domingo, 2 de outubro de 2016

Chá de Domingo #94: Ainda Sobre o Cyberpunk - Parte 3/5

Vou continuar a explorar a génese e essência do cyberpunk. Podem ler a primeira parte do artigo aqui e a segunda aqui.


"Há muita frieza no cyberpunk, mas é uma frieza honesta. Há êxtase, mas também terror... Esta geração terá de assistir a um século de desperdício e de descuido chegar aos limites, e todos sabemos disso. Nós teremos sorte em não sofrer a maioria das consequências devidas às atrocidade ecológicas cometidas; nós teremos imensa sorte em não ver milhões de humanos morrerem atrozmente na televisão enquanto nós, os ocidentais, ficamos sentados nas nossas salas de estar mastigando os nossos cheeseburgers. E isto não é uma excêntrica lamentação Boêmia; isto é uma afirmação objectiva acerca da condição do mundo, facilmente confirmada por quem tiver coragem para olhar para os factos. Esta prospectivas devem e tem que afectar os nosso pensamentos e expressões e, sim, as nossas acções; e se os escritores fecham os olhas a isto, então podem ser animadores, mas não estão aptos a serem chamarem-se a eles mesmos escritores de ficção científica."

"Cyberpunk foi atropelado na super auto-estrada da informação dos anos 90. Nem mais, nem menos. Bruce Sterling declarou-o mais ou menos morto em 1985, e estava certo; como movimento dentro a ficção cientifica o seu trabalho estava terminado. O mundo em que vivemos é o futuro do cyberpunk dos anos oitenta. Não é necessariamente uma coisa boa."

"Os meus amigos que trabalham na aeroespacial dizem-me que os veteranos que construíram a industria cresceram a ler Heinlein e Clarke, e foram para a aeroespacial para tornar essas coisas malucas que leram enquanto garotos em realidade como adultos. Bem, eu trabalho em supercomputação, e posso assegurar que esta industria está cheia de génios jovens que cresceram a ler Gibson, Vinge e Rucker - e sim, a mim - e vieram para este ramo pela mesma razão. Nós não vivemos no mundo que a ficção cyberpunk previu. Mas, vivemos num mundo que as crianças que cresceram a ler cyberpunk construíram, e isso é algo sem dúvida espectacular."

"Para mim, enquanto criança, ler cyberpunk era como ver o mundo pela primeira vez. O Neuromancer de Gibson não era só estonteante em termos estilísticos; parecia uma molde para o futuro que estávamos a construir. Eu lembro-me de ler Islands de Sterling na internet e, de súbito, perceber o potencial disruptivo da tecnologia assim que o acesso a ela se torna comum. O ciberpunk estava à porta. Não é o futuro a um quarto de hora daqui - é um futuro que te arrasta e te deixa num molde de corpo inteiro à sua passagem. Há uma necessidade enorme de corrigir a sua trajectória. A ficção cientifica perdeu a ligação à realidade. Os seres humanos não vão para a Lua, estamos a tornar-nos digitais. Alguém precisa de agarrar o género pelos colarinhos e puxa-lo - forçar os escritores a olharem para o presente e decifrar as suas implicações."

"O futuro encontra-se dividido; o futuro adorável e isolado que Joi Ito, Cory Doctorow, eu e tu habitamos, e o futuro gancho de açougue sombrio que a maior parte do mundo enfrenta, no qual eles veem os seus campos ocupados e sub-desenvolvidos tornarem-se num jogo gigante de Counterstrike entre filhos da puta jihadistas malucos religiosos e filhos da puta rednecks malucos religiosos Americanos, ambos fazendo o seu melhor para tornar o mundo inteiro num tipo de pesadelo fascista ou noutro. Claro que ninguém quer falar sobre o futuro, porque é deprimente e não é divertido quando não tens Fischerspooner a fazer a banda sonora."
- Joshua Ellis

Podem encontra a quarta parte desta série aqui.

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