domingo, 29 de dezembro de 2013

Chá de Domingo #20: Balanço de 2013

Vamos lá a uma pequena retrospectiva do ano!

No desafio de Leitura da Goodreads, fiquei-me pelos 60 livros, ou seja, muito aquém do objectivo de 100. Em 2014, vou tentar de novo a mesma meta.

O grande ponto alto e, infelizmente, também o mais baixo foi o concurso de escrita para cinema em que participei. Bom porque consegui chegar à final e porque divulguei bastante a minha escrita, mau porque a votação final foi marcada pela fraude de um dos concorrentes.

Em termos de publicações de contos, este ano fiquei-me pela Lusitânia 2 com A Carta. Publiquei um pequeno ensaio O mar e o Ser Português no número 11 da revista Nova Águia. Contudo, foi um ano muito produtivo no Fantasy & Co, com diversos contos a serem publicados no blogue:
Para além disso, o Fantasy & Co lançou a antologia O Legado de Eros, na qual tenho o conto A Primavera. O meu conto Anjos da Morte foi publicado no Blogue Sofá dos Livros.

Não consegui terminar nenhum livro, apesar de ter participado em dois Camp Nanowrimo, mas realizei o beta reading de dois livros.
Para além disso lancei o meu primeiro ebook, uma colecção de contos do meu universo ficcional Era Dourada, que já recebeu várias opiniões muito positivas: http://pedro-cipriano.blogspot.pt/2013/09/criticas-compilacao-de-contos-da-era.html

Por fim, durante o ano de 2013 nasceu a Editorial Divergência, na qual fui fundador. Com este projecto editorial pretendo agitar o merca do de ficção especulativa em Portugal, promovendo novos autores. Até ao momento foi um desafio aliciante.

No blogue, iniciei a rubrica Chá de Domingo, a qual teve uma resposta muito positiva. Procurei abordar temas de interesse geral para os amantes da literatura e considero que fui bem sucedido. Fiz também reviews aos livros que li e divulguei projectos de outros escritores. Os artigos mais lidos do meu blogue foram:
  1. Operação Curta Metragem: Comunicado Final
  2. Passatempo Madalena Santos
  3. Chá de Domingo #1: Deitar Livros para o Lixo
  4. Procuram-se Leitores Beta: A menina dos Doces
  5. Procuram-se Leitores Beta: Caderno Vermelho

Escrevi também a minha tese de doutoramento, que me deu a volta ao miolo e tornou as postagens do blogue em fôlegos erráticos e com uma qualidade um pouco abaixo do normal durante as últimas semanas do ano. Em resumo, foi um ano muito produtivo a todos os níveis. Encerro esta retrospectiva com votos de um excelente ano 2014 para todos os leitores do meu blogue e amantes de literatura em geral.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Livros: How to Kill a Mockingbird

Já há algum tempo que andava para ler este livro. Um clássico destes é incontornável!



Autor: Harper Lee
Sinopse: You never really understand a person until you consider things from his point of view .. until you climb into his skin and walk around in it."
Tomboy Scout Finch comes of age in a small Alabama town during a crisis in 1935. She admires her father Atticus, how he deals with issues of racism, injustice, intolerance and bigotry, his courage and his love.
 
 
Devo confessar que achei o início é um bocadinho penoso e que algumas personagens são um bocadinho superficiais. Então porque é que decidi dar uma classificação tão alta? Para começar, não é fácil escrever um livro do ponto de vista de uma criança. Depois, o tema era bastante controverso na altura em que foi escrito e, para terminar, apesar de todos o problemas literários, é uma história que se lê bem assim que o bichinho pega.

A abordagem aos temas do racismo e hipocrisia é feita de um modo que o livro pode ser lido até pelos mais novos, se bem que o modo tão prolixo, que às vezes dá a sensação que o narrador está a divagar, em que foi escrito poderá afastar os leitores mais jovens. O resultado final acaba por ser mais um documentário do Sul dos Estados Unidos da América durante os anos 30 do que uma história para jovens.

Recomendo a todos os que se interessarem pelo tema e que tenham coragem para enfrentar um início mais monótono. 
 
Classificação: 4 estrelas

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Feliz Natal: Compilação de Contos da Era Dourada

Aproveitando a época natalícia, decidi dar um presente aos meus leitores: a partir e hoje, o ebook Compilação de Contos da Era Dourada passou a ser grátis!



Uma guerra mundial pelos recursos energéticos mudou a face do planeta, levando a espécie humana perto da extinção. Cinco séculos, depois, a revolução industrial acontece pela segunda vez, fazendo ressurgir os mesmos desafios.

Inclui os contos:
- A Alvorada
- A Escuridão
- A Alergia
- O Monstro e a Musa
- O Fruto Proibido

Podem descarregar o ebook em: https://www.smashwords.com/books/view/356796

Podem consultar e deixar as vossas opiniões em: https://www.goodreads.com/book/show/18489978-a-era-dourada

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Livros: Sermões

Este livro já estava na minha estante há anos. No outro dia deparei-me com ele e achei que estava na altura de o ler.






Autor: Padre António Vieira
Texto introdutório: Padre António Vieira (Lisboa, 6 de Fevereiro de 1608- Baía a 18 de Julho de 1697) tinha seis anos quando foi para o Brasil. Aos 15 anos descobriu a vocação religiosa e deu entrada na Companhia de Jesus. Ordenado sacerdote em 1635, não tardou a dar mostras de uma percepção excepcional para os problemas sociais e de uma grande facilidade para a retórica e para a escrita. Entre os seus textos imortais destacam-se, por exemplo, o Sermão da Sexagésima e o Sermão de Santo António aos Peixes. Estas duas obras constituem apenas dois exemplos que sustentam a forma como Fernando Pessoa o recordou: "Imperador da língua portuguesa".



Não é um livro de fácil leitura: Tem frases em latim e conteúdo filosófico e teológico tornar-se por vezes bastante complexo. Contudo, é graças a estes sermões que o Padre António Vieira foi considerado por Fernando Pessoa como o imperador da língua portuguesa. Título aliás bem merecido, já que os sermões e cartas estão escritos numa prosa riquíssima. Os temas são abordados de um modo bastante vanguardista para a época e, em especial o sermão aos peixes, são tão actuais como quando foram escritos.

É um livro que recomendo a todos os que queriam enriquecer a sua cultura em língua portuguesa.

Classificação: 4 estrelas




quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Ebooks Grátis! II

O sucesso da primeira postagem foi tal que se tornou uma das mais vistas do blogue. Muito obrigado por ajudarem a divulgar esta iniciativa! Entrando no espírito natalício e dando a conhecer o que melhor fazem os escritores portugueses, vou listar mais oito ebooks grátis disponibilizados pelos autores Carlos Silva, Olinda P Gil, Manuel Alves e Joel G. Gomes:


https://www.smashwords.com/books/view/329054

Carlos Silva

Quando o balão de Filipe é atacado por piratas, longe está ele de adivinhar que irá ser salvo pelos tripulantes de Dandeleão,uma enorme cidade voadora capitaneada por Dom Miguel Faria.
Deslumbrando pela maravilha de engenharia, Filipe vai mergulhando no dia a dia da nave sem suspeitar do seu tenebroso segredo.


https://www.smashwords.com/books/view/286747

Olinda P. Gil

Este conto, escrito em finais de 2003, foi 3º prémio de prosa no concurso literário “Lisboa à Letra” em 2004. Foi publicado numa brochura da Câmara Municipal de Lisboa (AAVV. Lisboa à Letra 2004: Câmara Municipal, Lisboa, 2004. Depósito Legal: 210685/04) 




https://www.smashwords.com/books/view/248770

Joel G. Gomes

Dois escritores em mundos diferentes.Duas histórias que se tornam realidades. Onde fica a barreira?



https://www.smashwords.com/books/view/308547

Joel G. Gomes


Um olhar humorístico sobre Portugal durante o ano do Centenário da República.

Joel G. Gomes

Sequela de "Um Cappuccino Vermelho".

Lucas vive preso à sua rotina, sempre receoso de que o menor deslize atraia atenção indesejada para si e para os segredos que esconde. Durante muito tempo, Lucas consegue manter um perfil discreto, mas tudo ameaça mudar quando se depara com uma imagem surgida do nada. Uma imagem que o irá obrigar a questionar tudo o que sempre conheceu.


https://www.smashwords.com/books/view/255763

Manuel Alves

Lantis é um jovem brilhante, e uma das pessoas mais inteligentes do mundo. Atly é o seu irmão mais novo, sempre metido no seu mundo de fantasia, constantemente a inventar histórias povoadas de criaturas lendárias. Quando o pai, um conceituado cientista, os leva à Reserva dos Dragões, para estudar fendas sísmicas, Atly descobre algo que ameaçará a existência do próprio planeta.


https://www.smashwords.com/books/view/255680

Manuel Alves

Z vive confinado numa sala branca e vigiado por um sistema de segurança criado especificamente para o conter. Z é o último de mil crianças nascidas de úteros artificiais, dotado de um extraordinário poder de raciocínio e capacidades físicas que o colocam um degrau acima da evolução humana. Z tem um plano para escapar mas, para isso, terá de enfrentar o seu carcereiro e criador: o Professor, um homem frio e metódico, possuidor de um intelecto que rivaliza com o de Z.



Boas Leituras!

domingo, 15 de dezembro de 2013

Chá de Domingo #18: Editoras (mais uma vez...)

Aqui vamos para uma postagem bastante atrasada. Andei quase duas semanas a pensar como deveria abordar este assunto.


E aqui vamos de novo, depois das bocas que tenho ouvido: Há três tipos de editoras: as que publicam, as que editam e as que editam e publicam!

Editoras que editam e publicam são aquelas que melhor conhecemos, ou seja, as editoras comerciais de grande público. Sobre essas não tenho mais nada a dizer!

Também não tenho mais nada a dizer sobre as editoras que só publicam, como é o caso das editora levianas.

Por fim, há editoras que editam mais do que publicam. Editam e editam. E porque é que editam tanto? Editam tanto porque recebem muitos manuscritos com baixa qualidade e necessitam de muito trabalho para encontrar manuscritos que valham a pena publicar. Esta é a razão que leva essas editoras a não publicarem com tanta frequência, já que cada livro representa um grande investimento. Os escritores que publicam o seu primeiro livro precisam de muito apoio e supervisão para poderem gerar um trabalho com qualidade. E claro, os editores ainda estão a aprender. Uma editora, como qualquer outro negócio, necessita de tempo desde que abre as portas até mostrar o seu produto.

Tenho dito!

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Concertos Memoráveis - Parte 1/2

Dei por mim a pensar nos concertos mais memoráveis a que já assisti. É verdade que não vou a muitos concertos, mas alguns dos que fui foram memoráveis. Não consigo ordená-los, porque cada experiência foi única e especial à sua medida e é impossível comparar.


The Gift

Maio 2006


Na altura, era uma das minha bandas favoritas e quando cheguei ao concerto sabia a maioria das músicas de cor. Em grande parte por culpa desta musica.



O concerto aconteceu na semana do enterro e foi um dos poucos anos em que eu comprei o bilhete geral, para ter a certeza que não falhava este concerto em particular. Apareci lá bastante cedo e consegui ficar quase nas primeiras filas. O público acompanhou a maioria dos refrões, não me deixando passar vergonhas. Os The Gift envolveram-me do início ao fim do concerto e não deixaram de fora os meus temas favoritos.



Staind


Janeiro de 2009

Staind era e ainda é uma das minhas bandas de referência. Na altura que fui ao concerto, a minha música favorita era:



Cheguei ao local mais de duas horas antes do concerto porque não tinha bilhete. Desde que tinha sabido do concerto que tinha andando à procura de bilhete, só para descobrir que já estavam esgotados. Não sei como, alguém me vendeu um bilhete plus special guest por 50 euros (o normal custava 33) e acabei por assistir em primeira fila. Os Staind não cantaram a musica do vídeo, mas tive sorte em apanhar uma das palhetas que o vocalista atirou no fim de So Far Away.


Avenged Sevenfold


Novembro de 2010


Esperei anos para ver esta banda! Uma das minhas músicas favoritas deles é:



Infelizmente não consegui chegar cedo o suficiente e por isso tive de assistir bem cá de trás. O alinhamento desse dia fui muito bom, contando com o baterista dos Dream Theater para substituir o The Rev que havia falecido recentemente. Um dos momentos altos foi quando ele subiu para cima da bateria, continuando a tocar. O outro momento memorável foi quando eles fizeram um homenagem ao ex-baterista com So Far Away.


Mariza

Maio de 2008

Não houve qualquer publicidade à vinda de Mariza a Vagos, apesar de ser um concerto de entrada livre!



Na altura, não conhecia quase nada do repertório dela. A ida ao concerto aconteceu de um modo inesperado: num Domingo ao fim da tarde decidimos ir, porque ficava perto e porque não se pagava. Não me arrependi. aliás, gostei tanto que comecei a ouvi-la e agora é uma das presenças obrigatórias nas minhas playlists.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Ebooks grátis!

Andam por ai bibliófilos a queixar-se que não tem nada que ler! Eu compreendo-vos e por isso vou deixar-vos algumas sugestões para as carteiras mais magras, ou seja, ebooks grátis! Vejam o que os autores Olinda P. Gil, Ana C. Nunes e Carlos Silva têm para vos oferecer:


Olinda P. Gil

Vila de Cobres
Num Alentejo após a Revolução Industrial, que afinal não existiu, um engenheiro inglês toma-se de amores por uma alentejana ruiva.


Piano Surdo
Conto que retrata a loucura de uma pianista após um acidente que a deixou surda.


Na Estrada de Mértola  Durante uma viagem nocturna uma jovem tem uma surpresa desagradável


Ana C. Nunes

A Última Ceia - Um conto de Terror Natalício 
O Natal é uma época para a família, em que os membros que não se vêem há muito tempo, se reúnem à mesa, partilham histórias, sonhos, alegrias e uma refeição tradicional. Mas neste Natal a ceia é tudo menos convencional. Uma delícia que poucos têm oportunidade de provar. Uma refeição pode esconder muitos segredos …


A Heroína e o Guerreiro
A grande e única Heroína, acompanhado do seu fiel Mascote , são a nossa última esperança. Conseguirão eles reescrever a história do planeta, ou serão eles a sua perdição? Não percam as aventuras ilustradas deste duo.


Carlos Silva

Urbania
Que influência terá sobre Lisboa a cidade em movimento, onde os sonhos e a lucidez se vendem como um mero produto? As duas cidades estão em rota de colisão e Hugo sabe que é a única oportunidade de alguma vez conseguir passar de uma para a outra, mas para isso terá de compreender o que os Lobos lhe dizem. Um romance sobre ciclos que se cruzam e entrecruzam, onde a única constante é a mudança.


Phantasia
Micro-contos de ficção especulativa que prometem ir dar um passeio com as ideias dos leitores, mostrando-lhes novos miradouros para as paisagens de sempre. "Sobre a nudez forte da verdade - o manto diaphano da phantasia" - Eça de Queirós


A Ceia
O Natal é um tempo de paz, harmonia e alegria. Joaquim a nada disto terá direito ao ter aceite passar a noite de consoada com a tenebrosa família da sua noiva, que transformará um simples jantar num festival de horror e constrangimento.


Boas leituras!

domingo, 8 de dezembro de 2013

Chá de Domingo #17: Estantes de Livros

Tenho quase a certeza que todos os amantes de livros já passaram (e passam muitas vezes) por esta situação.


Às vezes, dou por mim admirando a estante dos livros por ler, numa tentativa fútil de tentar escolher o próximo que vou ler. Nessas alturas sinto-me como aquela senhora da anedota, que tem o armário cheio de roupa e mesmo assim queixa-se que não tem nada que vestir. Quem é que nunca passou por isto?

Muitas das vezes, a indecisão deve-se a manias, preguiça ou ambas. Manias é quando não me apetece um livro de um determinado assunto/género/idioma. Preguiça é quando acho o livro muito grande, que me vai consumir muito tempo, ou muito pequeno, que não vai chegar para o dia e me vai obrigar a carregar com mais do que um volume.

No meu caso, a escolha do livro a ler acontece muito antes de o começar a ler. Por exemplo, neste momento ando a ler Clash of Kings antes de adormecer, levo os Sermões para ler nos transportes públicos e comecei a ler To Kill a Mockingbird. Assim que acabar de ler os Sermões, irei começar a levar o To Kill a Mokingbird comigo e como o livro está no fim, não tardarei a ter de escolher o próximo. Olho para a estante e não me consigo decidir. Tenho a certeza que é por a escolha ser tanta! Acho que devia começar a fazer uma votação para escolher o próximo livro a ler com a ajuda do público!

Até parece que a estante dos livros por ler se tornou parte da paisagem. É como se inconscientemente já tenha decidido que irei comprar mais livros, ao invés de ler os que estão nessas prateleiras. Lastimável é a triste realidade de um triste bibliófilo!

Acontece-vos o mesmo com frequência? Como lidam com a situação? Como escolhem o próximo livro a ser lido?

sábado, 7 de dezembro de 2013

Novidades - Dezembro 2013


Mais uma vez vou alterar a estrutura de postagens deste blogue. Desde de Setembro que andava pelas quatro postagens por semana devido às muitas críticas que tinha de fazer aos livros que tinha já lido. Agora vou passar para as duas, à quarta e à sexta, para poder ter mais tempo para terminar a revisão do "Caderno Vermelho" e da "A Menina dos Doces".

Em Janeiro irei fazer o meu Nanowrimo atrasado, já que este ano a tese de doutoramento me ocupou o mês de Novembro. A história já tem nome e os preparativos vão bastante avançados.

Em breve haverá alguns passatempos com alguns prémios. Fiquem atentos!

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Livros: Antic Hay

Encontrei este livro no lixo. Só esteve algumas semanas na minha prateleira até chegar à sua vez de ser lido.



Autor: Aldous Huxley
Sinopse: London life just after World War I, devoid of values and moving headlong into chaos at breakneck speed - Aldous Huxley's Antic Hay, like Hemingway's The Sun Also Rises, portrays a world of lost souls madly pursuing both pleasure and meaning. Fake artists, third-rate poets, pompous critics, pseudo-scientists, con-men, bewildered romantics, cock-eyed futurists - all inhabit this world spinning out of control, as wildly comic as it is disturbingly accurate. In a style that ranges from the lyrical to the absurd, and with characters whose identities shift and change as often as their names and appearances, Huxley has here invented a novel that bristles with life and energy, what the New York Times called "a delirium of sense enjoyment!"


Muitos críticos o comparam ao The Great Gatsby, mas eu considero que está a um nível inferior. Sendo este o segundo livro de Huxley, eu esperava uma melhoria. Infelizmente, considero que está pior. Comecemos pela estrutura: as primeiras páginas fazem antever uma história sobre as calças pneumáticas do senhor Gumbril Jr., contudo, a história não se foca nisso, nem sequer nele. A perspectiva muda de personagem sem qualquer aviso e a narrativa não parece ter outro propósito que não o de escarnecer a sociedade pós Primeira Guerra Mundial. As personagens são caricaturas óbvias mas que não dão vontade de rir, excepto as hilariantes aventuras do Homem Completo. O autor perder-se com frequência e divaga sobre assuntos que não interessam, ou pelo menos não me interessaram.

Apesar dos problemas narrativos, recomendo o livro a todos os se interessam pelo trabalho de Huxley e/ou que se interessam por livros do género do The Great Gatsby.

Classificação: 3 estrelas

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

A Passagem Uivante - Parte 2/2


A primeira parte está disponível em: http://pedro-cipriano.blogspot.de/2013/11/a-passagem-uivante-parte-12.html

Fernando questionava-se como é que o pequeno estado podia ter aspirações tão megalómanas. Mantinham quase um décimo da população em serviço militar efectivo. Cerca de meio milhão de homens combatiam em duas frentes contra os dois estados vizinhos. Para quê, era a questão que poucos se atreviam a fazer em voz alta. E quando alguém ignorava essa regra informal, a policia do exército encarregava-se de resolver celeremente o caso.
Imobilizar veículo! – ordenou o comandante. – Artilharia fixa, 2300 metros às 11 horas.
Fernando travou a fundo, parando o tanque em poucos metros. A sua posição de condutor não lhe permitia ver o alvo.
Gui, dá-me uma munição explosiva! – pediu o atirador.
Ouviu-se o clique da abertura da culatra da arma e da munição a deslizar para o interior. A artilharia foi trancada logo de seguida.
Houve um impasse de alguns momentos enquanto o atirador tentava encontrar o seu alvo. A torre rodou lentamente.
Fez-se luz por via de um foguete de iluminação. Fernando sentiu-se pequeno, blindados pintados de verde sob um fundo de xisto e granito eram tão visíveis como ervilhas no meio do arroz. Ouviram-se vários disparos, incluindo o do seu próprio tanque, que o deixou meio surdo. A escuridão regressou um par de segundos depois.
Avançar! – comandou o tenente, cuja ordem se sobrepôs ao zumbido nos ouvidos.
A resposta do inimigo não se fez esperar sob a forma de alguns disparos que aterraram nas proximidades. Pareciam estar a apontar ao acaso, já que não caiam sequer perto do estreito caminho percorrido pelo batalhão.
O primeiro batalhão entrou em contacto com o inimigo – informou o rádio uns minutos depois.
A ponte está guardada por blindados! – reportou um dos tenentes num tom nervoso.
Não pode evitar estremecer ao perceber que o seu batalhão acabara de entrar na batalha. O chão estremeceu com ele, aquando de uma explosão nas imediações. Os canhões responderam.
A segunda companhia está a ser flanqueada. Inimigo às 2 horas – berraram através do rádio, tentando sobrepor-se ao barulho infernal.
Dá-me uma perfurante! – pediu logo o atirador.
A terra tremeu e o chão faltou-lhes por baixo do tanque. A inclinação do tanque e a queda foi a última coisa de que se apercebeu antes de perder os sentidos.

***

Sentiu o sol aquecer-lhe a face. Deixou-se estar imóvel, saboreando aquele momento. Ao abrir os olhos, o sorriso desvaneceu-se quase instantaneamente. O que restava do seu batalhão estava cercado por soldados desconhecidos. A cabeça doía-lhe e o sangue empastava-lhe o cabelo. O olhar dos seus companheiros transparecia o que se havia passado.
Precisava de encontrar Roberto. Havia algo que precisava de lhe dizer. Escrutinou o pequeno grupo sem encontrar a face dele.
Outro grupo de prisioneiros era escoltado pelos austurianos. Os soldados caminhavam cabisbaixos e com um aspecto miserável em direcção aos restantes. O coração batia-lhe descompassado, pensando que Roberto poderia estar naquele grupo. Os estrangeiros começaram a espancar um dos soldados que se atrasara.
Qual o futuro de um soldado raso capturado? A solução mais benevolente e honrada era o fuzilamento. Tudo o resto era demasiado desumano e apenas um adiar do inevitável.
Sentiu os olhos a humedecer. Talvez o seu tanque tivesse escapado à emboscada. Ou poderia ter fugido a coberto da noite.
Voltou a observar cada um dos rostos, incluído os que estavam feridos. Não o encontrou entre eles. Alguns cadáveres estavam ao lado e, num impulso masoquista, tentou distinguir quem teriam sido os seus antigos donos.
Alguém lhe tocou no ombro. Virou-se. De gatas atrás de si estava um homem de cabelo encaracolado e olhos verdes. Ao reconhecê-lo, o que restava da sua esperança morreu. Era o condutor do blindado de Roberto.
Ele quis que ficasses com isso – disse, estendendo-lhe um envelope.
Obrigado – balbuciou sem saber o que dizer.
Não estava sequer selado. No interior encontrava-se um único pedaço de papel com um poema.

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal! ”

Tinha sido uma boa escolha, pois nesse momento já as lágrimas lhe corriam pela cara. Porque é que haveria ele de lhe deixar como legado um envelope com um poema proibido? Os antigos Portugal e Galiza tinham dado origem a três estados independentes. Qualquer referência ao passado e à união era proibida.

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena. ”

Tudo tinha valido a pena, mesmo que no fim nunca lhe tivesse dito. Nem precisava, Roberto sempre soubera.

Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu. ”

Levantou-se e fitou os soldados inimigos. Eles observaram-no um pouco nervosos. O vendaval uivou através do vale que era suposto a sua divisão conquistar. Largou o envelope e ele foi levado pelo vento. Os soldados colocaram os dedos nos gatilhos. O mundo havia-lhe retirado tudo.
Tudo, excepto a escolha do momento da sua morte.

 

FIM

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Livros: Contos do Nosso Tempo

Ganhei este livro num sorteio mas esteve na prateleira cerca de um ano, até eu o ler.


Autor: Vários, com a coordenação de Miguel Almeida
Texto da contra-capa: Em traços livres e desassombrados, esta colectânea alimenta-se da matriz que nos deixaram os Grandes Mestres do Conto: o fulgor narrativo e a essencialidade da linguagem.
"O conto é uma forma literária encantadora", disse Trindade Coelho, acrescentando: "E o maior assunto, ou o mais complexo, cabe no conto, pela mesma razão que nas proporções delicadas de uma miniatura pode caber, desafogado, um grande quadro."
Nesta obra, cada autor, cada história, cada conjunto de histórias, assumiu o risco da sua liberdade criativa, assim como o desejo de escrever pelo puro prazer de escrever e a vontade de partilhar.




Em muitos dos contos, fartei-me de consultar o índice, para ver quantas é que teria ainda de suportar enquanto desejava que realmente os autores se tivessem alimentado da matriz deixada pelos grande mestres. Esta é uma daquelas antologias em que não tenho dúvidas em que não houve qualquer tipo de selecção. Eu sei que é uma afirmação dura de se fazer, mas a qualidade da maioria dos textos está num nível muito fraco. O coordenador ou o editor fez um trabalho muito fraco e não tenho reservas em afirmar que a qualidade desta antologia se deve a ele, até porque os contos assinados por ele não se destacavam em termos de qualidade. Quantos aos autores, alguns escrevem muito mal, outros escrevem mal e só alguns o fazem a um nível razoável, mesmo no caso desse últimos, fica a impressão não foram convenientemente ajudados a melhorar os textos. Em resumo, os grandes defeitos dos contos são: má/ou completa ausência de estrutura, palavras/expressões demasiado rebuscadas/desadequadas, demasiado contar e pouco mostrar, mau uso do cliché e falta de revisão. No total, a obra merece uma estrela e só recebe as duas devido a um reduzido número de contos que conseguiram chegar a um nível razoável.

Não recomendo este livro aos amantes de contos.

Classificação: 2 estrelas

domingo, 1 de dezembro de 2013

Chá de Domingo #16: Vanities e Crowdfunding

Uma bronca destas tinha de estalar, era só uma questão de tempo!


Antes que me crucifiquem por opiniões que nem sequer tenho, gostaria de deixar aqui bem claro que não tenho nada contra o crowdfunding feito por artistas que gostariam de divulgar o seu trabalho e não tem dinheiro para o fazer.

E já agora, aproveito para dizer que não tenho nada contra vanities. É um negócio rentável e só cai nos esquemas quem quer. Um bocadinho de pesquisa é quanto chega para se perceber a seriedade dessas empresas prestadoras de serviços.

Não há nada de mal num autor que investe o seu dinheiro numa edição de autor de um livro que foi ignorado pelas editoras tradicionais. Não é uma decisão muito sensata, se ao invés da edição de autor, decidir dar o dinheiro a uma vanitie. Não é sensato, mas não é de todo errado, pois só aceita os termos do contrato se quiser. Não é mau se o autor pedir dinheiro para uma edição de autor através de crowdfuding. Só não acho muito correcto que faça crowdfounding e depois vá dar o dinheiro a uma editora. Porque é que não acho correcto? Porque quem estiver a ajudar na campanha, estará a ajudar mais a empresa prestadora de serviços do que o autor. É verdade, a editora prestadora de serviços irá ficar com a fatia mais gorda dos lucros, quer o livro venda ou não venda.

Agora o que eu não tolero é uma editora, que se tenta fazer passar por séria, recorrer a este método. Ai tal que o crowdfunding é fixe! É fixe, mas é para ser usado com um mínimo de ética. Acho inaceitável uma editora fazer um concurso em que o prémio é a publicação, mas só se arranjarem 90% dos fundos através de crowdfunding. Melhor ainda, os autores é que estarão responsáveis pela divulgação do projecto. Estão a ver onde isto irá parar?

Parece-me que haverá umas 30 almas penadas que irão andar a angariar fundos para essa tal editora séria. A primeira metade do dinheiro irá parar-lhes aos bolsos quando receberem o dinheiro do crowdfunding. E a outra metade irá se conseguirem vender os livros. Dizem eles que financiam 10%. Mas 10% do quê? Afinal são eles que decidem o custo total. Portanto é todo ganho. Um ganho imoral, fazendo-se valer do esforço e do investimento de terceiros. Para mim, isto não é uma editora séria em lado nenhum!

Uma pequena adenda: eles assumem-se mesmo como uma crowdpublisher!

sábado, 30 de novembro de 2013

Caderno Vermelho: Balanço das Leituras Beta

Dou por terminada a fase de leituras beta do meu livro Caderno Vermelho.*

*Eu sei que ainda há algumas pessoas que ainda não entregaram a ficha de leitura. Estão sempre a tempo de o fazer, mal posso esperar para saber as vossas opiniões!





Quero agradecer às minhas sete leitoras e ao meu leitor beta por se aventurarem nos meandros da minha poesia com retoques de manifesto.

Fiquei positivamente surpreendido com as críticas. Uma das coisas que irei alterar é a capa, mas as restantes alterações sugeridas não irão dar muito trabalho. Assim, espero dar o livro por terminado dentro de uma ou duas semanas, para dar início à próxima fase: a publicação.

Fiquem atentos, haverá novidades em breve!

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Treinos de artes marciais: Haidong Gumdo

Ao navegar nos recantos da Internet, numa pesquisa sobre artes marciais, descobri umas imagens interessantes. O conteúdo é de tal maneira épico, que não podia deixar de partilhar. É assim que treinam os melhores da Europa:


quarta-feira, 27 de novembro de 2013

A Passagem Uivante - Parte 1/2


Este texto foi publicado no primeiro número da Revista Lusitânia.

Fernando apreciava o pôr-do-sol contra o horizonte escarpado. O vento assobiava pelas encostas e a Este o fumo subia. O jovem Cabo tentou ignorar os motores dos aviões que rugiam sobre a sua cabeça. A guerra rodeava-o a cada momento e a cada instante ele tentava esquecê-la.
Alguns soldados acendiam fogueiras no meio do acampamento. Sabiam que a paz naquele regimento blindado era algo temporário, mesmo assim estavam determinados a preparar o seu jantar como se de mais um dia vulgar se tratasse. Depois de seis anos de guerra contínua, era difícil ver as coisas de outra maneira.
A divisão blindada do Sul esperava ordens para entrar na batalha. Haviam defendido a linha do Mondego durante seis meses e estavam com a capacidade de combate reduzida. Tanto os reforços como as peças necessárias à reparação haviam chegado nessa tarde. Nem umas nem outras haviam sido suficientes para suprir as faltas.
Não penses tanto, não é saudável – pediu-lhe Roberto, sentado nas rochas a seu lado.
Levantou a cabeça e olhou-o nos olhos. Aquele rapaz de cara longa e nariz proeminente era um dos poucos que conseguia desligar-se da realidade. Os seus olhos castanhos irradiavam uma força de vontade contagiante. Enfrentava a vida com um sentimento de epicurismo notável, incluindo até os oito anos de serviço militar obrigatório.
É difícil. Eu penso muito nas coisas que o meu pai me contava. Sabes, ele falava-me de como as coisas eram antes da grande guerra.
Sim, antes. Antes de eu ter nascido. Eu sei o que sentes... – concordou, espelhando o olhar de saudade por algo que nunca havia conhecido.
Muitos sentem o mesmo – olhou para o céu que escurecia com um olhar sonhador. – A Europa já foi só uma. Depois foi o Norte contra o Sul. E, depois, a ocupação. Eu era apenas uma criança de berço. A primeira coisa que me lembro foi do fim da ocupação. As ruas em festa. Insensatos, se soubessem o que os esperava...
Deixa-te disso e vamos comer. Tu precisas é de beber algo para esquecer. O que foi já não volta, não vale a pena chorar.
Tens razão – olhou subitamente Roberto nos olhos. – Sabes uma coisa? Tu és para mim com um irmão mais novo.
Não digas parvoíces. Hoje vais beber a minha porção de vinho a ver se te eleva o espírito – gracejou, levantando-se e estendendo a mão a Fernando.
Ao fundo ouviu-se o chorar de uma guitarra portuguesa. Quando um homem tinha de reter as lágrimas, a guitarra assumia a tarefa de as libertar.

***

Somente o rugir dos motores perturbava a calma escuridão. Não os esperava o descanso nocturno em sacos cama estendidos por baixo dos tanques. Uma fila indiana de blindados percorria os caminhos da encosta. O exército era alimentado por combustível de origem vegetal, cujos motores tinham um rendimento menor, fazendo as tácticas militares serem muito semelhantes às de um século atrás.
As ordens de combate haviam sido distribuídas a seguir ao jantar. Era suposto avançarem durante a noite numa ofensiva através do vale. Iriam contribuir para um movimento de pinça com o objectivo de cercar o exército que guardava as fronteiras do estado das Astúrias.
O Major prometeu-lhes que seria um ataque decisivo e que lhes traria uma vitória rápida. Poucos foram os que tentaram acreditar e ainda menos os que conseguiram. Pelo menos havia a esperança de que a escuridão os protegeria dos aviões, o maior flagelo de uma divisão blindada.
Quase imerso pela escuridão, Fernando conduzia o veículo couraçado pelo estreito carreiro. Apenas um luar pálido permitia distinguir as formas grosseiras do terreno. A cadeira reclinada era o lugar mais confortável daquela arma antiquada. O resto da equipa mantinha-se atenta a eventuais perigos. Cada blindado era usado por uma equipa de seis membros: o comandante, o condutor, o operador de comunicações, dois armadores e o atirador.
Enquanto o blindado rastejava, Fernando ia perdido nas suas considerações. Roberto, o irmão que sua mãe não lhe pudera dar, era o carregador de um do tanques daquela fila. Muitas vezes dava por si a pensar se irmão era o que lhe queria chamar. Numa sociedade tão fechada como a do pós-colapso da União Europeia, aquele tipo de pensamentos não eram vistos com bons olhos. Quase tudo passara a ser proibido e o resto era tabu. E havia medo.
O segundo batalhão encontrou resistência blindada - transmitiu o rádio.
Daqui fala o Major Pereira. As ordens são para prosseguir com o plano – ouviu-se pouco depois.

A segunda parte está disponível em: http://pedro-cipriano.blogspot.de/2013/12/a-passagem-uivante-parte-22.html 

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Livros: O Romance da Raposa

Eu já tinha lido este livro quando era um rapazote, mas quando me deram uma cópia há umas semanas atrás, não resisti em ler de novo.



Autor: Aquilino Ribeiro
Sinopse: O Romance da Raposa (1924) é uma narrativa infantil de requintado virtuosismo estilístico, substituindo as ilustrações a preto e branco que forma utilizadas a partir dos anos 60 pela originais a cores da autoria de Benjamim Rabier numa solução plástica que se adequa na perfeição à fábula.Esta edição de Romance da Raposa é, assim, um regresso à versão original de um livro que gerações e gerações de crianças leram.



Apesar de ser um livro para crianças é uma leitura muito agradável também para adultos. Escrita num género fantástico em que os animais adquirem características humanas, quase em género de fábula. Contudo, não é um género fantástico vulgar do tipo das histórias "Era uma vez...", sendo um romance mais terra-a-terra com traços realistas.

As peripécias da Salta-Pocinhas, onde ela prima pela astúcia e engenho, levam-nos às serras portuguesas, polvilhadas de animais típicos de Portugal. Invoca um passado saudoso em que ainda havia raposas e lobos nas nossas florestas. As ilustrações não se ficam atrás: a dos três lobitos me tinha ficado na memória até hoje. Balanço feito, coloco este livro quase ao nível do principezinho.

No final do livro há a transcrição de duas pequenas entrevistas com o autor, que ajudam os mais crescidos a perceberem a génese da obra.

Recomendo tanto aos mais novos como aos mais velhos! É uma leitura indispensável!

Classificação: 5 estrelas

domingo, 24 de novembro de 2013

Chá de Domingo #15: O Valor de um Escritor

Dei comigo a pensar para o meus botões como é que se mediria o valor de um escritor.


O normal é valorizar-se o escritor pelo número de exemplares vendidos. Os editores ostentam esses números nas capas dos livros com todo o orgulho, como se indicasse o valor do conteúdo. Há os que vendem milhares logo na primeira semana e são catapultados para os tops, mas será isso real? Muitas vezes não é! Descobri recentemente que, com algum dinheiro, o meu livro pode tornar-se top mundial de vendas ainda antes de ser lançado, bastando pagar a uma companhia que compre os livros.

Se não é pelo número de exemplares vendidos, também não é pelo número de leitores que realmente lêem. Consigo pensar numa mão cheia de casos em que publicaram, venderam milhões, foram lidos aos milhares e nem por isso tinham qualquer mérito. E de certeza que há muito mais!

Poder-se-ia pensar no valor de um escritor pelo domínio da língua em que escreve: pela quantidade de palavras que consegue empregar, pelo uso correcto das figuras de estilo e pela inovação linguística. Valorizar um escritor só por isso, para além de ser redutor, corre-se o risco de se valorizar textos demasiado rebuscados, numa prosa púrpura totalmente intragável.

Se se valorizar só o conteúdo, corre-se o risco de se chegar a brilhantes ensaios que ninguém tem pachorra para ler. Escolher um escritor que já tenha uma grande carreira é apenas sinónimo que ele escreveu em quantidade e já se sabe que não há uma relação linear com a qualidade. Se optarmos, em exclusivo, por quem inova na forma, podemos cair em exageros ilegíveis. Claro que podemos dizer que só os clássicos têm valor, mas ai caímos no extremo da negação da inovação, sabendo que muitos clássicos só o são num determinado contexto e porque eram fora de série quando foram escritos e seriam clichés se o fossem nos dias de hoje. Por fim, apostar em autores premiados, estamos apenas a basearmos-nos no critério de júris que nem sempre são imparciais, para além de que muitos prémios atribuídos, incluindo o Nobel, tem uma certa componente política.

Assim sendo, como é que se define o valor de um escritor? Creio que é um pouco de tudo em quantidades moderadas. Qual a vossa opinião?

sábado, 23 de novembro de 2013

Novidades - Novembro 2013



Neste fim-de-semana decidi actualizar o meu blogue. Dei uma limpeza na página dos projectos, acrescentei as mais recentes contribuições na página das publicações e mudei algumas coisas na página sobre mim. Para além disso, modifiquei o layout. Espero que gostem!

Contudo, a maior novidade são os serviços de edição. Decidi aplicar os conhecimentos que adquiri como escritor e editor na Editorial Divergência para ajudar escritores a melhorar os seus manuscritos.


Os primeiros dois manuscritos que receber terão o serviço completamente grátis.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

A Primavera - Parte 2/2


Este conto faz parte da antologia Legado de Eros:

Podem encontrar a primeira parte em: http://pedro-cipriano.blogspot.de/2013/11/a-primavera-parte-12.html

As sirenes ouviram-se a meio do jantar. Num momento de hesitação, mãe e filha fitaram-se. Ana levou a taça à boca e sorveu o resto da sopa sem respirar. Levantou-se num pulo e foi ao quarto buscar um cobertor, encontrando a mãe à porta com uma vela e fósforos. A progenitora trancou a porta, havia sempre quem se aproveitasse da confusão para se apoderar do alheio. Desceram as escadas, saindo pelas traseiras do prédio.
Apressaram-se a galgar os degraus que conduziam ao abrigo. A construção subterrânea em betão maciço fora feita para proteger os residentes do edifício. Contudo, mal havia espaço para todos se sentarem. Assim que fecharam a porta, Ana sentiu falta de ar. Ficara com um medo irracional de espaços fechados depois de quase ter sido soterrada num bombardeamento. Nesse Inverno era pouco mais do que uma criança e trauma mantivera-se até à idade adulta.
Aconchegou-se o melhor que pôde, partilhando o cobertor com a mãe e o espaço com duas dezenas de pessoas. A área era semelhante à do seu quarto. Não havia janelas. A porta era reforçada e do exterior pouco mais se ouvia que o alarme. A luz mantinha-se acesa, espalhando uma parca luminosidade pelas paredes nuas e faces receosas. Só podiam esperar.
― Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo ― iniciou alguém.
― Ámen ― responderam em coro.
Debitando a oração sem ter de pensar, Ana fixou o olhar nos chinelos. O pensamento voou para a estação de São Bento, meio ano antes. Lá fora as folhas castanhas caíam das árvores. Miguel envergava o seu uniforme novo e a metralhadora pendia nas costas. Cumpria o destino de todos os rapazes que haviam nascido em 2019. A mãe chorava. Ana também não conseguiu conter as lágrimas. Só o pai e os irmãos pareciam conseguir aguentar a tensão do momento. O revisor apitou.
Sem se preocupar com o que os pais iriam pensar, lançaram-se num beijo apaixonado, perdendo-se nos lábios um do outro. Durou um momento apenas, mas foi como se uma vida inteira se tivesse passado. O amor de ambos estava definitivamente selado.
Separaram-se. Miguel correu para a carruagem, galgando os degraus no último momento. As portas fecharam-se. O comboio desapareceu. Foram precisos vários minutos para que ela se atrevesse a mexer um único músculo.
No abrigo a oração terminava, recomeçando logo de seguida. Ana olhou para a lâmpada solitária, esperando que o seu amado estivesse livre de perigo.


Ao ouvirem a artilharia rugir, os soldados aninharam-se na vala. Miguel segurou a arma com força e deitou-se de barriga para baixo. A água ensopou-o de imediato e a lama infiltrou-se em cada poro. Ajeitou o capacete, mantendo a boca aberta, como lhe haviam ensinado. O salvo aterrou ali perto. Não tardou que os canhões daquele lado do rio respondessem com a mesma ferocidade.
Um foguete iluminou o céu. Miguel ergueu-se, sem se preocupar com a gosma que o cobria. Mais foguetes subiam, tornando a noite em dia. Ouviu o soltar da patilha de segurança de uma metralhadora.
Aventurou um olhar, o inimigo atravessava o rio. As primeiras balas foram disparadas. De quando a quando uma tracejante definia a trajectória. Os morteiros iniciaram a sua maldita tarefa. As primeiras explosões acertaram ao lado, mas não tardou que cada munição despedaçasse uma pequena embarcação. Os inimigos não pouparam nas munições, atingindo a trincheira. Manteve-se imóvel, numa crença parva de que isso o poderia salvar
Assim que os primeiros barcos chegaram à costa, Miguel soltou o trinco da arma. O combate era inevitável.


No abrigo, as pessoas ainda rezavam. Enquanto as bombas caíam, a oração continuou. A filha de três anos dos vizinhos de cima começou a chorar e a mãe pouco mais pôde fazer do que pegá-la ao colo. A prece persistiu num tom monocórdico.
Ali perto, uma rápida sucessão de explosões fez as paredes estremecerem e pequenos detritos caírem do tecto. A luz enfraqueceu por momentos.
Ana deu por si agarrada à mãe. Tinha saudades de quando era criança e não tinha de se preocupar com aviões, nem abrigos, nem morte.
O velhote que dirigia a oração apertava as contas do terço com tanta força que o sangue lhe havia fugido das falanges.
― Pai nosso que estais no céu... ― continuou o idoso
Ana começou a tremer. Desejava que o Pai estivesse mesmo no céu e não permitisse que esta selvajaria acontecesse.
― O pão nosso de cada dia nos dai hoje...
A luz falhou no meio da resposta.


O dedo de Miguel exerceu uma ligeira pressão no gatilho, disparando uma curta rajada contra as tropas que desembarcavam. Apontou para as silhuetas a poucas dezenas de metros, um dos vultos caiu e os outros lançaram-se ao chão. Não os conseguia ver claramente, o que não o impediu de atirar até ficar sem balas.
Agachou-se, soltando o carregador, substituindo-o pelo que tinha no cinto. Levantou-se de novo, tentando deter o avanço das sombras rastejantes. As explosões sucediam-se. As munições esgotaram-se. Mais uma vez, trocou o carregador.
Ao elevar-se, foi projectado para trás. Uma bala atingira-o por cima do olho direito. Morreu antes de chegar ao chão.


No abrigo, a mãe da Ana foi a mais rápida a reagir, acendendo uma vela. A oração tinha terminado. O silêncio e o medo imperavam sobre aquelas almas. Os ouvidos ainda zumbiam e não deixavam ouvir mais nada do que se passava no exterior. Ninguém se atreveria a abandonar a casamata antes que as sirenes voltassem a tocar.
De súbito, o barulho de motores fez-se ouvir sobre as suas cabeças. A explosão foi ensurdecedora e o abrigo sacudido com violência. Ana percebeu que a bomba deveria ter atingido o seu prédio.
O prédio desabou um segundo depois sobre o abrigo, fazendo-o colapsar. Uma das pedras atingiu Ana na cabeça. Ela perdeu os sentidos, entrando num sono do qual não iria acordar.


Quando amanheceu, as flores lilás jaziam espezinhadas. As folhas e pétalas haviam sido separadas do talo e estavam espalhadas pela terra negra, misturadas com fragmentos de músculo, ossos, metal, sangue e madeira. Uma pétala perdida parecia adornar um dos cadáveres desfigurados, dando-lhe o único funeral que provavelmente receberia. Iriam passar muitas primaveras antes que voltassem a crescer flores naquela margem.

FIM



quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Livros: Death is a lonely business

Encontrei este livro numa loja de livros de segunda mão, como estava interessado no trabalho deste autor, decidi levá-lo para casa.


Autor: Ray Bradbury
Sinopse: The image of drowned circus cages in the trash-filled canals of Venice, California, both haunts and illuminates famed fantasy and science fiction author Ray Bradbury's rare venture into the mystery field. Like filmmaker Federico Fellini, Bradbury is fascinated by the seedy splendor of cheap carnivals and circuses--"a long time before, in the early Twenties, these cages had probably rolled by like bright summer storms with animals prowling them, lions opening their mouths to exhale hot meat breaths. Teams of white horses had dragged their pomp through Venice and across the fields."
But now it's the early 1950s, and foggy, shabby Venice is the last stop on the circus train for scores of old silent-movie stars and young writers trying to keep their art and their bodies alive. As Bradbury's autobiographical hero, a young writer, pounds out his short stories, someone is killing off the older denizens of the tacky city. The writer joins forces with a quirky detective called Elmo Crumley and a faded screen star to investigates the deaths. Their search begins and ends in one of those iconic, waterlogged cages.



Para começar, considero a escolha de um autobiográfico Ray para personagem principal um golpe de génio, que mostrou que ele ainda não se tinha esquecido do que era ser um escritor nada famoso. Qualquer escritor amador se irá rever nalgumas das peripécias e tiques descritos.

Quanto à história não é ficção cientifica, começa lenta, sem que para isso deixe de prender o leitor. A tensão vai subindo até a um clímax nada expectável. As personagens são excêntricas quanto baste. O cenário ajuda bastante à trama, assim como a ingenuidade da personagem principal. O conjunto escrito num estilo noir, dá um livro bastante agradável de se ler.

Aproveito para deixar aqui a minha citação favorita:

"A day without writing was a little death.”

Recomendo a todos os escritores amadores e amantes de histórias de suspense.

Classificação: 5 estrelas

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Anjos da Morte


Bruno sabia que o inimigo ia chegar a qualquer momento.
Alinhou o avião com a pista e levou o motor ao máximo de rotação. O caça ganhou velocidade, percorrendo a faixa delimitada pela dupla fileira de luzes. Ia a meio da pista quando o aparelho de João levantou voo. Esperou uns segundos e puxou os controlos, consciente que outro avião o seguia. A aeronave deixou o solo, seguindo a de João.
Rangeu os dentes e apertou os comandos com força para não tremer. Era a sua primeira missão e a cidade estava sobre ataque. Faltavam uns minutos para o ano novo e metade dos pilotos estavam bêbados.
– Que altura mais conveniente para um bombardeamento – dissera-lhe Ricardo, momentos antes.
A noite e a poluição luminosa não o deixavam ver quase nada. Continuou a ganhar altitude até ultrapassar a cobertura de nuvens. Descreveu uma longa circunferência tentando localizar os restantes membros do grupo. A luz pálida do luar fê-lo encontrar as silhuetas dos três aviões sob o seu comando.
– Delta Quatro para Deltas. Sigam para Sul – ordenou pelo rádio.
– Delta Um para Delta Quatro. Recebido – confirmou um deles, sendo imitado pelos restantes.
Os colegas formaram num trapézio tridimensional, como tantas vezes haviam treinado.
– Base para Deltas. Alvo a Su-sudest, seis unidades, altitude 1100 metros, visível em dois minutos.
O grupo tomou a nova rota. Ricardo estava bêbado e João andava com a cabeça no ar por causa da enfermeira do F2. O maior trunfo de um piloto é a concentração. Quatro contra seis naquelas condições era arriscado.
Um movimento à esquerda chamou-lhe a atenção.
– Delta Quatro para Delta Três. Caça inimigo às 10 horas – comunicou ao seu par, fazendo o avião ganhar altitude.
Delta Três mudou de direcção, descrevendo um longo círculo, aproximando-se do oponente pela esquerda. Delta Quatro passou várias centenas de metros acima dos dois. Bruno viu o avião de Ricardo, Delta Três, envolver-se numa disputa por uma boa posição para disparar. Bruno deu meia volta, começando a descer e os dois pilotos entraram num movimento em forma de espiral.
Sentiu a aeronave ganhar velocidade, esperando que o par do outro caça estivesse ocupado com os outros Deltas. Os dois combatentes aproximavam-se com rapidez.
– Delta Quatro para Delta Três, cheguei.
Enquanto Bruno passava atrás dos dois aviões, continuando a descer, Ricardo quebrou a espiral, afastando-se. Perdendo o oponente de vista, o inimigo endireitou a aeronave, encontrando-o a umas centenas de metros. Esse foi o seu erro. Bruno usou a velocidade que trazia para subir, aproximando-se pelas costas, vindo de baixo e uns graus à direita, o ponto cego. Disparou duas curtas rajadas, apontando de forma a compensar o movimento do alvo. Deu uma guinada forte para a direita, afastando-se também.
Quando voltou a olhar, a aeronave inimiga deixava um rasto de fumo, o motor fora atingido. Não tardou que perdesse altitude, desaparecendo entre as nuvens.
– Caça inimigo fora de combate. Delta Quatro fez as honras da casa – ouviu Ricardo anunciar.
Os dois pilotos posicionaram-se de modo a poderem cobrir o ponto cego do companheiro, preparando-se para ajudar os outros.
– Caça inimigo fora de combate. Delta Um manda cumprimentos aos Lusos – celebrou João.
– Base para Deltas. Alvo a Nor-noroeste. Quatro unidades, altitude 700 metros. Distância 3000 metros.
O esquadrão deu a volta. O altímetro marcava 1200 metros, calculando que os inimigos estivessem abaixo da linha das nuvens.
– Delta Quatro para Deltas. Vamos acelerar ao máximo e fazer um Eder-Mayer – comandou Bruno, empurrando a alavanca ao máximo.
Os outros demoraram a confirmar, seguindo-o na descida. Ao atravessar a grossa camada branca, percebeu que eles tinham medo de executar a manobra. Todos tinham medo dessa. Conheciam até quem se tivesse mijado ao ensaiá-la em treinos. Quando a névoa se dissipou, viram-se rodeados de escuridão.
– Delta dois para Deltas. Inimigo à uma hora.
Bruno mal conseguia distinguir os contornos. Os quatro aviões continuaram com os motores no máximo. Calculou que se iriam cruzar com eles em dez segundos. Os caças passaram por cima dos bombardeiros. Houve uma breve troca de tiros. Os Deltas continuaram e os oponentes mantiveram a rota. Não havia danos severos. Bruno contou até vinte.
– Delta Quatro para Deltas. Quando eu disser um, virar, quando disser seis disparar, quando disser oito desviem-se. Apontar à cabine. Um – explicou Bruno, dando uma guinada para a esquerda.
– Dois.
O avião virava mais lento do que gostaria.
– Três.
Sabia que só tinham uma oportunidade.
– Quatro.
Nivelou o avião. Os inimigos estavam mil e quinhentos metros à sua frente.
– Cinco.
Apontou para a aeronave em frente. Eles aproximavam-se a uma velocidade vertiginosa.
– Seis.
Premiu o gatilho, esperando que as balas encontrassem o alvo a mil metros de distância.
– Sete.
Lembrou-se que João estava bêbado, só esperava que ele se conseguisse desviar a tempo.
– Oito.
Guinou para a direita, descendo. Os bombardeiros passaram a escassos metros. Ouviu um choque de metais, seguido de uma explosão. Deu meia volta, preparando-se para enfrentar as fortalezas aladas inimigas.
– Delta Um fora de combate.
A surpresa de ter sido Miguel a não se ter desviado só durou um momento. Um dos bombardeiros havia desaparecido, outros dois perdiam altitude rapidamente e o último descrevia uma curva tentando voltar para trás. O perfil estava exposto, tornando-o um alvo fácil. Bruno apontou e disparou contra o alvo indefeso.
A vitória pertencia-lhes. No solo, a cidade ardia com violência.