sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Ebooks: A Ruiva

Este é uma daquelas novelas que deixou uma impressão forte através das imagens sórdicas.


Autor: Fialho de Almeida
Sinopse: Não tinha a menor ideia do que fosse ter mãe ou ter amigas. No seu contacto com a gente, entrevira apenas o tenebroso fundo de bestialidade que referve em cada homem, com um fragor de luxúria cruel. Vivera sempre em si própria, sem a reminiscência dum carinho que alma piedosa lhe houvesse prodigalizado. Quantos beijos deixara roubar aos moços do cemitério e quantas palavras tinha merecido aos gatos-pingados, todas vinham ervadas da mesma ideia e do mesmo intento. E assim crescera naquela incultura de espírito sem guia, sentindo dentro avigorar-se-lhe apenas uma tendência — a da cadela fértil, que vai entregar-se. Através da sensação rudemente nascida olhara o mundo, esfaimada e torpe como se fora um verme descomunal das sepulturas, incapaz, pelos desolados cenários que tinha contemplado nos seus dias de criança, de dar acesso na sua alma às multíplices emoções e susceptibilidades histéricas que fazem da mulher o precioso receptor das coisas mais subtis que a língua não exprime e os olhos mal sabem formular. (…) Foi o tio Farrusco quem cobriu de terra, sem comoção nem saudade, o corpo, espedaçado pelo seu escalpelo, da rapariga corroída de podridões sinistras, abandonada do berço ao túmulo, e pasto unicamente de desejos infames e de desvairamentos vis.


Infelizmente, a novela não começa logo na acção, mas dá-nos antes um detour para que nos preparemos ao que ai vem. As personagens centrais: Carolina e João são-nos bem descritas e contêm uma profundidade realista. As descrições são um pouco exaustivas e algumas redundantes, no entanto, é também nas descrições que está o melhor do livro: as imagens de miséria e tristeza estão de tal modo bem escritas que vão ficar na memória durante muito tempo. A trama desenvolve-se, embora sem grande surpresas visto que conhecemos o final de antemão. A leitura não é fácil devido aos blocos de descrição. Mas, se tivermos em conta o estilo da época, esta novela estava sem dúvida bem escrita para os parâmetros do realismo.
Recomendo a quem quiser um sentir como era a vida dos pobres de Lisboa no final do século XIX, contada por um contemporâneo.

Classificação: 3 estrelas

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Ebooks: Diabos Levem a Musa!

Dragões levem a Musa!


Autora: Inês Montenegro
Sinopse: Em véspera de data limite para entregar a sua mais recente obra, a Musa foge ao Escrivão para um jantar romântico com um Dragão.


Esta história está escrita num tom humorístico bem conseguido. Engraçamos com facilidade com a personagem principal e somos levados numa viagem por uma sopa de referências. Houve um bom jogo de estereótipos. Em suma, um conto com um bom potencial para entreter.
Recomendo a quem desejar um conto para matar o tempo.

Classificação: 3 estrelas

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Ebooks: O Sabre e o Corvo

Cinco contos contam uma história, cada um com o seu estilo próprio.


Autores: Carlos Silva, Sara Farinha, Vitor Frazão, Inês Montenegro e Pedro Pereira
Sinopse: Um antiquário onde reina o peculiar e o mágico. Um corvo de determinação sobrenatural. Um sabre cuja honra foi manchada pelo sangue de inocentes. Cinco escritores, cinco contos, interligados pelo desejo de justiça e pela vingança, onde o que parece pode não ser, e até uma alma se pode vender.


Como é normal em antologias, irei comentar cada um dos contos em separado e a classificação final  será derivada da média dos contos.

A Loja - Carlos Silva
Esta história é mais uma vinheta. Não há grande desenvolvimento e acaba por ser apenas o relatar de uma situação.
3 estrelas

Uma Herança Familiar - Sara Farinha
Acho que esta vinheta não foi bem conseguida. Relata muita coisa, mas não acontece nada.
2 estrelas

Último Desejo - Vitor Frazão
Gostei mais deste conto do que do anterior: há uma história com início, meio e fim; e há desenvolvimento da personagem.
3 estrelas

O Bom Negociante - Inês Montenegro
Outro fragmento. Esperava mais.
2 estrelas

Vingança - Pedro Pereira
Lavar uma espada com água e secá-la com um pano? Isto não é maneira de tratar uma espada: um pouco de pesquisa teria ajudado neste conto. Pelo menos este conto sempre encerra a história.
3 estrelas

Teria sido mais interessante se cada conto funcionasse isoladamente e não apenas como parte da história maior.

Classificação: 3 estrelas

domingo, 25 de setembro de 2016

Chá de Domingo #93 : Ainda Sobre o Cyberpunk - Parte 2/5

Decidi explorar um pouco a génese e a essência do cyperpunk. Podem encontrar a primeira parte deste artigo aqui.


"Quando iniciamos o cyberpunk, queríamos realmente dar nas vistas - sair desta pequena sub-cultura de ficção cientifica - só para surpreender toda a gente. E conseguimos fazê-lo. Ninguém pode prever os futuros que nós imaginamos. As coisas mudaram desde os primeiros dias do cyberpunk e, para começar, eu estou muito mais interessado em problemas teóricos profundos. Claro que faço coisas do género MTV, flash imaginery - que ao início me parecem boas ideias mas que acabam por não me encher as medidas. Eu quero chegar à mente das pessoas. Eu quero chegar ao estado de conhecimento como poder."

"O que é realmente bom acerca do punk é que é rápido e denso. Tem carradas de informação. Se valoriza a informação acima de tudo, então não se preocupa com convenções. Não é 'Quem é que você conhece?'; é 'Quão rápido és? Quão denso?' Não é 'Fala como os meus colegas?' é 'Isto é interessante?' Então o que eu estou a dizer é que o cyberpunk é do género: a ficção científica não é fácil de ler, tem muita informação, e fala de novas formas de pensar que advém da revolução computacional."

"O que é mais importante é que Neuromancer é acerca do presente. Não é realmente sobre um futuro imaginado. É um modo de lidar com o espanto e o terror inspirado pelo mundo em que vivemos. Estou ansioso para saber o que irão achar dele no Japão."

"Como género literário, o que aconteceu foi o que acontece a qualquer coisa nova bem sucedida em todos os ramos da cultura pop. Cyberpunk passou de algo refrescante, inesperado e original para ser a última moda, para ser uma formula comercial, para ser um estilo repetido até à exaustão, com uma lista de elementos estilísticos completa e formas reverenciadas que necessitam de ser referenciadas para que alguém escreva um Verdadeiro Cyberpunk..."

"O tempo e a sorte foram gentis com os cyberpunks, embora eles tenham mudado com os anos. A doutrina central da teoria do movimento era 'intensidade visionária'. Mas, já passou algum tempo desde que um cyberpunk tivesse escrito algo verdadeiramente surpreendente, algo que se contorça, solte, uive, alucine e parta a loiça toda. No trabalho mais recente destes veteranos, nós vemos uma trama afinada, melhores personagens, uma prosa cuidada e muito 'futurismo perspicaz e sério'. Mas também vemos muito menos back-flips espontâneos e danças loucas em cima da mesa. Os cenários ficam cada vez mais perto da realidade presente, perdendo os arabescos barrocos da fantasia solta: os problemas em causa assemelham-se horrivelmente às preocupações corriqueiras de uma pessoa de meia idade. E isto pode ser esplêndido, mas não é guerrilha."

Podem ler a terceira parte do artigo aqui.

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Ebooks: A Ponte das Almas Negras

Quem nunca leu nada de Carina Portugal, devia começar por este conto!


Autora: Carina Portugal
Sinopse: Durante mais de um século, Rouco manteve a sua guarda, sob a ponte de uma antiga vila. Algo negro habita-a, escondido entre as pedras degradadas e os líquenes, aguardando a chave da sua libertação. A pequena Aurora, apesar de cega, é a única que tem o dom de as conseguir ver. Contudo essa dádiva é também uma maldição que a persegue.


Desde a primeira linha que a história nos agarra. As personagens estão bem conseguidas e tanto nos fazem torcer por elas como odiá-las. O mundo ficcional está bem construído, embora eu gostasse de saber mais, não creio que tenha ficado nada de importante por mostrar. A autora consegue fazer descrições soberbas. Uma referência especial aos feitiços, que merecem ser lidos só por si mesmos. A trama segue um fio lógico, sem momentos mortos, num crescendo de tensão bastante adequado. O final não desaponta, embora o epílogo seja dispensável. O tom é adequado aos mais jovens, sem aborrecer o mais velhos. Em suma, um muito bom conto que merece muito mais atenção do que aquela que recebeu.
Recomendo vivamente a quem gostar de um bom conto de fantasia ligeira.

Classificação: 4 estrelas

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Ebooks: Sete Vezes Sete

Um bom conto para quem adora o universo arturiano.


Autora: Inês Montenegro
Sinopse: Na história da criação de Excalibur, muito foi o que Nimueh, Dama do Lago, perdeu.


A execução é competente. Apesar das diversas personagens e do foco ir mudando, há um fio condutor sólido. A trama vai-se desenrolando e os acontecimentos vão mantendo o leitor interessado. Gostaria que o conto se tivesse focado mais na personagem principal, que acabou por ser descrita de um modo muito superficial para o tamanho do conto. As descrições estão bem conseguidas, não se destacando nem se mostrando ausentes. Em suma, um bom conto em que lhe ficou a faltar a vivacidade das personagens.
Recomendo a quem quiser conhecer um pouco mais do trabalho desta jovem escritora.

Classificação: 3 estrelas

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Ebooks: Universos Literários

Quem quer dar uma volta pelos universos literários de sete autores portugueses?


Autores: Ana Ferreira, Carlos Silva, Carina Portugal, Liliana Novais, Pedro Cipriano, Pedro Pereira e Sara Farinha
Sinopse: A antologia contem os seguintes contos:
Imtharien - O Canto da Ninfa de Carina Portugal
Inbicta - Vamos Pintar os Franceses de Carmim de Ana Ferreira
Apocalipse - A Queda de Berlim de Pedro Pereira
Percepção - Túmulo 62 de Sara Farinha
Urbania - A Destilação do Absurdo de Carlos Silva
Ahelanae - O Primeiro Voo de Liliana Novais
Era Dourada - A Alvorada de Pedro Cipriano


Como é normal nestas antologias, vou passar o meu conto à frente. A pontuação da antologia será dada em função dos contos individuais através duma média aritmética.

O Canto da Ninfa - Carina Portugal
A história está bem escrita e não me desapontou. Gostaria apenas que a autora tivesse sido mais dinâmica na narrativa e não fosse apenas um seguimento de eventos.
3 estrelas

Vamos Pintar os Franceses de Carmim - Ana Ferreira
Gostei do tom humorístico e das personagens caricatas. Infelizmente não me cativou por aí além.
3 estrelas

A Queda de Berlin - Pedro Pereira
Esta história é mais um fragmento. Gostava de ter visto algum tipo de conclusão nos temas que abriu.
2 estrelas

Túmulo 62 - Sara Farinha
A personagem está bem explorada, é pena é não percebermos as suas motivações. Algumas partes podem ser confusas para quem não conhece este universo. Gostei do facto de o conto ter bastante tensão.
3 estrelas

A Destilação do Absurdo - Carlos Silva
Gostei do conto. O autor conseguiu descrever o processo sem contar, o que só por si é excelente. Para além disso, há uma reviravolta final que é muito recompensante.
4 estrelas

O Primeiro Voo - Liliana Novais
Outro fragmento. A história podia ter sido terminada um pouco antes sem deixar nada em aberto.
2 estrelas

Classificação: 3 estrelas

domingo, 18 de setembro de 2016

Chá de Domingo #92: O que Procuram num Curso de Escrita Criativa?

O que procuram num curso de escrita criativa? Foi esta a pergunta que fiz a escritores lusófonos e cujos resultados vou divulgar neste artigo.


A primeira pergunta foi a idade, para estabelecer o perfil etário dos escritores:


De notar que isto não reflecte o universo de escritores, mas apenas os que preencheram o formulário que foi divulgado através das redes sociais. Grande parte dos que responderam a este inquérito (75.3%) estão entre os 18 e os 35 anos de idade.

A segunda pergunta incidiu sobre o número de obras publicadas e a intenção de o fazer:



A grande maioria (61%) ainda não publicou nenhum livro nem ebook, mas conta fazê-lo num futuro próximo.

A terceira pergunta incidiu sobre a utilidade dos cursos de escrita criativa:



84.4% dos inquiridos consideraram que um curso de escrita criativa poderia ajudá-los a melhorar a escrita.

Para os 15.6% que responderam que não ajudaria, o inquérito termina. Analisando melhor a situação, deveria ter acrescentado um par de perguntas para essas pessoas, para perceber porquê é que consideravam que um curso não os poderia ajudar.

A quarta pergunta incidiu sobre o local do curso:


A maioria (43.1%) não tem uma preferência. No entanto, existe uma tendência para o online (35.4%) mais forte do que para o presencial (21.5%).

A quinta pergunta foi sobre o que mais valorizam num formador:


Pode-se concluir que a experiência como editor é o mais valorizado (52.3%), seguido do conhecimento do mercado editorial (23.1%). A formação universitária relevante vem em terceiro com 10.8% e outras razões em quarto com 9.2% (os outros factores enunciados estão relacionados com a experiência e formação) A exposição mediática e o número de publicações não parecem ser relevantes de todo, conseguindo uma percentagem mínima (1.5% e 3.1% respectivamente).

A sexta pergunta incidiu sobre os tópicos que deveriam ser abordados num curso:


A categoria Erros Comuns e como evitá-los foi considerada importante por 78.5% dos inquiridos. Estrutura/organização da narrativa surge empatada com o desenvolvimento das personagens em segundo lugar com 76.9% das escolhas. Criação de Mundos ocupa a quarta posição com 61.5% das escolhas, seguido de perto pelas técnicas de revisão com 60%. No sexto lugar aparece a escrita de contos com 43.1%. Em sétimo lugar surge a auto-publicação com 32.4% e em oitavo o desenvolvimento da não-ficção com 27.7%.

A sétima pergunta focou-se no preço justo de um curso de escrita criativa:


A maioria do inquiridos mostrou preferência por um valor em volta dos 5 euros por hora (58.4%). 12.3% considera esse valor muito elevando e 29.3% considera esse valor muito baixo.

A oitava e última pergunta prende-se com a duração de uma curso:


Há uma clara preferência por um curso mais alargado: 44.6% preferem um dia inteiro e 23.1% uma manhã ou uma tarde. O que bate certo com o facto de terem considerado múltiplas escolhas nos assuntos a abordar. Na outra ponta, há 21.5% que considera que duas horas é o tempo ideal, havendo apenas 10.8% que considera que três horas é mais adequado.

Teria sido interessante pedido o género dos inquiridos e talvez incluir mais uma ou duas faixas etárias. Poderia também ter segmentado um pouco mais as obras publicadas e a falta delas. Na duração, seria interessante colocar a opção de uma única sessão ou de múltiplas sessões, por exemplo ao fim do dia. São dados bastante reveladores, que podem ser úteis para quem deseje leccionar cursos de escrita criativa. Gostaria que a oferta destes cursos estivesse mais coordenada com a procura. O que é que vocês acham?

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Ebook: Histórias Fantásticas de Portugal

Partes da história de Portugal contadas com um pouco de fantasia à mistura!


Autores: Carina Portugal, Pedro Cipriano, Pedro Pereira e Ricardo Dias
Sinopse: "O Anel do Rei", de Pedro Pereira
D. Afonso Henriques, príncipe herdeiro do condado, lidera o exército dos barões portucalenses contra as forças de Fernão Peres de Trava. Porém, no frente-a-frente com o conde, quando tudo parecia estar perdido, Afonso recebe uma preciosa ajuda de uma velha amiga…

"Hoc Signo Vinces: Com este Sinal Vencerás", de Pedro Cipriano

Os cinco exércitos cercam uma expedição cristã num monte alentejano. Estão em Ourique, embrenhados em território inimigo. Os inimigos excedem-nos em cinco para dois. E os homens estão com medo. Será a fé do príncipe forte o suficiente para vencer a batalha? 

"A Pedra de Dighton", de Carina Portugal

Há mais de 500 anos, o navegador português Miguel Corte-Real desapareceu na costa atlântica do Novo Mundo. A única pista do seu paradeiro distante está contida nas misteriosas inscrições da Pedra de Dighton. E Cecília, sua descendente, não descansará até desvendar a verdade que há nelas.

"O Relatório para o Marquês", de Ricardo Dias

Um investigador apresenta-se perante um conselho secreto, encabeçado por uma das figuras mais proeminentes da época, para relatar a verdadeira causa do Terramoto de 1755.


Como é normal nestas antologias, a classificação será a média aritmética das pontuações individuais de cada conto excluindo o meu.

O Anel do Rei - Pedro Pereira
As falas inicias são demasiado informais e a linguagem usada é anacrónica. Fora estas imprecisões históricas, a história tem um bom ritmo e é capaz de entreter com facilidade.
3 estrelas

Hoc Signo Vinces: Com Este Sinal Vencerás - Pedro Cipriano
Creio que vou saltar este.

A Pedro de Dighton - Carina Portugal
Gostei da história mas achei que gostaria de saber um pouco mais da personagem principal. As descrições estão bem conseguidas e a trama prende o leitor, excepto para duas pequenas quebras de ritmo: uma no início e outra no final.
3 estrelas

O Relatório para o Marquês - Ricardo Dias
Uma boa ideia, que poderia ter tido uma melhor execução. Gostei da explicação criada para justificar o terramoto de Lisboa. Preferia que o autor tivesse usado outra táctica narrativa.
3 estrelas

Classificação: 3 estrelas

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Ebooks: Raktabija

Mitologia indiana reencarnada na época contemporânea.


Autora: Carina Portugal
Sinopse: Uma gota de sangue, mil demónios… Há milénios, a deva Kali enfrentou o terrível general-asura Raktabija, quando este atacou o mundo dos homens com os seus terríveis exércitos. Pensou tê-lo derrotado, contudo uma pequena parte do demónio escapou incólume.


Por não conhecer a mitologia que estava subjacente a este conto, pude lê-lo sem preconceitos. A cena inicial desperta o interesse e o desenvolver da mesma não desaponta. As descrições ajudam a ambientar o conto. As personagens contem a profundidade que se pode esperar de um mito. A trama desenvolve-se num crescendo muito bem conseguido e com o final bem executado. Em suma, um excelente conto.
Recomendo vivamente a quem se interessar por mitologia indiana e quiser conhecer o trabalho de uma escritora emergente.

Classificação: 5 estrelas

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Ebooks: O Domador de Dragões

Dragões, anões e humor: o que mais se pode querer?


Autora: Inês Montenegro
Sinopse: Aldrabar o currículo pareceu a João uma mais-valia. Mas talvez, e apenas talvez, não o devesse ter feito quando o novo emprego implicaria domar um dragão.


Gostei da maneira como o conto foi conduzido. Passamos uma boa parte da história sem saber se haveremos de gostar ou de detestar o protagonista. A autora cria tensão, embora só quanto baste para ir mantendo o leitor atento. Gostei das descrições e do tom usado. O desenlace era esperado e ainda tem o bonus de dar uma "lição". Em suma, um conto bem escrito que entretem, embora não se destaque no repertório da autora.
Recomendo a quem quiser conhecer um pouco mais da obra des jovem promessa nacional.

Classificação: 3 estrelas

domingo, 11 de setembro de 2016

Chá de Domingo #91: Ainda Sobre o Cyberpunk - Parte 1/5

Aproveitando a onda Cyberpunk gerada pelo lançamento da primeira antologia do género portuguesa, gostaria de partilhar convosco algumas citações que ajudam a contextualizar e a compreender a origem do cyberpunk.


"Apesar de agora o cyberpunk ser visto como um género bem sucedido da ficção cientifica, era bastante controverso quando começou. Mas, era como nós queríamos que fosse. Todos nós tinham, e ainda temos, um desejo incansável e implacável de quebrar os limites da realidade consensual. Se ninguém estiver chateado, então é porque não nos estamos a esforçar o suficiente... Começamos a escrever cyberpunk porque tínhamos um descontentamento forte em relação ao status quo da ficção cientifica, e também com o estado da sociedade em geral."

"Não tinha um manifesto. Tinha só algum descontentamento. Parecia-me que a ficção científica americana de massas a meio do século era frequentemente triunfalista e militarista, uma espécie de propaganda popular do excepcionalidade americana. Estava cansado da América-que-é-o-futuro, o mundo como uma monocultura branca e do protagonista da classe média ou acima. Eu queria tornar-me um espaço de manobra. Eu queria espaço para anti-heróis."

"Eu também queria que a ficção científica disse mais naturalista. Houvera uma pobreza na descrição na maior parte dela. A tecnologia descrita era tão eficiente e limpa que era praticamente invisível. O que seria de qualquer livro de ficção científica se pudéssemos melhorar a resolução? Como era na altura, a maioria dos livros era como os jogos antes da invenção da sujidade fractal. Eu queria ver a sujidade nos cantos."

"A ficção cientifica estava encravada num locus amenus nos anos 80. Podia ir a uma livraria e encontra Arthur C. Clark ao lado da Odisseia ou os livros de Asimov acerca das três leis da robótica. Robert Heinlein ainda estava a produzir sexo e filosofia em série. Mas, apesar dos esforços de uma variedade de inovações literárias, a ficção científica estava basicamente igual há vinte ou trinta anos atrás. Era uma experiência preguiçosa do futuro. Os cientistas faziam coisas competentes, a tecnologia aeroespacial estava na moda, e a política circulava à volta de conflitos entre nações. E então veio o cyberpunk - Pat Cadigan, William Gibson e Bruce Sterling. Foi subversivo e gritty, uma viagem caleidoscópio-poética ao futuro capitalista. Corporações sem face erguem-se acima dos dramas insignificantes do comum mortal, movimentando biliões de dollars e yens à volta do mundo enquanto os humanos da história vivem miseráveis. Eram cyberespaço e cowboys do teclado, casacos de cabedal, implantes de lentes Zeiss, próteses russas modificadas, extinct horses e mirrorshades. O futuro era bizarro e ameaçador - e também estranhamente real."

"A tecnologia não é neutra. Nós estamos dentro daquilo que fazemos, e ela está dentro de nós. Nós vivemos num mundo de ligações - e faz diferença quais fazemos e cortamos."
- Donna Hardaway

Podem encontrar a segunda parte deste artigo aqui.

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Ebooks: Antologia Steampunk

Esta antologia vem tornar o panorama steampunk português um pouco mais rico.


Autores: Carina Portugal, Inês Montenegro, Pedro Cipriano e Ricardo Dias
Sinopse: Quatro contos de quatro escritores, onde é explorado um pouco do imenso mundo movido a vapor que é o Steampunk.

"Relógios e Bruxarias", por Inês Montenegro:
Numa sociedade em que a magia é ilegal e a bruxaria perseguida, o desejo de Mina em ver vingar o seu negócio leva-a a afastar sentimentos e preocupações.
Até ao dia em que Helena lhe pede auxílio.

"A Ascensão e Queda de “Zé Saltador”", por Ricardo Dias:

Spring-heeled Jack, mito urbano e criminoso profissional, decide escapar de Inglaterra e usar Portugal para iniciar uma carreira internacional. Mas nem tudo corre como planeado...

"A Mina de Carvão", por Carina Portugal:

Em colaboração com o Império Português, Charlotte Reeve, uma das melhores agentes da Coroa Britânica, é enviada para a cidade de Tete, em Moçambique. A sua missão é capturar vivo um dos mais retorcidos traficantes de humanos. Mas consegui-lo-á?

"A Canção da Fornalha", por Pedro Cipriano:

A grande fornalha é o coração da cidade. A sua música não deixa ninguém indiferente, muito menos o mestre das caldeiras.


Como é normal neste tipo de antologia, irei dar uma pontuação a cada um dos contos e a pontuação da antologia será a média dos contos, excluindo o meu.

Relógios e Bruxarias - Inês Montenegro
O final ficou demasiado em aberto. A trama consegue prender o leitor desde a primeira página até à última. As descrições ajudam a contar a história. Gostaria que a autora tivesse explorado um pouco mais o mundo. Creio que a alternância entre as duas personagens principais não beneficiou o conto.
3 estrelas

A Ascensão e Queda de "Zé Saltador" - Ricardo Dias
Apesar de tudo, conseguimos uma certa empatia com a personagem principal. É um conto com boas descrições da tecnologia e boa ambientação. Consegue manter a tensão e o interesse do leitor. Fiquei na dúvida se isto é steampunk ou atompunk.
4 estrelas

A Mina de Carvão - Carina Portugal
A autora conseguiu criar um excelente empatia com a personagem principal. A ambientação steampunk num cenário africano foi muito bem pensada e melhor conseguida. A tensão é mentida desde a primeira página e o final não desaponta. Só achei um pouco redundante a cena final.
5 estrelas

A Canção da Fornalha - Pedro Cipriano
Não tenho por hábito fazer uma crítica aos meus próprios trabalhos e conto continuar assim.

Classificação: 4 estrelas

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Ebooks: Era Uma Fada

Um conto sobre fadas que não segue a abordagem mais esperada.


Autora: Inês Montenegro
Sinopse: Não era petróleo o que fazia o último candeeiro de Gomela iluminar a noite. Não era petróleo o que Graciliano Torres usava no seu ofício. Era outra coisa: eram fadas.


Deste conto, o que mais fica na memória são as personagens: seja pela personalidade ou pela falta dela. Uma piadinha de crueldade e temos esta história. Não sou um fã deste tipo de narração: embora seja uma escolha de estilo, não creio que tenha sido a melhor. O início da história desperta o interesse e as descrições estão bem conseguidas.
Recomendo a quem quiser conhecer o trabalho desta jovem autora.

Classificação: 3 estrelas

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Ebooks: As Crónicas de Dedessus - O Demónio de Wharrom Percy

Aqui está um conto para quem gosta de caçadores de demónios.


Autor: Pedro Pereira
Sinopse: As chuvas de Dezembro caíam com grande intensidade na escuridão da noite. Montado no dorso do seu garanhão negro, William tentava proteger-se da chuva com o seu manto preto, o que lhe conferia um ar sinistro na escuridão da noite. Há muito que perdera a conta às horas que cavalgava.


O início da história é um pouco arrastado. Teria sido mais interessante se o autor tivesse saltado logo para o conflito. Não há muito a dizer sobre as descrições: não se destacam. Gostaria de saber um pouco mais sobre os sentimentos (ou falta deles) da personagem principal. A trama mantém a tensão, embora seja um nada previsível. Gostei das cenas de acção. Em suma, um conto escrito de forma competente que poderia melhorar com uma revisão mais cuidada.
Recomendo a quem quiser conhecer um pouco melhor a obra deste autor.

Classificação: 3 estrelas

domingo, 4 de setembro de 2016

Chá de Domingo #90: Retrospectiva - Parte 3

Recordar é viver, e por isso aqui vai outra retrospectiva de todos os artigos da rubrica Chá de Domingo. Nem acredito que já cheguei às 90!


A irmã mais velha desta aqui. Noto uma grande diferença entre os temas que abordava no início em relação aos mais recentes.

Este artigo responde à pergunta: o que é que um editor procura num manuscrito?

Este artigo sumaria e dá exemplos dos arquétipos mais comuns na ficção.

53 - Não-Ficção
Um artigo interessante para quem pensa apostar neste vertente literária.

54 - Mais Pseudo-Editoras
A minha saga para separar o trigo do joio continua. A quantidade e complexidade deste tipo de esquemas não cansa de me surpreender.

55 - Retrospectiva - Parte 2
E se comecei com a irmã mais velha, esta é a irmã do meio. Noto que me foquei mais em recursos para os escritores e que a minha abordagem é bastante semelhante à minha actual.

Há padrões interessantes dos livros que temos na nossa mesa de cabeceira.

Nem acredito que já passou quase um ano deste que escrevi isto. Só para me lembrar que o próximo Nanowrimo já está à porta.

O balanço de um desafio bem-sucedido, como espero que seja o deste ano.

Apresento-vos este extraordinário projecto nacional.

Outro projecto nacional que vale a pena seguir

O concelho de Vagos criou um livro com todos os escritores conhecidos que lá nasceram, viveram ou escreveram sobre a terra.

O ano de 2015 foi bastante agitado para mim, a prova disso é este artigo.

Depois do balanço, chega a altura de delinear projectos. Nesta altura do ano posso dizer que alguns deles já foram ou estão muito perto de ser cumpridos, contudo, há alguns que me parecem impossíveis. Há também algumas mudanças de planos.

64 - Saltei este número. Repeti o número 36 e decidi saltar o número 63, mas acabei por saltar o número 64. Haja quem entenda isto!

Um artigo que ainda continua actual, apesar de já ter sido escrito há quase um ano.

Este artigo contem algumas dicas que permitem melhorar os diálogos.

A escrita de contos é uma arte mais complexa do que muitos imaginam. Com esta série de artigos procuro desmitificar e simplificar o processo.

Este artigo foca-se na estrutura e no primeiro parágrafo de um conto. Contem ligações para outros artigos relevantes.

Neste artigo abordo as personagens, o cenário, os pontos de vista e o que não fazer num conto.

Neste artigo falo do conflito, do ponto sem retorno e da resolução de um conto.

O pesadelo de qualquer escritor e como lidar com ele.

Seis dos erros mais comuns cometidos pelos escritores e como ultrapassá-los.

E já andava há algum tempo sem falar numa pseudo-editora, por isso...

Devo dizer que vejo bastantes erros destes sempre que olho para manuscritos não editados.

O relato da minha experiência como professor de português como língua estrangeira.


E assim termina outra viagem ao baú! Qual destes artigos vos foi mais relevante ou teve mais impacto?

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Livros: Gone Girl

Um romance que me deixou pregado até à última página.



Autora: Gillian Flynn
Sinopse: On a warm summer morning in North Carthage, Missouri, it is Nick and Amy Dunne’s fifth wedding anniversary. Presents are being wrapped and reservations are being made when Nick’s clever and beautiful wife disappears. Husband-of-the-Year Nick isn’t doing himself any favors with cringe-worthy daydreams about the slope and shape of his wife’s head, but passages from Amy's diary reveal the alpha-girl perfectionist could have put anyone dangerously on edge. Under mounting pressure from the police and the media—as well as Amy’s fiercely doting parents—the town golden boy parades an endless series of lies, deceits, and inappropriate behavior. Nick is oddly evasive, and he’s definitely bitter—but is he really a killer?


Desde o primeiro momento que odiamos uma personagem em detrimento da outra, mesmo assim, não conseguimos impedir de torcer por ela. As descrições estão bem conseguidas e ajudam a criar o ambiente de tensão. Aliás, desde o primeiro momento que sentimos um nervoso miudinho para saber o que vai acontecer a seguir. As reviravoltas foram bem conseguidas sem caírem do céu, embora algumas seja previsíveis, nem todas o são. Esse sentimento acompanha-nos através das páginas do livro até ao desenlace que não era bem o que esperava. As últimas páginas podem ser um pouco anti climáticas e a meu ver é o único defeito do livro. A profundidade psicológica das personagens é comparável a uma pessoa real, tendo falhas e pensamentos verosímeis.
Recomendo vivamente a quem gostar de trillers psicológicos.

Classificação: 4 estrelas