Um aspecto que tem potencial de consumir muito tempo na criação de uma história é a construção do mundo. Como qualquer outra vertente, despender pouco esforço irá causar tantos problemas como despender em demasia.
O que é a Construção de Mundos?
Há quem lhe chame, em português, mundicriação. Há quem pense na construção de mundos como o cenário da história, que de certo modo o é, mas nem só. O cenário é apenas uma das componentes. Quando falamos da construção do mundo, falamos da sociedade, costumes, economia, hábitos sexuais, religião, comida, construção e arquitectura, formas de viajar, política, valores morais, se gostam de tomar banho às quatro da tarde à segunda-feira, etc...
A Mundicriação serve a história
Toda a história começa com uma ideia, que geralmente se traduz num conflito. Depois de termos idealizado o conflito, o passo seguinte é encontrar as personagens que irão dar vida a esse conflito e, por fim, colocá-las num ambiente adequado. O mundo deve ser criado para acomodar essas personagens e esse conflito e não o contrário. Se derem mais importância ao mundo criado do que às personagens, acabarão por criar um mundo capaz de contar muitas histórias sem contar a vossa.
Algumas pessoas têm a tendência de gastar imenso tempo na criação de mundos. Apesar de até sentirem que estão a ser produtivas, não estão a avançar com a história. O objectivo não é criar uma enciclopédia, mas sim um livro de ficção. Tudo depende do tamanho da história. Se quiserem escrever apenas um conto com cerca de mil palavras, uma dúzia de frases sobre o mundo é suficiente. Por outro lado, se o objectivo for uma trilogia de 150 mil palavras em cada volume, será sensato elaborar todos os aspectos sobre o mundo. Apesar disso, se gastarem um ano a escrever um calhamaço sobre o vosso mundo sem avançarem uma única frase na vossa trilogia, é possível que estejam a ir na direcção errada.
Como fazer? (para escritores preguiçosos)
Nem sempre a preguiça é um defeito, em certas circunstâncias poderá até ser um virtude. No caso da mundicriação, há muitos autores que optam por uma abordagem de acrescentar aspectos à medida que vão escrevendo a história. Confesso que faço parte desse grupo. Parece-me mais orgânico desenvolver os detalhes à medida que são necessários à história do que fazê-lo de um modo independente. Essa preguiça acaba por ter um preço, que é obrigar na revisão a verificar cada um dos aspectos para ter a certeza que é compatível com a ideia final. Tem a vantagem de não se perder tempo a criar o mundo e avançarmos para a escrita, que é o mais importante.
Que detalhes dar ao leitor?
Alguns escritores preferem só dar os detalhes que são essenciais à trama. Deve-se evitar fazer isso, pois a história fica muito oca e parece não existir mais nada para além da trama. Pensem num jogo em que é muito fácil chegar às extremidades do mapa: o leitor irá aperceber-se disso. É preciso adicionar detalhes que tornem o vosso mundo, e por conseguinte a história, mais rico. Por outro lado, não precisam de descrever o brasão de cada família, os cortes de cabelo e cada pedacinho de relva do mundo. O equilíbrio é muito importante. Não há uma receita definitiva e depende do tipo de história que querem contar: em certas novelas fantásticas, o próprio mundo é uma personagem por si mesma, e noutras o tipo de mundo é quase ortogonal, não fazendo diferença se é assim ou o oposto.
Podem encontrar a segunda parte deste artigo aqui.
Este artigo foi adaptado a partir daqui.
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