A décima primeira parte pode ser encontrada em: http://pedro-cipriano.blogspot.de/2012/08/o-monstro-e-musa-decima-primeira-parte.html
Ao fim da tarde, a maciça porta de carvalho foi destrancada e Artur entrou.
– Tranquem-me e só abram quando vos der o sinal
Assim que cumpriram a ordem, ele virou-se finalmente para Walter.
– Não tentes nada de idiota – aconselhou, colocando a mão no punhal que trazia à cintura.
O inventor permaneceu sentado e limitou-se a acenar com a cabeça. O líder do castro retirou um pão da algibeira e atirou-lho. Assim que o apanhou, sem pensar duas vezes, começou a comê-lo. Não conseguia mais suportar a fome.
– Eu sei o que pensas de mim, que sou um monstro. Não é verdade? Não precisas de o confirmar. Lembras-te da analogia que eu te dei do jogo de xadrez, no nosso primeiro encontro? Porque raio é que tentaste passar-me a perna?
Walter comera demasiado depressa, de modo que interrompeu o discurso com um ataque de soluços. Artur esperou pacientemente que o inventor se acalmasse.
– Um monstro... até o meu próprio irmão ostracizei. Sabes qual foi a razão? Ele prejudicava o castro. Desde que lidero que nunca quis o poder como um fim, era apenas como um meio. A sobrevivência da minha comunidade é tudo o que me interessa. Eu sou responsável pela morte dos teus conterrâneos, já que eles nunca teriam fugido se não tivesse criado certas condições. E digo-te, durante o tempo em que liderei, nunca deixei de aplicar uma pena, independentemente da pessoa, desde que a culpa fosse estabelecida. Acho que estás a ver o que te espera. Agora diz-me, porque é que tentaste fugir?
– Eu tinha medo que descobrisse a relação amorosa que tinha com a sua filha.
Artur soltou uma gargalhada enorme.
– És um idiota, eu sempre estive um passo à tua frente. Sabia dessa relação antes de acontecer. Bastava observar a reacção dela quando eu lhe falava de ti ou cronometrar o tempo que ela passava no teu quarto. Devo dizer-te que ela foi a única pessoa que não tentei manipular. Infelizmente, nem o desafio de resolver um problema fulcral à existência humana, nem o medo, te conseguiriam prender aqui para sempre. Eu sabia disso, essa foi a razão de ter morto os outros cativos. Tudo para te impingir mais medo. A realidade é que, mais tarde ou mais cedo, eu sabia que irias fugir. No início, fiquei extremamente aliviado, pois parecia que a alavanca surgira onde eu menos esperava. Não ousei interferir, pois receava estragar tudo. Pelos vistos falhei, porque ela acabou por te incitar à fuga. Preciso de ti e não posso evitar matar-te, porque isso destruiria a ideia de justiça que tanto me custou a construir. Agora que já conheces o problema, propõe uma solução.
Walter olhou-o admirado e, em silêncio, a sua mente estava em branco. Aquele homem conseguira estar sempre vários passos à sua frente. Naquele momento, um sorriso aflorou-lhe aos lábios.
– Não preciso de propor uma solução porque você já tem uma.
– Aprendes depressa. Desisti da liderança assim que soube que havias sido capturado. O homem que irá tomar o meu lugar não tem um pulso tão forte e irá querer mostrar que é mais clemente que eu. Tal como eu, ele acredita que as tuas invenções são o melhor investimento que se pode fazer nesta altura. Ele irá castigar-te severamente, mas não ousará matar-te. A votação ainda não ocorreu, mas eu vou fazer tudo o que estiver ao meu alcance para que não surjam problemas.
– Porém... – desconfiou o prisioneiro. – Eu sei que esta oferta tem uma condição.
– Exacto. Três condições, aliás. Eu não queria falar nelas antes de saíres daqui, para ter a certeza que te vinculavas. Estou certo de que as irás aceitar de qualquer maneira. Portanto, terás de desistir da promessa de libertação e aceitar a cidadania do castro. Terás de resolver o problema energético e, por fim, casar com a minha filha.
– É tudo? – admirou-se Walter.
– Quer dizer... – confessou Artur, sorrindo – mesmo que eu te diga que sim, tu não irás acreditar em mim...
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