Hoje vou abordar um tema especialmente relevante para escritores iniciantes, mas que não deixa de ser útil a todos.
É um facto: muitos escritores se iniciam em contos. Talvez por ser mais fácil conseguir um bom resultado ou por as críticas chegarem mais rápido. Tendo uma extensão mais reduzida e não tendo uma grande profundidade, permitem aos autores iniciantes, e aos que não o são, uma enorme liberdade para experimentar, o que é mais complicado em livro.
Apesar da escrita de contos ser mais simples, há técnicas para os tornar mais aperitivos e interessantes. É isso que vou abordar hoje.
Primeiro Passo
Todas as histórias começam com uma ideia que serve de premissa. Antes de escrever sequer a primeira palavra, é importante ter essa ideia em mente. Mas, para escrever um bom conto, não basta só uma ideia base, é preciso desenvolver uma história onde a vamos aplicar. Para isso, é necessário responder às seguintes perguntas:
O que é que o protagonista quer?
Quer encontrar o tesouro escondido de Henrique VI? Quer obter dinheiro para pagar as dívidas? Ou quer só conseguir convidar a vizinha do lado para um café?
Porque é que quer?
Esta questão não precisa de ser respondida à priori, mas ajuda se for. Porquê é que o protagonista quer encontrar o tesouro? Porque a mãe está a morrer de cancro e ele quer pagar o tratamento porque se sente culpado de não a ter visto durante anos. Porque é que quer obter dinheiro para pagar as dívidas? Porque tem uma família e sabe que os pais se divorciaram por causa de dinheiro, o que fez com que mal conhecesse o pai e, portanto, não deseja isso aos seus filhos. Porque é que quer convidar a vizinha para um café? O protagonista sempre teve dificuldade em falar com mulheres, mas descobriu recentemente que se conhecem no mundo virtual e gostaria de falar com ela frente a frente, para conseguir vencer esse medo.
O que faz a história começar?
Qual é o incidente que origina toda a trama? Encontra um mapa do tesouro? Há uma discussão e a mulher sai de casa? Descobre que a jogadora da sua equipa mora no mesmo prédio? É importante que o conto comece já no meio da acção. O escritor deve abster-se de contar a vida da personagem até esse dia.
Como é que o protagonista reage ao incidente inicial?
As personagens tomam boas e más decisões. Quando o incidente se dá, o protagonista já deverá ter tomado ou tomar nesse instante uma decisão que irá condicionar o resto da história. O protagonista decide não contar a ninguém, mesmo sabendo que o mapa e o tesouro são propriedade do estado, implicando que poderá vir a ser preso por isso? O protagonista decidiu que vai assaltar uma carrinha de transporte de valores para resolver de uma vez por todas os problemas monetários? O protagonista decide começar a seguir cada passo da mulher, sem que ela saiba de nada?
Que consequências inesperadas esperam o nosso protagonista?
O leitor não as deve esperar, mas o escritor deverá tê-las bem pensadas mesmo antes de começar a história, sob pena que estas caiam de para-quedas na trama. Uma trabalhadora viu-o roubar o mapa e vai denúncia-lo ao director do Museu que é um amigo de longa data da mãe? O filho decide faltas às aulas e está na rua onde o assalto vai acontecer? Vai a passar na rua e descobre que ela é procurada pela polícia?
Que escolha faz o protagonista no clímax da história?
Muito importante! Face a tudo o que aconteceu e que poderá vir a acontecer, o protagonista tinha um objectivo. Ainda o têm ou este mudou? Obteve o que queria ou não? O vital desta questão é: como é que o protagonista reage a isso tudo? Decide não ficar com o tesouro, despedir-se e passar as últimas semanas com a mãe? Decide entregar-se à polícia para não dar um mau exemplo ao filho? Vai bater-lhe à porta e convida-a para um café?
Agora que respondemos a estas perguntas, que são o esqueleto, está na altura de preencher a história com aquilo que lhe dá vida e a torna interessante. É o que farei no próximo artigo, que podem encontrar nesta ligação.
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