domingo, 14 de fevereiro de 2016

Chá de Domingo #70: Escrever um Conto - Parte 4

Vamos lá então à última parte do guia prático de como escrever um conto. Podem encontrar as partes anteriores aqui: parte 1, parte 2 e parte 3.


Conflito
Vamos começar pelo conflito. Já escrevi um artigo sobre isso, que podem encontrar aqui.

Gostaria de acrescentar mais alguns pontos. O conflito produz a tensão que dá início à história. O conflito é criado entre a personagem ou personagens e as condicionantes internas e externas. Balancear as forças em oposição é a melhor maneira de manter os leitores agarrados às páginas.

 Dicas para construir e manter a tensão:
  • Mistério: explique somente o suficiente para provocar os leitores. Não dê os detalhes todos de uma vez.
  • Balanço: dê a ambos os lados escolhas e poder para vencer o desafio.
  • Progressão: vá aumentando o número de obstáculos do protagonista e a sua dificuldade.
  • Casualidade: faça com o que as personagens que cometem erros sofram as consequências e dê recompensas às que não o fazem.
  • Surpresa: crie complexidade suficiente para que os leitores não possam prever o que vai acontecer muito antes que aconteça.
  • Empatia: faça com o leitor se ligue às personagens e se identifique tanto com as situações agradáveis como desagradáveis a que o protagonista é exposto.
  • Compreensão: revele algo sobre a natureza humana.
  • Universalidade: apresente um conflito que se ligue com a maioria dos leitores, mesmo que este seja específico de um determinado local ou era.
  • Alto risco: convença o leitor que o desenlace importa, visto que o protagonista com o qual se identificam, está prestes a perder algo muito valioso.
O ponto sem retorno
Este é um dos pontos mais importantes de toda a história. O protagonista tem de tomar uma decisão que o levará ao conflito final. A altura em que acontece é fundamental. Se acontecer antes dos dois terços da história, os leitores irão esperar uma reviravolta. Se acontecer depois disso, os leitores irão ficar impacientes.

Essa decisão não precisa de ser consciente. Pode ser apenas o protagonista aperceber-se de algo que não tinha notado antes.

Este ponto irá levar-nos à resolução do conflito. A tensão terá de aumentar, o leitor terá de ficar mais e mais preso à história.

Resolução
Este é o momento pelo qual os leitores esperaram o conto todo. O final deve recompensar os leitores. Não precisa de ser uma resolução definitiva, pode ser apenas um indício que as personagens ou a situação começou a mudar.

Tipos de final:
  • Aberto: Bradam desviou o olhar do padre e fixou-o na montanha.
  • Resolvido: Enquanto João observava, em desespero, Helena meteu as suas coisas no carro e foi-se embora.
  • Paralelo ao início: Eles conduziam o seu Chevrolet Impala de 1964 pela autoestrada com o vento a acariciar o seu cabelo. (...) O pai dela conduzia um Chevrolet Impala de 1964 novo, que substituiu o que ardeu.
  • Monologo: Gostaria que Tom tivesse tido os conselhos da irmã Dalbec antes que aqueles malvados tivessem levado a sua alma.
  • Diálogo: As personagens conversam.
  • Imagem literal: Os aquedutos estavam limpos e o sol brilhava uma vez mais.
  • Imagem simbólica: Ao olhar para o céu, viu uma nuvem em forma de cruz sobre o céu azul, nessa manhã quente.
Espero que esta série de artigos vos tenha ajudado. Caso tenham dúvidas sobre alguma parte ou gostassem de ver algum dos aspectos mais aprofundado, é só deixarem um comentário.

Esta série foi baseada e parcialmente traduzida a partir desta ligação.

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