faz com que haja um grande hiato entre o que se aprende e o que se pratica.
Convém referir que os factores económicos e políticos condicionam a educação pública que temos, pois há interesses adjacentes à forma como é organizada e, claramente, não são os interesses da população e nem sequer minimamente compatíveis. O panorama nos outros países não é melhor pois, em geral, os mesmos erros são cometidos um pouco em todo o lado, nalguns casos por negligência e noutros de forma intencional.
Em Portugal há a agravante do sistema de ensino ter sido importado de outros países. Usamos a receita, ou melhor, uma mistura de receitas, esperando que resolva os problemas, quando, na verdade, é a a fonte da maioria deles. À semelhança de outros países, paira sobre os portugueses a ameaça da privatização da educação por via das pressões geradas pela dívida externa, pois pretende-se que este sector fundamental passe para o controlo de empresas sem escrúpulos e cujo único interesse é o lucro.
As consequências de uma educação sem qualidade não são visíveis de imediato, sendo que apenas a geração seguinte as irá reflectir. Infelizmente, os primeiros sinais já surgem, fazendo adivinhar um futuro nada promissor. Os receptores da educação de hoje serão os professores de amanhã, de modo que se poderá cair num ciclo vicioso sem fim à vista.
Existem alternativas a este cenário negro, sendo um exemplo os planos sugeridos por Agostinho da Silva para uma educação ajustada ao meio e à realidade, que junte tanto a teoria como a prática. A sociedade assumiria a educação como uma das suas obrigações, fazendo com que cada um se responsabilizasse por ela. Deixaríamos de ter um tempo, um local e uma idade para a escola, passando a haver uma formação contínua, totalmente gratuita, dada e recebida por todos, estando adaptada às necessidades e que abrisse os horizontes a todos.
É pertinente questionamos-nos se dará Portugal um exemplo de uma educação de qualidade ou continuará a copiar os paradigmas estrangeiros.

Conclusão


No próximo século, vários desafios se apresentarão a Portugal e ao seu povo. Este artigo abordou alguns desses desafios com destaque para algumas tendências. Contudo, reconheço que está incompleto e, por vezes, tendencioso devido às minhas convicções. Seria de uma arrogância imperdoável assumir o contrário.
No geral, dois caminhos foram apresentados, um primeiro em que as tendências actuais são seguidas com os seus defeitos até ao extremo; e um segundo em que há uma ruptura em relação a essas tendências e se evolui por outro caminho, guiando o país para uma realidade deferente. Não me considero pessimista ao ponto de afirmar que se seguirá pelo primeiro caminho, nem idealista afirmando que se se seguirá o segundo. As minhas expectativas, que espero ser mais realistas, apontam-me para um caminho intermédio.
Daqui a 100 anos o mundo terá mudado e, com ele, Portugal. Diversos autores escreveram sobre o futuro, muitos expressando as suas preocupações, as quais hoje nos parecem excessivas mas que, pelo contrário, ajudaram a despertar a consciência para problemas escondidos. Outros criaram visões de mundos, que a maioria considerou utópicas, talvez numa tentativa de inspirar as gerações vindouras para a construção de um mundo melhor, que ainda não se realizou. Nem uns nem outros acertaram, ficando geralmente a realidade contida entre essas duas fronteiras imaginárias.
Espero que o povo português possa tomar consciência destes desafios e se empenhe numa mudança que não seja arrastada pelas linhas invisíveis de uma elite. Só assim pode Portugal realmente cumprir-se. Um Portugal de Quinto Império: ideal, exemplo e ponte entre a diversidade do mundo.




Este pequeno ensaio foi escrito e publicado no nono volume da revista Nova Águia.
http://novaaguia.blogspot.de/

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