domingo, 31 de janeiro de 2016

Chá de Domingo #68: Escrever um Conto - Parte 2

Hoje vamos continuar com as orientações para construir um conto. Podem ler a primeira parte do artigo aqui.


Depois de tratarmos do esqueleto do conto, está na altura de lhe darmos, substância, isto é, de preenchermos o esqueleto com descrições e acções que conduzam a história.

Um exercício interessante
Antes de começar a escrever, depois de termos respondido às questões, um bom exercício para os que se estão a iniciar é ir ler contos dos seus autores favoritos. O objectivo é ver como é que pegaram na ideia central e a desenvolveram. De notar que um bom escritor não se limita a mostrar sentimentos, causa-os no leitor (não digam a ninguém, mas este é o grande segredo de se ser escritor).

Recomendo: Mia Couto, Earnest Hemingway, Ray Bradbury, Alice Munro e Anton Chekov e George RR Martin.


Estrutura
É necessário planear a estrutura do nosso conto. Já escrevi vários artigos sobre o assunto:
Com a resposta às perguntas que coloquei no artigo anterior, não é complicado desenvolver a estrutura do contos.

Agora que fizemos o trabalho de casa, está na hora de finalmente começarmos o escrever.

Primeiro Parágrafo
Quer queiramos ou não, todos julgamos os livros pela capa. No caso dos editores do vosso contos, ou os vosso leitores, eles irão julgar-vos pelas primeira linhas. Logo, o primeiro parágrafo é fundamental.

As primeiras linhas tem de providenciar uma espécie de isco. é necessário dar informações que indiquem ao leitor que tipo de história se trata e quem é protagonista, ao mesmo tempo que introduzem uma situação suficientemente interessante para que o leitor queria pegar na história. Para além disso, não queremos que o parágrafo seja demasiado longo. Parece complicado? é complicado, é normal os escritores (tanto iniciantes como os de renome) passarem horas e horas à volta das primeiras frases das histórias.

Vamos pegar nalguns exemplos:

"Ouvi o meu vizinho através do parede."
Corriqueiro e desinteressante. Podemos fazer melhor.

"O vizinho das traseiras praticava a terapia dos gritos todas a manhãs no chuveiro."
Esta frases chama mais à atenção do leitor. Quem é o este sujeito que vqai gritar todos os dias para o chuveiro? Porque é que ele faz isso? O que é, realmente, a terapia dos gritos? Vamos continuar a ler!

"A primeira vez que ouvi, fiquei na casa de banho com o ouvido encostado à parede durante uns bons dez minutos, ponderando a possibilidade de chamar a Polícia. Era muito diferente de viver na casa germinada com o casal de meia idade Sr e Sra Brown e os seus dois filhos em Duluth."

Este parágrafo introduz o conflito do protagonista, enquanto ele não sabe como agir, existe um contraste entre o passado e o presente. Podem ler mais sobre criar/manter conflito aqui.

No próximo artigo, que podem encontrar aqui, iremos continuar a preencher a história, até completarmos o nosso conto.


Parte do artigo foi traduzido e adaptado a partir desta ligação.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Ebooks: O Cálice de Prata

Este conto é uma viagem fantástica à idade Média.



Autora: Sara Farinha
Sinopse: Quando o cavaleiro André Beaumont montou o seu cavalo e encetou aquela viagem ia crente no que sabia sobre si e o mundo. Um estranho encontro muda tudo forçando André a enfrentar o seu lado ímpio e as consequências dos seus actos. Será capaz de emendar os seus erros? Ou o perdão nunca lhe estará destinado?


Esta história beneficiaria de um início mais vocacionado para o conflito que lhe serve de mote. Gostaria de ver a personagem principal a ser mais bem explorada. A ambiente medieval foi bem descrito e a ideia base é muito boa. A trama desenvolve-se a um bom ritmo, tendo alguns momentos menos previsíveis, em especial no final. As descrições foram feitas de um modo competente. Em resumo, um conto que entretem bastante, apesar das falhas apontadas.
Recomendo a quem queria conhecer o trabalho desta escritora.

Classificação: 3 estrelas

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Ebooks: Na Noite em que o Inferno Subiu à Terra

Um dos melhores contos do autor até ao momento!



Autor: Ricardo Dias
Sinopse: Um sobrevivente de uma invasão demoníaca conta ao seu grupo a história de como sobreviveu à primeira noite, a noite que mudou para sempre o destino do mundo...


Contado na primeira pessoa e com uma linguagem informal, este conto consegue agarrar o leitor desde a primeira página. A personagem principal é interessante e vai revelando os seus segredos ao longo da história. Não há referências nem descrições significativas dos locais, que também não são necessárias à história. A trama está bem conseguida e a reviravolta final também.
Recomendo a quem gostasse de conhecer o trabalho deste autor.

Classificação: 4 estrelas

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Livros: Heroes of World War II

Um livro interessante para quem queria conhecer alguns dos heróis da Segunda Guerra Mundial.


Autor: Tom Bower
Sinopse: Heroes do not win wars but without heroes wars are lost. That spontaneous or calculated act of unique courage in battle or behind enemy lines inspires lesser men to volunteer the ultimate sacrifice - although they may not witness the final victory.
In the Second World War, the demands for heroism were no less than in previous wars, but unlike other conflicts few among the hundreds of thousands of Allied fighting men and women doubted that their cause was just - to remove evil and restore peace in Europe, North Africa and the Far East.
During six years of conflict, thousands of individual acts of heroism by British, Commonwealth and Allied servicemen and women were recorded. The images remain forever haunting, exiting and inspiring: soldiers charging enemy pillboxes; pilots flying burning Lancasters; frogmen attaching mines in enemy harbors; SOE agents in occupied Europe suffering torture rather than betray their networks; escapees from POW camps; defenseless merchantmen in the Atlantic rescuing sailors from drowning; bomb disposal officers saving innocent lives; solitary guerrillas in jungles harassing the Japanese; the boffins in Britain sabotaging the Nazi dream; and that handful of commanders and politicians whose judgment inspired and planned the victory for which their and future generations owe everlasting gratitude.
Eyewitness of heroism among the Allied forces were emboldened by the sheer audacity of fellow officers and men, while their enemies became disheartened. For those at home, the accounts of daring in battlefields from France to Japan encouraged their patriotism, pride and comradeship.
A handful of those heroes were specially recognized. Through the evocative accounts of the courage of over 100 men and women, Tom Bower tells the authentic story of World War Two.


Este livro está muito bem documentado em termos fotográficos, em que cada página é uma janela para a realidade vivida por aqueles homens e mulheres. A biografia e as circunstâncias de cada acto heróico são apresentadas de forma muito reduzida, o que, a meu ver, constitui uma grande falha. A outra grande falha é ser muito parcial, focando-se somente nos actos das nações aliadas, esquecendo-se, por exemplo, dos Russos, que lutaram e derramaram bastante sangue contra o mesmo inimigo. Fora isso, é uma leitura agradável e ligeira, que dá luz do essencial da Segunda Guerra mundial sob o ponto de vista dos britânicos.
Recomendo a quem se interessar por este tema.

Classificação: 3 estrelas

domingo, 24 de janeiro de 2016

Chá de Domingo #67: Escrever um Conto - Parte 1

Hoje vou abordar um tema especialmente relevante para escritores iniciantes, mas que não deixa de ser útil a todos.


É um facto: muitos escritores se iniciam em contos. Talvez por ser mais fácil conseguir um bom resultado ou por as críticas chegarem mais rápido. Tendo uma extensão mais reduzida e não tendo uma grande profundidade, permitem aos autores iniciantes, e aos que não o são, uma enorme liberdade para experimentar, o que é mais complicado em livro.

Apesar da escrita de contos ser mais simples, há técnicas para os tornar mais aperitivos e interessantes. É isso que vou abordar hoje.

Primeiro Passo

Todas as histórias começam com uma ideia que serve de premissa. Antes de escrever sequer a primeira palavra, é importante ter essa ideia em mente. Mas, para escrever um bom conto, não basta só uma ideia base, é preciso desenvolver uma história onde a vamos aplicar. Para isso, é necessário responder às seguintes perguntas:

O que é que o protagonista quer?
Quer encontrar o tesouro escondido de Henrique VI? Quer obter dinheiro para pagar as dívidas? Ou quer só conseguir convidar a vizinha do lado para um café?

Porque é que quer?
Esta questão não precisa de ser respondida à priori, mas ajuda se for. Porquê é que o protagonista quer encontrar o tesouro? Porque a mãe está a morrer de cancro e ele quer pagar o tratamento porque se sente culpado de não a ter visto durante anos. Porque é que quer obter dinheiro para pagar as dívidas? Porque tem uma família e sabe que os pais se divorciaram por causa de dinheiro, o que fez com que mal conhecesse o pai e, portanto, não deseja isso aos seus filhos. Porque é que quer convidar a vizinha para um café? O protagonista sempre teve dificuldade em falar com mulheres, mas descobriu recentemente que se conhecem no mundo virtual e gostaria de falar com ela frente a frente, para conseguir vencer esse medo.

O que faz a história começar?
Qual é o incidente que origina toda a trama? Encontra um mapa do tesouro? Há uma discussão e a mulher sai de casa? Descobre que a jogadora da sua equipa mora no mesmo prédio? É importante que o conto comece já no meio da acção. O escritor deve abster-se de contar a vida da personagem até esse dia.

Como é que o protagonista reage ao incidente inicial?
As personagens tomam boas e más decisões. Quando o incidente se dá, o protagonista já deverá ter tomado ou tomar nesse instante uma decisão que irá condicionar o resto da história. O protagonista decide não contar a ninguém, mesmo sabendo que o mapa e o tesouro são propriedade do estado, implicando que poderá vir a ser preso por isso? O protagonista decidiu que vai assaltar uma carrinha de transporte de valores para resolver de uma vez por todas os problemas monetários? O protagonista decide começar a seguir cada passo da mulher, sem que ela saiba de nada?

Que consequências inesperadas esperam o nosso protagonista?
O leitor não as deve esperar, mas o escritor deverá tê-las bem pensadas mesmo antes de começar a história, sob pena que estas caiam de para-quedas na trama. Uma trabalhadora viu-o roubar o mapa e vai denúncia-lo ao director do Museu que é um amigo de longa data da mãe? O filho decide faltas às aulas e está na rua onde o assalto vai acontecer? Vai a passar na rua e descobre que ela é procurada pela polícia?

Que escolha faz o protagonista no clímax da história?
Muito importante! Face a tudo o que aconteceu e que poderá vir a acontecer, o protagonista tinha um objectivo. Ainda o têm ou este mudou? Obteve o que queria ou não? O vital desta questão é: como é que o protagonista reage a isso tudo? Decide não ficar com o tesouro, despedir-se e passar as últimas semanas com a mãe? Decide entregar-se à polícia para não dar um mau exemplo ao filho? Vai bater-lhe à porta e convida-a para um café?

Agora que respondemos a estas perguntas, que são o esqueleto, está na altura de preencher a história com aquilo que lhe dá vida e a torna interessante. É o que farei no próximo artigo, que podem encontrar nesta ligação.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Books: The Somass Affair

Um conto com um ritmo excelente que prende o leitor até à última linha.


Autor: Anton Stark
Sinopse: Messrs Bodan and Voith: urban explorers, technological savants, corpse-sellers. After stumbling on a shady deal between smugglers and religious zealots, Bodan and Voith must do the unthinkable: to save the drowned city of Günn from a sinister plot involving ancient technology, a colossal automaton, and the crumbling Somass Tower. A fast-paced, gritty Steampunk adventure.


Este conto é uma verdadeira obra de arte. Começando pelo universo criado pelo autor, encontramos um mundo muito bem desenvolvido e com ligações sólidas aos acontecimentos dos outros contos publicados pela mesma altura. Todos os detalhes relevantes de Eos são mostrados, deixando o leitor preencher as lacunas e obtendo uma imagem do universo. O ritmo da narrativa é excelente, não há tempos mortos e a tensão tem um crescendo constante que culmina num climax que recompensa a leitura. É fácil ligarmos-nos com a personagens, que encaixam perfeitamente no ambiente criado. Em suma, um leitura excelente.
Recomendo vivamente a todos os leitores!

Classificação: 5 estrelas

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Livros: Pequenas Memórias

Um livro muito diferente, não só no estilo como no tema.


Autor: José Saramago
Sinopse: As Pequenas Memórias é um livro de recordações que abrange o período entre os quatro e os quinze anos da vida de José Saramago. O autor tinha As Pequenas Memórias na cabeça há mais de 20 anos, por isso a altura para o escrever era esta: "Queria que os leitores soubessem de onde saiu o homem que sou".
"Deixa-te levar pela criança que foste", 'Livro dos Conselhos'


Este livro é um conjunto de recordações dos primeiros anos de vida do único prémio Nobel da Literatura Português. Nesta auto-biografia, o autor opta por frases um pouco mais curtas que o normal e o discurso é mais fácil de seguir. O escritor dialoga o com o leitor, como só Saramago consegue. Dá-nos mesmo a impressão que é o próprio que nos conta estas histórias. Há muitas situações interessantes, que apelam à criança/jovem que vive em nós.
Recomendo quem o queira conhecer melhor.

Classificação: 3 estrelas

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Ebooks: Ahelanae - O Crime

Vamos começar a semana com um conto duma escritora portuguesa?


Autora: Liliana Novais
Sinopse: Um longa guerra parte estar prestes a dar início a outra longa guerra, neste mundo onde nada é o que parece.


Este conto evidencia os traços mais característicos da autora. Infelizmente, a maneira como a história é contada, em especial o contar excessivo, prejudicam em muito a leitura. Faltam traços distintos às personagens. Embora a primeira frase até cative o leitor, as seguintes estragam esse efeito. Em suma, este conto precisava de ser mais desenvolvido.

Classificação: 2 estrelas

domingo, 17 de janeiro de 2016

Chá de Domingo #66: Diálogos

Hoje vou falar sobre os diálogos.


Os diálogos são uma vertente muito importante de qualquer história. Com eles mostramos o que as personagens dizem entre elas e para elas próprias. O que eu vou referir é do conhecimento da maior parte de vocês, no entanto, nunca é demais relembrar.


1 - Cada personagem tem o seu próprio parágrafo, onde é possível incluir o que quer a personagem faça enquanto fala.


Um diálogo confuso em que não se sabe onde começa uma fala e termina a outra:

- Onde vais? - João estalou as articulações dos dedos enquanto olhava para o chão. - Às corridas - Maria aproximou-se da porta, mantendo-se atenta à cabeça curvada de João. - Outra vez? - João levantou-se, dobrando os dedos. - Nós já atingimos o limite do nossos cartões de crédito.

Um diálogo organizado, em que o que é dito para além das falas é praticamente inútil:
- Onde vais? - perguntou João, com nervosismo.
- Às corridas - disse Maria, tentando perceber se João estaria demasiado chateado para não conseguir escapar desta vez.
- Outra vez? - disse João, sem saber como conseguiriam pagar a renda desse mês - Nós já atingimos o limite dos nossos cartões de crédito.

2 - A informações para além dos diálogos devem conter informação relevante, mostrando ao invés de contar. Por exemplo, João perguntou com nervosismo, é um exemplo de contar. Mesmo que se escreva, João perguntou, com muito nervosismo, ou, João perguntou com tanto nervosismo que a sua voz tremia, não fará grande diferença. Como poderemos mostrar o estado mental do João sem o dizer directamente? Por inferência, dando detalhes que apontem nesse sentido e deixando o leitor fazer o resto.

Bons exemplos de como poderíamos descrever o nervosismo da personagem:
O João sentou-se.
- O- Onde vais?

- Onde vais? - gaguejou João, olhando para os sapatos.

Respirou fundo. Agora ou nunca.
- Onde vais?

Um exemplo em que a descrição foi longe demais, introduzindo demasiada informação redundante:
O João sentou-se, respirando fundo. Sabia que teria de confrontar Maria naquele momento ou nunca mais seria capaz de fazê-lo.
- Onde vais? - gaguejou, olhando para os seus sapatos.

3 - A ordem pode ter um grande impacto na história.

João pergunta a Maria onde vai e ambos parecem nervosos com o facto de ela querer ir às corridas. Uma maneira de descrever a situação é a seguinte:
- Onde vais? - João estalou as articulações dos dedos enquanto olhava para o chão.
- Às corridas - Maria aproximou-se da porta, mantendo-se atenta à cabeça curvada de João.
- Outra vez? - João Levantou-se, dobrando os dedos. - Nós já atingimos o limite do nossos cartões de crédito.

Mudando os parágrafos, podemos tornar a situação mais interessante, tornado a Maria mais agressiva e o João usando os cartões de crédito como desculpa:
- Onde vais?
João estalou as articulações dos dedos enquanto olhava para o chão.
- Às corridas.
Maria aproximou-se da porta, mantendo-se atenta à cabeça curvada de João.
- Outra vez?
João levantou-se, dobrando os dedos.
- Nós já atingimos o limite do nossos cartões de crédito.

No segundo exemplo, eles parecem desesperados por dinheiro e há um conflito muito mais intenso. Qual das histórias vos parece mais interessante?


Excerto traduzido a partir desta ligação.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Ebooks: Rosto de Mulher

Uma alegoria interessante!


Autora: Inês Montenegro
Sinopse: “Filho, filho, são minhas filhas”, respondeu-lhe a avozinha. E chorou, chorou muito, de alegria pela criança que havia percebido o valor das suas filhas.


Muitas interpretações se podem fazer deste conto, mas vou optar por deixa-las aos leitores. Escrita no mesmo género das histórias "Era uma vez...", leva-nos para um tempo mítico. A autora procurou imitar esse género e conseguiu-o com sucesso. Não há muito a dizer sobre as personagens, trama ou descrições, visto que elas seguem o padrão deste tipo de histórias. A escolha das palavras e frases foi bem executada, dando um acabamento interessante ao conto.
Recomendo a quem queira descobrir novos autores portugueses.

Classificação: 3 estrelas

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Ebooks: Os Kravyads

Um mito antigo trazido às ruas de uma das nossas cidades...


Autor: Vítor Frazão
Sinopse: Uma cara bonita esconde muitos perigos, como Luís está prestes a descobrir ou entrar na casa dos Kravyads. Infelizmente sanguinários rakshasas viciados em carne humana, são o menor dos problemas do imprudente jovem. Nas sombras de Coimbra existem vultos muito mais tenebrosos…



O inicio do conto está muito bem conseguido. É impossível não criar empatia com a personagem e ficamos com vontade se seguir a história e saber mais. Não conhecia estas figuras mitológicas e vi-me obrigado a uma pesquisa para me situar. Teria sido interessante se o autor pudesse ter feito uma descrição do seu verdadeiro aspecto. Fiquei um tanto desapontado com o final, que prometia algo ainda mais aterrorizador que os rakshasas e que não se concretiza (pelo menos no meu ponto de vista). A trama flui bem e a escrita é competente, embora a mudança brusca de pontos de vista prejudique o resultado final. Gostei, mas considero que o conto poderia ser melhorado.
Recomendo a quem já conhece ou gostaria de conhecer o trabalho deste escritor.

Classificação: 3 estrelas

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Ebooks: A Besta

Começo a semana com um conto do Fantasy and Co.


Autor: Pedro Pereira
Sinopse: Aproveitando os dias quentes de Agosto, Rafael e os amigos decidem passar umas férias diferentes e acampar no norte de Portugal. Porém, numa vista à aldeia de Pitões das Júnias, deparam-se com um cenário macabro que promete terminar com as suas férias sossegadas.


Gostava de ter visto as personagens mais desenvolvidas e as reacções delas não são de todo realistas, em especial nas últimas páginas. O enredo é demasiado previsível e por isso ficamos à espera de uma reviravolta final, que acaba por não acontecer. A trama desenvolve-se fluída. As descrições são um tanto vagas. Creio que esta ideia poderia ser melhor explorada a vários níveis.
Recomendo a quem já leu outros trabalhos deste escritor.

Classificação: 2 estrelas

domingo, 10 de janeiro de 2016

Chá de Domingo #65: Estará a Ficção Especulativa a Morrer em Portugal?

Um tema pertinente de ser discutido, por afectar leitores, escritores e editores.


Apesar de ser uma das questões que mais me têm dado voltas à cabeça, só quando li estes dois artigos é que tive uma nova visão do assunto:

Depois destes artigos, coloca-se a pergunta: estará a Ficção Especulativa a morrer em Portugal?

O primeiro artigo é recente, enquanto o segundo já foi escrito há mais de sete anos, embora continue bastante actual. O que se tem feito pela ficção especulativa em Portugal, tem-no sido mais a nível amador do que profissional. Há alguns projectos que se esforçam por publicar e divulgar o que se vai fazendo em Portugal, com uma ajuda preciosa de alguns bloggers. Podem saber um pouco mais sobre estes dois projectos (Imaginauta e Fantasy and Co) nesta e nesta ligação. Há também a Corte do Norte, que se dedica ao Steampunk e à organização da sua convenção anual e merece que lhe dedique um artigo (que em breve espero poder escrever). E para além disso?

Só a Saída de Emergência continua a apostar maioritariamente no género. As outras editoras publicam um livro ou outro, que entra nas prateleiras para logo sair. Um escritor deste género não tem grandes hipóteses de chegar às lojas. Tanto porque poucas editoras apostam neles, como porque as que apostam, em geral, não tem capacidade de distribuir e publicitar convenientemente o livro. Há sempre outras editoras que até publicam e até colocam nas prateleiras de algumas lojas, mas exigem uma contrapartida financeira do autor ou auto-financiam-se através do Crowdfunding.

Recordo-me, assim de repente, de dois projectos que trabalhavam nesta área e deixaram de existir: a Lusitânia, Nanozine. Ambas aceitavam textos dos autores e depois de uma selecção, publicavam-nos. Uma tinha formato de revista e outra de ebook, uma era a preço de custo e outra grátis. Com várias diferenças entre elas, a verdade é que desempenhavam um grande serviço de promoção da literatura especulativa portuguesa. Posso também acrescentar a micro editora Editorial Arauto, que não se conseguiu manter por muito tempo, publicando apenas um livro de Steampunk.

Tenho de confessar que na minha experiência na Editorial Divergência nem tudo são rosas. Nem todas as antologias venderam como esperava. Umas deram prejuízo e outras apenas lucro marginal. Apesar de fazermos o nosso melhor, a crítica é implacável (e espero que o continue a ser). Se o objectivo fosse fazer dinheiro, teria escolhido o ramo errado, com toda a certeza. A fatia cobrada pelas transportadoras e pelas lojas fazem com que a possibilidade de estarmos nas prateleiras seja cada vez mais remota.

Estará a Ficção Especulativa a morrer em Portugal? A resposta é não. Sobrevive com dificuldade graças ao esforço de individuais que trabalham mais por amor à camisola. Se tem potencial de florescer? Tem sim, mas vai precisar que os leitores lhe passem a dar o devido valor.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Ebooks: O Meu Humano

Um interessante exercício de inversão.


Autora: Leonor Ferrão
Sinopse: Um cavalo Puro-Sangue Lusitano, de boa linhagem, sonha ser um campeão e honrar os seus antepassados. Para tal, precisa de adquirir um cavaleiro, e escolhe a Feira da Golegã para o fazer. Mas uma compra precipitada irá mostrar-lhe que o caminho para a imortalidade nem sempre é o mais óbvio.


A ideia por detrás deste conto é interessante e original, com especial destaque para o uso de elementos e espaços portugueses. Infelizmente, o aproveitamento não foi o melhor, passando a história demasiado a correr nas partes que interessavam mais. Não senti uma empatia especial com a personagem principal. As descrições foram bem conseguidas e a trama está construída num crescendo competente, excepto nos solavancos das cenas que podiam ter sido melhor exploradas.
Vale a pena ler, mesmo para os mais críticos, sen que seja só pela premissa.

Classificação: 3 estrelas

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Livros: O Clube das Chaves na Crista da Onda

E é o último desta coleção por agora...


Autoras: Maria do Rosário Pedreira e Maria Teresa Maia Gonzalez
Sinopse: Pela décima vez desde a fundação, o Clube das Chaves volta a investigar sobre o paradeiro de um objecto que, desta feita, parece ter-se perdido no meio dos mares. Seguindo uma rota misteriosa, os quatro sócios adivinharão as maravilhas de um arquipélago que esconde lagoas e vulcões. Porém, é o presidente quem entra em erupção com as ameaças do fantasma...


Os mesmo defeitos que já apontei nos outros livros desta colecção existem também neste: demasiadas cenas que não fazem parte da trama e excessivo cunho de professor. O mistério era impossível de solucionar sem as informações que só nos são reveladas no fim do livro. Infelizmente, a autoras falharam em criar tensão o que tornou o livro muito pobre.  As personagens não são planas nem unidimensionais, e as descrições são competentes.

Classificação: 2 estrelas

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Livros: O Clube das Chaves dá Tempo ao Tempo

E voltei a pegar noutro dos livros da minha juventude para o ler com outros olhos.

Autoras: Maria do Rosário Pedreira e Maria Teresa Maia Gonzalez
Sinopse: Na sua segunda aventura, Pedro e os seus sócios terão de decifrar uma estranha mensagem em verso que os lança na busca de uma ave misteriosa - a única que poderá indicar-lhes o paradeiro de objecto que procuram.
Percorrendo a cidade de Lisboa, os quatro jovens irão envolver-se em inúmeras peripécias sem, porém, suspeitarem de que o fantasma da O.R.D.E.M., sempre alerta, vai continuando a assombrar o clube...


Tenho de admitir que a classificação deriva da leitura tardia. O mistério da chave era demasiado evidente e bastou uma leitura para descobrir de que se tratava. As autoras deixam transparecer em demasia a sua vocação de escritoras, incluindo bastantes episódios que não adiantam em nada a resolução da trama, servindo só com um fim educativo. Gostei das personagens, que não são tão simplistas como noutros livros do género. Não é o dos melhores da colecção, mas entretém um leitor mediano.
Recomendo a quem goste de livros infanto-juvenis!

Classificação: 2 estrelas

domingo, 3 de janeiro de 2016

Chá de Domingo #63: Projectos para 2016

Depois do balanço anual, é hora de traçar os objectivos para o próximo ano.


Começando pelos livros lidos, espero voltar a cumprir a meta dos 100 livros num ano. Tenho de parte duas trilogias do Dune, os dois últimos do Game of Thrones e a trilogia do século do Ken Follet. Para além disso, espero continuar a fazer críticas ao trabalho do Fantasy and Co.

Em relação ao blogue, espero continuar com o mesmo esquema de artigos, com uma forte componente de críticas e textos próprios, para além da rubrica Chá de Domingo. Espero que o número de visitas se mantenha elevado!

Espero conseguir escrever, pelo menos, seis contos no ano 2016. Tenho alguns na gaveta, que não contam. Não falta muito para terminar o universo Era Dourada e atar as pontas soltas. Gostaria também de publicar nalguma antologia impressa em papel.

Em termos de livros, espero levar dois livros a concurso: A Menina dos Doces e Teia de Memórias. Conto terminar O Jarro de Porcelana e começar outro livro. E claro, a participação nos Camp Nanowrimos e Nanowrimo não se põe sequer em causa. Os restantes (Nuvens de Hamburgo e O Canto do Rouxinol) precisam de mais tempo de maturação e ainda não sei quando os poderei mostrar ao mundo.
Este projecto ainda está muito por alto, os detalhes vou ter que afinar à medida que o ano for progredindo. E é hora de ir indo, que o chá já deve estar frio.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Livros: Ismael

Uma boa leitura para começar este ano.



Autor: Daniel Quinn

Sinopse: TEACHER SEEKS PUPIL.

Must have an earnest desire to
save the world. Apply in person.

It was just a three-line ad in the personals section, but it launched the adventure of a lifetime... 
So begins Ishmael, an utterly unique and captivating novel that has earned a large and passionate following among readers and critics alike—one of the most beloved and bestselling novels of spiritual adventure ever published.


Este livro desponta reacções antagónicas e muito fortes: ou se adora ou se odeia! Como livro que entretem, não é uma grande leitura, contudo, quando o levamos como uma alegoria, começamos a ver o seu valor. Não podemos levar tudo o que se diz nesta páginas como factual, até porque detectei um par de erros. Devemos lê-lo como manifesto. Concordemos ou não, parece-me importante reflectir sobre o tema, que acaba por estar ligado a outros livros de indole alternativa.
Recomendo a quem tiver a mente aberta.

Classificação: 4 estrelas