A primeira parte deste conto pode ser encontrada em: http://pedro-cipriano.blogspot.de/2012/07/o-monstro-e-musa-primeira-parte.html
A sétima parte está em: http://pedro-cipriano.blogspot.de/2012/07/o-monstro-e-musa-setima-parte.html
– O que é que pode ser mais importante que a reunião? – inquiriu Walter, ficando irritado com tanta insistência.
– A tua vida está em risco. Vem comigo, eu explico-te – ordenou Eva, agarrando-o pelo pulso.
Deixou-se guiar através das ruas estreitas. A sua mente tentava perceber porque razão a sua vida estaria em perigo. Qualquer que fosse o caminho que as suas assumpções seguissem, iam sempre parar a Artur. Percepcionava o líder do castro como um homem que não ligava a meios para atingir os fins. Por baixo daquela fachada de homem civilizado e educado, parecia haver um dirigente implacável e pouco tolerante. Questionava-se se ele seria capaz de o assassinar assim que terminasse a sua tarefa. Ao assumir o ponto de vista do governador, soube logo que seria isso que ele faria.
Eva parou num beco sem movimento. Walter notou que ela trazia os olhos vermelhos, deduzindo que estivera certamente a chorar.
– Eu acho que o meu pai descobriu a nossa relação... – revelou a jovem.
– Já percebi, eu falo com ele. Eu gosto de ti e caso contigo para não haver mais problemas. Já era tempo de assumirmos... – prometeu, pensado que ela estava a exagerar.
– Pára! Ele mata-te quando souber! – vaticinou ela, elevando a voz.
O inventor sabia ser uma pessoa respeitada no castro, em parte por ser honesto e também por estar a conseguir progressos, dos quais toda a comunidade dependia.
– Espera lá, quem é o teu pai?
– Artur Olivais, o líder do castro – revelou com um ar sério.
– Calma ai! Estás a brincar comigo, certo? – inquiriu Walter, forçando um sorriso.
– Não, eu nunca te mentiria... – protestou Eva, começando a chorar – eu nunca te disse, porque sabia que tu nunca te aproximarias de mim se soubesses. Sabes, eu apaixonei-me por ti desde o primeiro momento...
– Chega! Se ele vier a saber, vai-me matar de certeza! Como é que pudeste ser capaz de me fazer uma coisa destas? – ripostou o inventor, visivelmente furioso.
– Calma. Eu tenho um plano! Podemos fugir os dois...
– Fugir... – riu-se Walter histericamente, sentindo-se desesperado – Ninguém consegue fugir daqui.
Relembrou os gritos dos soldados ao serem brutalmente executados, quase que sentindo as dores que tal pena acarretava.
– Vais ter de confiar em mim.
– É mais fácil de dizer do que fazer – protestou, sentindo-se encurralado.
– Não confias em mim? – inquiriu Eva, com um olhar inquisidor.
– Claro que confio! – esclareceu, aborrecido por as conversas enveredarem sempre no mesmo sentido.
– Então age como tal. Agora vai à reunião e tenta agir normalmente. Daqui a algumas horas, eu explico-te o meu plano, ainda preciso de fazer mais uns ajustes.
Ela beijando-o e desapareceu de seguida por uma rua lateral.
Walter voltou à rua principal. Ao olhar a torre do relógio, percebeu que já não teria tempo para visitar o outro experimento. Tentou esconder as suas emoções enquanto se dirigia ao palácio, mas tal não era fácil devido ao tumulto que se tinha apoderado dele. Já dentro do palácio, compôs as suas roupas, retirou os papéis da pasta e esperou que o chamassem.A audiência iniciou-se à hora prevista. Ao atravessar o salão, não pôde deixar de se sentir mais oprimido do que se sentira quando ali fora trazido pela primeira vez. Era um homem morto, caso Artur desconfiasse.
O concílio estava reunido, mas o inventor sabia que a conversa aconteceria essencialmente entre ele e Artur. Inicialmente, o diálogo decorreu no mesmo tom educado a que estava habituado, com uma troca mútua de cumprimentos, seguindo a etiqueta. Durante o processo, observou o líder cuidadosamente, relaxando um pouco ao ver que não havia qualquer sinal que revelasse conhecimento da relação amorosa.
– Já chega de formalidades. Caro doutor Ramos, pode agora apresentar os resultados do seu trabalho ao concílio? – pediu Artur.– O projecto para a bomba de água foi aplicado e funciona como previsto
– Contudo, esse sistema ainda consome carvão...
– Exacto, depende do vento para erguer a água. Conseguimos bombear um pouco mais de água do que a cidade consome. Todavia, o reservatório não é suficiente para abastecer a cidade mais do que um par de horas. No entanto, devo sublinhar que conseguimos poupar várias centenas de quilos de carvão por dia.– Ninguém está a colocar isso em causa. Tendo em conta a crise que nos ameaça, este concílio não considera que isso seja suficientemente bom. Tem alguma sugestão de melhoramento? – inquiriu Artur, cujo tom de voz denotava impaciência.
A nona parte pode ser encontrada em: http://pedro-cipriano.blogspot.de/2012/07/o-monstro-e-musa-nona-parte.html
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