domingo, 16 de outubro de 2016

Chá de Domingo #96: Ainda Sobre o Cyberpunk - Parte 5/5

Esta será a última parte sobre a essência e origem do ciberpunk. Podem encontrar a primeira parte aqui, a segunda aqui, a terceira aqui e a quarta aqui.


"Há que compreender que o nosso tempo não tem nada de banal. A realidade que conhecemos é uma explosão de novidades a cada dia que passa. Nem todas as novidades são boas. É um tempo estranho e de certo modo desconfortável para se estar vivo. Mas, gostaria que sentisse o autor como uma presença... gostaria que entendesse que a coisa invisível nesta sala é a sensação presente de viver no tempo futuro, e não nos anos que nos antecederam. Ser um futurista não é ter sempre a cabeça levantada, à espera que o futuro chegue. É saber claramente onde se está e pensar como se pode melhorar. Só hoje, viva como se estivesse num condição própria de um universo de ficção científica."

"Não existem pessoas normais - olhe para a sua família, as pessoas que você conhece melhor. De uma maneira ou de outra, todos têm as suas esquisitices. Ainda assim a ficção convencional mostra-nos, na maioria das vezes, pessoas normais num mundo normal. A partir do momento em que escreve como se fosse o único anormal, sentir-se-á fraco e apologético. Estará motivado para ir com a corrente e com medo de fazer ondas - para que não seja encontrado. Pessoas reais são estranhas e imprevisíveis, por isso é que é tão importante usá-las como personagens ao invés dos estereótipos impossíveis do bom e do mau que a cultura predominante nos trás. A ideia de quebrar a realidade consensual é ainda mais importante. É aqui que as ferramentas da ficção especulativa são particularmente úteis. Cada mente é uma realidade nela própria. Enquanto as pessoas poderem ser enganadas pela realidade do telejornal, elas podem ser conduzidas como ovelhas."

"No final do século XX, o nosso tempo, um tempo mítico, somos todos quimeras, teorizadas e híbridos entre organismos vivos e máquinas; em suma, somos ciborgues. Ciborgue é a nossa ontologia; dá-nos a nossa política. O ciborgue é uma imagem condensada da imaginação e realidade, os dois centros conjuntos que estruturam qualquer possibilidade de transformação histórica. Na tradição da ciência e política ocidental... a relação entre organismos vivos e máquinas tem sido uma guerra fronteiriça. O que está em causa nesta guerra são os territórios de produção, reprodução e imaginação."

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