sábado, 28 de julho de 2012

O monstro e a musa - parte 7/12

A primeira parte deste conto pode ser encontrada em: http://pedro-cipriano.blogspot.de/2012/07/o-monstro-e-musa-primeira-parte.html

A sexta parte está em: http://pedro-cipriano.blogspot.de/2012/07/o-monstro-e-musa-sexta-parte.html

Perdido nos seus pensamentos, chegou rapidamente à estação de bombeamento de água que servia toda a cidade. O anterior sistema elevava a água através de uma corrente de baldes. Fora o primeiro local onde quisera intervir, pois uma pequena escassez de carvão poderia comprometer o fornecimento de água à cidade. Através de moinhos de vento e um reservatório maior, conseguira bombear quase um quarto das necessidades da cidadela. Tudo isso fora obtido sem necessidade de energia eléctrica, nem um grande aparato, o que significava que ainda teria um grande trabalho pela frente. Pensara em ligar vários motores eléctricos e armazenar a energia num condensador gigante. Assim, mais tarde, poderia ligar aos outros sistemas da cidade e fornecê-la mesmo quando não houvesse vento.
– Bom dia, Jorge – cumprimentou, aproximando-se do operador da maquinaria – como é que o sistema se está a portar hoje?
– Muito bem, ainda não foi preciso acender a fornalha. Estamos a bombear quase três mil litros por minuto. Estamos a poupar duzentos quilos de carvão por hora – reportou o homem que, apesar de ter a cara suja, apresentava um sorriso.
– Excelente. Algum problema técnico que eu deva saber?
– O mesmo de sempre... Quando há vento, conseguimos bombear mais água do que gastamos, só que é impossível guardar água para mais do que duas horas. Quando não há vento, temos de usar carvão.
– Obrigado. Estou perfeitamente consciente desse problema e estou a pensar numa solução – explicou Walter, despedindo-se do monitor.
Sem perder tempo, dirigiu-se à parte industrial da cidade. Ali estava um dos seus maiores desafios, o enorme elevador, cuja função era abastecer matéria-prima e comida. Provavelmente, era o projecto mais importante, pois o mecanismo gastava várias toneladas por dia. A sua primeira ideia fora represar um curso de água que passava ali perto e usar a força mecânica para elevar a mercadoria. A ideia não fora coroada com sucesso, pois a corrente não providenciava força suficiente para mover a maquinaria. Como segunda tentativa, fizera rodar um dínamo no interior de um enrolamento de cobre, criando uma corrente eléctrica por indução e, com isso, fizera funcionar um pequeno motor eléctrico, que não era mais do que inversão do processo anterior. A eficiência não era elevada, mas o facto de conseguir criar uma fonte de energia eléctrica contínua era um marco importante.
Desceu pelo teleférico até ao vale, tomando algumas notas sobre o progresso dos trabalhos. O plano era usar vários moinhos de água em pontos diferentes e ligá-los a vários motores, de modo a conseguir elevar a mercadoria sem usar carvão.
Ao chegar ao fundo, foi recebido pelos seus dois assistentes, ambos com um semblante carregado. Toda a área se encontrava vedada, pois vários acidentes tinham já ocorrido, felizmente nenhum deles ainda fatal.
– Bom dia, Paulo. Como é que estão a correr as coisas?
– Nada bem, houve outro acidente. Um dos nossos rapazes sofreu uma queimadura e está inconsciente. Felizmente, os médicos já o observaram e ele está vivo.
– Raios... – praguejou Walter, controlando-se de seguida – Menos mal que sobreviveu. Ninguém deve tocar nos cabos enquanto a máquina está em funcionamento. Avisei-vos desde o primeiro dia.
Calou-se, pois apercebeu-se que levantara novamente a voz.
– E que mais? – perguntou o inventor, depois de respirar fundo.
– Instalámos o segundo moinho. Parece ter apenas uma fracção da potência do primeiro, como previsto, mas o efeito é mais severo do que esperávamos – reportou o mais baixo do grupo.
– Provavelmente teremos de construir um dique e fazer fluir o ribeiro por um único moinho – comentou Walter, desanimado. – E tu, David, tens alguma novidade?
– Ainda nada, o cobre continua a aquecer mais do que esperávamos. Até agora não há problemas, mas quando a corrente aumentar, o sistema poderá não aguentar – respondeu o homem que, apesar de ser bastante encorpado, parecia recear o inventor.
– Temos de insistir com o pessoal da metalurgia para nos fornecerem fios com menos impurezas, o que significa que teremos de mudá-los todos e, provavelmente, também o enrolamento do indutor. Espero que pelo menos a eficiência aumente – explicou Walter, despedindo-se dos trabalhadores.
Tinha esperança que, ao diminuir a quantidade de carvão usada pela cidade, conseguisse operar o elevador a uma velocidade mais baixa e exclusivamente com energia eléctrica.
Tomou o teleférico de volta e amaldiçoou a velocidade a que este se movia. Ainda precisava de visitar o experimento mais importante, ao qual dedicava a maior parte do seu tempo. Quando a cabine parou no cais, ele saiu, com o intuito de chegar rapidamente aos jardins.
Ainda não tinha dado dois passos quando sentiu uma mão no ombro.
– Preciso de falar contigo – ouviu dizer uma voz familiar atrás de si.Apesar de ter reconhecido quem o chamava, quando se voltou ficou surpreendido por ver Eva. Esta estava com a cabeça tapada por um capuz e a sua expressão denotava um grande nervosismo.
– Ah, és tu! O que fazes aqui?
– Preciso de falar contigo, é urgente – pediu em voz baixa.
– Podemos falar logo a seguir à reunião. Agora estou atrasado e ainda tenho que ver a estação que construí no jardim – concedeu o inventor, mostrando intenção de continuar o seu caminho.
– Eu sei, mas isto é mais importante – silabou a rapariga, falando ainda mais baixo e notando-se um tom de aborrecimento com tanta hesitação.

A oitava parte está disponível em: http://pedro-cipriano.blogspot.de/2012/07/o-monstro-e-musa-oitava-parte.html

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