domingo, 29 de maio de 2016

Chá de Domingo #81: Construção de Mundos - Parte 3/4

Como construir um mundo que enriqueça a história que queremos contar? Esta é a pergunta que vou tentar responder hoje, em continuação deste e deste artigos.


Misturar coisas
Vivemos numa era de misturas e do reviver de culturas. Tudo o que não é inteiramente novo parece uma mistura de coisas que já conhecemos. No caso da construção de mundos, isso não é de todo uma má abordagem. Pode até ser uma coisas divertida de fazer! Mas é preciso ter um certo cuidado, quero-se uma mistura que resulte numa poção mágica e não apenas a mistura de dois tipos de água. Misturar Star Wars e Star Trek não é tão interessante como misturar Orwell com Dune imersos na cultura Siberiana com o sentido de humor do Pratchett. Acima de tudo o importante é não se ser preguiçoso e previsível. Usa o máximo de ideias, o mais dispares possível, para criar algo novo e único.

O problema do homem branco
Voltando um pouco atrás, à parte dos estereótipos, o problema do homem branco é algo que infesta a literatura e não só. Os protagonistas são tantas vezes homens brancos e fortes que já começa a enjoar. Nem a criação de mundos se safa disso. Há uma tendência nefasta para haver o privilégio do homem branco. A maioria dos escritores dá a desculpa de que na idade Média a mulher era um mero acessório e só os homens é que mandavam. Para começar, o mundo criado não tem de ser fiel a nenhuma realidade histórica. Para continuar, a história não é tão preto no branco como a maior parte das pessoas pensam: por exemplo Elisabete I da Inglaterra. E para terminar, isto são só desculpas. Há que evitar o problema do homem branco como qualquer outro estereotipo.

O diabo está nos detalhes
É uma frase que todos conhecem e que se aplica que nem uma luva à criação de mundos. É fácil estabelecer, e perder-se, nos grandes pilares da mundicriação: história, política e religião. Uma consequência disso são os blocos de texto que enfiamos a martelo no meio da história. Agora voltando ao início: o diabo está nos detalhes, e são esses detalhes que fazem a diferença entre um construção de mundo bem sucedida e uma que aborrece de morte o mais persistente dos leitores. Mostra o que é que eles comem às diferentes refeições. Mostra o que é que eles bebem. Mostra como são as casas deles. Mostra! Mostra! Mostra! Esta é a melhor maneira de construir um mundo.

O diabo também está nas interacções
Oh sim! Da mesma maneira que se mostra os pequenos detalhes que compõem o mundo, também se deve mostrar as interacções. Mostra de que maneira partilham a comida. Mostra como é que tratam os superiores. Mostra como são as relações românticas e como é que encaixam na norma. Mostra o mundo através do que as personagens fazem e dizem.

O mundo está vivo
Outro erro comum é construir um mundo estático. O mundo não é uma enciclopédia de raças esquecidas e culturas mortas. Claro que essas raças esquecidas podem lá estar, visto que dão uma profundidade adicional ao mundo, mas não podem ser o centro do mundo. O pilar do mundo devem ser as personagens vivas, a fazerem coisas reais que mandam o mundo. Deve-se combater a tendência de criar um mundo rígido e a desculpa de que todos fazem o mesmo. O nosso mundo nunca foi estático nem rígido. Por exemplo, ao olhar para um certo país temos uma certa ideia de como ele é, mas isso não significa que todas as pessoas sigam a norma. As pessoas são seres vivos e fazem decisões, nomeadamente a de aceitar ou recusar parte da cultura em que estão imersas.

Cortar a palha
Há uma certa tentação de acrescentar certos detalhes só que os consideram geniais. Até aí tudo bem, mas é necessário garantir que eles se ligam ao resto da história. A desculpa de que é um detalhe altamente não é suficiente. Se um certo detalhe ou vertente não tem ligação ao tema, tom ou personagens, o melhor é deixá-lo de fora. Podem usá-lo mais tarde noutra história ou noutro mundo em que a sua aparição seja mais plausível. Afinal não querem que a vossa ideia genial seja apenas um detalhe numa história maior quando pode ter a sua própria história, pois não?


Adaptador a partir deste artigo.

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